Nayá Fernandes – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br A Revista Mariana do Brasil - fundada em 28 de maio de 1898 pelos Claretianos em São Paulo Mon, 01 Dec 2025 21:32:32 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2021/08/cropped-ico-revista-avemaria-60x60.png Nayá Fernandes – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br 32 32 Natal em Silêncio: encontrar a luz e o verdadeiro sentido dessa celebração mesmo sozinho https://revistaavemaria.com.br/natal-em-silencio-encontrar-a-luz-e-o-verdadeiro-sentido-dessa-celebracao-mesmo-sozinho.html https://revistaavemaria.com.br/natal-em-silencio-encontrar-a-luz-e-o-verdadeiro-sentido-dessa-celebracao-mesmo-sozinho.html#respond Mon, 01 Dec 2025 16:38:12 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78864 Maria Aparecida (nome fictício, pois a entrevistada preferiu não se identificar) saiu da casa dos pais há três anos. Desde então, passa o Natal com seu filho pequeno que tem apenas 2 anos de idade. 

“Não foi uma decisão minha. Eu fiquei grávida e meus pais não permitiram que continuasse morando com eles. Eu tinha 16 anos. Até que meu filho nasceu fiquei na casa de amigos, mas, depois, decidi sair da cidade. Desde então, minha vida é trabalho e casa. Não tenho apoio de ninguém e, por isso, prefiro passar o Natal com meu filho. Até porque eu teria que voltar para a minha cidade para ter companhia dos amigos”, disse.

A situação de Maria Aparecida é a mesma de muitas pessoas que, por diferentes motivos, não podem ou não conseguem passar o Natal junto à família ou aos amigos. Seja por opção própria, distância, casos de hospitalização ou mesmo a perda de um ente querido, a sensação de abandono ou solidão pode ser mais intensa em períodos festivos como o Natal.

“O primeiro Natal que passamos, só meu filho e eu, foi muito difícil. Eu o coloquei para dormir. Fiz comida para mim e resolvi que ia esperar meia-noite para comer. Estava muito cansada. Chorei muito, até soluçar e acabei dormindo sem comer. Depois fiquei pensando que é uma bênção ter saúde para cuidar dele, que é uma criança maravilhosa. No Natal passado já foi diferente. Fiz a comida dele e a minha, comemos, brinquei com ele e fomos dormir. Esse ano quero preparar uma ceia completa para nós dois com tudo o que a gente gosta”, contou Maria Aparecida.

Mesmo tendo aprendido a lidar com o sentimento de abandono, dos familiares e do ex-companheiro, pai da criança, Maria Aparecida diz que não é fácil e que, muitas vezes, tem recaídas: “Por mais que eu não esteja sozinha, pois a companhia do meu filho é maravilhosa, sinto sim falta de conversar com um adulto, rir, tomar alguma coisa. Não dá para dizer que é fácil. A gente aprende a lidar e agradece pelas coisas boas, mas, mesmo assim, continua sendo muito difícil. Eu choro muitas vezes, mas, no Natal, parece que ficamos ainda mais sensíveis”.

SOLIDÃO: ESPAÇO DO ENCONTRO CONSIGO MESMO E COM DEUS

Ao longo da história da Igreja, santos e filósofos como Santo Agostinho, desenvolveram reflexões muito interessantes sobre a solidão e como lidar com ela. Agostinho recorda que a solidão não é, em primeiro lugar, um problema externo, mas um estado do coração. Ele via a vida interior como um espaço onde a pessoa pode se encontrar consigo mesma e, sobretudo, com Deus. Em suas obras, Agostinho descreve como buscou, durante anos, respostas fora de si, em situações de prazer, reconhecimento dos outros e filosofias até perceber que a verdadeira paz nasce do diálogo silencioso com Deus. É famosa sua frase “Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti”. 

Kierkegaard, filósofo, teólogo e escritor dinamarquês, também enxergou a solidão como parte da existência humana. Ele dizia que cada pessoa é chamada a fazer escolhas únicas que ninguém pode tomar em seu lugar. Esse “ser lançado diante de si mesmo” muitas vezes causa angústia, mas é justamente nesse ponto que, segundo ele, a fé se torna decisiva.

O teólogo defendia que a relação com Deus é pessoal e direta e que é na solidão, quando caem as máscaras sociais, que o indivíduo pode assumir sua verdade e dar o “salto” da confiança.

Tanto Santo Agostinho quanto Kierkegaard lembram que a solidão é parte do caminho humano.

 QUANDO OS FIlHOS NÃO ESTÃO

Lourença Fernandes e Luiz de Sousa moram no interior de Minas Gerais. Pais de três filhos e avós de oito netos, eles contaram à reportagem que já passaram muitos natais sozinhos. 

“Não é totalmente sozinho, né, porque fazemos companhia um ao outro e isso é muito bonito, mas, para quem já teve a casa cheia de filhos, netos e outros familiares, não é fácil passar o Natal como casal”, explicou Lourença.

Com os filhos morando todos em outras cidades e sendo membros de uma família não muito numerosa, o casal, com ambos por volta de 70 anos de idade, explica que “Às vezes bate a tristeza, sim, mas sabemos que se pudessem nossos filhos estariam sempre aqui”.

Luiz disse que sabe perfeitamente que nem sempre é fácil e possível deslocar a família nessas datas. “Eles trabalham, estudam, têm os gastos da viagem. O que percebemos é que eles sempre vêm nos visitar, sempre que podem, mas nem todo Natal é possível”, explicou.

“O mais importante é a gente ter a certeza do amor que existe entre nós. Isso é o que nos deixa felizes, mesmo quando estamos longe”, continuou Lourença.

A PROXIMIDADE DE DEUS NO PRESÉPIO

Em sua homilia na Missa da Noite de Natal de 2022, o Papa Francisco falou sobre a manjedoura e mencionou os termos “proximidade, pobreza e concretude” para descrever o significado do presépio. O Papa Francisco ressaltou que “O Menino Jesus é colocado em uma manjedoura, lugar humilde e até rejeitado, o que simboliza a disposição de Deus de se fazer próximo das realidades mais duras da vida humana”. 

Para o Papa, esse gesto divino é particularmente consolador para quem vive a solidão na época natalina: “Cada um pode tomar ânimo na proximidade de Deus ao nosso sofrimento e à nossa solidão”, disse à época.

Em outras mensagens de Natal, o Papa Francisco insistia sobre a importância de não esquecer os pobres, os marginalizados e aqueles que, mesmo em meio a celebrações, podem sentir-se invisíveis. 

Para ele, o Natal perde parte de seu sentido se for celebrado sem a presença daqueles que experimentam a exclusão social ou a dor da solidão. A “nua beleza da gruta de Belém”, nas palavras do Papa, exige de nós não apenas contemplação, mas ação caridosa: assistência, presença, abraço concreto para os que sofrem. 

A TEOLOGIA DA SOLIDÃO HUMANA SEGUNDO JOÃO PAULO II

O Papa João Paulo II, por sua vez, refletiu sobre a solidão no âmbito antropológico e teológico. Em uma audiência-geral de 1979, ele falou da “solidão original”: a condição humana de estar sozinho, não apenas fisicamente, mas como “pessoa” que reflete a capacidade de autoconhecimento e de relação exclusiva com Deus. 

No texto Teologia do corpo, João Paulo II descreveu a solidão como uma das três “experiências originais” do ser humano, junto com a comunhão e a nudez, uma estrutura profunda da existência humana criada por Deus. 

No Natal, esse ensinamento ganha força simbólica: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”, como está escrito no Evangelho de João 1,14, “é aquele que veio para preencher, de modo perfeito, o vazio humano, oferecendo uma comunhão profunda com Deus e com os outros”.

E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA?

As pessoas em situação de rua, muitas vezes, são as que mais sofrem com a solidão durante o Natal. Além de não ter companhia, elas, muitas vezes, não têm onde ficar e nem mesmo algo para comer, por isso, muitas pessoas e comunidades realizam atividades direcionadas para essas pessoas na noite de Natal. 

A Aliança de Misericórdia organiza o evento “Natal dos Pobres” em São Paulo (SP), no qual as comunidades católicas fazem uma ceia natalina para pessoas em situação de rua. 

Em 2024, cerca de 1.200 pessoas vulneráveis foram servidas na Praça Júlio Prestes, com mesas montadas, decoração natalina e atendimento solidário. A programação incluiu Missa presidida pelo cardeal Dom Odilo Scherer, além de acolhimento, evangelização e outras formas de assistência. A Aliança também incentiva voluntários a participarem por meio de doações ou ajudando diretamente no evento.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/natal-em-silencio-encontrar-a-luz-e-o-verdadeiro-sentido-dessa-celebracao-mesmo-sozinho.html/feed 0
“Ide e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc16,15): A missão de evangelizar o coração do mundo https://revistaavemaria.com.br/ide-e-pregai-o-evangelho-a-toda-criatura-mc1615-a-missao-de-evangelizar-o-coracao-do-mundo.html https://revistaavemaria.com.br/ide-e-pregai-o-evangelho-a-toda-criatura-mc1615-a-missao-de-evangelizar-o-coracao-do-mundo.html#respond Tue, 30 Sep 2025 18:26:19 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78430 A missão da Igreja Católica é, desde os primeiros seguidores de Jesus, um movimento contínuo de saída: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Esse mandato de Jesus não é apenas um chamado para os primeiros discípulos, mas ecoa até hoje no coração de cada batizado. A Igreja, por sua própria natureza, é missionária e essa missão não se limita aos grandes deslocamentos geográficos, mas se realiza de modo profundo no cotidiano, nas periferias humanas, nas famílias e nos corações de todos os que se colocam a serviço do Evangelho.

Em diferentes contextos temos testemunhos de pessoas que, embora vivendo de modos distintos a vocações, lugares e histórias, compartilham o mesmo ardor: anunciar a Palavra de Deus. Uma religiosa, um sacerdote missionário e um jovem voluntário revelam como vivem o espírito missionário da Igreja em suas realidades. 

A MÍSTICA DO ENCONTRO: A MISSÃO NO SEIO DO POVO

Irmã Ilanyr Felipe Costa, natural de Capistrano (CE), pertence à Congregação das Filhas de São Paulo, conhecidas como irmãs paulinas, cuja vocação é anunciar Jesus Cristo por meio da comunicação. Com formação sólida em Teologia e Comunicação, ela sintetiza o ser missionário como um “constante sair de si”. Desde seu primeiro envio à Amazônia, ela compreendeu que evangelizar é mergulhar na realidade do povo, sentir suas dores, alegrar-se com suas vitórias e partilhar esperanças.

“Recordo com muito amor que a primeira comunidade enviada após fazer meus primeiros votos religiosos foi Porto Velho (RO)”, afirma. Ali, entre visitas a presídios, universidades, comunidades ribeirinhas e atuação na Livraria Paulinas, Irmã Ilanyr foi marcando sua trajetória missionária. Um episódio de forte impacto foi quando contraiu dengue e malária durante uma missão: “Ser missionário exige ser com o povo e nesse sentir corremos o risco de sofrer também suas dores físicas”.

A missão não é apenas geográfica. Para Irmã Ilanyr, viver a missão é um dinamismo constante, inclusive nos meios digitais. Quando assumiu a tarefa de criar cursos de educação a distância (EAD) para catequistas, ela viu ali uma nova forma de tornar presente o Evangelho: “A dinâmica muda 100%, mas eu procurava tornar aquele curso uma ‘educação sem distância’”.

Sua vocação também a levou para uma missão mais silenciosa, porém, profunda: o cuidado com a família. Durante o adoecimento e falecimento de seu pai, ela viveu o que chama de “Igreja doméstica”, onde o amor cristão é encarnado no cuidado diário: “Foi uma missão que me fez compreender o que os primeiros cristãos viveram em suas casas”.

Mais recentemente, Irmã Ilanyr foi enviada para Portugal. Ainda se adaptando à nova cultura, ela expressa a vulnerabilidade que a missão impõe: “A sensação que tenho é de que tudo que eu sabia, já não sei mais. É um novo sair de si, com novos desafios. Se puderem, rezem por mim”.

Com profunda espiritualidade e inspiração no apóstolo Paulo, ela conclui com uma frase de seu fundador, o Bem-aventurado Tiago Alberione: “O apóstolo é aquele que tem Deus em seu coração e o irradia ao redor de si”.

ARSENAL DE ESPERANÇA: A MISSÃO DE ACOLHER O MUNDO DENTRO DE SI

Turim, Itália. Uma antiga fábrica de armas é transformada em espaço de paz. Esse é o berço da vocação missionária do Padre Simone Bernardi, sacerdote da Comunidade Serviço Missionário Jovens (SERMIG) – Fraternidade da Esperança. Desde 2005, ele está no Brasil, onde atua no Arsenal da Esperança, em São Paulo (SP), casa que acolhe diariamente mais de 1.200 homens em situação de rua.

Para Padre Simone missão é acolher o mundo dentro de si: “Não é atravessar o mundo, mas deixar que ele entre em nossos corações. Essa foi minha academia para a missão”.

O trabalho é exigente, o contato com o sofrimento humano é constante: “Cada um que chega aqui tem um mundo dentro de si. A maioria das pessoas divide o mundo entre preto e branco, mas o desafio do missionário é não parar de amar a realidade, mesmo quando ela é dura, injusta, caótica”.

Sua vida não é marcada apenas por números, mas por nomes, rostos e histórias. Com emoção, conta sobre Luciano, um ex-acolhido no Arsenal que voltou para agradecer: “Não é algo que acontece sempre e nem precisa acontecer, mas, quando acontece é como uma carícia de Deus, um sinal de que vale a pena continuar”.

Padre Simone também carrega consigo as histórias e referências de missionários que o inspiraram, desde senhoras que vendiam bolos para ajudar missões até Ana Helena Tonelli, que escondia uma hóstia consagrada em terras muçulmanas: “O coração missionário não depende da distância que percorremos, mas da capacidade de amar onde estamos”.

Na espiritualidade do missionário, ele sublinha a importância da presença: “Não é passar o dia de joelhos, mas viver diante do Senhor. Cada encontro com o outro é um lugar de revelação divina”.

JUVENTUDE EM AÇÃO: O DESPERTAR DE UMA VOCAÇÃO NO VOLUNTARIADO

Com apenas 17 anos, Enrico Colarullo Couto já compreende o valor do serviço e da solidariedade. Convidado por um colega de escola, começou a frequentar o Arsenal da Esperança, participando de atividades como teatro e escuta ativa com os acolhidos.

“Eu sempre gostei muito de voluntariado. Ser ajudado é muito bom, mas ajudar é melhor”, diz com simplicidade e maturidade. Ainda em idade escolar, Enrico percebeu a potência do encontro: “Só a nossa presença já faz diferença”.

Apesar dos desafios, como o trajeto longo até o local da missão, Enrico continua firme. Inspirado por histórias como a de um jovem palestino que atravessou o oceano em busca de paz, ele compreende o que é resiliência e coragem: “Essa história me motiva a continuar. Vejo que a fé nas pessoas é algo transformador”.

Mesmo não se identificando com uma religião específica, ele reconhece a espiritualidade que permeia o serviço: “Tenho fé na humanidade. Mesmo diante de tanta dor, acredito no bem”.

A vocação missionária de Enrico tem raízes profundas. Desde pequeno, sua família o ensinou a partilhar: “Com 7 anos, íamos ajudar pessoas em situação de rua no inverno. Fazíamos comida, comprávamos cobertores, mas o mais importante era conversar com as pessoas. Hoje, vejo quanto isso era valioso”.

A história de Enrico revela que o coração missionário pode florescer cedo e que a juventude, quando bem orientada, é uma força poderosa para a evangelização.

MISSÃO: UMA IGREJA EM SAÍDA, UMA FÉ QUE SE TORNA PRESENÇA

Nos testemunhos de Irmã Ilanyr, Padre Simone e Enrico fica evidente que a missão é uma experiência multifacetada: pode ser vivida nos confins da Amazônia, no centro urbano de São Paulo ou no coração de um jovem estudante, mas, em todos os casos, a essência é a mesma: responder ao chamado de Jesus com generosidade, coragem e amor.

O Papa Francisco sempre insistiu na necessidade de uma “Igreja em saída”, que não se acomoda, mas se arrisca. Uma Igreja que ultrapassa os muros do templo e vai ao encontro das dores do mundo. Essa missão não é privilégio de religiosos ou clérigos; os leigos, sobretudo, têm um papel insubstituível. A presença, o exemplo, a escuta e a ação concreta são formas reais de evangelização.

A vocação missionária se revela, assim, como um sopro do Espírito que impele cada cristão a sair de si, a viver a fé em forma de serviço e a anunciar a Boa-Nova com palavras, gestos e escolhas onde quer que se encontrem.

“A missão é o oxigênio da vida cristã, que sem ela adoece e murcha”, disse o Papa Francisco na manhã de 11 de maio de 2023, quando recebeu membros da Conferência dos Institutos Missionários da Itália (CIMI) e os exortou a não deixar de alimentar sua vida e seu apostolado com a Palavra de Deus, a Eucaristia e a oração. 

 

]]>
https://revistaavemaria.com.br/ide-e-pregai-o-evangelho-a-toda-criatura-mc1615-a-missao-de-evangelizar-o-coracao-do-mundo.html/feed 0
Setembro Amarelo: fé, ciência e humanidade na valorização da Vida https://revistaavemaria.com.br/setembro-amarelo-fe-ciencia-e-humanidade-na-valorizacao-da-vida.html https://revistaavemaria.com.br/setembro-amarelo-fe-ciencia-e-humanidade-na-valorizacao-da-vida.html#respond Tue, 02 Sep 2025 13:31:11 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78205 Cannobio, Itália. A manhã parecia tranquila até que, dentro da paróquia, foi encontrada, sem vida, a figura de Padre Matteo Balzano, 35 anos, um sacerdote que vivia seu ministério dedicado aos jovens da comunidade. Os sinos tocaram uma ausência súbita. “Era um arco-íris depois do temporal”, lamentaram os jovens paroquianos em tom emocionado.

São Paulo, Brasil. Em outra cena, completamente diferente, mas dolorosamente semelhante, a família de Pedro Henrique, 14 anos, recebeu uma mensagem com o aviso de despedida. Um estudante negro, gay e bolsista de um tradicional colégio da capital paulista, Pedro lutava contra o bullying e a exclusão.

Se há uma linha que conecta essas duas histórias, ela pulsa na urgência de prevenir que mais vidas sejam interrompidas antes que o silêncio e a desesperança se instalem.

O Brasil vive uma escalada alarmante nos indicadores de suicídio e tentativas autolesivas: em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações resultantes de intenção deliberada de autolesão, uma média de 31 casos por dia – um aumento de mais de 25% em relação a 2014. 

Entre 2011 e 2022, ocorreram 147.698 suicídios, com um aumento médio anual de 3,7%. Entre os jovens de 10 a 24 anos, os números subiram mais ainda: o suicídio cresceu 6% ao ano e as autolesões, 29% 

Os números podem ser ainda mais preocupantes, pois se estima que a cada suicídio ocorram por volta de 25 tentativas. Mesmo que o tema seja difícil, cercado de silêncio e preconceito, é essencial que seja abordado, pois se trata de uma das principais causas de morte entre jovens no Brasil e no mundo. 

No mês de setembro, a campanha Setembro Amarelo busca ampliar o diálogo sobre prevenção e valorização da vida. Para entender como fé e ciência podem contribuir, a Revista Ave Maria ouviu o teólogo Oscar Maldonado, professor no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP, e a psicóloga Aline Lima Carvalho, especialista em promoção da saúde mental. Os dois casos recentes citados neste texto, o do jovem sacerdote italiano e o de um estudante brasileiro, ajudam a ilustrar o tamanho do desafio.

UM DOR QUE ATRAVESSA A IGREJA

De acordo com o teólogo Oscar Maldonado, dentro de uma perspectiva ampla, pode-se dizer que “Há um princípio fundante, essencial, que acolhemos como profissão de fé: Deus é Criador e Senhor de todas as criaturas e, de modo particular, de cada ser humano. Parafraseando Santo Irineu, diríamos que a maior glória de Deus é que suas filhas e filhos vivam em plenitude. O Deus Encarnado, Jesus Cristo, ao anunciar o Reino de seu Pai enfatizou que veio para que todos tenhamos vida em abundância. A negação da vida em qualquer circunstância deveria nos fazer pensar no nosso Deus Criador e Pai. A vida é um dom que recebemos como a expressão amorosa e criativa de Deus”. Por isso, Oscar afirma que “A morte antecipada, morte descuidada, a morte acidental, o suicídio como expressão de desespero ou até mesmo de um sofrimento extremo que leva a pessoa a não ter mais discernimento do que seja a vida plena é lamentável e lamentada, não apenas pelos familiares, mas deveria ser também por toda a sociedade”.

Ele lembra que, no passado, a Igreja tinha uma postura mais dura, mas hoje a visão pastoral é outra: “O Catecismo da Igreja Católica reconhece que perturbações psíquicas graves ou sofrimentos extremos podem diminuir a responsabilidade do suicida. A misericórdia de Deus pode alcançar até quem se despediu da vida de forma trágica”.

O PESO DO SILÊNCIO NAS ESCOLAS

No Brasil, o suicídio do estudante Pedro Henrique Oliveira dos Santos, de 14 anos, no Colégio Bandeirantes, em São Paulo (SP), gerou grande repercussão. Negro, gay e morador da periferia, Pedro era bolsista e relatava episódios de bullying. Pouco antes de se despedir da vida, deixou uma mensagem em que denunciava seu sofrimento.

Colegas organizaram manifestações pedindo mais atenção ao combate à discriminação. A família criticou a falta de medidas concretas da instituição. 

Um estudo recém-publicado pelo Journal of Child Psychology and Psychiatry indicou que adolescentes entre 12 e 15 anos que sofrem bullying na escola apresentam risco até três vezes maior de tentar o suicídio. 

O levantamento, realizado no Reino Unido, indica que na faixa etária de 11 a 16 anos pelo menos 17% dos adolescentes vítimas de bullying consideram tirar a própria vida para fugir da perseguição. Além disso, 78% afirmaram que o problema causa ansiedade e pode fazê-los perder noites de sono. Os novos dados ainda mostram que 57% das crianças já sofreram bullying em algum momento da vida escolar e 74% testemunharam alguém sendo intimidado. 

Aline Lima Carvalho explica que quando alguém tira a própria vida na maioria das vezes é porque “A pessoa foi vítima de exclusão e não encontrou acolhimento suficiente no espaço onde deveria se sentir protegida”.

A psicóloga reforça que os jovens estão entre os mais vulneráveis, bem como idosos e pessoas socialmente isoladas: “Não podemos banalizar o sofrimento, chamando-o de falta de fé ou ocupação. É preciso validar a dor de quem sofre e buscar ajuda profissional”.

ENTRE A PONTE E O RIO, A MISERICÓRDIA

Se a psicologia aponta a urgência de acolhimento e tratamento, a fé recorda que a vida é sagrada. O Papa Francisco já afirmou que o suicídio “seria como fechar a porta à salvação”, mas, acrescentou: “Tenho consciência de que nos suicídios não há plena liberdade. Ajuda-me o que o Cura d’Ars disse à viúva cujo esposo se suicidara: ‘Senhora, entre a ponte e o rio está a misericórdia de Deus’”.

Para Maldonado, a frase é um convite a olhar para os que sofrem com mais compaixão: “Quando alguém decide pôr fim à sua vida não é apenas uma derrota pessoal, mas social. Famílias, escolas, igrejas e políticas públicas saem derrotadas diante de uma vida perdida”.

REDES SOCIAIS E O VAZIO DO IMEDIATISMO

Um recente relatório do grupo de defesa dos direitos da criança KidsRight revelou recentemente que o uso excessivo das redes sociais alimenta o problema de saúde mental entre crianças e adolescentes.

De acordo com o estudo, publicado no dia 11 de junho, uma em cada sete crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos sofre com algum desafio relacionamento à saúde mental. A pesquisa foi feita pelo grupo, com sede em Amsterdã, e pela Universidade Erasmus de Roterdã, ambos na Holanda.

Tanto o teólogo quanto a psicóloga apontam que a sociedade atual, marcada pela pressa e pela exposição digital, intensifica o sofrimento. “A vida real parece estar a serviço do virtual. O importante não é caminhar descalço na praia, mas postar a foto nas redes. Isso gera um vazio e uma solidão que podem ser fatais”, alerta Maldonado. A psicóloga concorda: “Com a superexposição, o espelho passa a ser a vida editada do outro. O jovem deixa de reconhecer sua própria valia e isso pode agravar quadros de ideação suicida”.

CAMINHOS DE ESPERANÇA

Apesar da gravidade do problema, há saídas possíveis. Para Aline, o primeiro passo é simples: escutar. “É preciso criar ambientes de acolhimento, sem julgamentos, onde o sofrimento seja levado a sério. A busca por atendimento especializado é essencial”, disse ela.

Maldonado reforça o papel da fé: “Uma espiritualidade saudável nos ajuda a perceber que cada ser humano é sagrado. Quando nos enxergamos como filhos e filhas de Deus, aprendemos também a cuidar uns dos outros”.

Os casos do Padre Matteo e do estudante Pedro mostram que o suicídio não escolhe idade, nem vocação, nem classe social. Ele é um grito de dor em meio a uma sociedade que, muitas vezes, não sabe escutar.

“Quando um ser humano decide pôr fim à própria vida, a sociedade é a grande derrotada”, afirma Maldonado. Aline completa: “Não se trata de culpabilizar, mas de assumir que todos temos responsabilidade em criar redes de apoio”.

Se você ou alguém que conhece está em sofrimento, procure ajuda. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende gratuitamente pelo telefone 188 ou em no site cvv.org.br.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/setembro-amarelo-fe-ciencia-e-humanidade-na-valorizacao-da-vida.html/feed 0
A educação integral dos filhos é missão dos pais https://revistaavemaria.com.br/a-educacao-integral-dos-filhos-e-missao-dos-pais.html https://revistaavemaria.com.br/a-educacao-integral-dos-filhos-e-missao-dos-pais.html#respond Thu, 31 Jul 2025 17:01:36 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77972 O papel dos pais na formação dos filhos é essencial e não pode ser delegado. Especialistas em educação e documentos da Igreja, como o Catecismo da Igreja Católica (cf. 2221) e a Exortação Apostólica Familiaris Consortio (cf. 36) destacam que educar é, ao mesmo tempo, um direito e um dever fundamental dos pais. 

O primeiro ambiente de aprendizagem é o lar. Filhos absorvem comportamentos observando os pais. Se em casa se cultiva a fé, se há demonstração de amor, coerência e integridade, os adultos tornam-se referências naturais. O conceito de “Igreja doméstica” é, para muitos, uma realidade prática: é no cotidiano familiar que a espiritualidade ganha forma concreta.

A pergunta sobre como educar os filhos de forma integral e concreta, visando ao amadurecimento pleno, é respondida por famílias que, além da experiência da maternidade e da paternidade, seguem o caminho da fé dentro das pastorais da Igreja, entre elas a Pastoral Familiar.

FORMAÇÃO MORAL E EMOCIONAL

É importante ressaltar que formar o coração e a consciência dos filhos é tão essencial quanto ensinar Português ou Matemática. Exige tempo de qualidade, correções firmes com afeto e a criação de um ambiente propício ao diálogo e à escuta, por isso, a iniciação das crianças na vida de fé é decisiva para a formação. Práticas simples como rezar em família, participar da Missa e ler a Bíblia em casa têm ressonância durante toda a vida. 

Além da dimensão espiritual, educar é também preparar os filhos para lidar com o mundo real. Ensinar a trabalhar, a respeitar o próximo, a lidar com frustrações e a buscar o bem comum. A educação integral igualmente estimula o diálogo com a cultura contemporânea, sem renunciar a valores essenciais.

Todas essas práticas podem ser verificadas nos testemunhos das famílias que sabem que a responsabilidade de educar não é fácil, mas pode ser profundamente gratificante. Ao assumir esse papel com fé, amor e perseverança, pais ajudam a construir uma geração mais consciente, compassiva e aberta à transcendência. 

PARTE DE UMA COMUNIDADE

José Roberto Berretta, 62, e Ana Cristina Paula Lima, 57, são casados e pais de José Lucas Lima Berretta e Julia Helena Lima Berretta. Eles participam da Patoral Familiar há quatro anos e atuam na Região Episcopal Sé, em São Paulo (SP). 

Desde quando os filhos eram crianças, o casal mantinha como prioridade a participação na Missa aos domingos e dias santos e a vida em comunidade, especialmente com outras famílias do Movimento Encontro de Casais com Cristo. 

“Também procuramos desenvolver nossa própria fé. Fizemos estudos bíblicos e de oração e o Roberto fez a Crisma. O nosso testemunho foi importante. Sempre agradecíamos a Deus indo a romarias a Aparecida (SP). Escolhemos uma escola católica para nossos filhos frequentarem. Oferecemos os sacramentos iniciais, o Batismo e a Primeira Eucaristia, sempre acompanhando de perto. Às vezes levávamos nossos filhos a uma igreja que oferecia Missa para crianças, em que a homilia era feita na linguagem delas”, recorda o casal.

Para eles, a educação dos filhos na fé católica só é possível quando a família está inserida numa comunidade, numa paróquia e as pessoas de fé tornam-se também amigas: “Assim se forma uma rede de apoio e testemunho que ajuda na transmissão da fé”, afirma Ana Cristina.

Para Rodrigo Samy Silveira, 50, e Emilene Pardo Silveira, 49, pais de Pedro Pardo Silveira, 13 anos, e Cecília Pardo Silveira, 10 anos, os pais têm como dever demonstrar amor: “Como Deus nos ama, os pais apresentam esse amor aos filhos. No cuidado diário, na educação e principalmente no exemplo”, afirmam.

Há dezesseis anos na Pastoral Familiar, eles pensam que a Igreja precisa ser também doméstica: “Acreditamos que um adulto, seja ele pai, avô, padrinho, mãe, avó, madrinha, tio ou irmão, pode desempenhar esse papel. Iluminado pelo Espírito Santo, pode demonstrar para essa criança ou adolescente quanto ele ou ela é especial, filho(a) de Deus e amado(a) por Ele. Levar à Igreja, apresentar os sacramentos e ensinamentos da vida em comunidade. Essa pessoa deve ser o exemplo de adulto que essa criança deve seguir”.

EDUCAÇÃO PARA A VIDA

“Nossos filhos estudaram na escola confessional, com valores parecidos com os nossos e para que não houvesse contradições, especialmente na primeira infância. Isso realmente ajudou. Também sempre valorizamos a importância do trabalho, da honestidade e do estudo. Nós os colocamos para fazer esportes e música. Eles estudaram na escola pública de música; isso ajudou muito, além da formação para boa música, na convivência com crianças de todas as classes sociais. Nessa escola se percebia que os pais tinham muita preocupação com os filhos e a família, independente da questão econômica, o que proporcionava um ótimo ambiente”, contaram, em entrevista à reportagem, José Roberto e Ana Cristina.

O casal sente-se feliz por ter sido sempre presente na vida dos filhos: “Fomos pais bastantes presentes. Eu como mãe adaptei minha carreira profissional para ter tempo de cuidar deles e estar a par das coisas que aconteciam com eles. Também procurávamos estar de acordo na educação deles. A convivência no Encontro de Casais com Cristo colaborou muito para que melhorássemos nosso relacionamento. Lá aprendemos que o casal não deve se esquecer de cultivar o amor entre eles antes e depois cuidar do relacionamento com os filhos. Lição valiosa”, salientam.

“Aprendemos, criando nossos filhos, e errando por vezes que nunca podem faltar o amor, a paciência e o perdão. Às vezes, nossa vontade de que nossos filhos sejam prefeitos atrapalha a educação. Precisamos estar presentes para conhecê-los, suas características, temperamentos e limites, para responder individualmente a cada um. Cuidar das palavras, sempre incentivar, motivar e dar desafios para eles. Nunca esquecer que são filhos de Deus e não nossas propriedades. Eles precisam saber de nós que por serem filhos de Deus têm sua dignidade e lugar no mundo”, disse Ana Cristina.

Para Rodrigo e Emilene, o mais importante é ouvir os filhos com paciência e sem julgamentos: “Com confiança apresentar seus argumentos e explicar que os amamos e respeitamos todos os irmãos. Pecado é dizer ‘não’ a Deus. Respeitar e negociar sempre e deixar claro sempre o que inegociável e o porquê. O distanciamento é natural, mas vale a pena insistir e caprichar na qualidade dos momentos que passamos juntos. Paciência e fé são imprescindíveis”, afirmaram.

REZAR EM FAMÍLIA É ESSENCIAL

Ana Cristina recordou que, durante a adolescência da filha, a família teve dificuldades, pois ela se aproximou de amigos que tinham alguns problemas e, por isso, ela começou a tirar notas baixas na escola. “Tivemos até que trocá-la de escola. Rezei muito pedindo a Deus que nos ajudasse. Eu e meu marido nos distanciamos dela e perdemos a comunicação. Um dia, por uma iluminação, abri o diálogo e passei a sair com ela e lhe dar mais atenção. Meu marido reviu o modo de tratá-la. Aos poucos e com o tempo tudo foi se resolvendo e ela até fez Crisma na escola nova. Hoje é casada e feliz”, contou a mãe.

A família também viveu um momento muito bonito durante a pandemia da covid-19: “Com tantas aflições, nossos dois filhos se formaram na faculdade e conseguiram seu primeiro emprego. Isso foi um grande alívio, dado o momento delicado. Nesse tempo todos estavam em casa, em teletrabalho. Por incrível que pareça foi um momento de aproximação e um momento em que rezamos juntos. Depois que eles cresceram, esses momentos tinham ficado mais raros”, recordou Ana Cristina.

Emilene, por sua vez, contou que o filho tem muitos amigos ateus e, por isso, chegou a casa questionando sobre a fé católica: “Explicamos que respeitamos todos, mas para nós não havia dúvidas de quanto éramos amados por Deus. Demos exemplos de quantas vezes vivemos na presença de Deus e de Maria. Nosso filho ouviu com olhar de dúvida mas, na semana seguinte, teve dificuldades em uma matéria escolar e nos perguntou qual era mesmo a oração para pedir que o Espírito Santo o ajudasse a lembrar de tudo na prova”.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/a-educacao-integral-dos-filhos-e-missao-dos-pais.html/feed 0
Carisma Claretiano: uma luz que não se apaga https://revistaavemaria.com.br/carisma-claretiano-uma-luz-que-nao-se-apaga.html https://revistaavemaria.com.br/carisma-claretiano-uma-luz-que-nao-se-apaga.html#respond Tue, 01 Jul 2025 12:27:59 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77760 “Arraigado em Cristo, audacioso na missão!” A frase escolhida pelos claretianos para inspirar a vivência missionária nos dias de hoje poderia, com certeza, ser usada para falar sobre a inquietação que levou Antônio Maria Claret, em 1849, a começar uma nova história: a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria.

Conhecidos como claretianos, a Congregação Religiosa foi fundada em Vic, na Catalunha (Espanha), quando Antônio Maria Claret reuniu cinco companheiros para que, juntos, pudessem levar a Palavra de Deus pelo mundo. O jovem Claret, que teve sua santidade reconhecida pela Igreja em 1934, saiu da Espanha e começou a percorrer o mundo. Foi nomeado arcebispo de Santiago de Cuba e lá viveu uma experiência que o marcaria profundamente, opondo-se a situações de escravidão e miséria.

No Brasil, os missionários chegaram no ano de 1895. Em 2025, celebram 130 anos de sua presença no país. Nos primeiros anos, atuaram, principalmente, em cidades do interior do Estado de São Paulo, mas rapidamente expandiram-se, com a fundação de escolas, seminários, rádios, editoras e universidades.

Hoje, os Missionários Claretianos chegaram a mais de 60 países. No país, são conhecidos, sobretudo, pela atuação na educação, devido ao Colégio Claretiano e ao Centro Universitário Claretiano. A Editora Ave-Maria, criada e administrada pelo Instituto, é uma das mais antigas e tradicionais entre as editoras católicas, editando obras de espiritualidade, teologia e a difundida Bíblia Ave-Maria.

Presentes e atuantes nas comunidades brasileiras, especialmente no Norte e Nordeste, os missionários continuam a missão de Santo Antônio Maria Claret em diferentes lugares e contextos, também junto aos povos indígenas e populações ribeirinhas.

A centralidade do anúncio de Jesus, hoje!

Pe. Eguione Nogueira Ricardo, CMF, é o atual superior provincial da Congregação. Ele professou seus votos religiosos em 1 de fevereiro de 2009 e foi ordenado sacerdote em 25 de janeiro de 2014. Quando assumiu a missão como provincial, atuava como pároco e professor do Studium Theologicum em Curitiba, no Paraná.

Ao ser questionado sobre os desafios de anunciar Jesus hoje, ele apontou o fato de a sociedade contemporânea viver um tempo de constantes distrações, de desconfiança frente às instituições tradicionais, incluindo as religiosas, e, ao mesmo tempo, de uma intensa busca por sentido.

“O grande desafio da missão de anunciar Jesus é atualizar o Evangelho às novas linguagens, especialmente dos jovens, conectando aquelas palavras de sempre às dores e esperanças do nosso povo”, disse ele, que salientou o fato de haver muitas propostas religiosas que trazem consigo apenas a aparência de ‘cristãs’, mas nem sempre comunicam com autenticidade o Evangelho.

Para ele, “isso causa embaraço e até mesmo hostilidade quando se fala em anúncio de Jesus. Muitos não rejeitam Jesus, mas sim a forma como, por vezes, o apresentamos: distante, sem compaixão ou sem conexão com a realidade. Nosso desafio é ser presença, escuta e sinal de esperança, como nos ensinou muitas vezes o Papa Francisco”.

A questão da centralidade sobre a comunicação eficaz sobre quem foi e como viver Jesus também foi salientada por Padre Luís Erlin, Missionário Filho do Imaculado Coração de Maria, que é mestre e doutor em Comunicação Social e atual diretor-presidente da Editora Ave-Maria e da Revista Ave Maria.

“Vivemos numa época em que precisamos pensar qual Jesus devemos anunciar. Corremos o risco de anunciar um Jesus que se adapta a diferentes realidades e que só vai satisfazer as necessidades das pessoas, como acontece com várias entidades e realidades”, disse.

Padre Luís Erlin insistiu que todo missionário claretiano deve “fazer uma imersão verdadeira no Evangelho, com base na Palavra de Deus para, assim, anunciar Jesus encarnado”.

Um carisma mais que contemporâneo

“O carisma claretiano nasce do desejo profundo de ‘fazer com que Deus seja conhecido, amado, servido e louvado’, como nos ensinou Santo Antônio Maria Claret”, lembrou, em entrevista à reportagem, Padre Eguione.

Ele recordou a vocação da Congregação na Igreja que se baseia, sobretudo, no anúncio da salvação: “Em nossa Congregação, esse anúncio acontece com a evangelização, com ousadia profética, em diálogo com a cultura, na defesa da vida ameaçada e pela presença nas periferias”.

Em relação à espiritualidade, o sacerdote ressaltou que não se trata apenas de práticas devocionais, mas de um modo de estar no mundo, por meio da compaixão, do silêncio interior e do discernimento.

“A espiritualidade claretiana é centrada na escuta e anúncio da Palavra e na ternura do Coração de Maria, nos impulsiona a viver com simplicidade, alegria e coragem, mesmo em meio à correria e ao sofrimento cotidiano. É uma presença comprometida”, resumiu.

Padre Luís Erlin reforçou a atualidade do Carisma e do anúncio realizado por Santo Antônio Maria Claret: “Ele pensou numa congregação que evangelizasse por todos os meios possíveis. Pensando nisso, podemos afirmar que hoje temos tudo na mão, só precisamos saber por onde caminhar”.

Sobre a espiritualidade, ele salientou que hoje as pessoas buscam experiências religiosas, mas nem sempre anseiam pelo mesmo que a Congregação anuncia. “A sociedade está aberta às experiências e podemos ajudá-las a viver essas experiências a partir do anúncio de Jesus que acreditamos. Para nós, ele é o Caminho, a Verdade e a Vida”, enfatizou.

Novos ares para a Igreja!

Diante da eleição do Papa Leão XIV, que aconteceu recentemente, Padre Eguione mostrou-se esperançoso de que seja um papado que dê continuidade ao caminho da escuta, da sinodalidade e da proximidade com os pobres, tão intensamente promovido pelo seu antecessor, o Papa Francisco.

“O nome que escolheu evoca Leão XIII, que soube responder profeticamente aos desafios do seu tempo, marcado profundamente pela Revolução Industrial. Hoje, enfrentamos outra revolução: tecnológica. Os avanços que temos assistido nos últimos anos, especialmente com a inteligência artificial, terão impacto no mundo do trabalho e na maneira de nos relacionarmos. Que a Igreja continue sendo uma voz profética e de esperança, para que a cultura do descarte não prevaleça”, desejou.

O religioso recordou também as várias crises contemporâneas e as questões: ambiental, geopolítica, entre outras, que exigem da Igreja uma posição firme, especialmente em defesa dos mais vulneráveis. “A Igreja tem um papel vital na defesa da Casa Comum, no acompanhamento dos jovens, no cuidado dos mais pobres. A missão hoje inclui o cuidado com toda a vida e acredito que Leão XIV, conduzido pelo Espírito, saberá responder a esses desafios”, disse.

Ao lado da juventude!

Claret Way, experiências vocacionais, voluntariado, Jornada da Família Claretiana, ações missionárias e presença em escolas e redes sociais são alguns dos projetos desenvolvidos pelos missionários em diferentes lugares do país.

“Mais do que oferecer respostas prontas, queremos ser companheiros de estrada dos jovens, para que eles possam descobrir seu lugar na história de Deus”, explicou o Provincial.

Rota 130! É tempo de celebrar

Padre Eguione falou também sobre a Rota 130, uma ação pastoral que “tem sido um sopro do Espírito na vida da Província”. Desde o início do ano, duas imagens peregrinas, do Imaculado Coração de Maria e de Santo Antônio Maria Claret, têm percorrido as comunidades como expressão da missão claretiana no Brasil.

“Essa Rota [por ocasião da celebração dos 130 anos de presença no país] é um caminho de renovação vocacional e missionária que nos convida a escutar a história, discernir os sinais de Deus e reavivar o compromisso com o carisma que nos foi dado. A Rota 130 tem gerado encontros, testemunhos e celebrações”, contou.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/carisma-claretiano-uma-luz-que-nao-se-apaga.html/feed 0
Infância perdida: o drama do trabalho infantil no Brasil https://revistaavemaria.com.br/infancia-perdida-o-drama-do-trabalho-infantil-no-brasil.html https://revistaavemaria.com.br/infancia-perdida-o-drama-do-trabalho-infantil-no-brasil.html#respond Mon, 02 Jun 2025 17:00:31 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77577 A exploração do trabalho infantil ainda é uma realidade e precisa ser denunciada para que todas as crianças e os adolescentes tenham o direito à infância, a crescer e a desenvolverem-se integralmente. 

A Constituição Federal Brasileira, no seu artigo 227, determina que família, sociedade e Estado devem assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de protegê-los de qualquer forma de violência, discriminação ou exploração, mas, no Brasil, somente em 2023 perto de 1,6 milhão de crianças estava em situação de trabalho infantil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa 4,2% do total de crianças do país e mostra como o tema deve ser amplamente tratado para que essa prática seja banida e 100% das crianças brasileiras tenham direito a uma infância plena.

“O trabalho infantil no Brasil está profundamente enraizado em nossa história, resultado de uma herança colonial e escravocrata que, por séculos, naturalizou a exploração da mão de obra de crianças, especialmente indígenas e negras. Apesar dos avanços legais conquistados nas últimas décadas, que proíbem o trabalho de adolescentes com menos de 16 anos (exceto na condição de aprendiz a partir dos 14), a prática ainda persiste”, disse, em entrevista à reportagem, a jornalista Roberta Tasselli, que integra a direção colegiada da Cidade Escola Aprendiz. 

Ela observou ainda, a questão racial, pois, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, 65,2% das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil são pretos ou pardos, proporção superior à sua presença na população total de 5 a 17 anos, que é de 59,3%. 

“Esse dado escancara os efeitos do racismo estrutural que molda e ainda sustenta a sociedade brasileira e cujas consequências se traduzem, por exemplo, na naturalização do trabalho infantil de crianças e adolescentes negros”, ressaltou Roberta, que também é membro do Conselho Gestor da Rede Narrativas desde 2019, reforçando sua contribuição para a promoção dos direitos de crianças e adolescentes.

Sobre as possíveis causas de o trabalho infantil ainda não ter sido erradicado no país, ela recordou que a situação é consequência de múltiplas formas de vulnerabilização social como o racismo e a desigualdade de acesso a serviços públicos. “Há ainda uma forte influência de valores culturais que naturalizam o trabalho precoce como uma forma de ‘ensinar responsabilidade’ ou ‘ajudar em casa’, quando na verdade mascaram a negligência do Estado e o desamparo das famílias em situações de exclusão e vulnerabilização social”, completou.

UMA PLANTA MURCHA

“Especialmente na infância, a pessoa não deve entrar na oficina senão quando a sua idade tenha suficientemente desenvolvido nela as forças físicas, intelectuais e morais; do contrário, como uma planta ainda tenra, ver-se-á murchar com um trabalho demasiado precoce e dar-se-á cabo da sua educação”: a citação é do Papa Leão XIII, retirada da Carta Encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891.

O documento, que trata da condição dos trabalhadores, foi citado pelo Arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas durante o diálogo interativo informal intitulado “Infância digna: eliminar o trabalho infantil em todas as suas formas, incluindo o recrutamento forçado e o uso de crianças nos conflitos armados”. 

Caccia salientou a proteção dos direitos das crianças, que devem crescer em ambientes que respeitam a dignidade e promovem o desenvolvimento integral e o acesso a cuidados de saúde, à educação e a oportunidades de crescer e contribuir socialmente. 

NÃO CALARÃO NOSSA VOZ

A Pastoral do Menor está com uma campanha para a prevenção e a denúncia de casos de trabalho infantil e tem desenvolvido um trabalho importante para chegar a todas as pessoas com a mensagem. 

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, Marilda Lima, coordenadora nacional da Pastoral do Menor, recordou que a pastoral carrega de Dom Luciano Mendes de Almeida – que faleceu em 2006 – o legado missionário e está presente em territórios com muitas adversidades, seja nas cidades grandes, seja nas mais distantes: “Atuamos em locais indesejados por muitos, como as unidades de internação dos adolescentes. Vamos aprendendo a nunca nos calar diante das injustiças aos pequenos, fazendo com que suas vozes sejam ouvidas”.

Marilda é incansável na defesa das crianças e salienta: “Enquanto houver uma criança, um adolescente sem teto, sem pão, sem dignidade, os agentes da Pastoral do Menor estarão presentes”. 

A pastoral, com atuação nacional, tem como principal objetivo buscar uma resposta transformadora, global, unitária e integrada à situação da criança e do adolescente empobrecidos e em situação de risco pessoal e/ou social, promovendo a participação deles como protagonistas.

A CONVIVÊNCIA FAMILIAR É UM SUPERDIREITO

Sávio Bittencourt é procurador de justiça no Ministério Público do Rio de Janeiro e junto à sua esposa, Bárbara Toledo, é coordenador do Setor de Casos Especiais da Pastoral Familiar, em nível nacional. Ele é pós-doutorado em Direitos Humanos e mestre em Direito da Criança, da Família e das Sucessões, além de presidente da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. 

“Quando há casos de trabalho infantil e violência doméstica, temos que pensar na identificação da situação e no encaminhamento para as autoridades cabíveis. A orientação é que acionemos sempre o Conselho Tutelar e o Ministério Público”, explicou.

Sávio recordou que, embora a maior parte dos casos aconteça quando há comprometimento financeiro, há muitas famílias que exploram as crianças no TikTok ou em outras redes sociais: “Em alguns casos, a criança para, inclusive, de ir à escola, ou seja, não acontece somente com famílias em dificuldades financeiras”.

Sobre a cultura do trabalho familiar, que ainda existe em muitas regiões do país, ou seja, aquelas situações em que a criança trabalha junto com a família, o Procurador explicou que é preciso agir de forma pedagógica e, se não houver resposta positiva da família, é preciso, igualmente, acionar as autoridades. 

“Nem sempre, a família é vilã. Pode ser uma questão cultural, mas, ainda assim, é preciso agir, para garantir às crianças o direito à educação e o direito à infância”, afirmou Sávio.

A ATUAÇÃO DA CIDADE ESCOLA APRENDIZ

A organização Cidade Escola Aprendiz também tem colaborado ativamente na construção de políticas públicas em diferentes regiões do país. Em Marabá, no Pará, há um projeto que articula ações de apoio a famílias de crianças e adolescentes, com atenção especial às chefiadas por mulheres negras em situação de pobreza multidimensional. 

Em São Paulo (SP), a Cidade Escola Aprendiz integra ativamente o movimento Criança de Rua Tem Pressa, que teve papel fundamental na mobilização pela sanção da Política Municipal de Atenção Integral a Crianças e Adolescentes em Situação de Rua e na Rua (lei 17.923/23). Além disso, a organização também integra o Fórum Paulista de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e a Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Infantil. 

Roberta explicou que as consequências do trabalho infantil são múltiplas e se manifestam em diferentes dimensões da vida da criança: “Do ponto de vista físico, o trabalho precoce expõe meninos e meninas a esforços incompatíveis com seu desenvolvimento corporal, muitas vezes em ambientes insalubres e perigosos. Já do ponto de vista emocional e psicológico, o impacto é igualmente grave: crianças que trabalham tendem a apresentar níveis mais altos de estresse, ansiedade e baixa autoestima, comprometendo seu bem-estar e sua autoestima”.

PREVENÇÃO É SEMPRE O MELHOR CAMINHO

Sobre a prevenção de casos, Sávio explicou que “Numa família funcional, mesmo com problemas, as crianças são protegidas. Quando essa família inexiste, temos que ajudar a ampliar a rede ou, em último caso, retirá-la para prover uma família, por meio da adoção. Isso porque o direito à convivência familiar é um superdireito e, a partir dele, todos os outros direitos são garantidos”.

Roberta, por sua vez, recordou que as escolas, por exemplo, são espaços privilegiados de escuta e identificação de situações de trabalho precoce: “Não cabe a elas substituírem a assistência social, mas se reconhecer como porta de acesso à rede de proteção social. Educadores bem-preparados podem acolher e encaminhar casos de violação, além de fomentar uma cultura escolar que valorize os direitos da infância”. E continuou: “Outros espaços sociais também têm papéis importantes. Igrejas, com sua capilaridade, podem sensibilizar comunidades para a proteção integral. Coletivos de esporte e cultura oferecem alternativas de desenvolvimento, fortalecendo o pertencimento e o protagonismo juvenil. Empresas, ao cumprir a legislação e ofertar vagas de aprendizagem, contribuem com a inclusão produtiva protegida de adolescentes. Até mesmo shoppings centers, como citamos anteriormente, podem se engajar nesse esforço. Cada ator que reconhece as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos contribui para romper com o ciclo do trabalho infantil”.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/infancia-perdida-o-drama-do-trabalho-infantil-no-brasil.html/feed 0
Abuso sexual infantil é tema para a Igreja? https://revistaavemaria.com.br/abuso-sexual-infantil-e-tema-para-a-igreja.html https://revistaavemaria.com.br/abuso-sexual-infantil-e-tema-para-a-igreja.html#respond Wed, 30 Apr 2025 19:01:00 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77361 Estamos preparados para o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes?

Ao passar por uma situação de violência doméstica, Maria das Graças (nome fictício) decidiu sair de casa com os dois filhos e abrir seu próprio negócio. Ela trabalhou como cabeleireira na garagem de casa. O negócio prosperou e Maria dedicava sempre mais tempo para conseguir o suficiente e sustentar a família. As crianças iam para a escola pela manhã. A filha mais velha, já com 16 anos, conseguiu trabalho como jovem aprendiz numa farmácia, e o caçula, aos 9 anos, passava a tarde no quarto dividindo o tempo entre as lições de casa e jogos no celular. Aos domingos, os três iam à missa na Igreja Nossa Senhora Aparecida, a poucos quarteirões da casa.

Depois de algum tempo, a mãe percebeu o filho cada vez mais calado e até assustado. Pensou ser uma reação esperada depois de tudo o que eles viveram antes da separação. Mas, ao pegar o celular — o mesmo que ela usava para o trabalho e emprestava para o filho jogar —, viu fotos do órgão sexual do menino na galeria do aparelho.

“Eu fui imediatamente perguntar o que eram aquelas fotos e, depois de muito insistir, de muito choro dele e meu também, ele acabou contando toda a história. Um suposto garoto, que depois descobrimos ser um homem adulto, estava conversando com ele pelo chat do Roblox há meses. Pediu para que ele enviasse as fotos, dizendo que era para que eles comparassem o tamanho e o aspecto do órgão de um e do outro. Sempre se fazendo passar por uma criança, o homem pediu outras coisas que eu tenho até vergonha de contar”, relatou Maria.

Depois de pedir ajuda na Igreja, ela foi orientada a procurar acompanhamento psicológico para si mesma e para o filho e, com o tempo, as marcas do abuso sofrido pelo garoto foram sendo elaboradas.

“Se eu não tivesse visto, nem sei o que poderia ter acontecido. O homem já tinha convidado meu filho diversas vezes para eles se encontrarem”, contou a mãe, que mora na cidade de Paracatu, interior de Minas Gerais.

18 de maio e a luta pelos direitos das vítimas!

O abuso sexual é uma grave realidade social, e a violência contra crianças e adolescentes continua recorrente no Brasil. O crime pode acontecer em diferentes situações, sejam elas presenciais ou virtuais. Na maioria das vezes, ocorre quando alguém, valendo-se de sua posição de poder, utiliza uma criança ou adolescente para satisfação sexual, seja de forma física ou não.

Para ajudar as famílias e demais instituições a pensarem ações de prevenção de casos como o que aconteceu com Maria, é que surgiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado a cada 18 de maio. Instituído pela Lei nº 9.970/00, a data é um marco na luta pelos direitos humanos de crianças e adolescentes, visando conscientizar e mobilizar a sociedade para combater esse tipo de violência.

A mobilização anual busca conscientizar a sociedade e incentivar a denúncia de casos de abuso e exploração sexual. No Brasil, só em 2024, foram registradas 5 denúncias de abuso contra crianças e adolescentes por hora. As de idade entre 10 e 13 anos são 5 vezes mais suscetíveis ao crime de estupro que o restante da população (veja mais números nos quadros abaixo). Os dados coletados representam apenas 10% dos casos de violência, segundo informações dos próprios institutos de pesquisa como o IBGE e a Childhood.

E sobre a responsabilidade e atuação da Igreja?

Para colaborar nas ações de combate e prevenção a esses tipos de crime, a Igreja do Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criou uma Comissão Especial para a Proteção da Criança e do Adolescente e o Núcleo Lux Mundi (NLM), em parceria com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, Eliane De Carli, coordenadora do Núcleo, falou sobre a finalidade do grupo, as ações e campanhas realizadas e os desafios da sociedade e da Igreja em relação ao tema.

“O NLM nasceu em 2020, com o propósito de apoiar e facilitar a criação e a implementação dos Serviços Eclesiais de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis nas estruturas pastorais da Igreja Católica no Brasil, tanto nas dioceses quanto nas congregações religiosas, como uma resposta concreta ao Motu Proprio Vos Estis Lux Mundi“, explicou.

Na Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio, publicada em 2019 e atualizada em 2023, Papa Francisco afirma que “os crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e lesam a comunidade dos fiéis. Para que tais fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam todos os membros da Igreja, de modo que a santidade pessoal e o empenho moral possam concorrer para fomentar a plena credibilidade do anúncio evangélico e a eficácia da missão da Igreja”.

No texto, há, ainda, uma série de disposições sobre a recepção de casos por parte da Igreja, bem como o encaminhamento de denúncias e proteção de dados.

O Núcleo Lux Mundi surgiu como resposta ao Motu Proprio e seu propósito é estabelecer mecanismos eficazes para prevenir e evitar os abusos sexuais contra crianças, adolescentes e adultos vulneráveis perpetrados por membros da Igreja (veja no box os pilares do NLM).

Acesso à informação é essencial

Eliane De Carli falou ainda sobre possíveis caminhos para ajudar famílias e a comunidade escolar a abordarem a questão de forma mais aberta, vencendo possíveis tabus. “Entendemos que tanto as famílias quanto o ambiente eclesial ou comunidade escolar serão ajudadas se forem instruídas, formadas para a prevenção. Uma das maneiras para formar é falar com frequência e de modo amigável sobre este assunto, de modo a desmistificá-lo e tirá-lo das sombras”, disse.

Já sobre o recebimento e encaminhamento de denúncias por parte das instituições que acolhem diretamente as crianças, como creches, escolas, igrejas e clubes de esporte, Eliane salientou que, apesar de terem acontecido avanços e da existência de uma legislação robusta no que se refere a este assunto, ainda não há preparo em muitos lugares. “Estamos a caminho”, considerou.

Ela recordou também que a maior parte dos casos acontece em ambientes familiares. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública trouxe um dado importante em 2024: 65% das vítimas de estupro e estupro de vulnerável menores de 14 anos estão dentro das residências.

Como atuar na prevenção ao abuso?

  • Trabalhar com as famílias, para que elas sejam formadas para a parentalidade.
  • Tutores e educadores devem ser capacitados para perceber os sinais que crianças e adolescentes apresentam quando sofrem violências.
  • Crianças e adolescentes devem receber informações sobre como se defender e a quem recorrer quando as violências ocorrem.

Pilares do Núcleo Lux Mundi para proteção das crianças e adolescentes

  1. Colaborar com a instalação e constituição dos Serviços Eclesiais de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis nas estruturas pastorais da Igreja Católica no Brasil.​
  2. Apoiar na sistematização da instituição de Política de Proteção, das medidas de segurança e proteção de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis inseridos na Igreja.

III. Promover a formação continuada e capacitação no que se refere à Doutrina da Proteção Integral e à Prevenção da Violência contra crianças, adolescentes e adultos vulneráveis, para que os espaços da Igreja sejam seguros, a partir do conhecimento e de novas atitudes na prevenção e combate a quaisquer formas de violência dentro e fora da Igreja do Brasil.​

  1. Estabelecer parcerias eficazes por meio de Termos de Cooperação com instituições para a realização de cursos.​
  2. Reforçar o relacionamento com a Rede de Proteção da Criança e do Adolescente no âmbito nacional e local.

Cuidado ao compartilhar fotos e vídeos na internet

Os crimes virtuais contra crianças e adolescentes são cada vez mais recorrentes. Além do monitoramento a respeito do que elas consomem ao usar plataformas e sites de jogos online e redes sociais, os tutores devem se prevenir ao postar imagens das crianças na internet, e não somente porque elas têm direito à privacidade e de preservação da própria imagem, mas porque as imagens podem ser usadas por criminosos.

Sheylli Caleffi, treinadora de comunicação e oratória, educadora e ativista pela erradicação da violência sexual e online, tem um vasto material com acesso gratuito na internet para ajudar na prevenção desses crimes.

Em um de seus livros gratuitos, ela listou alguns dos principais problemas relacionados à presença de crianças e adolescentes nas redes e como podemos criar uma defesa para essas questões.

Alguns cuidados citados por ela incluem:

  • Não postar fotos de criança que não são sua responsabilidade (mesmo que seja o avô, tio ou madrinha da criança). Não importa a idade da criança — de bebês a adolescentes —, todas as imagens podem ser exploradas;
  • Verificar o tipo de foto postada: roupa, pose e o que aparece no fundo. Evitar postar foto de criança sozinha; um adulto na foto ajuda muito;
  • Dialogar constantemente em casa é fundamental. Diante de um problema, a criança ou adolescente deve pedir ajuda e não fugir com medo da reação dos responsáveis;
  • Conversar sobre educação sexual em casa e apoiar a escola nas aulas de educação sexual. Educadores têm didática e ferramentas para ensinar como crianças e adolescentes podem se proteger.
]]>
https://revistaavemaria.com.br/abuso-sexual-infantil-e-tema-para-a-igreja.html/feed 0
A Festa da Divina Misericórdia e São João Paulo II: A Misericórdia une Deus e o ser humano https://revistaavemaria.com.br/a-festa-da-divina-misericordia-e-sao-joao-paulo-ii-a-misericordia-une-deus-e-o-ser-humano.html https://revistaavemaria.com.br/a-festa-da-divina-misericordia-e-sao-joao-paulo-ii-a-misericordia-une-deus-e-o-ser-humano.html#respond Tue, 01 Apr 2025 17:23:47 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77144 Celebrada todos os anos no segundo domingo de Páscoa, a Festa da Divina Misericórdia foi instituída pelo Papa João Paulo II no ano 2000 e é uma oportunidade para os fiéis prestarem homenagem à Misericórdia Divina e viverem a experiência da misericórdia de Deus no dia a dia.

A Festa tem suas raízes nas revelações de Jesus a Santa Faustina Kowalska, religiosa polonesa que recebeu, por volta dos anos 1930, mensagens contínuas de Jesus e as escreveu em um diário de 600 páginas. Nesses textos, ela reforçou a mensagem de que o mundo precisava e continuará sempre precisando da misericórdia de Deus.

Esse movimento deu origem à Hora da Misericórdia, momento em que cristãos e não cristãos dedicam alguns minutos do dia para se conectar com Deus por meio de uma oração repetitiva como, por exemplo, o rosário.

Realizada diariamente às 15 horas, a Hora da Misericórdia marca a reflexão sobre a Paixão de Cristo e a infinita misericórdia de Deus. Ela também foi iniciada por Santa Faustina, que foi instruída durante suas revelações a divulgá-la como um meio de pedir a misericórdia divina, e a prática se tornou parte da devoção católica.

‘Misericórdia é lei!’

Em 2015, o Papa Francisco publicou uma bula papal durante o Jubileu da Misericórdia. No texto, ele afirma que a misericórdia é “fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro”.

O Pontífice considerou a misericórdia como lei fundamental para o bem viver. “É a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”, escreve.

São João Paulo II, por sua vez, recordou em sua carta encíclica “Sobre a Misericórdia Divina”, escrita em 1980, que “Deus é Pai, amor e misericórdia e que as parábolas são essenciais para compreender a misericórdia de Deus”.

“Jesus faz da mesma misericórdia um dos principais temas da sua pregação. Como de costume, também neste ponto ensina antes de mais em parábolas, porque exprimem melhor a própria essência das coisas. Basta recordar a parábola do filho pródigo, ou a parábola do bom samaritano, ou ainda, por contraste, a do servo sem compaixão”, recordou.

Ele salienta, ainda, que a mentalidade contemporânea, talvez mais do que aquela do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e negar a própria ideia da misericórdia. “A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar no ser humano, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica, nunca verificado na história, se tornou senhor da Terra, a subjugou e a dominou. Tal domínio sobre a Terra, entendido por vezes de forma unilateral e superficial, parece não deixar espaço para a misericórdia”, explica São João Paulo II.

Perdão, humildade e caridade

Julio Araujo Silva Figueredo Neto, conhecido como Diácono Julio Neto, é membro da Comunidade Aliança de Misericórdia há 25 anos e participou do retiro fundacional da comunidade. Responsável pelo Departamento de Comunicação da Aliança de Misericórdia, ele atua também como evangelizador por meio de pregações em várias partes do Brasil e no exterior.

O missionário recordou que a Festa da Divina Misericórdia tem, sim, suas bases muito fortes nas revelações recebidas por Santa Faustina e sua experiência mística com Jesus Misericordioso. Ele citou também o Ano Jubilar, proclamado pelo então Papa João Paulo II em 2000, mas completou: “Mais do que proclamar um Jubileu, o Papa ligou de uma forma muito direta a própria encarnação do Verbo de nosso Senhor Jesus Cristo como esse grande sinal da misericórdia de Deus, um tempo de penitência”.

Para Julio, o Ano Jubilar é, acima de tudo, “um tempo que nos ajuda a viver a penitência, mas no sentido, principalmente, do perdão. Do perdão das dívidas, do perdão dos pecados”.

Ele contou também que esteve na Polônia e chegou a concelebrar no Santuário da Divina Misericórdia e no Santuário de São João Paulo II: “Pude compreender melhor, estando lá, a história de Santa Faustina e como ela viveu, de fato, a sua santidade, num caminho de muita humildade, de muita simplicidade. Santa Faustina era uma irmã consagrada muito simples, estava sempre entre os trabalhos mais humildes”.

“É bom e importante ressaltar que, para receber, experimentar, viver a misericórdia, é preciso ter a humildade e abrir o coração, porque a misericórdia de Deus vem ao encontro da miséria humana”, disse Julio.

Inspirado pelo Papa, Julio afirma que uma das faces do rosto da misericórdia é a caridade: “A caridade que nos leva a conduzir a misericórdia para as outras pessoas, porque nós experimentamos também dessa misericórdia, e essa misericórdia é levada aos nossos irmãos”.

“Ser um rosto da misericórdia é ter a coragem de ir ao encontro do sofrimento do outro: do sofrimento físico, mental, psíquico, emocional, do sofrimento e da dificuldade de não ter o que comer, o que vestir, onde dormir, de ter uma casa. Ir ao encontro do sofrimento do outro é um encontro com aquele que sofre, no mais profundo sentido bíblico da palavra ‘pobre’”, enfatizou Julio.

A Hora da Misericórdia

Eterno Pai, eu vos ofereço o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Pela sua dolorosa paixão que tem de misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Segundo a promessa de Jesus a Santa Faustina, exatamente às três da tarde, as comportas do céu se abrem: a Hora da Divina Misericórdia marca, simbolicamente, o momento em que Jesus dá a vida por nós na cruz.

Julio, missionário da Comunidade Aliança de Misericórdia, explica que, para ele, a melhor forma de viver esse momento da Hora da Misericórdia é concentrar-se diante de Jesus Misericordioso, seja pela reza do Terço da Misericórdia, seja colocando-se diante da cruz ou mesmo de alguma representação de Jesus Misericordioso.

“Jesus definitivamente nos liberta da escravidão da morte e nos dá a vida. Então, rezar o Terço da Divina Misericórdia, viver a Hora da Misericórdia, é contemplar com alegria, amor e profundidade o mistério salvífico de nosso Senhor Jesus Cristo, que derrama sobre nós o sangue e a água, que fazem com que possamos contemplar, lembrar e saber que Ele é o Senhor que deu a vida por nós”, disse Julio.

Para Vanessa dos Santos Tinelli, também missionária de vida da Aliança de Misericórdia e diretora social, no instante da Hora da Misericórdia, “todos somos chamados a pedir misericórdia para o mundo inteiro. A oração do Terço da Misericórdia, a meditação da Paixão de Cristo e os atos concretos de amor são formas poderosas de viver esse momento de graça”.

“Mas não paramos na oração” – continua ela – “buscamos fazer dessa súplica um compromisso de vida. Quando acolhemos um irmão em situação de rua, quando olhamos nos olhos de um pobre sem medo ou preconceito, quando nos doamos sem reservas, estamos estendendo a misericórdia que brota do coração de Cristo. Ser misericórdia é se aproximar sem medo, ouvir sem pressa, amar sem medidas”.

Dicas para viver melhor A Hora da Misericórdia (às 15h), segundo São João Paulo II e Santa Faustina: 

  1. A oração e a confiança na misericórdia

Recorrer à misericórdia de Deus com total confiança, rezando o Terço da Misericórdia ou fazendo um breve ato de amor e entrega. Ao olhar para a cruz, meditar sobre o sacrifício de Jesus e pedir graças não apenas para si, mas para o mundo inteiro.

  1. A união com Cristo na cruz

São João Paulo II ensinou que a misericórdia não é apenas algo a ser pedido, mas também um chamado à transformação interior. Unir-se espiritualmente à dor e ao amor de Jesus, oferecendo a Ele dificuldades, sofrimentos e intenções pela salvação do mundo.

  1. A misericórdia em ação

A misericórdia é a resposta ao sofrimento do mundo. Por isso, a Igreja convida todos a praticarem obras de misericórdia, ajudando os necessitados.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/a-festa-da-divina-misericordia-e-sao-joao-paulo-ii-a-misericordia-une-deus-e-o-ser-humano.html/feed 0
Santas mulheres, nossa inspiração! https://revistaavemaria.com.br/santas-mulheres-nossa-inspiracao.html https://revistaavemaria.com.br/santas-mulheres-nossa-inspiracao.html#respond Mon, 03 Mar 2025 13:23:37 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76949 O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, é uma ocasião para exaltar a força e a coragem de mulheres que fizeram história e dedicaram suas vidas a ajudar outras pessoas. Nos campos social e econômico, mas também no campo religioso, essas mulheres marcaram e continuam a fazer a diferença nos lugares por onde passam. São mães, religiosas, professoras, médicas e mulheres que promovem o bem e a paz.

Algumas delas são reconhecidas pela Igreja Católica e aclamadas como santas. Nomes como Santa Dulce dos Pobres, Santa Teresa de Calcutá ou Nhá Chica tem suas histórias conhecidas e inspiram outras mulheres, como Ângela Abdo, coordenadora do Movimento Mães que Oram pelos Filhos. 

Além disso, as santas doutoras da Igreja oferecem uma importante reflexão sobre a contribuição da mulher no mundo atual e o enfrentamento de desafios. Durante um evento realizado em 2022, sobre o tema “Doutoras da Igreja e padroeiras da Europa: em diálogo com o mundo atual”, o Papa Francisco enfatizou que essas mulheres “De fato, assumem um novo protagonismo também nestes tempos, devido à permanência e à profundidade do seu pensamento que, nas atuais circunstâncias, oferece luz e esperança ao nosso mundo fragmentado e desarmonizado”.

PIONEIRAS, ATENTAS E DEDICADAS AO POVO

Irmã Rosita Paiva

Em 2021, a Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, autorizou a abertura do processo de beatificação de Rosita Paiva. A religiosa nasceu em 13 de março de 1909, em Lábrea, no Amazonas, filha de Alexandre Muzzio Paiva e Virgínia Menezes Paiva.

Amazonense e fundadora do Instituto Josefino, Rosita sempre sonhou com a vida religiosa e teve sua vida marcada pelo testemunho de santidade a partir de simplicidade e doação incondicional. “É um estímulo para o povo de Deus de que a santidade é possível em qualquer tempo, lugar e estado de vida”, afirmou Irmã Maria Bernadete Gonçalves na ocasião em que recebeu a resposta positiva sobre a beatificação de Rosita.

Irmã Maria Bernardete disse, ainda, que Rosita foi uma pessoa orante, amável, compassiva e misericordiosa. “Tinha forte espírito de fé e de caridade, ardor missionário, obediência à vontade de Deus, confiança na divina providência, grande amor e zelo pelos sacerdotes e amor incondicional aos pobres”, enfatizou.

Referência de justiça e amor por onde passava, inclusive na família, Rosita deixava por sempre uma marca de santidade e todos percebiam quanto ela era dedicada a trabalhar pelo bem comum, além de ser uma pessoa despojada e muito generosa.

Em maio de 2024, a Arquidiocese de Fortaleza (CE) promoveu uma romaria eucarística em que todos os fiéis rezaram pela beatificação de Irmã Rosita, uma mulher que, com certeza, transformou vidas das pessoas com as quais cruzou. 

Beata Nhá Chica

A Beata Nhá Chica, nascida no distrito de São João Del Rei (MG), é celebrada pela Igreja a cada 14 de junho e teve uma vida humilde, cheia de austeridade e espiritualidade. 

Francisca de Paula Jesus, que depois ficou conhecida como Nhá Chica, era uma mulher cheia de sabedoria e, por isso, muitos a procuravam para pedir conselhos. Ainda criança mudou-se com sua mãe e o irmão para Baependi, cidade do interior de Minas Gerais, e alguns anos depois, com a morte da mãe, os dois passaram a viver sozinhos. Ela tinha apenas 10 anos de idade. 

Nhá Chica nunca se casou e passou a viver sozinha em uma casinha, dedicando-se à oração e a dar conselhos a quem lhe procurava. Desde jovem, sua fama de santidade espalhou-se rapidamente. Aos que perguntavam de onde vinha tanta sabedoria, ela dizia que Nossa Senhora lhe indicava o que deveria dizer. 

Theotônio, irmão de Nhá Chica, chegou a casar-se, mas, não teve filhos nem herdeiros, por isso, deixou toda a sua fortuna para a irmã, que usou o dinheiro para construir uma capela no terreno herdado ao lado de casa. Dedicada a Nossa Senhora da Conceição, a capela atraía pessoas da cidade e viajantes que passavam por ali. 

Às sextas-feiras, Nhá Chica não atendia ninguém, dedicando-se ao cuidado dos afazeres domésticos, além de dedicar-se à oração e à penitência. Ela morreu aos 85 anos, em 14 de junho de 1895, com fama de santidade. Um santuário foi erguido no lugar em que ficava a capela que Nhá Chica ergueu, demolida em 1940. Nhá Chica foi beatificada no dia 4 de maio de 2013, em Baependi.

Santa Dulce dos Pobres

Santa Dulce Lopes Pontes, também conhecida como “Anjo Bom da Bahia” ou “Irmã Dulce dos Pobres”, nasceu em 1914 e morreu em 1992. Reconhecida em todo o mundo como uma mulher que dedicou a vida aos pobres, Santa Dulce teve como lema de vida “Amar e servir”. Ela fez da sua existência um instrumento vivo de fé, amor e serviço aos indigentes e enfermos.

Irmã Dulce nasceu maio de 1914, em Salvador, Bahia, segunda filha de Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza. Foi batizada com o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Sempre muito alegre, Dulce adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha apreço pelo futebol. Sempre foi torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time da classe operária da sociedade.

Aos 13 anos, a jovem Dulce passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, que acabou se transformando em um pequeno “centro de atendimento”, conhecido como Portaria de São Francisco. Nessa época, ela começou a manifestar o desejo de dedicar-se à vida religiosa.

Após formar-se em Magistério, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, recebeu o hábito religioso e mudou seu nome para Irmã Dulce, para homenagear sua mãe. Ela começou seu caminho como professora em um colégio da ordem e só em 1935 começou a ajudar uma comunidade no bairro de Itapagipe, na periferia de Salvador. Assim nasceu a União Operária São Francisco, primeira organização católica do Estado que, posteriormente, transformou-se em Círculo Operário da Bahia. Dois anos depois, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, uma escola pública para operários e seus filhos, no bairro da Massaranduba.

O testemunho de Irmã Dulce para o povo brasileiro é imenso e sua vida foi um exemplo de dedicação, pobreza e amor pelos outros. A sua beatificação aconteceu em 2011 e a canonização, em 2019, em Roma.

Na cidade de Alagoinhas, na Bahia, Andreia de Souza Carvalho participa de um grupo de oração que tem como padroeira a Santa Dulce dos Pobres. Ela, o esposo e as duas filhas, de 9 e 5 anos, participam do grupo de oração e de outras atividades da paróquia. “Passamos por momentos muito difíceis aqui em casa. Tivemos muitas dificuldades financeiras e uso de álcool. Quase nos separamos, mas, pela força da oração conseguimos ir transformando nossas vidas. Devo muito à intercessão de Irmã Dulce”, disse Andreia.

EM ORAÇÃO, A CAMINHO DA SANTIDADE

Em 2024, o Movimento Mães que Oram pelos Filhos completou seu décimo aniversário. O movimento tem impactado a vida de muitas famílias no Brasil e no exterior. Tudo começou quando, em 2014, um grupo de mães propôs reunir-se e rezar pelos filhos para que conseguissem enfrentar, com êxito, os diversos desafios vividos em cada fase da vida.

Com participação efetiva da fundadora, Ângela Abdo Campos Ferreira, o movimento foi crescendo de forma exponencial, marcando a trajetória de milhares e milhares de famílias. A força de Ângela, que é mestra em Ciências Contábeis pela Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (Fucape), pós-graduada em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (GV), Gestão de Pessoas pela Fundação de Assistência e Educação (Faesa), graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e psicanalista foi essencial para que tudo pudesse caminhar bem. 

Além de sua atuação no movimento, ela é consultora e executiva na área de recursos humanos e empresa hospitalar e autora de mais de dez livros. Suas palestras e pregações estão disponíveis no YouTube, principalmente no canal Canção Nova Play.

Nas redes sociais do movimento são incontáveis os testemunhos de mães que tiveram suas vidas transformadas pela oração dentro dele. Em maio de 2025 acontecerá, na sede da Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), o evento “Cidade das Mães”, com atividades exclusivas para pais, jovens e crianças e, claro, para as mães. A programação completa e as informações sobre como participar estão disponíveis no site eventos.cancaonova.com ou no Instagram na comunidade @maesqueorampelosfilhosoficial.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/santas-mulheres-nossa-inspiracao.html/feed 0
Todos são convidades a viver o Jubileu da “Esperança que não engana” https://revistaavemaria.com.br/todos-sao-convidades-a-viver-o-jubileu-da-esperanca-que-nao-engana.html https://revistaavemaria.com.br/todos-sao-convidades-a-viver-o-jubileu-da-esperanca-que-nao-engana.html#respond Fri, 31 Jan 2025 20:44:52 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76729 O Jubileu Ordinário do ano de 2025 teve início na Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda em 2024. Em todas as dioceses do mundo, o jubileu foi solenemente aberto no Domingo da Sagrada Família, no contexto da oitava do Natal do Senhor, portanto, toda a Igreja já vive o ano jubilar.

Em todo o mundo, bispos, sacerdotes, religiosos e cristãos leigos buscam a vivência da “esperança que não engana”, como escreve o Papa Francisco na bula papal publicada em maio de 2024, na Solenidade da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, 12º ano de seu pontificado.

Dom João Justino de Medeiros Silva reside em Goiânia (GO) desde fevereiro de 2022, onde exerce seu ministério de arcebispo metropolitano. Em maio de 2023 foi eleito primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

Mineiro de Juiz de Fora, nascido em 1966, Dom João é graduado em Pedagogia, Ciências Sociais e Teologia, com mestrado e o doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Pessoalmente, em razão da missão à frente da Arquidiocese de Goiânia, ele tem ajudado os fiéis na experiência da espiritualidade jubilar: “Organizamos uma programação arquidiocesana com o intento de levar a todos a mensagem do Evangelho da esperança, anunciando Jesus Cristo como a esperança viva e definitiva. Tenho a missão de presidir algumas celebrações arquidiocesanas e manter vivo, ao longo de todo o ano, o espírito próprio de um tempo jubilar”, disse em entrevista à reportagem.

Padre Gabriele Beltrami, pároco da Paróquia Santíssimo Redentor, em Val Melaina, bairro de Roma, na Itália desde setembro de 2013, afirmou que durante o ano jubilar a comunidade eclesial pode experimentar muitas novidades, seja em termos espirituais quanto comunitariamente: “É uma oportunidade especial de graça, que convida todos os membros da Igreja a viverem um tempo de renovação e reconciliação”. 

Além da renovação espiritual, ou seja, tempo para que os cristãos possam refletir sobre a misericórida e experimentá-la de modo direto, Padre Gabriele salientou que o jubileu é também um tempo que a Igreja é chamada a ser mais acolhedora e inclusiva, a fortalecer a unidade e olhar para o mundo com uma nova perspectiva, promovendo o diálogo inter-religioso e a paz.

Gizele Barbosa, redatora, analista de marketing e membro da SIGNIS Brasil Jovem foi selecionada para participar do jubileu, em Roma, junto ao primeiro grande grupo de peregrinos, o dos comunicadores. Ela saiu de São Paulo (SP), cidade em que reside, para viver a experiência jubilar no Vaticano. “Espero que este ano jubilar fortaleça os laços em vista de um crescimento como Igreja. Acredito que estar com comunicadores do mundo inteiro e do Brasil no jubileu será uma oportunidade de testemunhar a fé em um mundo repleto de desafios, ainda mais quando se fala de comunicação e inovações tecnológicas. Acredito que vamos partilhar muito as experiências e as dificuldades. Dali sairão parcerias e projetos que poderão trilhar um caminho novo na Igreja, com um olhar mais esperançoso para o mundo das comunicações”, disse.

Para a Irmã Patrizia Bongo, missionária scalabriniana que mora em Piacenza, também na Itália, a vivência do ano jubilar passou por aceitar o convite do Papa Francisco para dedicar-se mais à oração, a fim de se preparar e acolher este Ano Jubilar da Esperança como batizada e consagrada, sobretudo como Igreja, com empenho e em vista da abertura da Porta Santa. “O ano jubilar é para mim um tempo de graça que nos é dado e já senti dentro de mim a necessidade pessoal de me pôr em silêncio e começar uma peregrinação interior, vivendo as iniciativas dos encontros de oração contemplativa e meditativa. Nestes dias estou de volta a Roma e preparo-me para receber novamente o Sacramento da Penitência e viver a peregrinação às portas santas de Roma por etapas, como uma peregrinação interior”, explicou.

“SOMOS TODOS PEREGRINOS”

Dom João Justino salientou que as pessoas, as comunidades e toda a sociedade são chamadas a viver o jubileu: “Para as pessoas, incluindo-me também, espero o fortalecimento da esperança como renovação espiritual que se estende à fé e à caridade, ou seja, o fortalecimento da vida cristã como compromisso de traduzir o Evangelho de Jesus Cristo nos atos cotidianos. Em outras palavras, que o jubileu seja oportunidade para os cristãos renovarem sua adesão de fé no mistério do Verbo encarnado. Quanto às comunidades, que elas vivam o jubileu na disposição de escutar, meditar, orar e agir em sintonia com o Evangelho do qual a Igreja se alimenta todos os dias. Quanto à sociedade, que os homens e mulheres identificados como cristãos sejam semeadores de esperança, tecelões da paz tão desejada, construtores de um mundo que abriga a todos sob o olhar amoroso do Pai”.

Padre Gabriele, que vive em uma comunidade intercultural em Roma, explicou que sua comunidade sofre, como tantas outras, de certo cansaço e necessidade de vida nova: “Somos diversos, mas amantes de um único desejo: encontrar a comunhão na diversidade. Podemos nos definir como italianos, filipinos, indonésios, indianos ou paraguaios, mas, no fundo, somos todos cristãos em caminho, peregrinos da esperança. Esse bem é reconhecido pela Igreja e, por isso, devemos agradecer ao Redentor”.

Sobre a atenção aos mais vulneráveis, Gizele recordou que “a Igreja tem uma longa tradição de serviço aos mais vulneráveis e o jubileu reforça esse compromisso. Em minha caminhada eclesial, sempre estive envolvida em iniciativas voltadas para jovens, religiosos e lideranças de pastorais, promovendo espaços de diálogo e formação para eles serem agentes de transformação social. Essas ações refletem o chamado do Papa para uma Igreja que se faz presente nas periferias existenciais, levando esperança e apoio concreto”.

Irmã Patrizia, por sua vez, atuou como professora de religião num liceu científico italiano e enfatizou que todos os dias entrava em contato com muitos jovens que não eram batizados nem pertenciam à Igreja Católica/cristã: “Quando penso naquilo que o Papa nos diz e na realidade do mundo juvenil, constato como os jovens voltaram a colocar questões religiosas num contexto de grande pluralismo, em contato quotidiano com diferentes experiências religiosas, confrontando-se com amigos das religiões islâmica, budista, de igrejas irmãs cristãs, hindus”. 

Para ela, “Os jovens têm necessidade de fazer experiências expressivas como resposta concreta ao amor recebido, de se colocarem em jogo por um tempo, aderindo ao serviço generoso, às iniciativas de solidariedade, ao voluntariado, para evitar um achatamento da proposta cristã que acabaria por esvaziar a própria experiência de serviço e torná-la sem sentido para os jovens. Como comunidade eclesiástica somos chamados a ajudar os jovens a recuperar, a partir das suas experiências e das tradições das suas comunidades, o patrimônio da fé e o Ano Jubilar é uma oportunidade a não perder para investir na fé. É um forte apelo à renovação da identidade cristã”, continuou.

ESCUTAR O BEM

“Papa Francisco é muito realista e como tal ele sabe que o bem presente no mundo é silencioso e muito maior do que o mal barulhento”, recordou Dom João Justino, que reforçou a importância de, durante o jubileu, buscar as incontáveis boas notícias que existem e são pouco conhecidas para fazê-las conhecidas. “Com certeza elas se tornam no coração de quem as escuta um bálsamo que unge e prepara para gestos em favor da promoção da vida de cada pessoa e do cuidado com a criação, dom de Deus para todos”, afirmou o arcebispo.

Ele recordou, ainda, que todo jubileu traz em si um traço de conversão, de perdão, de recomeço: “Ao propor a esperança como mensagem central do Jubileu de 2025, o Papa Francisco alarga ainda mais o horizonte de cuidado com aquelas pessoas que vivem em situações desfavoráveis e padecem. A Igreja, em todos os tempos, está atenta a essas situações. Suas inúmeras obras sociais testemunham o zelo para com os pobres e necessitados e é impressionante como a Igreja consegue fazer tanto com tão poucos recursos. Na Arquidiocese de Goiânia há muitas obras sociais mantidas sobretudo pelas comunidades que atestam, dessa forma, que ser discípulo de Jesus Cristo inclui, necessariamente, reconhecê-lo nos pequeninos [cf. Mt 25,31-46]”, explicou Dom João Justino.

O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reforçou ainda a importância de considerar a dimensão ecológica do jubileu: “Dar o descanso à terra que produz os alimentos. Redistribuir a terra para recomeçar novos tempos de trabalho e produção. Libertar os cativos. Tudo isso faz pensar, imediatamente, na crise ambiental que vivemos. Que argumentos sustentam que não existe crise ambiental? Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade de 2025 está em sintonia com essa dimensão ecológica do jubileu quando traz o tema ‘Fraternidade e ecologia integral’. A crise ambiental afeta o ânimo e a coragem das pessoas. A esperança cristã nos apela ao engajamento em favor do cuidado com os bens da criação, condição para o futuro da Terra. É tarefa nossa criar mecanismos de diálogo com as lideranças sociais e políticas para tratar abertamente do tema do cuidado com a casa comum”, disse.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/todos-sao-convidades-a-viver-o-jubileu-da-esperanca-que-nao-engana.html/feed 0