Pe. Nilton Cesar Boni, cmf – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br A Revista Mariana do Brasil - fundada em 28 de maio de 1898 pelos Claretianos em São Paulo Wed, 01 Oct 2025 14:18:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2021/08/cropped-ico-revista-avemaria-60x60.png Pe. Nilton Cesar Boni, cmf – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br 32 32 Jacó, o abençoado https://revistaavemaria.com.br/jaco-o-abencoado-2.html https://revistaavemaria.com.br/jaco-o-abencoado-2.html#respond Wed, 01 Oct 2025 14:18:27 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78478  narrativa histórica de Jacó está em Gênesis, dos capítulos 27 a 37, e não é fácil de ser interpretada, pois está cheia de contradições.

Etimologicamente, Jacó significa “o segurará pelo calcanhar”. Ele era filho de Isaac com Rebeca e sua mãe orquestrou um plano para que tomasse o lugar de seu irmão gêmeo Esaú na progenitura e fosse abençoado antes; no entanto, com a descoberta da fraude, Esaú decidiu matá-lo. Para que não se cometesse mais um fratricídio a exemplo de Caim e Abel, sua mãe pediu a Jacó que fugisse para a casa de Labão. No caminho, Jacó teve um sonho e pela primeira vez encontrou o Senhor, que lhe dirigiu um chamado especial: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac; darei a ti e à tua descendência a terra em que estás deitado. Tua posteridade será tão numerosa como os grãos de poeira no solo. Estou contigo, para te guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi” (Gn 28,13-15).

Antes desse sonho, Jacó não tinha nenhuma importância, era apenas o neto de Abraão e estava inserido no contexto da aliança e da promessa. Deus invadiu o sono de Jacó e se manifestou. O Senhor foi misericordioso com Jacó mesmo nos conflitos com a família e preparou a volta do patriarca para Canaã e a reconciliação com seu irmão, Esaú.

Jacó percorreu um caminho de lutas e acertos. Na sua noite escura de oração e encontro com o Senhor, entendeu que sua vocação era formar o povo de Deus. Na mudança de nome de Jacó para Israel (“aquele que luta com Deus”), assumiu a nova identidade a serviço do povo. A experiência de ser abençoado foi a garantia de que sua vida tinha um sentido e sua missão era guiada por aquele que o transformara.

Podemos dizer que Jacó representa o arquétipo das pessoas que durante a vida lutam com Deus em busca de respostas e, mesmo nas penas e revoltas, o Senhor não desiste de amá-las, assim como não nos deixa sozinhos.

Deus tem um propósito para cada um de seus filhos e fará de tudo para assegurar sua bênção, mesmo que a liberdade humana escolha caminhos errados que afastam da graça. O Pai amoroso tratará de resgatar os perdidos, dando-lhes uma nova identidade e a posse de um novo horizonte. Deus vai trabalhando no coração, lapidando-o até o momento do encontro com o passado e a reconciliação plena que culminará em outro ritmo existencial.

“Nós também, como Jacó, somos mendigos de bênçãos, mas hoje corremos o risco de perder a capacidade espiritual de compreender que as grandes bênçãos se escondem dentro das feridas feitas na carne das nossas relações: ‘Jacó chegou são e salvo à cidade de Siquém, na terra de Canaã (Gn 33,18)’.” (Luigino Bruni, O perdão é luta abençoada).

As lutas de Jacó desencadearam a formação do povo de Israel. Sua numerosa descendência (doze filhos) formou as doze tribos, encerrando o tempo dos patriarcas bíblicos e abrindo o das novas comunidades.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/jaco-o-abencoado-2.html/feed 0
Tiago Maior, o peregrino da vida https://revistaavemaria.com.br/tiago-maior-o-peregrino-da-vida.html https://revistaavemaria.com.br/tiago-maior-o-peregrino-da-vida.html#respond Tue, 02 Sep 2025 13:48:42 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78240 Tiago, cuja origem do nome é Iákobos (Jacó), era irmão de João, filho de Zebedeu e pertencia ao grupo dos três discípulos privilegiados na comunidade apostólica que sempre estavam com o Senhor nos momentos mais inéditos, como, por exemplo, na cena da transfiguração no monte Tabor e na hora da agonia no Getsêmani.

Na convivência com o Mestre foi experimentando as alegrias e as contradições do Reino de Deus, vendo com os próprios olhos as humilhações que Jesus passava em obediência ao Pai. Teve a oportunidade de amadurecer na fé e entender que o Messias esperado não seria um rei aos moldes do povo, mas um crucificado cuja glória se daria na participação de nossas dores.

Certamente, o momento decisivo para Tiago foi no dia de Pentecostes, quando ele entendeu seu chamado e missão diante dos apelos do Evangelho. É nessa diáspora que o cristianismo começa a se espalhar e provocar as nações, os governantes e suscitar um novo olhar redentor para as comunidades que antes estavam sem um pastor e guia.

Por volta dos anos 40 da nossa era, o rei Herodes Agripa, neto de Herodes, o Grande, começou sua perseguição aos membros da Igreja (cf. At 12,1-2), mandando matar Tiago; no entanto, sabemos que esse apóstolo se dedicou a evangelizar a Espanha, embora alguns historiadores digam que somente o corpo de Tiago tenha ido para as terras ibéricas, chegando a Compostela.

O fato é que Tiago foi o primeiro a beber o cálice de Jesus, a ser cruelmente martirizado pelo testemunho de amor a Cristo. Papa Bento XVI escrevia que “Podemos aprender muitas coisas de São Tiago: a presteza em aceitar o chamado do Senhor, entusiasmo em segui-lo nos caminhos que Ele nos indica, a disponibilidade para testemunhá-lo com coragem até o sacrifício supremo da vida”.

Tiago é o apóstolo generoso que escutou a voz do Cristo e caminhou ao lado da verdade sem negar a identidade do Mestre, sendo fiel arauto do Evangelho e propagador de um caminho ascendente de transformação na vida das pessoas. Isso é perceptível na jornada de Compostela, que atrai milhares de peregrinos em busca de equilíbrio e encontro com o sagrado independente de crenças.

O apóstolo se deixou ser transfigurado desde a experiência do Tabor até a agonia de Cristo. Viu as lágrimas e o sangue de Jesus e acolheu com sabedoria as incertezas, transformando-as em sólida confiança.

A vocação desse grande seguidor de Cristo nos faz refletir sobre nossa ação pastoral como batizados e tomar consciência de que beber do cálice de Cristo é atitude de graça e salvação. Que nosso caminho de descobertas seja amparado pela maior glória do Ressuscitado e sustentado pela espera na consolação e na misericórdia. Dedicados como São Tiago às coisas do alto sejamos promotores da dignidade e da liberdade tendo Cristo como Mestre e Senhor.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/tiago-maior-o-peregrino-da-vida.html/feed 0
André, o relações públicas https://revistaavemaria.com.br/andre-o-relacoes-publicas.html https://revistaavemaria.com.br/andre-o-relacoes-publicas.html#respond Thu, 31 Jul 2025 17:30:49 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78027 O apóstolo André era natural de Betsaida, localizada às margens de Genesaré, filho de Jonas, pescador local, irmão de Pedro e foi discípulo de João Batista. Seu nome não é nem hebraico e tampouco aramaico, mas grego, o que nos leva a crer que sua família tinha abertura para acolher as diferenças culturais daquela época. Foi quem correu para contar ao irmão que havia encontrado o Messias o qual o Batista apontara como o “Cordeiro de Deus”. André foi quem atraiu Pedro a Jesus; podemos dizer que foi seu promotor vocacional. Era um homem de iniciativa e vivia atendo aos desígnios do Mestre.

Na cena da multiplicação dos pães foi quem saiu perguntando se alguém havia trazido algo para comer e assim testemunhou o milagre da vida em comunidade e fraternidade. Aprendia facilmente as lições como discípulo e sempre estava em busca de respostas transcendentes. Não se contentava com reflexões rasas, mas tinha o desejo de fazer uma experiência autêntica de fé e mudança de vida.

André é considerado o protóclito (o primeiro chamado) para fazer parte da comunidade apostólica e ser o braço direito de Jesus, pois tinha a capacidade de fazer amigos e de aproximar as pessoas. Certamente, viveu fortes momentos de intimidade na ação missionária com o Senhor, entretanto, esse querido apóstolo também abandonou o Mestre na hora cruz e se escondeu.

Foi um grande semeador da Boa-Nova em terras gregas após a ressurreição de Cristo e nunca desistiu de seu ideal, consumando sua vida martirialmente na cruz por volta do ano 60 de nossa era. Pediu para ser morto numa cruz em forma de “X”, como se quisesse evocar a letra inicial do nome de Cristo em grego. Segundo relato do século VI, intitulado a Paixão de André, o apóstolo teria proferido estas palavras antes da morte: “Salve, ó cruz, inaugurada pelo corpo de Cristo e adornada com seus membros como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor subisse em ti, inspiravas um medo terreno. Agora, dotada de um amor celeste, és aceita como um presente. Toma-me, leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre!”.

Além de ser presença apostólica, André nos ensina que seguir Cristo com amor é abraçar a cruz dos sacrifícios diários e integrá-los na história, pois “é somente por essa cruz que também os nossos sofrimentos são dignificados e alcançam o seu verdadeiro significado” (Papa Bento XVI).

André é o apóstolo da prontidão, do entusiasmo e da dedicação ao Senhor. Uma vocação genuína e servidora, compassiva e ousada que agrega, liberta e salva. Oxalá em nossas comunidades eclesiais pudéssemos beber desse testemunho fiel e ser a imagem de Cristo que resplandece na justiça!

Uma vida dedicada a Cristo nunca se perde, ela é transformada como o trigo em pão de eternidade. Que a missão de Santo André inspire nossa Igreja e as comunidades para seguir Jesus sem olhar para trás e reconhecer a alegria de pertencer ao povo santo de Deus com firme testemunho de amor.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/andre-o-relacoes-publicas.html/feed 0
Pedro: o líder de almas! https://revistaavemaria.com.br/pedro-o-lider-de-almas.html https://revistaavemaria.com.br/pedro-o-lider-de-almas.html#respond Tue, 01 Jul 2025 12:57:55 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77812 O evangelista Mateus descreve o encontro de Jesus com Pedro desta maneira: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: ‘Vinde após mim e vos farei pescadores de homens’. Na mesma hora, abandonaram suas redes e o seguiram” (Mt 4,18-20). Um relato consistente e determinante para a comunidade cristã.

Pedro, chamado “Kefa” em aramaico (“pedra”), aparece 154 vezes no Novo Testamento e como Simão, 75 vezes. Era natural de Betsaida, nos arredores do mar da Galileia, e tinha uma pequena empresa de pesca em sociedade com Zebedeu. Homem religioso, casado, com estabilidade econômica, possuía um temperamento forte e ao mesmo tempo cheio de contradições, no entanto, sua vida muda radicalmente quando Jesus entra em cena e o convida a fazer parte do grupo apostólico. Temos inúmeros relatos nos evangelhos, nos Atos dos Apóstolos e nas cartas sobre esse homem excepcional que segue despertando a fé por onde passa.

O que mais vale ressaltar é a resposta ao chamado de Cristo consumada após a paixão e a ressurreição do Senhor. Jesus dá a Pedro a missão de ser a rocha da Igreja e de apascentar o povo a ele confiado. Ser rocha é dar segurança e sustento ao germe de santidade que está nascendo. Assume como líder do grupo para manter a unidade com o rebanho de Cristo e garantir que caminhem na luz do Espírito.

Pedro é um homem tocado pelo amor de Cristo nas suas imperfeições e limitações. Ele mostra seu coração ao Senhor e se entrega, consumando sua vida no martírio doloroso sendo crucificado, a exemplo do Mestre.

Quando Pedro confessa publicamente que “Jesus é o Cristo, o Messias”, ainda que sem compreender a profundidade de suas palavras, ele expressa sua confiança na Igreja nascente.

“Pedro é o responsável por garantir a comunhão com Cristo, com o amor de Cristo, guiando as pessoas à realização desse amor na vida de cada dia” (Bento XVI). O primado de Pedro como guardião da Igreja reforça a unidade com o corpo místico de Cristo. O “sim” do pescador simples tornou-se para o mundo dom e redenção. Sua vocação a serviço de Cristo engloba tudo que um cristão precisa para viver o Evangelho encarnado com sabedoria e luta.

Pedro se revestiu da força do Ressuscitado para evangelizar e espalhar a semente do Reino com seu suor e sangue até as últimas consequências. Foi o amor pleno pelo Senhor que abriu as portas da fé para que todos entrássemos no cenáculo da vida e fôssemos batizados na água nova da paz.

Pedro ligou vidas a Cristo e desligou o mal dos corações para seguir a voz da alegria. Que nosso Papa seja amigo da verdade e faça como Pedro a experiência da graça que responde ao amor simplesmente amando. Seguimos Cristo sob o comando desse grande apóstolo que teve uma vida de renúncias para entrar na glória dos escolhidos. 

São Pedro, rogai por nós!

]]>
https://revistaavemaria.com.br/pedro-o-lider-de-almas.html/feed 0
Salomão, o Sábio rei https://revistaavemaria.com.br/salomao-o-sabio-rei.html https://revistaavemaria.com.br/salomao-o-sabio-rei.html#respond Mon, 02 Jun 2025 17:20:25 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77611 Salomão (seu nome era Jedidia, antes de ser rei), cujo significado é “o pacífico”, nasceu em Betsabeia (Jerusalém). Era mais novo que seus irmãos, filho da última mulher de Davi, e por esse fato não teria direito ao trono; sua ascensão como rei se deu aos 15 anos de idade, antes de seu pai morrer influenciado por Natã, por sua mãe e com o apoio de Banaías, o comandante militar que era mais forte do que Joab. Antes havia sido um homem inativo na corte, mas, tornou-se um grande soberano, herdando do pai um vasto império. Seu longo reinado foi de paz e prosperidade em alguns aspectos, promovendo um fecundo comércio exterior. Fez grandes construções, sendo as mais imponentes seu palácio, mansões e o primeiro templo de Jerusalém. Mostrou-se um excelente diplomata e administrador com visão de futuro. Governou com mãos de ferro, mas, diante de tanto poder, o povo também foi oprimido pelos pesados impostos e pela situação de pobreza.

Na tradição judaica, Salomão é considerado o pai da sabedoria e da literatura sapiencial. Nessa ótica, o rei deveria ser o primeiro dentre os sábios, exercendo sua sabedoria ao lado da dos deuses, com o objetivo de manter o equilíbrio de seu reino. Sua inteligência superava os povos do Oriente e do Egito (cf. 1Rs 5,10). Sobressaiu-se em seus textos (provérbios, cantos, salmos) e em suas palavras de retidão e de justiça divina e também foi um homem marcado pela vaidade e pela soberba, pelo materialismo, ganância e vida luxuosa. Foi amante de muitas mulheres, o que o arruinou, pois as via como deusas.

O ser humano é cheio de contradições e facilmente pode se perder diante de seus devaneios. A sabedoria desse personagem é ímpar, uma dádiva de Deus, mas seu coração não pertencia inteiramente ao Senhor, como o de seu pai Davi.

A vocação de Salomão é observada em seus grandes feitos, visto que Deus trabalhou em sua inteligência para que seu povo prosperasse. Sua escolha é saudável para estruturar o reino e revelar a beleza do Criador por meio de suas palavras que atraem e cativam, levando as pessoas à busca pela própria felicidade. Sendo ele o homem mais rico por seus bens, também nos ensina que a confiança em Deus é a riqueza que não se esgota. O homem sábio reconhece que tudo vem de Deus e se não tiver estrutura para lidar com as coisas temporais pode facilmente condenar-se e apartar-se da seiva da vida.

A sabedoria é um dom em permanente estado de acolhimento. Quando bem usada, servirá para libertar o ser humano de suas idolatrias e o conduzirá à felicidade infinita. Esse chamado divino é o que nos torna ricos diante de Deus e colaboradores na fraternidade e unidade entre os povos.

“Que o sábio escute, e aumentará seu saber, e o homem inteligente adquirirá prudência para compreender os provérbios, as alegorias, as máximas dos sábios e seus enigmas. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução.” (Pr 1,5-7)

]]>
https://revistaavemaria.com.br/salomao-o-sabio-rei.html/feed 0
Os Apóstolos, mensageiros de Cristo https://revistaavemaria.com.br/os-apostolos-mensageiros-de-cristo.html https://revistaavemaria.com.br/os-apostolos-mensageiros-de-cristo.html#respond Wed, 30 Apr 2025 19:23:22 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77399 Jesus “escolheu quem Ele quis” (Mc 3,13) para formar sua primeira comunidade e fazê-los participar de sua missão. Chama um grupo de homens simples, trabalhadores, pecadores (cf. Mc 2,17), cheios de dúvidas, inseguros. Deu-lhes parte de sua autoridade para pregarem o Evangelho do Reino e se associarem à obra da salvação. Colocou Pedro à frente do colégio dos doze com o objetivo de edificar a Igreja e mantê-la inabalável, fincada sobre a rocha da fé.

Os apóstolos, cuja palavra significa “enviados” (“apostoloi”, em grego), guiados pelo Espírito Santo fizeram de suas vidas a morada de Cristo e no caminho catequético com o Mestre se encantaram e se apaixonaram pelo anúncio da Boa-Nova. Eles escutaram a Palavra de vida eterna e foram moldados pelos sonhos de Deus. Tiveram inúmeros conflitos e até mesmo negaram o Senhor nos tempos de perseguição, mas entenderam no Pentecostes que não podiam voltar atrás diante dos apelos do Mestre. Receberam o poder de curar e amar sendo participantes de um novo tempo para a espiritualidade universal.

Esses homens foram qualificados pelo Verbo encarnado vivendo a experiência batismal na integralidade e na radicalidade dos acontecimentos. Foram testemunhas oculares e sofridas da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Uniram-se à vontade de Deus com seus dramas e suas escolhas, renunciaram aos confortos, família, amigos e ideologias para dar sentido à vida. Tiveram verdadeiramente um encontro transformador com Cristo, despojando-se para entrar no Reino. Os apóstolos são os embaixadores de Cristo, servidores e administradores dos mistérios de Deus (cf. 1Co 4,1). Eles se identificaram com Jesus e seu estilo de vida, foram livres em segui-lo.

A Igreja Católica é apostólica em sua essência, pois está fundada sobre os alicerces dos apóstolos, guarda e transmite a fé recebida deles, vive em unidade com o colégio apostólico até que Cristo volte (cf. Catecismo da Igreja Católica, 857). Nós, povo de Deus, enquanto participantes do corpo místico de Cristo bebemos da mesma verdade revelada e nos abraçamos aos apóstolos para continuar a missão de Cristo como batizados, levando a esperança e a salvação ao mundo desfigurado pela mentira e pela morte.

Os apóstolos são as colunas de nosso templo espiritual, recebemos deles as instruções dotadas da graça de Cristo e procuramos com o testemunho de sermos luz levar ao ser humano o dom da santidade fundamentada na sã doutrina cristã.

“A experiência dos doze apóstolos e o testemunho de Paulo nos interpelam também hoje. Convidam-nos a verificar as nossas atitudes, a verificar as nossas escolhas, as nossas decisões, com base nestes pontos fixos: tudo depende de um chamado gratuito de Deus; Deus também nos escolhe para serviços que às vezes parecem sobrecarregar nossas capacidades ou não corresponder às nossas expectativas. O chamado recebido como um dom gratuito deve ser respondido gratuitamente”, disse o Papa Francisco.

A vocação se entrega ao serviço missionário da fé sem retroceder na profecia.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/os-apostolos-mensageiros-de-cristo.html/feed 0
Naum, o Juízo de Deus https://revistaavemaria.com.br/naum-o-juizo-de-deus-2.html https://revistaavemaria.com.br/naum-o-juizo-de-deus-2.html#respond Tue, 01 Apr 2025 18:17:30 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=77202 Sabemos pouquíssimo sobre Naum (forma abreviada de Naumias), que significa “Javé conforta”; não temos relato de seu nascimento e nem quem foram seus pais. A Escritura Sagrada lhe atribui um livro com apenas três capítulos, ele é o sétimo dos profetas menores, provavelmente nascido em Elcós (cidade de Judá cuja localização é inexistente). Seu ministério aconteceu em Nínive, capital da Assíria entre os anos 663-612 a.C. Essa cidade já foi palco para o profeta Jonas um século antes, quando anunciou a conversão senão ela seria destruída. No entanto, Nínive continuou sendo mercantilista sanguinária, corrupta, idólatra, violenta, vivia de mentiras, promovia a prostituição, mortes e roubos. Foi conquistada pela Babilônia e teve sua queda sem piedade.

Naum surge nesse contexto para alertar novamente o povo sobre a desolação e a perdição que a cidade vivia. Começa seu livro dizendo “O Senhor é um Deus zeloso e vingador, o Senhor é um vingador irascível; o Senhor toma vingança de seus adversários e trata com rigor os seus inimigos. O Senhor é paciente e grande em poder, não deixa impune o culpado” (Na 1,2-3). Ele segue a mesma linha dos profetas que mostra Deus como soberano, justo, criador de tudo, que se comunica por meio de sinais presentes na natureza revelando seu poder e força.

O seu testemunho de amor a Deus descortina-se nos enfrentamentos com as autoridades e o povo de Nínive. Ele denuncia a cidade como arrogante e cheia de pecados, muito confiante em si mesma, mas que será destruída apesar de suas seguras construções e fortificações. Sua fragilidade está na corrupção de seus poderes e na devassidão dos habitantes que abandonaram o Senhor e se refugiaram no prazer, causada pela manipulação dos soberanos.

O profeta Naum foi um zeloso servidor de Deus e nas suas pregações mostrou ao povo que suas atitudes envergonhavam o nome do Altíssimo. Exortava o povo a adorá-lo com humildade e temor, discernindo entre o que agrada e o que entristece o coração do Senhor. No arrependimento dos pecados e na volta para uma vida reta, Deus vai reconstruindo os caminhos com sua justiça e proteção. É um chamado à conversão, ao arrependimento sincero que traz paz e alegria à alma para que o povo viva com gratidão e fé.

Enquanto Jonas deu ênfase ao amor de Deus em sua pregação aos ninivitas, Naum chamou a atenção para a justiça divina e colocou a responsabilidade pelas decisões morais e espirituais nas mãos de cada geração que se recusa a seguir os mandamentos de Deus.

É um profeta que nos alerta para o zelo com a espiritualidade e a centralidade da pessoa, criada para ser filho de Deus e glorificá-lo. Quando se mancha a dignidade e a identidade sagrada se macula, então se abrem as portas à escravidão e à manipulação dos poderosos. A degradação do povo e o anúncio do consolo de Deus é a luta diária de quem ama a vocação e se entrega ao serviço missionário da fé sem retroceder na profecia.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/naum-o-juizo-de-deus-2.html/feed 0
Jesus, a palavra salvadora https://revistaavemaria.com.br/jesus-a-palavra-salvadora.html https://revistaavemaria.com.br/jesus-a-palavra-salvadora.html#respond Mon, 03 Mar 2025 13:53:02 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76984 Para nós, cristãos, o centro de toda vocação é Jesus Cristo, a consumação do projeto salvífico do Pai que, por meio de sua morte e ressurreição, inseriu-nos no reino da luz eterna. Ele é a Palavra encarnada que nos deu a consciência da filiação divina, abrindo-nos os caminhos da esperança para sermos Evangelho vivo na sociedade onde impera o desamor. Jesus é o ungido pelo Espírito Santo, nascido de Maria, a fiel discípula, foi obediente ao Pai, sendo o verdadeiro pastor das almas, entregou livremente sua vida até as últimas consequências para nos salvar.

A fé cristã solenemente professada desde o Batismo é o encontro com a pessoa de Jesus Cristo e com o seu projeto misericordioso de edificar o Reino de Deus onde existe justiça, paz, compaixão, libertação, vida em plenitude. Ele é o Filho unigênito, querido e amado pelo Pai, portador da nova humanidade livre do pecado e herdeira da graça. As palavras de Cristo, bem claras no Evangelho, são caminho, verdade e vida, pois orientam os fiéis a configurar-se com Ele sendo sal e luz do mundo.

A vocação de Jesus é despertar no coração da humanidade o desejo por Deus para que ela aprenda a colocar seus dons a serviço do anúncio do Evangelho. Crer em Jesus supõe conhecê-lo na raiz e estar abertos ao transcendente, a uma inédita experiência de transfiguração interior capaz de tocar as almas com a delicadeza de quem foi resgatado pela ternura do Mestre.

Jesus é a fonte da água viva, o pão da unidade, o curador das feridas, o defensor dos pobres e oprimidos, a sabedoria sensível, a porta da glória, a paz justa. É o Senhor amigo, Deus conosco que não julga e nem condena, mas tem a leveza de olhar nos olhos e oferece a salvação aos que estão dispostos a percorrer o caminho da mudança compassiva. Nele encontramos tudo de que necessitamos para viver com generosidade nossa fé e levar o amor de Deus aos mais inquietos.

Pertencer à comunidade cristã tem um peso inegociável, pois somos parte do Reino e temos o dever de colocar as bem-aventuranças em prática nas atitudes diárias nos gestos de acolhida, tolerância, respeito, empatia, mansidão e humildade. A Boa-Nova é compromisso com Cristo que nos exige permanente oração, dedicação e conhecimento do mistério. Seguir Jesus é um ato livre e consciente de que fazemos parte de seu corpo místico e, por isso, temos como meta os mesmos sentimentos e atitudes do Senhor, do contrário seríamos hipócritas professando o que não vivemos.

“Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: os seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a sua oração, o seu amor pelo homem, a sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz pela redenção do mundo, a sua ressurreição, tudo é atuação da sua Palavra e cumprimento da revelação.” (Catecismo da Igreja Católica, 561)

Em Jesus, nossa identidade se revela, tornamo-nos humanos e dignos de participar do banquete da alegria eucarística como discípulos da vida. “Vem e segue-me”, disse Jesus, “participe da minha ressurreição”! Eis nossa vocação!

]]>
https://revistaavemaria.com.br/jesus-a-palavra-salvadora.html/feed 0
José, o silêncio do justo https://revistaavemaria.com.br/jose-o-silencio-do-justo.html https://revistaavemaria.com.br/jose-o-silencio-do-justo.html#respond Fri, 31 Jan 2025 21:07:13 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76763 Uma das figuras mais silenciosas dos evangelhos foi São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Ele não disse nenhuma palavra e, no entanto, sua presença na história salvífica foi de total reconhecimento. Descendente da tribo de Davi, carpinteiro, simples e humilde, pouco se sabe de suas origens; talvez os livros apócrifos deem outras informações. O que mais interessa conhecer desse homem é sua integridade diante dos acontecimentos envolvendo Maria e Jesus e seu testemunho de fé e acolhida ao projeto de Deus.

José, ao assumir o casamento com Maria, em meio às dúvidas e inseguranças, fez de sua vocação um sacrifício de amor, renunciando a suas vontades para dar espaço ao mistério de Cristo. Ele cuidou de Maria e de Jesus e os protegeu com sua própria vida, sempre centrado nos sonhos de Deus para a humanidade. Certamente, compreendeu que estava diante da esperança do povo quando se entregou livremente à justiça divina. “Vive a lei como Evangelho, procura a via da unidade entre direito e amor. E assim é interiormente preparado para a mensagem nova, inesperada e humanamente inacreditável, que lhe chegará de Deus.” (Papa Bento XVI)

José foi a revelação do rosto paterno de Deus, um rosto amoroso e decidido a viver totalmente seu chamado como fonte de vida, donde emana a santidade, o diálogo fecundo, a sabedoria sem palavras. O sonho de José é real, um sinal de que Deus também foi apaixonado por ele, encantou-se por sua inocência e deu todo o seu ser a Maria para que juntos fossem os guardiões da paz.

A mística de São José é a da contemplação ativa na Igreja doméstica, de um homem que trabalha incansavelmente no labor do dia e tem olhos atentos na educação do Menino Deus. Certamente, refletiu sobre os acontecimentos e se colocou em diálogo com a santa esposa, vencendo as tribulações e os desafios de um tempo marcado por perseguições, preconceitos, julgamentos, farisaísmo e lutas. Revelou ao mundo sua fortaleza de espírito e a delicadeza de ser pai do Salvador.

A Igreja dá a São José o título de Patrono Universal, um grande amigo o qual podemos invocar nas horas avançadas da dúvida. Sua presença espiritual é um bálsamo de alegria no caminho batismal, ajudando-nos a sustentar sempre a fé e nunca abandonar o ideal da Boa-Nova pautada na justiça e no temor a Deus.

Papa Francisco, em suas homilias, disse que “Sempre nos devemos interrogar se estamos protegendo com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, à nossa guarda”. É uma atitude digna dos filhos de Deus, sobretudo dos cristãos, se tivermos como modelo de cuidado do ser humano e da criação o bom São José. Dar a vida é um gesto de oblação em sintonia com o amor de Deus.

Assim como Deus confiou essa missão de proteger o mais precioso tesouro, Jesus de Nazaré, ao casto José, Ele nos convoca a guardar com solicitude o patrimônio espiritual do qual somos herdeiros. 

Viva São José, glorioso patriarca!

]]>
https://revistaavemaria.com.br/jose-o-silencio-do-justo.html/feed 0
Maria Santíssima: a perfeita escolhida https://revistaavemaria.com.br/maria-santissima-a-perfeita-escolhida.html https://revistaavemaria.com.br/maria-santissima-a-perfeita-escolhida.html#respond Thu, 02 Jan 2025 00:31:43 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76563 O evangelista Lucas narra de maneira poética o chamado de Maria para ser a mãe de Jesus (cf. Lc 1,26-38); no entanto, para quem conhece bem a trajetória de Maria, sabe que a anunciação não foi recebida sem desconforto e tensão. Ela sofreu desde aquele momento ao se entregar totalmente a Deus e dar o “sim” definitivo que mudaria a história humana. Ela acolheu o Filho no coração, nas entranhas das dúvidas, na simplicidade de um lar. Simplesmente confiou na providência que ampara e capacita.

A mulher plena da Boa-Nova tinha todos os atributos que encantaram Deus e o maior deles, a humildade consciente para servir, tinha os olhos fitos no Senhor desde uma fé coerente. O “faça-se em mim segundo tua palavra” (Lc 1,38) foi um gesto de prontidão sem justificar a imperfeição, pois no coração da serva certamente não se passava tamanha responsabilidade para a redenção do mundo. Maria não tinha a visão ampla de que sua vida seria transfigurada. Ela aceitou e confiou.

“Seguindo o exemplo de Jesus, Maria está ao lado dos seus filhos, acompanha o seu caminho como mãe atenciosa, partilha as alegrias e esperanças, os sofrimentos e as angústias do povo de Deus, do qual todos os povos da terra são chamados a fazer parte”, disse o Papa Francisco. A vocação de Maria é ser mãe de Cristo (Theotókos) e mãe de Igreja, ser nossa mãe. Sua maternidade espiritual forma, acompanha, catequiza e ilumina os passos de quem deseja ardentemente permanecer no caminho do Mestre. “O conteúdo da vocação de Maria é, no entanto, único: é a maternidade de um bebê que será ‘grande, Filho do Altíssimo, posto sobre o trono de Davi, cujo reino não terá fim, Filho de Deus’ (Lc 1,32)” (Cardeal Ravasi).

Pelo “sim” de Maria abrem-se as portas ao novo Adão e à nova Eva, ao novo ser humano resgatado para ser sal e luz do mundo desde uma profunda intimidade com o Emanuel, Deus conosco encarnado. Tudo o que se refere a Maria é pleno e original; nada nela se esgota, mas sempre abre possibilidades como uma fonte de água a jorrar vida, por isso, na história não existiu ninguém comparado às suas virtudes. Sua humildade integral como discípula amada a glorificou como rainha do Céu e da Terra.

Se queremos viver primeiramente nossa vocação batismal com fidelidade busquemos Maria. Se desejamos ter um projeto de vida sólido com meta para a eternidade, busquemos Maria. Se desejamos fazer a vontade de Deus, escutemos Maria. Se queremos amar nossos irmãos e servi-los com gratuidade, inspiremo-nos em Maria, que socorreu a prima em suas dores. Se buscamos consolo nos sofrimentos, olhemos para as dores de Maria com esperança.

A mulher alegre que guardou o mundo no coração é a mais próxima de quem não foge das respostas diante do chamado de Deus. A solidariedade de Maria nas tomadas de decisões vocacionais nos abre os horizontes para servir, para amar e colocar Jesus no centro.

]]>
https://revistaavemaria.com.br/maria-santissima-a-perfeita-escolhida.html/feed 0