Renata Moraes – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br A Revista Mariana do Brasil - fundada em 28 de maio de 1898 pelos Claretianos em São Paulo Mon, 01 Dec 2025 21:29:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2021/08/cropped-ico-revista-avemaria-60x60.png Renata Moraes – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br 32 32 Conectados e Exaustos: como a vida digital sequestra a mente, corpo e espírito https://revistaavemaria.com.br/conectados-e-exaustos-como-a-vida-digital-sequestra-a-mente-corpo-e-espirito.html https://revistaavemaria.com.br/conectados-e-exaustos-como-a-vida-digital-sequestra-a-mente-corpo-e-espirito.html#respond Mon, 01 Dec 2025 17:59:50 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78884 ESPECIALISTAS APONTAM QUE A HIPERCONECTIVIDADE ESTÁ ALTERANDO EMOÇÕES, DEBILITANDO VÍNCULOS E CRIANDO UMA GERAÇÃO MARCADA PELA ANSIEDADE E PELO VAZIO INTERIOR

Em um mundo mediado pela tecnologia, a promessa de liberdade digital revela um paradoxo inquietante: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão emocional e espiritualmente esgotados. As telas trouxeram conforto e novas formas de interação, mas também abriram espaço para dependência, solidão e adoecimento emocional, especialmente entre crianças, adolescentes e jovens adultos. Jonathan Haidt, doutor em Psicologia Social e autor de A geração ansiosa, alerta que as redes sociais criaram um “ecossistema de comparação permanente”, com impacto direto na autoestima e no bem-estar.

Para compreender esse fenômeno, a reportagem ouviu especialistas em comportamento, educação, filosofia e espiritualidade. Apesar das abordagens distintas, todos convergem no diagnóstico: quando usada sem consciência, a tecnologia pode se tornar uma prisão psicológica, afetiva e até espiritual. A linha entre uso saudável e dependência ficou difusa e entender esses efeitos é o primeiro passo para recuperar o equilíbrio.

Para o psicólogo e doutor em Filosofia Breno Costa, identificar os limites entre uso equilibrado e uso patológico do celular exige olhar para o contexto atual. Ele explica que a popularização dos smartphones transformou a forma como definimos vício digital: “A partir do momento em que o celular deixa de ser um bem elitizado e passa a ser acessível para a esmagadora maioria, e quando passa a oferecer funções praticamente infinitas, os próprios critérios de patologia mudam”, afirma.

Entre os principais sinais de alerta, Costa destaca o tempo excessivo nas redes sociais e o impacto disso na vida concreta: “Por vezes, as pessoas perdem até mesmo oportunidades de interação social genuína por gastarem muito tempo nas redes sociais”. A ansiedade causada pela ausência do aparelho e a necessidade constante de checar notificações também revelam dependência. Outro comportamento comum é usar o celular como escudo emocional. “A pessoa se esconde ou protege por meio do celular em vez de enfrentar situações com desconhecidos”, explica.

TRANSFORMAÇÕES NA INFÂNCIA, NA JUVENTUDE E NA VIDA ADULTA

Os efeitos do excesso de conexão digital variam conforme a faixa etária. Entre adultos e jovens, predominam a sensação de improdutividade e a comparação constante com influenciadores. “A vida que os influenciadores digitais exibem nas redes é inatingível para a grande maioria e isso gera frustrações irreais”, observa Costa.

Na infância, o impacto assume outras formas. “As crianças adquirem cada vez mais comportamentos e falas estereotipados”, afirma o psicólogo, apontando a influência da exposição contínua a conteúdos digitais.

A migração acelerada da vida social para o ambiente on-line também transformou a maneira como adolescentes constroem identidade, lidam com conflitos e pedem ajuda. Para o pesquisador Jonathan Haidt, autor de A geração ansiosa, crianças e jovens foram submetidos a um experimento emocional inédito, marcado pela dependência da validação virtual. Ao trocar brincadeiras presenciais por horas nas telas, muitos desenvolveram maior sensibilidade ao julgamento, ansiedade social e medo de rejeição, fatores que hoje transbordam para o cotidiano escolar e familiar.

Na prática, sinais emocionais que antes surgiam em conversas ou expressões faciais muitas vezes aparecem agora em publicações vagas, mudanças repentinas de foto ou interações silenciosas nas redes. Essa busca por validação alimenta um ciclo de dependência. “As redes sociais criam um mundo à parte: o dos filtros, das edições, do que é ‘instagramável’”, afirma Costa. Segundo ele, muitos jovens moldam comportamentos para atender a expectativas irreais, afetando a autoestima e distorcendo a percepção de si.

O psicólogo destaca ainda que a dependência digital costuma ser apenas a face visível de questões emocionais mais profundas: “Pode ser uma fuga das experiências penosas associadas à ansiedade e à depressão”. Assim, forma-se um ciclo difícil de romper: a ansiedade leva ao uso excessivo das redes, enquanto o afastamento das telas intensifica o desconforto emocional.

No campo educacional, os efeitos já são evidentes: “O uso de telas formata nosso cérebro para funcionar de determinada maneira”, afirma Costa. Vídeos curtos e conteúdos acelerados reduzem a capacidade de atenção sustentada, enquanto o consumo passivo empobrece a cognição e prejudica o aprendizado. Professores relatam dificuldade crescente dos alunos em manter o foco, interpretar textos mais longos e desenvolver habilidades de análise, competências fundamentais para o pensamento crítico e para qualquer processo formativo.

Além disso, a conectividade excessiva alterou a dinâmica da sala de aula: estudantes mais dispersos, menos tolerantes ao tédio e dependentes de estímulos constantes. Esse cenário exige uma revisão urgente dos métodos pedagógicos e do próprio papel da escola. A educação, antes centrada no diálogo e na reflexão, agora concorre com plataformas que operam segundo a lógica da velocidade e da recompensa instantânea.

Essa mesma lógica de estímulo contínuo tem repercussões que ultrapassam o desempenho escolar. Ela atravessa dimensões mais profundas da experiência humana, afetando a forma como os indivíduos lidam com o silêncio, a presença e a interioridade, elementos essenciais não apenas para aprender, mas para existir também. É nesse ponto que especialistas em espiritualidade observam um fenômeno mais sutil e, ao mesmo tempo, mais grave: o esvaziamento espiritual provocado pela aceleração digital.

O VAZIO ESPIRITUAL: O PREÇO DO EXCESSO DE ESTÍMULOS E A PERDA DO SILÊNCIO

Na dimensão espiritual, a hiperconectividade é vista como uma geradora de um “vazio” que funciona como “fuga da realidade”. O Padre Antônio de Lisboa Lustosa Lopes, mestre em Teologia Prática, reflete sobre o conceito de “exaustão do eu” do filósofo Byung-Chul Han: “Um sujeito hiperativo e conectado, mas incapaz de contemplar”, afirma o padre. Segundo ele, esse estado é provocado não pela ausência, mas pelo excesso de estímulos: “A alma perde o espaço do silêncio, da lentidão e da interioridade, fugindo da realidade concreta para viver em uma ‘presença ausente’”.

A vida espiritual, segundo o padre, nasce da escuta e do silêncio, dimensões ameaçadas pela “aceleração constante”. O perigo é “reduzir a oração a consumo de conteúdos religiosos”. O recolhimento requer “desintoxicação digital” e redescoberta do tempo gratuito, em que “Deus fala não pelo ruído, mas pelo sussurro” (1Rs 19,12).

O doutor em Ciências da Religião Padre Lisboa reforça que o uso intensivo da tecnologia, ao criar mundos paralelos e identidades editáveis, também afeta a forma como jovens lidam com sofrimento, solidão e angústia. Diante do aumento de casos de depressão e ideação suicida, ele afirma que a comunidade de fé (embora não seja um centro terapêutico) tem papel indispensável no acolhimento e na orientação espiritual. “A pastoral precisa cultivar uma espiritualidade do cuidado”, diz, citando o Papa Francisco. A função da Igreja é oferecer presença, escuta e sentido, encaminhando para ajuda profissional quando necessário, mas sem reduzir a dor “a uma falta de fé”.

Para ele, uma espiritualidade madura pode inspirar um uso mais ético da tecnologia: “A técnica deve servir à vida e à comunhão”. Isso significa transformar o ambiente digital em espaço de diálogo e não de polarização, de vínculo e não de vaidade. Trata-se, segundo o padre, de recuperar a “ecologia interior”, integrando razão e afeto, corpo e alma.

Essa integração também passa pela prática de hábitos concretos: jejum digital, tempo reservado para oração ou meditação, participação em comunidades reais e discernimento sobre o que se consome e compartilha. “Cada clique é um ato ético”, afirma. Acima de tudo, é preciso reaprender a habitar o próprio interior: “A tecnologia é instrumento; a alma é casa”.

CAMINHOS POSSÍVEIS: LIMITES, HÁBITOS E RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Diante desse cenário, o psicólogo Breno Costa defende estratégias práticas para tornar o uso digital mais saudável. “A literatura científica tem apontado a importância de estabelecer metas”, comenta, destacando limites de tempo e práticas de uso consciente, especialmente em ambientes sociais. Ele faz um alerta: “Se uma pessoa utiliza o celular para escapar do tédio e não tem outras atividades, dificilmente conseguirá abandonar o aparelho”.

Para ele, o desafio ultrapassa o indivíduo. Escola, família e comunidade assumem papéis complementares na formação de uma cidadania digital equilibrada. “A escola pode ser fator de aceleração do processo de melhoria das condições de existência quando for capaz de compreender as mudanças sociais e transformar a si mesma para responder a elas”, conclui.

Na dimensão espiritual, o Padre Lisboa reforça a mesma necessidade de corresponsabilidade. O equilíbrio digital não depende apenas de força de vontade, mas da construção de ambientes que favorecem o silêncio, a presença, o vínculo e o sentido, pilares indispensáveis para a saúde emocional e para o amadurecimento humano.

Por fim, os especialistas convergem: a tecnologia não é inimiga, mas exige limites, consciência e uma reinvenção dos vínculos humanos. O desafio do século XXI é aprender a viver no digital sem perder a profundidade da vida real, aquela que se nutre de encontro, silêncio, corpo, relação e transcendência.

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O ano litúrgico: um caminho de fé e encontro com Deus https://revistaavemaria.com.br/o-ano-liturgico-um-caminho-de-fe-e-encontro-com-deus.html https://revistaavemaria.com.br/o-ano-liturgico-um-caminho-de-fe-e-encontro-com-deus.html#respond Fri, 31 Oct 2025 20:05:33 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78674 MAIS DO QUE UM CALENDÁRIO, A LITURGIA CONDUZ OS FIÉIS A REVIVER, EM CADA TEMPO, O MISTÉRIO PASCAL DE CRISTO

O ano litúrgico é muito mais do que uma sequência de festas religiosas. Ele é um verdadeiro caminho espiritual, um itinerário de fé pelo qual a Igreja convida os fiéis a reviver, ao longo do tempo, os principais mistérios da vida de Jesus Cristo.

Da espera vigilante do Advento à alegria pascal da ressurreição, passando pelo cotidiano do Tempo Comum, cada período tem sua espiritualidade própria, suas cores, símbolos e orações.

Podemos compreender o ano litúrgico como um calendário religioso que organiza as celebrações da Igreja e nos ajuda a caminhar com Cristo, desde o seu nascimento até a esperança de sua vinda gloriosa.

Para entender melhor a riqueza desse percurso, conversamos com o Padre Guillermo Micheletti, presbítero argentino que exerce seu ministério na Diocese de Santo André (SP). Especialista em Educação e membro da Sociedad Argentina de Liturgia, ele é autor de diversos livros e artigos sobre catequese e liturgia e membro fundador da Sociedade Brasileira de Catequetas.

Nesta entrevista, o sacerdote explica como cada tempo litúrgico orienta a espiritualidade dos fiéis, o papel das cores e símbolos nas celebrações e a importância da participação ativa da comunidade e dos ministros na vida litúrgica da Igreja.

O QUE É O ANO LITÚRGICO?

Com início no primeiro domingo do Advento e encerramento no último sábado do Tempo Comum, véspera de novo Advento, o ano litúrgico, assim como o ano civil, tem a duração de aproximadamente doze meses, período em que a comunidade é conduzida a contemplar os mistérios da encarnação, paixão, morte e ressurreição de Jesus, o chamado mistério pascal, centro de toda a vida cristã.

Dividido em dois grandes ciclos, o do Natal e o da Páscoa, e um período extenso, o Tempo Comum, essa estrutura é vivida em harmonia com o Lecionário dominical, que segue um ciclo de três anos (A, B e C) nos quais predominam as leituras dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

“O ano litúrgico é a primeira estrutura pastoral e litúrgica da Igreja”, explica o Padre Guillermo Micheletti, que adiciona que “Ele nasceu com o intuito de colocar no centro da vida das comunidades a memória da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo”.

Mais do que uma simples contagem de datas, o ano litúrgico é, segundo o sacerdote, um convite à experiência do mistério de Cristo. “A palavra ‘fé’, na Bíblia, significa confiança. Caminhando ao longo do ano litúrgico, vamos adentrando confiadamente o coração bondoso de Jesus, que nos conduz ao amor de seu Papai querido”, destacou o especialista.

OS TEMPOS LITÚRGICOS

Cada tempo litúrgico tem sua espiritualidade própria e nos ensina algo sobre o caminho de Cristo e o nosso.

Advento: a espera vigilante

É o tempo de esperança e preparação para a vinda do Senhor. A Igreja se coloca em atitude de vigilância e conversão, recordando a vinda histórica de Jesus em Belém e aguardando sua vinda gloriosa no fim dos tempos. As figuras centrais são Isaías, João Batista e Maria, que são modelos de fé, esperança e acolhimento da vontade de Deus. Cor litúrgica: roxa, símbolo de conversão e preparação.

Natal: a alegria da encarnação

Este é o período em que toda a Igreja celebra o nascimento de Jesus, o Deus que se faz homem e habita entre nós. É tempo de contemplar a simplicidade, a paz e a alegria do amor divino. A Festa da Epifania, dentro desse ciclo, recorda que Cristo é luz para todos os povos. Cor litúrgica: branca, sinal de luz e alegria.

Tempo Comum: o caminho do discipulado

O tempo comum é o período mais longo do ano litúrgico, dividido em duas partes, com duração total de 33 ou 34 semanas. Diferente dos outros tempos, ele não destaca um aspecto específico da vida de Jesus, mas o mistério de Cristo em sua totalidade, vivido no cotidiano. É o tempo da vida cristã ordinária, no qual somos chamados a crescer na fé e a colocar o Evangelho em prática.

A cor litúrgica é o verde, que simboliza esperança, perseverança e crescimento espiritual. Durante esse período, a Igreja celebra grandes solenidades, como Corpus Christi, que é a manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia, e Cristo Rei, que encerra o ano litúrgico, proclamando Jesus como Senhor da história e do universo.

Mais do que uma “pausa” entre festas, o Tempo Comum é o tempo da maturidade da fé, em que o discípulo aprende a seguir Jesus no dia a dia, cultivando a escuta, a oração e o serviço.

Quaresma: o tempo da conversão

São quarenta dias de penitência e preparação para a Páscoa. A Igreja nos convida à oração, ao jejum e à caridade. É um tempo de revisão de vida e de retorno ao essencial, o amor de Deus. Cor litúrgica: roxa, sinal de penitência e renovação.

Páscoa: a celebração da vida nova

É um período de cinquenta dias de alegria pela ressurreição do Senhor, culminando em Pentecostes, quando o Espírito Santo é derramado sobre a Igreja nascente. O coração desse período é o Tríduo Pascal, que começa na Quinta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão e se encerra na Vigília Pascal, o centro de toda a fé cristã. Cor litúrgica: branca, expressão da glória e da luz da ressurreição.

A VIDA DA IGREJA NO RITMO DA FÉ

Para o Padre Micheletti, “Não há nenhum aspecto da vida eclesial que não encontra na liturgia o seu ápice e a sua fonte”. Citando o Papa Francisco, ele recorda que a liturgia é “louvor e ação de graças pela Páscoa do Filho, cuja força de salvação chega às nossas vidas”.

Segundo o sacerdote, a formação litúrgica é essencial para todos os que servem na Igreja: “Nem todos podem ter formação acadêmica, mas todos devem buscar compreender e viver a liturgia com consciência e amor”, destaca.

Ao refletir sobre como essa formação contribui para o fortalecimento dos ministérios eclesiais e da vida comunitária, ele ressalta que o conhecimento do mistério de Cristo é decisivo para todos os membros da Igreja: “Os ministros são chamados, por meio da liturgia, a deixar-se envolver existencialmente com Jesus. É na celebração que a revelação de Deus se manifesta por meio da sua Palavra viva”, afirma.

Desde os primórdios, a liturgia tem sido o coração pulsante da vida cristã. É nela que o povo de Deus se reúne para ouvir a Palavra, celebrar os sacramentos e fortalecer a comunhão com Cristo e entre si. Nesse contexto, a vivência comunitária e a centralidade do domingo, o dia do Senhor, assumem profundo significado.

“Todos os cristãos devem voltar seu olhar para as fontes da vida cristã. Desde o início, as primeiras comunidades desejaram encontrar-se com Jesus Cristo ressuscitado. Assim, ao longo do ano litúrgico, celebravam o domingo unidas como irmãos e irmãs, jamais de modo isolado. Os cristãos são chamados a mergulhar no mistério do Senhor que, acolhido com amor, transforma totalmente a vida”, explica o sacerdote.

O ano litúrgico, portanto, é um verdadeiro itinerário de fé, no qual o tempo se torna espaço de encontro com Deus. Em cada celebração, a Igreja renova a certeza de que Cristo está vivo, conduzindo seu povo com amor e esperança. Mais do que um calendário de festas, trata-se de um caminho espiritual, em que a vida se faz liturgia e o tempo se revela como dom de Deus.

Tempos litúrgicos e suas cores

Advento: roxo

Tempo de esperança e preparação para a vinda do Senhor. A cor roxa expressa conversão, vigilância e expectativa do nascimento de Jesus.

Natal: branco

Celebra o mistério da encarnação: Deus se faz homem e habita entre nós. O branco simboliza luz, pureza e alegria.

Tempo Comum: verde

O mais longo período do ano litúrgico. Representa a vida cotidiana e o crescimento espiritual do discípulo. O verde indica esperança e perseverança.

Quaresma: roxo

Tempo de penitência e conversão em preparação para a Páscoa. A cor roxa convida ao arrependimento e à renovação interior.

Páscoa: branco

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A DEVOÇÃO AO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE JESUS: REDENÇÃO, MISERICÓRDIA E ESPERANÇA https://revistaavemaria.com.br/a-devocao-ao-preciosissimo-sangue-de-jesus-redencao-misericordia-e-esperanca.html https://revistaavemaria.com.br/a-devocao-ao-preciosissimo-sangue-de-jesus-redencao-misericordia-e-esperanca.html#respond Mon, 01 Jul 2024 18:31:27 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=74388 “É NELE QUE TEMOS REDENÇÃO, DOS PECADOS REMISSÃO PELO SEU SANGUE.” (EF 1,7)

Num mundo marcado pelo pecado e pelo sofrimento, o sangue precioso de Jesus se ergue como um farol de esperança e redenção. Nada é mais poderoso do que o sangue de Jesus, que nos lavou dos nossos pecados. 

O mês de julho é dedicado à devoção ao preciosíssimo sangue de Cristo, derramado para o perdão dos nossos pecados. São João Batista apresentou Jesus ao mundo dizendo “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Ao contemplarmos a iconografia do sagrado coração de Jesus, vemos que Ele aponta para o seu coração, fonte de amor supremo manifestado quando Jesus derramou todo o seu sangue para nos resgatar.

Numa de suas homilias, o Papa Francisco destacou que “desde os primórdios do cristianismo, o mistério do amor do sangue de Cristo fascinou muitas pessoas, inclusive santos fundadores e fundadoras. Eles cultivaram essa devoção e a colocaram como base de suas constituições, pois compreenderam, à luz da fé, que o sangue do Redentor é fonte de salvação para o mundo”. São Gaspar del Bufalo, com a aprovação da Santa Sé, foi um grande propagador dessa devoção. Em 1815, ele fundou a Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue.

Para aprofundar a compreensão dessa devoção, suas origens e sua relevância nos dias atuais entrevistamos religiosos e religiosas que compartilharam suas perspectivas e experiências sobre o preciosíssimo sangue de Jesus.

A IMPORTÂNCIA DA DEVOÇÃO AO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE JESUS

A veneração do sangue de Jesus derramado durante sua paixão demonstra nosso reconhecimento de que nele encontramos a fonte da vida e da salvação. Essa salvação não está em outro lugar senão no próprio Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, Padre Alex Nogueira, reitor do Seminário de Teologia Divino Mestre, em Jacarezinho (PR), e confessor das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, abordou a temática em questão: “Como São Tomás de Aquino afirma no hino Adoro te Devote: ‘Pois que uma única gota faz salvar todo o mundo e apagar todo pecado’. O sangue simboliza a vida que pulsa nas veias humanas e toda a vida cristã se espelha na de Cristo. Se Jesus entregou sua vida e derramou seu sangue para a salvação da humanidade, também os cristãos devem estar dispostos a dar suas vidas por Cristo e pelos irmãos. Ser devoto do preciosíssimo sangue é estar disposto a se doar inteiramente a Deus e ao próximo, reconhecendo que somente Deus é o nosso maior tesouro”, comenta o padre.

A devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus é uma prática espiritual que se concentra no poder redentor do sangue que Cristo derramou durante sua paixão e morte na cruz. Essa devoção pode ajudar os fiéis a alcançar a misericórdia de Deus.

“Deus é pura misericórdia e quando uma pessoa arrependida das ofensas contra Deus busca refúgio no coração de Jesus, recebe o perdão. Do sacrifício da cruz, onde Jesus derramou seu sangue, brota o poder de Deus para penetrar a alma e resgatá-la do pecado”, explica Padre Alex. Ele destaca que a meditação sobre a paixão de Jesus permite que o fiel mergulhe no amor do Deus que sofreu e morreu por cada pessoa humana: “Meditar sobre esse amor é o caminho para se deixar inundar o amor divino, fugir do pecado e ser envolvido pela misericórdia de Deus”.

Inspirando-se na carta apostólica escrita pelo Papa São João XXIII em 1960, Padre Alex enfatiza a importância de práticas devocionais tradicionais e bem fundamentadas para o progresso espiritual. Segundo o sacerdote, a participação frutuosa na Santíssima Eucaristia e a recitação da ladainha do preciosíssimo sangue são fundamentais para cultivar essa devoção. Ele destaca a necessidade de lutar constantemente contra o pecado e de receber a Eucaristia com devoção e piedade, sempre reconciliado com Deus, especialmente no que diz respeito aos pecados graves. 

“É essencial recitar com atenção e meditar as invocações da ladainha do preciosíssimo sangue”, afirmou Padre Alex, acrescentando que “Cultivar essa devoção é viver o que canta a música: ‘Chagas abertas, ó, coração ferido, sangue de Cristo está entre nós e o perigo!’. Que o sangue de Cristo esteja sempre entre nós e os perigos que assolam a vida humana e levam à perdição das almas”.

O religioso recomenda também a prática da meditação, a oração constante e a luta contra os pecados como meios para alcançar uma íntima comunhão com Deus. Ele acredita que tais práticas não apenas fortalecem a fé, mas também oferecem proteção espiritual e uma renovada esperança na misericórdia divina.

TRADIÇÃO, SIGNIFICADO E PRÁTICAS NO MOSTEIRO PRECIOSÍSSIMO SANGUE

Um dos aspectos mais profundos da espiritualidade católica, a devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus, encontra raízes sólidas no Mosteiro Preciosíssimo Sangue, localizado na cidade de Jacarezinho (PR). A Irmã Brígida de Jesus Padecente, pjc, uma das religiosas desse mosteiro, compartilha com profundidade a origem, o desenvolvimento e a prática dessa devoção que continua a inspirar fiéis ao redor do mundo.

Segundo a religiosa do Instituto Contemplativo das Pobres de Jesus Cristo, a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus tem suas raízes no século XVIII, sendo intensamente promovida por São Gaspar del Bufalo, conhecido como o “apóstolo do Preciosíssimo Sangue” e fundador dos Missionários do Preciosíssimo Sangue. Em 1849, o Papa Pio IX instituiu uma festa em honra ao Sangue de Nosso Senhor, celebrada em 1º de julho, em agradecimento pela vitória das forças francesas e pontifícias sobre a revolução. Este evento consolidou a veneração do Preciosíssimo Sangue, destacando o sacrifício de Cristo e seu significado redentor. “A veneração ao Preciosíssimo Sangue nos leva a meditar sobre o profundo amor e a generosidade de Deus para com o seu povo”, enfatiza a Irmã Brígida.

Nas palavras da religiosa, a devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus ajuda a compreender o sacrifício de Cristo e a redenção dos pecados. “No Antigo Testamento, o sangue dos cordeiros aplicado nas ombreiras das portas salvou os hebreus da cólera divina, conforme Êxodo 12,23. Esse evento prefigura a redenção oferecida pelo sangue de Cristo, o Cordeiro Imaculado que tira o pecado do mundo”. Irmã Brígida explica que o sangue de Jesus é a nossa proteção contra o mal, oferecendo uma redenção completa e eterna: “A devoção ao preciosíssimo sangue convida os fiéis a mergulharem no amor infinito de Deus, evitando o pecado e buscando uma vida de santidade”.

PRÁTICAS DEVOCIONAIS NO MOSTEIRO

As práticas devocionais no Mosteiro Preciosíssimo Sangue são variadas e profundamente enraizadas na espiritualidade da paixão de Cristo. A celebração diária do santo sacrifício da Missa é fundamental, com uma ênfase especial na Missa votiva ao preciosíssimo sangue na primeira quinta-feira de cada mês. Durante essa celebração, as irmãs comungam nas duas espécies e entoam a ladainha ao preciosíssimo sangue. “Além disso, o Santíssimo Sacramento é exposto para adoração de segunda a quinta-feira, proporcionando um espaço para que as irmãs e os fiéis adorem dignamente o Senhor. Durante todo o mês de julho, a ladainha ao preciosíssimo sangue e a coroa em sua honra são recitadas diariamente”, destaca a Irmã Brígida.

A vida no mosteiro é marcada pela adoração e glorificação do preciosíssimo sangue de Jesus. Após todas as orações, as irmãs recitam a jaculatória “Bendito e adorado seja o preciosíssimo sangue de Jesus”. Esse ato de devoção contínua sublinha a importância do sacrifício de Cristo e a intercessão pelas necessidades do mundo. As irmãs se dedicam à confecção de paramentos litúrgicos e velas, zelando pelo sacrifício redentor de Cristo na liturgia.

A IMPORTÂNCIA DO NOVO MOSTEIRO DAS IRMÃS DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE 

Após uma década na diocese de Jacarezinho, as estão construindo um novo mosteiro. A antiga escola onde estavam instaladas tornou-se inadequada para a vida contemplativa. “Graças à intercessão de São José e à generosidade de colaboradores, um terreno foi doado e a construção está em andamento. Esse novo espaço permitirá que as irmãs continuem sua missão de oração incessante pelo mundo, elevando vozes em clamor pelo Sangue de Cristo”, conta Irmã Brígida. Ela ressalta que, com a ajuda de vários colaboradores, essa casa de oração está sendo edificada: “Nisso já podemos contemplar verdadeiros milagres de uma fé. Um mosteiro, como sabemos, tem como missão buscar a Deus, e nesse itinerário está um coração suplicante que intercede por todo o mundo. Penso que essa é a consciência dos colaboradores: construírem um lugar onde mulheres se entregam em oração por todos, lugar esse no qual noite e dia serão elevadas aos Céus vozes clamando o sangue de Cristo e proclamando o seu senhorio”.

Todo o mosteiro é uma casa de oração, onde os consagrados a Deus decidiram oferecer sua vida em oração e sacrifício diário pela salvação do mundo. Padre Alex Nogueira é confessor das irmãs e também um colaborador da obra e militante da construção e também falou sobre essa grande obra: “Um mosteiro dedicado ao preciosíssimo sangue é sinal e testemunho para o mundo. As consagradas que vivem ali, ao renunciar sua vida por Jesus, testemunham que é possível, ainda no mundo atual, entregar a vida integralmente a Deus sem reservar para si absolutamente nada”.

Muitas pessoas, ao visitarem o mosteiro, tocadas pela graça de Deus e animadas pelo testemunho religioso, poderão elevar seus corações ao alto e entrar em comunhão com a Santíssima Trindade. O sacerdote ressalta que “A construção do mosteiro não é apenas uma obra material, mas também uma edificação espiritual que se constrói na alma de cada monja e de cada colaborador, passando pelo sacrifício da cruz. Edificar um mosteiro é levantar uma casa onde as orações chegam ao Céu como a fumaça do incenso que se eleva, e com ela cada coração que sobe ao alto”.

A devoção ao preciosíssimo sangue de Jesus, profundamente vivida e promovida pelo Mosteiro Preciosíssimo Sangue, continua a inspirar e fortalecer a fé de muitos, destacando a magnitude do sacrifício de Cristo e a infinita misericórdia de Deus.

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FÉ, COMUNIDADE E TRADIÇÃO EM TORNO DO CORPO DE CRISTO https://revistaavemaria.com.br/fe-comunidade-e-tradicao-em-torno-do-corpo-de-cristo.html https://revistaavemaria.com.br/fe-comunidade-e-tradicao-em-torno-do-corpo-de-cristo.html#respond Tue, 30 Apr 2024 20:21:42 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=73906

Passados sessenta dias após a Páscoa, a Igreja Católica celebra a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, mais conhecida como Corpus Christi. Essa data especial tem como objetivo central manifestar publicamente a fé no mistério da Eucaristia, que representa a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada.

Em outras palavras, a festa de Corpus Christi é um momento para celebrar e reafirmar a crença de que, ao receber a comunhão, os fiéis comungam com o próprio corpo e sangue de Jesus, fortalecendo sua ligação com Deus.

Por meio de procissões pelas ruas, a comunidade católica demonstra publicamente sua fé e homenageia o Santíssimo Sacramento. Altares ornamentados, cantos religiosos e a participação fervorosa dos fiéis transformam essa data em uma grande festa de fé e devoção.

Mais do que uma simples celebração religiosa, a solenidade de Corpus Christi é um convite à reflexão sobre a fé e à renovação do compromisso com os ensinamentos de Jesus. É um momento para aprofundar a relação com Deus e reforçar a importância da Eucaristia na vida dos fiéis. 

EUCARISTIA: ÁPICE DA FÉ CRISTÃ E SACRIFÍCIO DO SENHOR

A Eucaristia ocupa uma posição central na vida da Igreja. Na carta encíclica intitulada Ecclesia de Eucharistia (A Igreja vive da Eucaristia), o Santo Papa João Paulo II reafirma a importância da Eucaristia como “o cerne do mistério da Igreja”. O Concílio Vaticano II também havia declarado que o Sacrifício Eucarístico é a “fonte e o ápice de toda a vida cristã”.

Acima de tudo, a Eucaristia é o grande mistério da fé, conforme destacado no primeiro capítulo da encíclica. É o presente supremo de Jesus, que se oferece pela nossa salvação. Ao celebrarmos a Eucaristia, o evento salvífico da morte e ressurreição de Jesus torna-se verdadeiramente presente e eficaz. Esse sacrifício é tão importante para a salvação da humanidade que Jesus Cristo ascendeu ao Pai somente depois de nos deixar o meio de participar e desfrutar dos seus frutos salvíficos. A Eucaristia é o pão vivo que nos fortalece e revigora diariamente.

“A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia”, já expressava o filósofo cristão e doutor da Igreja Santo Agostinho. O próprio Papa Francisco em diversos momentos falou sobre a fortaleza espiritual desse banquete: “A Eucaristia não é um prêmio para os bons, mas remédio para os fracos”.

PRESENÇA DE CRISTO NA EUCARISTIA NA VIDA ESPIRITUAL DOS CATÓLICOS

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, o filósofo e professor de História, Alexandre Ferreira Santos, falou sobre o papel da contemplação do mistério da presença de Cristo na Eucaristia na vida espiritual de um fiel. De acordo com Santos, a compreensão desse fenômeno vai além do conceito metafísico de estar presente no mundo, adentrando a esfera da teologia e da experiência espiritual.

“É importante termos em mente que a ‘presença’, enquanto fenômeno, fundamenta o nosso ser no mundo, isso é algo metafísico. Quer dizer, quando estamos conscientes de que ‘estamos presentes’ abrimos mão de nossas ilusões de futuro e de nossas culpas do passado, por exemplo. Ao estarmos conscientes do tempo presente, inclusive temos a oportunidade de valorizar ausências que são queridas. Não é à toa que estão tão em alta as técnicas de mindfulness, de atenção plena etc.”, destacou o docente.

O filósofo prosseguiu relacionando essa compreensão com a presença de Cristo na Eucaristia, enfatizando que a experiência vai além de simplesmente estar consciente do momento presente. “Tudo porque Jesus nos chama a ir além de uma mera ‘metafísica da presença’ e experimentar a sua ‘teologia da presença’. Quando ele nos diz, em Mateus 28,20, ‘Eis que estarei convosco até o fim dos tempos’, Ele oferece para a vida espiritual do fiel cristão algo muito maior que qualquer técnica e meditação pode fazer por si mesma”, explicou o também teólogo.

Segundo Alexandre, estar na presença de Cristo na Eucaristia significa experimentar o reino de amor e o perdão alcançado na cruz, superando tanto as preocupações com o futuro quanto o peso das culpas passadas. “Em espírito e verdade somos capazes de alcançar tal status interior, mas Jesus Mestre não espera que alcancemos tal iluminação sozinhos, por isso oferece sua presença no Santíssimo Sacramento”, ressaltou.

Ao questionar o filósofo e teólogo Alexandre Ferreira Santos sobre o impacto da Eucaristia na vida comunitária dos católicos, sua resposta revela uma profunda reflexão sobre os princípios fundamentais da fé cristã e sua aplicação prática. “Jesus nos deixou a Eucaristia no pão e no vinho consagrados e nos colocou em torno da mesma mesa”, afirma ele, destacando a dimensão simbólica e comunitária da Eucaristia. 

Ele enfatiza também a fé na capacidade humana de convivência e solidariedade, inspirada pela presença de Cristo na celebração. “Ao recebermos a comunhão, recebemos também o Espírito Santo, que inflama em nós o amor”, destaca o teólogo, ressaltando o papel transformador da Eucaristia na vivência do amor fraterno. Ele ressalta a importância de reconhecer a presença de Cristo em cada pessoa, especialmente nos mais necessitados, alinhando-se com a opção preferencial pelos pobres estabelecida em Mateus 25.

“Um estilo de vida simples, práticas sustentáveis e a militância contra o colapso climático são apelos que emergem das palavras da bênção sobre os dons do ofertório: ‘Bendito sejais, Senhor, pelo fruto da terra e do trabalho humano’. A vida brota da vida”, afirma o especialista, ecoando a ideia de que a plenitude da graça divina permeia toda a criação. Ele conclui destacando a necessidade de uma conversão pessoal e comunitária para promover a vida em abundância para todos os seres da criação.

A resposta do filósofo ressoa com a mensagem evangélica de amor, solidariedade e compromisso com os mais vulneráveis, inspirando os fiéis a viverem sua fé de forma autêntica e transformadora na comunidade e no mundo.

TESTEMUNHO PÚBLICO DA FÉ NAS RUAS DE SANTANA DE PARNAÍBA

A celebração do corpo de Cristo na cidade de Santana de Parnaíba (SP) sempre aliou a devoção à beleza dos enfeites confeccionados pela comunidade nas principais ruas do centro histórico e ao longo dos anos tornou-se uma das maiores manifestações religiosas do Estado de São Paulo. 

Os tapetes são confeccionados com serragem colorida, que encantam pelo tingimento (são diversas cores vivas). Na confecção vale a criatividade de cada um, assim vários outros materiais são usados, como pó de café, casca de ovo, cal,

madeira, flores, tecidos e até esculturas de barro.

“O evento cresceu e cerca de 60 mil turistas visitam a cidade na data, que fica repleta de barracas de alimentação e artesanato. Toda a infraestrutura é cedida pela Prefeitura de Santana de Parnaíba e a organização da programação religiosa (missas, procissões etc.) é de responsabilidade da Paróquia Santa Ana, assim como a elaboração do tema, projeto de desenhos e distribuição dos tapetes, hoje confeccionados pela comunidade religiosa”, informou a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Santana de Parnaíba.

No próximo dia 30 de maio, a cidade se prepara para receber o Corpus Christi, evento anual marcado por sua tradição e significado religioso. Com o tema “Eucaristia, fonte de unidade e fraternidade”, a comunidade se reúne para celebrar a presença de Cristo na Eucaristia.

As atividades têm início às cinco da manhã, quando os moradores responsáveis pela confecção dos tradicionais tapetes de serragem se encontram na escola mais próxima do centro histórico. Após um café reforçado, cerca de mil voluntários das comunidades locais iniciam o trabalho de elaboração dos coloridos tapetes.

Às sete da manhã, no palco principal na praça 14 de Novembro, tem início uma série de momentos de oração e meditação, com destaque para as laudes às sete, o Terço mariano às oito, a pregação às nove e a santa Missa na matriz às dez e ao meio-dia. A programação ainda inclui a coroação de Maria às catorze horas, seguida pela santa Missa campal e procissão às quinze, com uma ressalva de que a programação está sujeita a alterações.

Após a conclusão da santa Missa, os fiéis saem em procissão pelas ruas do centro histórico, acompanhando o Jesus eucarístico e percorrendo quase um quilômetro de tapetes formados por serragem colorida. O evento, além de ser uma manifestação de fé, representa um momento de união e comunhão entre os membros da comunidade.

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RESSURREIÇÃO: A PÁSCOA QUE SE VIVE TODOS OS DIAS https://revistaavemaria.com.br/ressurreicao-a-pascoa-que-se-vive-todos-os-dias.html https://revistaavemaria.com.br/ressurreicao-a-pascoa-que-se-vive-todos-os-dias.html#respond Mon, 01 Apr 2024 16:49:21 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=73716 A Páscoa, celebrada com fervor pelos cristãos, transcende o mero simbolismo religioso. Mais do que comemorar a ressurreição de Jesus Cristo, a data convida à reflexão sobre a capacidade humana de renascimento, de superar obstáculos e encontrar a redenção.

Nesta edição da Revista Ave Maria, mergulhamos em histórias inspiradoras de pessoas que, à semelhança de Cristo, experimentaram a morte simbólica e a gloriosa ressurreição. Homens que outrora submersos em vícios, violência e desilusão encontraram a redenção em casas de recuperação, comunidades de vida, igrejas e organizações não governamentais (ONGs). Testemunhas vivas da esperança, essas almas resgatadas do abismo dedicam suas vidas a auxiliar outros a trilhar o mesmo caminho de transformação.

RESSURGINDO DAS SOMBRAS: UMA JORNADA DE FÉ E ESPERANÇA

No turbilhão das ruas escuras, onde a fome dói e a alma se desfaz em pedaços, há uma luz que brilha. Felipe Tiago Pereira, natural de Campos Gerais (MG), um sobrevivente das sombras da adição, encontrou sua própria ressurreição nas profundezas da desesperança. Com 33 anos e profissão de serralheiro, sua história é uma narrativa de perdas e redenção, um testemunho de como a fé e a comunidade podem erguer até mesmo os caídos mais profundos.

“Eu venho de uma família estruturada com seis irmãos, pai e mãe, pessoas trabalhadoras e que me criaram com princípios. Sempre trabalhei, estudei e acho que por diversão conheci o mundo das drogas na adolescência, por curtição usava em festas em fins de semana, mas as coisas foram saindo do controle. Cheguei num ponto bem crítico da minha vida quando comecei a usar a cocaína”, compartilha Felipe. 

O uso de drogas se torna compulsivo ao longo dos anos, levando a períodos de reabilitação seguidos de recaídas. Após um período de estabilidade, atinge o ponto mais crítico da dependência de drogas: “Ficar vinte dias na rua foi o ponto mais baixo da minha vida. Ali vi realmente a maldade que há nas ruas”, relembra ele.

Enquanto enfrentava os obstáculos mais íntimos e desesperadores, Felipe encontrou a coragem para pedir socorro: “Acho que buscar ajuda sempre acaba sendo uma decisão própria e também sempre tem algo que nos influencia”. Esse impulso o levou à Comunidade Aliança de Misericórdia, onde redescobriu a essência de sua fé e a força da comunidade.

“Fiquei certo tempo dentro da igreja evangélica, onde conheci a mãe do meu filho e tal”, relembra Felipe sobre sua jornada espiritual. “Quando chego à Aliança de Misericórdia é um novo começo e vim porque uma pessoa fez uma novena por mim”, acrescenta ele. Ali ele encontrou uma família espiritual que o ajudou a reconstruir sua vida, passo a passo. 

A Aliança de Misericórdia é um movimento eclesial constituído como associação privada de fiéis, reconhecida e sediada na Arquidiocese de São Paulo (SP). Foi fundado no ano 2000 pelos padres João Henrique e Antonello Cadeddu e Maria Paola. A família Aliança de Misericórdia acolhe e une as forças de homens e mulheres, celibatários e casados, leigos e clérigos, que de várias formas e níveis chamados por Deus tornam-se “filhos da misericórdia” para evangelizar as ovelhas perdidas (cf. Lc 15,4-7), confiantes na potência do Espírito Santo, realizando todas as obras de misericórdia que as próprias forças permitirem.

O momento da verdadeira ressurreição veio quando Felipe escolheu permanecer na casa de acolhida Sítio Sagrado Coração de Jesus, em Barbacena (MG). “Significa que esse permanecer não partia somente de mim”, reflete ele, reconhecendo a intervenção divina em sua jornada. Esse despertar o inspirou a dedicar sua vida a ajudar outros a encontrar o mesmo caminho de redenção.

“Quis de alguma forma me dedicar mais ao trabalho para a casa”, compartilha Felipe sobre seu desejo de retribuir. Hoje, ele trabalha na monitoria da casa com os missionários, organizando e delegando as funções aos irmãos acolhidos.

Sua mensagem é de esperança, de que não importa quão fundo alguém tenha caído, sempre há uma oportunidade para ressurgir. “Não fique de braços cruzados, esperando acontecer”, exorta Felipe. “Jesus está de braços abertos esperando cada um de nós”, conclui ele, sua voz cheia de convicção e fé. Em suas palavras ecoa a promessa de que, mesmo nas trevas mais profundas, a luz da ressurreição nunca se apaga.

RESSURREIÇÃO NA CIDADE RAHAMIM: UMA HISTÓRIA DE TRANSFORMAÇÃO 

Vilmar dos Santos, um homem de 44 anos, natural de Santos Dumont (MG), encontrou-se perdido em um labirinto de alcoolismo, prostituição e desespero. Sua jornada de vida o levou ao ponto mais baixo, onde se viu sozinho e abandonado no coração tumultuado do Rio de Janeiro (RJ), longe da família e de qualquer esperança.

Em entrevista, Vilmar compartilhou sua história de ressurreição, destacando os momentos de desafio e redenção que o levaram à sua nova vida na Comunidade Aliança de Misericórdia, no projeto Cidade Rahamim, em Salto (SP). “Meu nome é Vilmar dos Santos e aos 16 anos já tinha uma vida adulta, mas essa liberdade trouxe minha desgraça. Eu me envolvi com álcool, prostituição e brigas, perdendo completamente o rumo”, revela Vilmar, descrevendo os anos de sua queda espiritual.

Foi somente em 2014, após uma vida mergulhada no inferno do vício e da autodestruição, que Vilmar encontrou a luz no fim do túnel. “Sempre soube que precisava de ajuda, mas, não sabia como pedir. Foi então que alguém da Comunidade Aliança de Misericórdia se aproximou de mim e me ofereceu ajuda. Decidi deixar tudo para trás e fazer um caminho com Deus”, explica Vilmar, descrevendo o momento de sua decisão de mudar de vida.

Na Casa de Acolhida São José, em São José dos Campos (SP), Vilmar encontrou não apenas abrigo físico, mas também um renascimento espiritual. “Ali, pela primeira vez, experimentei o cuidado de Deus. A Aliança de Misericórdia foi o sopro da vida em mim”, compartilha ele, refletindo sobre o papel vital da espiritualidade e da comunidade em sua recuperação.

O ápice de sua jornada ocorreu em 2021, quando Vilmar sentiu-se verdadeiramente ressuscitado: “Foi em São José dos Campos que percebi que Deus me ressuscitou. A fé mudou minha trajetória e agora acredito na cura da minha vida”.

Motivado por sua própria experiência de transformação, Vilmar decidiu dedicar sua vida a ajudar outros a ressuscitar. “Ouvir falar da construção da Cidade Rahamim despertou em mim o desejo de fazer parte desse sonho. Quero ajudar aqueles que passaram pelo mesmo que eu”, afirma ele, demonstrando seu compromisso com a missão de amor e serviço.

Hoje Vilmar é um membro ativo da comunidade em Salto, trabalhando na manutenção de obras e na agricultura da Cidade Rahamim. “Deixei para trás o homem velho e busco melhorar a cada dia. A graça acontece no caminho”, diz ele, compartilhando sua mensagem de esperança para aqueles que ainda lutam.

A história de Vilmar dos Santos é um testemunho vivo da ressurreição e da renovação que podem acontecer mesmo nos momentos mais sombrios da vida. Sua jornada de redenção é um lembrete poderoso de que com fé, amor e comunidade é possível encontrar o caminho de volta à luz, não importa quão perdidos possamos parecer.

PROJETO VIDA NOVA: ACOLHENDO E RESTAURANDO A DIGNIDADE HUMANA

Douglas Alves Gonçalves tem 33 anos e hoje é pedreiro. É natural de São Paulo (SP), mas, quando criança, morou com a sua avó em Minas Gerais devido à separação dos pais. Desde pequeno, Douglas não tinha uma presença efetiva dos seus familiares e já passava o dia nas ruas e as noites também. Foi onde teve os primeiros contatos com as drogas, cheirando esmalte, cola e para conseguir o dinheiro para o vício começou a fazer pequenos roubos e furtos. Com isso, vieram as primeiras detenções, antes mesmo de completar 18 anos: “Até que eu conheci o crack, andando nas ruas do centro de São Paulo, na tão conhecida Cracolândia. Ali foi o começo do precipício, pois a partir do momento em que comecei a usar fui ficando cada vez mais viciado”. Mesmo depois da maioridade, Douglas continuou em uma vida desregrada, sendo preso pela polícia por várias vezes e a cada dia mais afastado totalmente de sua família e mais imerso no mundo do crime e das drogas.

Certo dia, ele conheceu o Arsenal da Esperança, uma casa que acolhe homens em situação de rua fundada em São Paulo, em 1996, por Ernesto Olivero e a Fraternidade da Esperança SERMIG. Nessa primeira casa de acolhida, Douglas fez curso de pedreiro e até já começava a realizar pequenos trabalhos e receber remuneração por eles, mas ainda estava no vício e usava todo o dinheiro para comprar drogas.

“A assistente social me chamou para conversar. Desabafei: precisava de ajuda, não estava conseguindo mudar de vida. Ela me deu o endereço da Missão Belém, que na época ficava no Brás. ‘Vá lá, eles vão te ajudar’, disse ela. Foi assim que conheci a Missão Belém, por meio da assistente social do Arsenal da Esperança”, diz ele.

Fundada em 2005 pelo Padre Gianpietro Carraro e pela Irmã Cacilda da Silva Leste, a Missão Belém é um movimento religioso católico, também erigido como associação privada de fiéis na Arquidiocese de São Paulo. Os membros do movimento se propõem a reviver o mistério de Belém: Jesus que nasce pobre no meio dos pobres, para os pobres, numa mísera gruta, acolhido com carinho por Maria e José.

Por meio da espiritualidade, da reza do Terço, da participação da Eucaristia, gradualmente Douglas foi se reabilitando e deixando de lado o vício nas drogas. Hoje já são mais de dez anos em que ele participa do movimento; já foi servo e agora é um pai de casa que lidera e ajuda outros irmãos que, como ele um dia chegou ali, buscam ajuda para mudar suas vidas.

Atualmente, Douglas reside no prédio do Projeto Vida Nova, na Praça da Sé, no centro de São Paulo. O local acolhe diariamente por volta de cinquenta a sessenta pessoas em situação de rua, de 1.200 a 1.500 por mês. O acolhimento inclui banho, troca de roupa, café e encaminhamento para casas de restauração da Missão Belém.

“O portão está sempre aberto para acolher quem busca ajuda. A pessoa é recebida, toma banho, troca de roupa, toma café e é encaminhada para uma das casas da Missão Belém”, explica Douglas.

As histórias de superação narradas nesta reportagem servem como um lembrete constante de que a redenção é possível para todos. Que a Páscoa, símbolo da ressurreição de Cristo, inspire-nos a ser instrumentos de transformação na vida daqueles que mais precisam.

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PASSOS DE FÉ: UMA JORNADA PELA SEMANA SANTA https://revistaavemaria.com.br/passos-de-fe-uma-jornada-pela-semana-santa.html https://revistaavemaria.com.br/passos-de-fe-uma-jornada-pela-semana-santa.html#respond Fri, 01 Mar 2024 15:24:09 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=73475 UM TEMPO DE PROFUNDA REFLEXÃO, FÉ E ESPERANÇA PARA TODOS OS CRISTÃOS, SEGUINDO OS MISTÉRIOS DA PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO JESUS

A Semana Santa, também conhecida como Semana Maior, tem início no Domingo de Ramos, marcado pela entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Esse período, considerado o ápice do ano litúrgico, convida-nos a reviver os momentos mais importantes da salvação do povo de Deus: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Mais do que simples orações, as celebrações da Semana Santa proporcionam a vivência do mistério pascal. A cada Eucaristia, renovamos a experiência do Calvário, testemunhando o sacrifício de Cristo e sua gloriosa ressurreição: “Toda vez que o sacrifício da cruz, com o qual Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado, é celebrado sobre o altar, realiza-se a obra da nossa redenção” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 3).

Ao longo da Semana Santa somos convidados a meditar sobre o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Sua entrega nos instiga à conversão, caridade e esperança. É tempo de fortalecer nossa fé, renovar nosso compromisso com o Evangelho e celebrar a vitória da vida sobre a morte.

PÁSCOA: A FESTA DAS FESTAS

O Catecismo da Igreja Católica define a Páscoa como “a festa das festas, solenidade das solenidades” (1169), transcendendo qualquer outra celebração. Santo Atanásio a denominava “o Grande Domingo” e, no Oriente, a Semana Santa é conhecida como “a Grande Semana”.

Mais do que uma mera comemoração, a Páscoa é o cerne ritual da fé cristã. Enraizada na tradição judaica, relembrando a libertação do Egito, ela atinge o ápice com o sacrifício de Cristo no Calvário e a gloriosa ressurreição que cumpriu sua missão.

São João Paulo II, ainda Papa, escreveu na carta aos sacerdotes, por ocasião da Quinta-feira Santa de 1999, “O Triduum Sacrum, os dias santos por excelência, durante os quais misteriosamente participamos no regresso de Cristo ao Pai, por meio da sua paixão, morte e ressurreição. De fato, a fé garante-nos que essa passagem de Cristo ao Pai, ou seja, a sua Páscoa, não é um acontecimento que diga respeito só a Ele; também nós somos chamados a tomar parte nela: a sua Páscoa é a nossa Páscoa”.

TRÍDUO PASCAL, UM DOS PERÍODOS MAIS FESTIVOS E SOLENES DO ANO LITÚRGICO

O Tríduo Pascal se inicia na tarde da Quinta-feira Santa com a Missa da Ceia do Senhor e culmina na tarde do Domingo de Páscoa com as Vésperas Solenes. “Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1)

Na Sexta-feira Santa, reverenciamos a morte de Jesus. “Esse é um dia diferente, de mais silêncio, de maior oração e nosso coração deve estar mais aberto a perdoar tudo o que for necessário”, destacou Dom Adelar Baruffi, arcebispo emérito de Cascavel (PR).

No Sábado Santo recordamos o descanso de Cristo no sepulcro. “A morte foi vencida e a Igreja vibra e renova a sua fé, a sua esperança numa plenitude vivida de realização que Cristo já semeou, plantou na terra e que nos fins dos tempos se realizará plenamente. A Vigília Pascal conclui o tríduo”, falou em entrevista à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Dom Armando Bucciol, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da citada conferência.

“É interessante observar que o sinal da cruz se faz começando a Eucaristia na quinta-feira e repetimos com bênção final na celebração da Vigília Pascal e por meio desse simbolismo litúrgico expressamos essa unidade dos três momentos celebrativos que caracterizam esse tríduo sacro”, ressaltou Dom Armando.

PROCISSÃO DO ENCONTRO: A DOR E A ESPERANÇA SE ENTRELAÇAM

A Semana Santa traz também diversas expressões populares, como a Procissão do Encontro. Nesse momento carregado de emoção, a procissão encena o encontro entre Nossa Senhora das Dores e o Senhor dos Passos. De um lado, a Virgem Maria, vestida de luto, representa a dor e a angústia de uma mãe que vê seu filho sofrer. Do outro, Jesus Cristo, com a cruz nas costas e a coroa de espinhos, símbolo da paixão e do sacrifício supremo.

Ao se encontrarem, as imagens se inclinam em um gesto de profunda reverência e compaixão. O silêncio reverente da multidão intensifica a carga emocional do momento, enquanto os fiéis meditam sobre a dor de Maria e a entrega de Jesus.

A via-sacra, presente em todas as igrejas, convida os fiéis a reviverem os passos de Jesus Cristo em sua caminhada até a crucificação. Por meio de catorze estações, cada uma representando um momento específico da paixão, os participantes meditam sobre o sofrimento e o sacrifício de Jesus pela humanidade.

Na Semana Santa, a via-sacra ganha um significado ainda mais especial. Além de ser realizada dentro das igrejas, também é encenada nas ruas, com a participação de atores populares que recriam as cenas da vida de Jesus. Essa encenação pública transforma a via-sacra em um verdadeiro espetáculo de fé, atraindo milhares de pessoas que se unem em oração e reflexão.

DRAMA DA PAIXÃO 2023: UMA GRANDIOSO FESTEJO DE FÉ VIVIDO EM COMUNIDADE

A Barragem Edgard de Souza foi palco de um espetáculo grandioso e emocionante durante três dias, de 6 a 8 de abril. O “Drama da paixão 2023”, realizado pela Prefeitura de Santana de Parnaíba (SP), reuniu cerca de 30 mil pessoas em um evento inesquecível de religiosidade e cultura popular.

O evento, que já faz parte da tradição cultural da cidade há 26 anos, proporcionou ao público momentos de profunda contemplação e emoção ao apresentar a história da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A edição desse ano teve como tema a “Estrela de Davi”, dividindo-se em três partes: a história do jovem guerreiro Davi, a vida de Jesus e sua crucificação e, finalmente, sua ressurreição.

Com uma área cênica de mais de 15 mil metros quadrados e a participação de mais de quatrocentos voluntários entre atores e figurantes, o “Drama da paixão” se consolidou como um dos maiores espetáculos ao ar livre do país. A grandiosidade da produção, a beleza dos cenários e figurinos e a entrega dos artistas resultaram em uma experiência única e emocionante para todos os presentes.

Além da relevância cultural e religiosa, o “Drama da paixão” também gerou impacto positivo em diversos outros aspectos. O evento contribuiu para o fomento do turismo na cidade, atraindo visitantes de diversas regiões. A economia local também foi beneficiada, com a geração de renda para diversos setores, como hotelaria, alimentação e comércio.

Outro destaque importante foi a arrecadação de toneladas de alimentos não perecíveis destinados ao Fundo Social de Solidariedade do município. Essa ação demonstra o compromisso social do evento e sua capacidade de promover a caridade e a ajuda ao próximo.

PROCISSÃO DO FOGARÉU: TRADIÇÃO QUE CONECTA FÉ E COMUNIDADE NA SEMANA SANTA

Na Paróquia Imaculada Conceição, em Cruzeiro, interior de São Paulo, a Procissão do Fogaréu se destaca como um momento singular de fé e reflexão durante a Semana Santa. Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, o Padre Rivelino Nogueira, responsável pela paróquia, explica a importância dessa tradição e como ela contribui para a vivência mais profunda da Semana Santa pelos fiéis.

 

“A Procissão do Fogaréu revive os momentos que antecedem a prisão de Cristo”, explicou Padre Rivelino. “É uma forma de continuarmos fiéis às primeiras procissões, percorrendo as ruas apagadas em oração e penitência”, acrescentou. A procissão inclui duas paradas: a primeira na mesa da Santa Ceia, onde Jesus instituiu a Eucaristia, e a segunda no horto das Oliveiras, local da prisão de Jesus. A celebração termina com a encomendação das almas no cemitério.

Para o sacerdote, as tradições como a Procissão do Fogaréu são essenciais para manter viva a fé e a cultura religiosa ao longo das gerações. “Devemos sempre prezar pelas tradições e essa procissão tem um papel importante na Semana Santa. As crianças que participam com seus pais e avós se interessam pela história e pelos símbolos da fé, perpetuando a tradição”, afirmou ele.

ELEMENTOS ÚNICOS PARA UMA EXPERIÊNCIA PROFUNDA

A Procissão do Fogaréu na Paróquia Imaculada Conceição possui elementos que a tornam especial. “As mulheres usam véus pretos, os homens capuzes pretos e há farricocos [aquele que participa das procissões de penitência, vestindo hábito escuro, com capuz] com tochas, matracas e velas. Esses elementos contribuem para a concentração e o recolhimento dos fiéis, criando uma atmosfera propícia à reflexão”, contou o religioso

Padre Rivelino relatou também que a Procissão do Fogaréu e a Encomendação das Almas no cemitério têm um impacto profundo nas pessoas: “Há relatos de curas de traumas da morte e de uma fé renovada após a participação nesses eventos. A Semana Santa é um momento forte de oração e penitência e a Procissão do Fogaréu é uma oportunidade para os fiéis se conectarem com a história de Jesus Cristo e vivenciarem sua fé de forma profunda e significativa”.

Que a Semana Santa seja um tempo de profunda reflexão, fé e esperança para todos nós!

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FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL: UM CAMINHO PARA A PAZ https://revistaavemaria.com.br/fraternidade-e-amizade-social-um-caminho-para-a-paz.html https://revistaavemaria.com.br/fraternidade-e-amizade-social-um-caminho-para-a-paz.html#respond Thu, 01 Feb 2024 14:38:57 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=73290 Sessenta anos da Campanha da Fraternidade no Brasil: a amizade social como caminho para a superação dos desafios de 2024.

No dia 14 de fevereiro, Quarta-feira de cinzas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) faz a abertura oficial da Campanha da Fraternidade 2024. Inspirada na Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, a Campanha da Fraternidade de 2024 tem como tema “Fraternidade e amizade social” e lema “Vós sois todos irmãos e irmãs (Mt 23,8)”. O ano de 2024 marca os sessenta anos de mobilização da Campanha da Fraternidade em todo o Brasil.

Dentro da trajetória penitencial da Igreja, a Campanha da Fraternidade sugere, no período da Quaresma, um chamado à conversão, à promoção da amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs. O tema escolhido é particularmente relevante no contexto atual, marcado por profundas desigualdades sociais, crises ambientais e conflitos políticos. Em um mundo onde muitos são marginalizados, excluídos, a fraternidade é um antídoto ao individualismo e à violência.

Nas palavras de Dom Ricardo Hoepers, bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília (DF) e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o tema e o lema da campanha de 2024 refletem a preocupação do episcopado em aprofundar a fraternidade como contraponto ao processo de divisão, ódio, guerras e indiferença que tem marcado a sociedade brasileira e o mundo.

A fraternidade é baseada no reconhecimento da dignidade de todos os seres humanos, independentemente de raça, religião, classe social ou qualquer outra condição. É uma atitude de amor e respeito ao próximo, que se traduz em ações concretas de solidariedade e justiça.

POR UMA CULTURA DE PAZ ENTRE OS POVOS

Despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que em Jesus Cristo a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos, é o objetivo geral da Campanha da Fraternidade, descrito no texto-base deste ano.

A partir de uma perspectiva geral são propostas várias finalidades específicas, voltadas aos desafios concretos que nos confrontam como seres sociais chamados à amizade social. Uma dessas finalidades é a construção de uma civilização que promove a cultura da paz entre os povos, nas relações humanas e no mundo. Essa proposta é urgente, pois há guerra e violência em muitos lugares, tanto nas periferias geográficas quanto nas existenciais.

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, Padre Jean Poul Hansen, secretário-executivo de campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, falou sobre a escolha do tema “Fraternidade e amizade social”, definido ainda em 2022. O religioso reforça que reflete os desafios contemporâneos enfrentados pela sociedade global e brasileira. “O crescimento do ódio, da violência, das guerras, mais de trinta focos de guerras por todo o mundo, a indiferença, a divisão, a polarização, nós queremos com a Campanha da Fraternidade desencadear, despertar a Igreja e a sociedade para a necessária conversão da indiferença à comunhão, da divisão à fraternidade, da lógica fratricida de Caim à lógica redentora de nosso Senhor Jesus Cristo”, refletiu.

Padre Jean Poul também discorreu sobre como a Campanha da Fraternidade espera contribuir para transformar a realidade atual: “O objetivo geral da Campanha da Fraternidade deste ano, 2024, é precisamente esse: despertar as pessoas para a beleza da fraternidade humana, gerando, colaborando e fortalecendo vínculos de amizade social para que a paz seja realidade entre as pessoas e povos. Deus nos criou para a comunhão, Deus nos criou para a amizade e nós só nos salvaremos vivendo em comunhão, vivendo em amizade e fraternidade”.

SINAIS QUE SUSCITAM E SUSTENTAM A AMIZADE SOCIAL

A permanente disposição à solidariedade que o povo brasileiro manifesta de forma gratuita e voluntária, em emergências naturais ou em grandes tragédias causadas pelo próprio ser humano, também são sinais que suscitam e sustentam a amizade social. Voluntariamente, os brasileiros se mobilizam, organizam e colocam à disposição bens e serviços necessários para o socorro das vítimas, realizando, assim, a fraternidade e a amizade social.

“A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é na maioria cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis, das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo”, disse o papa Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti (115).

A pandemia da covid-19 nos mostrou um sinal eloquente: a capacidade de doação e heroísmo dos seres humanos. Em meio ao medo e ao risco, homens e mulheres deram as próprias vidas para salvar outras. Médicos, enfermeiros, trabalhadores dos serviços essenciais, da limpeza, da segurança e dos transportes são testemunhas de que nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns, que estão ao nosso lado muitas vezes sem ser reconhecidas.

 

A AMIZADE SOCIAL COMO UM ANTÍDOTO PARA A CEGUEIRA EM RELAÇÃO AO SOFRIMENTO ALHEIO

A Carta Encíclica Fratelli Tutti, escrita pelo Papa Francisco e publicada em 2020, aborda temas como fraternidade, amizade social e solidariedade. No documento, o Papa destaca a importância da amizade social como um caminho para superar desafios sociais, econômicos e políticos. A ideia central é promover uma cultura de encontro e colaboração entre as pessoas, independentemente de suas diferenças.

Na opinião do professor Edivaldo José Bortoleto, docente de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo e doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Papa Francisco defende uma Igreja descentralizada, que está para além de uma visão eurocêntrica. Ele propõe a amizade social como um antídoto para a cegueira ao sofrimento alheio, tanto no âmbito particular quanto no universal.

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, Bortoleto ressaltou: “Creio também que a Campanha da Fraternidade 2024 subsume todos os temas das campanhas anteriores, iniciadas na região Nordeste em 1962, porque o tema da política tem a ver com a pessoa humana, a sociedade e a natureza enquanto um todo, isso porque as ideias que embasam, formam e informam a Campanha da Fraternidade 2024 estão na base dos clamores dos movimentos mundiais. Pode-se dizer que nada e ninguém fica de fora”.

UM TEMA TRANSVERSAL E UM CAMINHO A SEGUIR

A promoção da justiça social e a construção de um ambiente de fraternidade e cuidado mútuo são princípios que podem ser aplicados na vida cotidiana de todos os seguidores de Cristo. O texto-base da Campanha da Fraternidade traz inúmeras pistas concretas para isso.

Em entrevista à Revista Ave Maria, o doutor em Ciências Sociais Fernando Altemeyer Junior, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, falou sobre algumas dessas possibilidades: “Favorecer centros de escuta, praticar o ecumenismo e organizar e promover pequenos grupos de ajuda mútua, de solidariedade e socorro dentro da paróquia ou até mesmo em alguma área da cidade que é rejeitada. Promover debates sobre democracia e participação cidadã, realizar debates sobre as futuras eleições municipais e organizar uma pauta de propostas para candidatos dos vários partidos e cobrar! Atacar firme e com coragem o bullying que existe em nossas escolas e famílias. Rejeitar o racismo e a misoginia que esmaga mulheres e etnias com palavras e gestos de opressão. Precisamos ser antirracistas diariamente. Ainda uma sugestão: visitar obras filantrópicas como um voluntário, algumas vezes ao mês ou no ano. Faz um bem danado aos outros e a si mesmo”.

Questionado sobre a importância da dimensão social na evangelização ficar em destaque nesta Campanha da Fraternidade, e de como as pastorais sociais também poderiam ser mais bem percebidas, integradas e assumidas como um aspecto intrínseco à fé cristã, o também filósofo e teólogo Altemeyer ressaltou que Deus nos ensina a ofertar o melhor de nós para construir uma rede comunitária que sustenta os frágeis e nos eleva em humanidade: “As pastorais, a catequese, os sacramentos são todas experiências coletivas e de amizade social. Ninguém se salva individualmente. Tudo no seguimento de Jesus envolve comunhão e participação. Hoje o nome social da amizade é política. Política como a arte do bem viver cuidando uns dos outros e do bioma onde vivemos. As urgências e clamores dos pobres devem encontrar igrejas e ministros acolhedores. Igrejas surdas são uma traição ao Evangelho. Não é preciso ter trinta pastorais sociais para ‘mostrar’ serviço ao bispo ou ao povo. É preciso assumir uma dimensão social em tudo o que a Igreja faz e prega. Acolher pessoas com afeto e respeito já é o cartão de visita de uma campanha diária da fraternidade”.

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 AMOR QUE CURA: A HISTÓRIA DE QUEM DEDICA A VIDA AOS ENFERMOS https://revistaavemaria.com.br/amor-que-cura-a-historia-de-quem-dedica-a-vida-aos-enfermos.html https://revistaavemaria.com.br/amor-que-cura-a-historia-de-quem-dedica-a-vida-aos-enfermos.html#respond Sun, 31 Dec 2023 20:26:48 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=73078 COM FÉ E DEDICAÇÃO, ELES TRANSFORMAM A VIDA DE QUEM MAIS PRECISA

Num mundo onde o tempo é fugaz, mas o amor é eterno, há uma linhagem de pessoas que se dedicam a um serviço sagrado. Nos corredores de hospitais, nos lares que guardam memórias e nas mãos que se estendem em busca de conforto, o amor a Jesus se manifesta no cuidado aos enfermos e aos idosos.

Em 14 de janeiro celebramos o Dia Nacional do Enfermo. A data foi criada em 2002 pelo Ministério da Saúde para fazer referência ao atendimento humanizado nas unidades de saúde. Neste tributo ao Dia Nacional do Enfermo, a Revista Ave Maria nos propõe mergulhar nessas jornadas, entrelaçadas pela devoção aos mais necessitados. Não é apenas uma história de religiosos, mas uma narrativa de pessoas comuns, movidos por uma fé que transcende dogmas, evidenciada no serviço desprendido.

O PAPEL DA ESPIRITUALIDADE NO PROCESSO DE CURA DOS DOENTES

A religiosidade pode desempenhar um papel significativo no bem-estar físico, mental e emocional das pessoas. Muitas vezes, a espiritualidade oferece uma fonte de força interior, esperança e paz mental para os enfermos. A fé e as crenças podem ajudar a lidar com o estresse, a ansiedade e a depressão associados à doença.

As práticas espirituais, como a meditação, a oração e a conexão com uma comunidade religiosa, podem promover a resiliência emocional, ajudando os doentes a enfrentar os desafios da doença com mais força.

“A espiritualidade é fundamental na cura porque quando se acredita em alguém superior a nós, crendo que cuida da gente lá do alto, isso fortalece o doente na luta contra a enfermidade. A doença não se torna tão pesada e com isso o doente tem mais força para lutar em defesa da vida”, destacou em entrevista o Cônego João Inácio Mildner, assistente eclesiástico arquidiocesano da Pastoral da Saúde e capelão do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na cidade de São Paulo (SP).

O padre gaúcho atua como capelão do Hospital Emílio Ribas desde 1992. Chegou ao principal centro de referência de infectologia do Brasil justamente no auge da epidemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Para o religioso, a rotina da capelania “é ser um entre tantos irmãos que formam a comunidade hospitalar”, enfatizando que todos são importantes para o processo de cura do doente, além dos médicos, enfermeiras e fisioterapeutas, sem esquecer os agentes de limpeza, profissionais da cozinha e outros: “A presença do capelão é justamente lutar para que essa unidade aconteça em favor de quem sofre”, ressaltou o presbítero.

Nas palavras do cônego João Mildner, ser presença junto ao profissional da saúde também é missão da capelania hospitalar: “Eu sempre digo que é importante cuidar de quem cuida, porque se o profissional da saúde está bem, se ele se sente amado, respeitado, valorizado, também prestará um excelente trabalho na assistência ao enfermo”.

A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 e democratizou o acesso à saúde, sendo um avanço significativo em termos de políticas públicas para a população do Brasil. Sua abrangência, cobrindo desde a atenção básica até procedimentos complexos, impacta positivamente a vida de milhões de brasileiros, especialmente os mais vulneráveis; porém, é importante lembrar que a luta por saúde para todos começou muito antes. Por exemplo, a criação do Ministério da Saúde, em 1953, reflete a ênfase na saúde pública voltada para as coletividades, priorizando enfermidades rurais. Nesse primeiro momento, o Estado reforçou a perspectiva de erradicar doenças independentemente do desenvolvimento econômico. Essa trajetória histórica lança luz sobre os desafios atuais e a importância do Sistema Único de Saúde como sistema inclusivo e abrangente, buscando não só superar limitações históricas, mas também promover uma unificação do país por meio da promoção da saúde de forma equitativa.

Desde então, a crescente demanda e a complexidade das doenças modernas geram pressão sobre os recursos públicos e, consequentemente, sobre o Sistema Único de Saúde. Epidemias como a AIDS foram enfrentadas com sucesso e o Sistema Único de Saúde demonstrou sua capacidade de resposta eficaz diante de emergências de saúde pública, implementando estratégias de prevenção, tratamento e conscientização. A infraestrutura, embora tenha avançado, ainda precisa de investimentos para atender plenamente a população. Além disso, a gestão descentralizada, embora promova a autonomia local, gera disparidades regionais, prejudicando a equidade. 

Dentre os seus maiores desafios, podem-se destacar as condições de trabalho desafiadoras dos profissionais de saúde, incluindo carga horária extensa e falta de recursos. A informatização também é uma necessidade urgente para integrar o sistema e melhorar a eficiência, mas esbarra em obstáculos políticos e burocráticos.

Em resumo, o Sistema Único de Saúde é um marco positivo na saúde brasileira, democratizando o acesso. No entanto, para alcançar seu pleno potencial são necessários investimentos contínuos, melhorias na gestão, valorização dos profissionais e avanços tecnológicos. O desafio está em equilibrar descentralização com equidade, garantindo que todos os brasileiros recebam cuidados de saúde dignos e eficientes.

INSTITUTO LUZ DO AMANHÃ: UM FAROL DE ESPERANÇA

Receber o diagnóstico de câncer em uma criança é devastador para qualquer família e essa realidade se torna ainda mais desafiadora para famílias de baixa renda. O impacto emocional é avassalador, trazendo medo, angústia, ansiedade e um sentimento de desamparo. Além disso, há uma série de implicações práticas e financeiras que podem sobrecarregar ainda mais essas famílias.

Atento a essa realidade que Roberto Rodrigues, com o apoio de alguns amigos, fundou o Instituto Luz do Amanhã, que há mais de dez anos atua como um alicerce para crianças e adolescentes com câncer e suas famílias, ajudando na busca de todas as possibilidades de cura nesse momento tão difícil.

Localizado em Itaquera, bairro de São Paulo, o Instituto Luz do Amanhã desempenha um papel importante como casa de apoio dedicada ao cuidado de crianças e adolescentes enfrentando o desafio do câncer. Seu trabalho é amplamente reconhecido, recebendo pacientes encaminhados por assistentes sociais de hospitais oncológicos, como Hospital Santa Marcelina, GRAAC, Menino Jesus e Hospital São Paulo.

Essa organização não governamental, operando sem fins lucrativos, oferece um ambiente acolhedor e suporte integral para crianças de todo o Brasil. Ela não apenas provê moradia, alimentação e transporte direto da casa de apoio até o hospital, mas também disponibiliza orientação social e psicológica essenciais para as famílias que precisam permanecer por longos períodos na cidade de São Paulo durante o tratamento.

“No serviço, enfrentamos inúmeros desafios e dificuldades, desde questões de comunicação e falta de instrução das famílias mais simples até campanhas de doação de órgãos e arrecadação de lenços e perucas para meninas em tratamento, para tentar minimizar os impactos do câncer na vida das crianças e suas famílias”, disse Roberto Rodrigues, o fundador.

Ele descreve que o instituto também ajuda as famílias na busca por seus direitos, como, por exemplo, na orientação de cadastro em programas sociais, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), porta de entrada para a política de assistência social, e também no cadastro junto à rede pública da saúde. 

“Temos como objetivo institucional aumentar a nossa capacidade de assistidos e construir futuramente a nossa sede própria, pois hoje o local é alugado e adaptado. Queremos expandir nosso trabalho também para a região central da cidade”, ressaltou Rodrigues. 

Para conhecer mais sobre o instituto e contribuir com doações para esse importante trabalho social, acesse o site luzdoamanha.org.

O Instituto Luz do Amanhã é um farol de esperança, proporcionando não apenas cuidados físicos, mas também apoio emocional e social a pacientes e suas famílias momentos tão desafiadores.  

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RAÍZES DO FUTURO: CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA https://revistaavemaria.com.br/raizes-do-futuro-caminhos-para-uma-educacao-antirracista.html https://revistaavemaria.com.br/raizes-do-futuro-caminhos-para-uma-educacao-antirracista.html#respond Tue, 31 Oct 2023 19:22:48 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=72664 COMO ESCOLAS E INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR ESTÃO PROMOVENDO UMA EDUCAÇÃO AFIRMATIVA PARA COMBATER O PRECONCEITO E CRIAR AMBIENTES INCLUSIVOS

Desde cedo pessoas negras são levadas a refletir sobre sua condição racial. O início da vida escolar para muitas crianças pode ser o começo da conscientização sobre as disparidades raciais que enfrentarão ao longo de suas vidas. É nessa época que os pequenos experimentam pela primeira vez os traumas da discriminação e do racismo.

A construção de uma educação inclusiva e antirracista desde os primeiros passos na escola é fundamental para criar um futuro mais justo e igualitário para todas as pessoas, independentemente de sua raça ou origem étnica.

A Revista Ave Maria embarcou em uma jornada para explorar como as escolas e instituições de ensino superior podem desempenhar um papel fundamental na promoção da educação antirracista.

MAS O QUE É A EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA?

A educação antirracista desempenha um papel fundamental na luta contra o racismo nas salas de aula, permitindo a conscientização e a disseminação de informações em diversas áreas do conhecimento humano, visando a reduzir qualquer forma de opressão e exclusão entre os estudantes e em suas experiências fora da escola.

As estratégias e práticas da educação antirracista visam à abordagem assertiva das consequências negativas do preconceito. Por meio do uso de materiais educacionais e planos didáticos, professores e instituições têm a responsabilidade de ensinar sobre as contribuições passadas e atuais de povos negros, bem como de promover a valorização e o reconhecimento de culturas historicamente marginalizadas.

Não podemos esquecer que o combate ao racismo não é uma pauta somente do povo negro, é algo a ser combatido por todos nós, negros e brancos. Informar-se sobre racismo, ler mais autores negros, reconhecer os privilégios de ter nascido branco, apoiar ações que promovam a igualdade racial nos diferentes âmbitos da sociedade, entre outras ações, pode ajudar a reverter o quadro atual, afirma a acadêmica, filósofa e escritora Djamila Ribeiro, no livro Pequeno manual antirracista. Ela é uma autora referência do feminismo negro no Brasil.

LEI 10.639/03 E O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA

A lei que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileira e africana nas escolas de todo o Brasil completou vinte anos em 2023. A Lei 10.639/03 visa a fortalecer o reconhecimento de várias culturas, povos e identidades em prol da conscientização.

Para fazer frente a tudo isso e construir uma escola comprometida com o reconhecimento e com a valorização da diversidade existente no Brasil, a Prefeitura de São Paulo (SP) lançou em março de 2023 seu currículo antirracista, para ser trabalhado em todas as escolas municipais. O documento tem mais de 220 páginas e aborda conceitos como raça, racismo, preconceito e discriminação. Aponta direções para que as escolas incentivem o conhecimento à diversidade brasileira e potencializem práticas pedagógicas inclusivas e antirracistas.

Atenta a essa realidade, a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Eurípedes Simões de Paula, localizada em Pirituba, na zona norte de São Paulo, adotou em todos os projetos desenvolvidos uma perspectiva antirracista não somente no mês de novembro, mas em todo ano letivo.

“Nos projetos de contação de histórias sempre escolhemos livros com essa temática. Nos projetos com brincadeiras também incluímos brinquedos de descendência de matrizes africanas. Todas as ações são debatidas e discutidas dentro dessa perspectiva o ano todo e não somente em uma data específica”, declarou em entrevista à Revista Ave Maria Ana Cristina Avilez, assistente de direção da escola.

A instituição de ensino, que atende crianças de 4 a 6 anos, compreendeu que a educação antirracista trabalhada desde a educação infantil cria ambientes mais inclusivos e acolhedores, onde todas as crianças se sentem valorizadas e respeitadas.

“Por serem muito pequenas, as crianças trazem para escola o que escutam em suas casas. Sempre que percebemos uma fala racista e preconceituosa, imediatamente fazemos um trabalho de intervenção, trazendo mais histórias de matrizes africanas e problematizamos esses estereótipos trazidos em sala. No geral, as crianças não têm nenhuma dificuldade em entender que temos que respeitar as pessoas como são e a importância de cada um dentro do espaço escolar e fora dele”, enfatizou a assistente de direção. O envolvimento das famílias em tudo que acontece na escola também ajuda a fortalecer os vínculos.

POR UMA SOCIEDADE MAIS HUMANA, IGUALITÁRIA E SOLIDÁRIA

A educação para as relações étnico-raciais, o antirracismo e a inclusão são valores que fundamentam as práticas cotidianas da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Professora Maria Aparecida Rodrigues Cintra, localizada no bairro da Brasilândia, em São Paulo. O diretor da escola, Luiz Fernando Costa de Lourdes, falou com a reportagem sobre a temática.

Muito além de um projeto anual, o planejar pedagógico deles parte do calendário dos direitos humanos, vai se constituindo em reflexões e aprendizados com empatia, pensando nos espaços da escola com referências africanas e indígenas para uma educação para todos.

“Nossa escola pensa em uma educação antirracista, que combate ativamente toda e qualquer expressão de preconceito, além de valorizar a contribuição histórica africana e dos povos originários na formação cultural do Brasil. Entendemos que para isso é preciso haver a participação de toda a comunidade escolar, desde a pessoa que está no portão até aquela que serve a alimentação”, ressaltou o educador.

Sobre os desafios que a escola enfrenta na implementação de práticas antirracistas, o diretor afirma que é um processo que está em construção cotidiana e infinitamente: “Educar para uma consciência cidadã, solidária e humana é como ‘plantar tâmaras’, pois quem planta não colhe seus frutos, sempre deixa para a geração posterior. Serão os filhos de nossos filhos que irão colher os frutos de uma sociedade mais humana, igualitária e solidária”.

Ele completa afirmando que os benefícios que eles têm obtido são a criação de um ambiente escolar acolhedor, emocional, educacional e culturalmente seguro para as crianças: “Estudantes mais conscientes, promovendo diálogo e capazes de tomar decisões pensando coletivamente em si e nos outros”.

EMBAIXADORES POR UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Do outro lado da cidade, na Vila Progresso, bairro da zona leste de São Paulo, um projeto da Marista Escola Social Irmão Lourenço tem chamado a atenção de todos. Intitulado “Embaixadores por uma Educação Antirracista”, o projeto reúne alunos do ensino fundamental, anos finais, e do ensino médio em atividades que combatem o racismo e promovem a prática da educação antirracista no ambiente escolar e na vivência da sociedade.

“O projeto idealizado em 2022 busca responder aos desafios relacionais e de conflitos entre os estudantes mediante a reprodução do racismo estrutural no ambiente escolar. Busca também identificar, reconhecer e potencializar a atuação de alguns adolescentes e jovens que já procuram fazer a diferença no posicionamento contra o mesmo racismo estrutural”, explicou a idealizadora do projeto, Andreia Aparecida Castro, diretora da instituição.

Nas palavras dela, os embaixadores são potenciais parceiros da gestão escolar e de toda a comunidade educativa; ao todo nove estudantes compõem o grupo atual, acompanhados de direção escolar, serviço social e biblioteca. Os alunos participam de encontros formativos e ações promovidas no calendário escolar, por meio de seminários, rodas de conversa, clube de leitura, eventos culturais que ocorrem não só na escola como também em outras instituições parceiras.

O engajamento dos estudantes na pauta antirracista, o protagonismo e o empoderamento dos adolescentes e jovens, a representatividade entre os pares, a parceria com a gestão e os educadores e a relação de cuidado de estudante para estudante são alguns dos benefícios percebidos após a implantação do projeto no ambiente escolar.

“Quando passamos a ver um adolescente ser acolhido e defendido por outros colegas que testemunharam uma fala racista ou ouvimos de uma estudante negra que ela passou a aceitar mais o seu cabelo e a se achar bonita a partir das conversas que teve com uma colega já tivemos indícios que estava valendo a pena”, pontuou Andreia.

O assistente social Robert Aparecido de Assis também participa desse projeto e auxilia na formação dos embaixadores. Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, ele expressou que essa participação o fez retornar a experiências vividas em seu passado, quando estudante negro de escola pública, em que viveu situações de racismo direta e indiretamente.

“Durante uma ocasião no pátio da escola, o inspetor escolar, ao me ver sentado sobre uma mesa, dispensou a frase ‘Eu sei que você gosta de ficar pendurado em árvores, mas por favor desça daí’. Fiquei sem entender, pois nunca brincara na escola me pendurando em árvores, até porque a parte arborizada da escola se encontrava em local restrito aos estudantes. Nessa época eu tinha entre 11 e 12 anos. Após esse episódio se passaram aproximadamente quinze anos e entendi a frase do profissional da escola da pior forma, como se tivesse levado um soco na nuca e caído em cima da palavra ‘racismo’”, recordou o educador social.

A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO ENSINO SUPERIOR

Não apenas na educação básica, mas também na educação superior, a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo são importantes e fazem parte do projeto pedagógico. Assim acontece no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), que possui um núcleo de educação das relações étnico-raciais o qual reúne alunos, professores e pessoas da comunidade de aprendizagem.

“É um núcleo vinculado à extensão, mas também atua na pesquisa e no ensino. Ele visa a trazer a discussão das relações étnico-raciais e seus reflexos no cotidiano das pessoas, na sociedade e na educação com o objetivo de sensibilizar toda a comunidade de aprendizagem para a necessidade do enfrentamento ao racismo nos mais diversos âmbitos”, expressou a professora Maísa Ribeiro, responsável pelo núcleo da unidade de Campinas (SP).

Com reuniões mensais, o grupo de estudos é composto de estudantes, docentes e ativistas de movimentos sociais que realizam discussões de temas pertinentes à questão étnico-racial e sua conscientização da luta antirracista. O núcleo realiza eventos, promove palestras, cursos livres, visitas monitoradas e também possuem livros publicados sobre a temática, que podem ser baixados no site unisal.br/nucleos.

O núcleo também criou uma cartilha intitulada Para uma educação antirracista no UNISAL, que visa a promover uma educação antirracista dentro e fora do ambiente acadêmico, material também disponível no site do centro universitário. 

Na opinião da professora Maísa, a iniciativa da criação desse núcleo no ensino superior é de extrema importância: “Nosso núcleo reúne estudantes, pessoas negras, para falar das suas dores e dificuldades e também das potencialidades. Os integrantes buscam por meio da educação ampliar sua consciência sobre as desigualdades e quais direitos têm, o que muitas vezes é negligenciado. Favorece também a valorização da cultura africana e afro-brasileira, sendo um espaço de formação profissional, de pesquisa e de fortalecimento no enfrentamento do racismo nos seus mais diferentes âmbitos”.

O QUE PENSAM OS JOVENS EMBAIXADORES POR UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

“Estamos mudando a visão de mundo de muita gente e ainda vamos transformar muitas vidas. Juntos somos mais fortes e um dia a nossa luta vai estar apenas nos livros.” (Brisa Isabelle Oliveira, 15 anos)

“O racismo é um tema muito delicado e já está enraizado na sociedade. Um dos principais desafios é desestruturar o racismo da nossa sociedade.” (Luan Lisboa, 18 anos)

“Eu me inscrevi para ser embaixadora por conta de muito racismo pelo qual já passei e vi muitas pessoas perto de mim passarem também. Quero combater o racismo cada dia mais.” (Sâmyra Mendes Carvalho, 13 anos)

“Aprendi que não basta apenas não sermos racistas, temos que ser todos antirracistas.” (Marc D’Lucca da Silva, 16 anos)

 

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SÃO FREI GALVÃO: A HISTÓRIA DE UMA DEVOÇÃO GENUINAMENTE BRASILEIRA https://revistaavemaria.com.br/sao-frei-galvao-a-historia-de-uma-devocao-genuinamente-brasileira.html https://revistaavemaria.com.br/sao-frei-galvao-a-historia-de-uma-devocao-genuinamente-brasileira.html#respond Mon, 02 Oct 2023 11:30:43 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=72450 UM SANTO QUE REALIZOU EM SUA VIDA A EXPERIÊNCIA DA VIRTUDE DA CARIDADE

Em 11 de maio de 2007, durante Missa presidida pelo Papa Bento XVI no campo de Marte, em São Paulo (SP), reunindo mais de 1 milhão e 200 mil fiéis, o Brasil oficialmente ganhou seu primeiro santo: o frade franciscano Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), mais conhecido como Frei Galvão. Com um profundo compromisso com a fé católica e por seu legado de caridade e cura, São Frei Galvão é uma figura venerada na história religiosa do Brasil e sua festa litúrgica é celebrada em 25 de outubro.

Bento XVI, diante dos fiéis, durante a homilia, agradeceu a Deus pela canonização do santo brasileiro. O Pontífice enfatizou que Frei Galvão foi um

“homem de paz e caridade” e relembrou o trabalho caridoso do frade com os mais pobres. “As pastorais sociais, se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta maneira, se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça”, afirmou.

Nesta reportagem, exploraremos a vida e a importância desse santo brasileiro, com foco especial nas famosas “pílulas”, instrumentos de cura e fé que ele deixou como parte de seu legado espiritual.

A VIDA E A OBRA DE SÃO FREI GALVÃO

Antônio Galvão nasceu em 1739 na cidade de Guaratinguetá, no Estado de São Paulo, sendo o quarto de dez filhos em uma família nobre e profundamente religiosa. Ele ingressou no seminário aos 13 anos, sendo ordenado em 1762. 

Frei Galvão ficou conhecido por sua caridade e dedicação em ajudar aqueles que o procuravam em busca de alívio para seus sofrimentos. Em uma ocasião notável, quando não pôde atender pessoalmente ao pedido de visita a um doente, teve a inspiração de escrever em um pedaço de papel uma frase do Ofício de Nossa Senhora, embrulhou-a como uma pílula e pediu que fosse entregue ao homem, com a orientação de que a tomasse em um momento de oração. O homem foi curado e a fama das “pílulas de Frei Galvão” se espalhou, sendo distribuídas até os dias de hoje.

Embora tenha nascido em Guaratinguetá, Frei Galvão deixou um legado significativo em São Paulo, onde também repousa em seu túmulo. Ele desempenhou um papel fundamental como o fundador do Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição da Luz, conhecido como o Mosteiro da Luz, que atualmente abriga o Museu de Arte Sacra de São Paulo. O santo foi responsável pelo planejamento e pela construção desse mosteiro.

O conjunto do mosteiro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1943, é considerado um dos mais importantes remanescentes da arquitetura do século XVIII em São Paulo.

AS PÍLULAS DE SÃO FREI GALVÃO

A história das pílulas de Frei Galvão ilustra sua profunda compaixão e amor pelos enfermos, especialmente as mulheres em dificuldades durante o parto. Diz-se que ele costumava visitar residências para orar com famílias que tinham gestantes em risco durante o parto. 

Em um dia particular, um homem aflito o procurou, temendo pela vida de sua esposa em trabalho de parto. O frade franciscano escreveu um trecho do Ofício da Santíssima Virgem em três pequenos pedaços de papel, enrolou-os como se fossem pílulas e entregou ao homem. Este, por sua vez, entregou as pílulas à esposa, resultando no nascimento saudável da criança.

Em outra ocasião, um jovem que sofria com dores devido a cálculos renais procurou Frei Galvão. Mais uma vez, o frei confeccionou pílulas milagrosas, que levaram à cura completa do rapaz.

Após o falecimento do frade franciscano, a produção das pílulas continuou sendo mantida pelas Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição e voluntários no Mosteiro da Luz, seguindo as orientações de Frei Galvão. Essas pílulas são entregues gratuitamente a pessoas com fé na intercessão do santo, mantendo viva a tradição de auxílio aos necessitados por meio de sua devoção.

“Recebemos pessoas sofridas, mas cheias de pura esperança que Frei Galvão vai ajudá-las nas suas maiores dificuldades ou doenças. Não importa a situação financeira, nem o nível social, todas vêm na esperança de que essas pílulas vão ser a solução. É uma fé pura e sincera. É esse o motivo de alcançarem seus pedidos”, declarou em entrevista à Revista Ave Maria a Irmã Aparecida de São José, madre vigária do Mosteiro da Luz.

A religiosa comenta que muitas vezes as pessoas não querem somente as pílulas, mas vão ao encontro das irmãs concepcionistas também em busca de palavras amigas, conselhos, querem desabafar ou contar graças alcançadas por meio das novenas e por intercessão de Frei Galvão.

Ao falar sobre os principais desafios e bênçãos de servir à comunidade com a distribuição das pílulas de São Frei Galvão, a Irmã Aparecida ressalta que os desafios são bênçãos e graças em poder servir, sabendo que esse serviço ajuda muitas pessoas: “Quando pegamos os pedidos de orações no cesto que fica no túmulo de Frei Galvão ou quando recebemos pedidos ali na roda, ou mesmo por telefone, ficamos compromissadas de rezar e interceder a Deus por todos os pedidos. Isso é dádiva de Deus”.

Em um relato de suas experiências como religiosa, Irmã Aparecida contou uma história que evidencia o impacto positivo das pílulas abençoadas por Frei Galvão na vida das pessoas que as receberam: “Um dia após a canonização de Frei Galvão, atendi uma pessoa que me perguntou o que eram as pílulas e para que elas serviam. Expliquei que serviam para alcançar graças, pedindo-as com fé para o santo interceder por um determinado pedido. Fazer a oração da Santíssima Trindade e ingerir uma pílula e fazer o pedido, sempre com muita fé. Essa pessoa agradeceu e se retirou. Na semana seguinte, a pessoa voltou e me contou que sua irmã havia aceitado fazer a novena, tomar a pílula e, o mais importante, havia afastado os pensamentos sombrios de tirar a própria vida. Fiquei sem palavras e eu mesma agradeci em lágrimas por essa maravilha que Frei Galvão alcançou diante de Deus, ajudando essas pessoas”, encerrou emocionada.

A história ressalta a importância da fé, da oração e da intercessão de São Frei Galvão na vida das pessoas, proporcionando esperança e consolo em momentos de dificuldade e desespero.

Atualmente, existem dezesseis mosteiros concepcionistas no Brasil. A comunidade do Mosteiro da Luz, em São Paulo, conta com catorze irmãs.

A entrega das pílulas de Frei Galvão é realizada diariamente ao público, de maneira gratuita, pelas irmãs concepcionistas do Mosteiro da Luz, de segunda a sexta-feira, das 9 às 16h45, e aos sábados e domingos, das 9 às 16 horas, ou podem ser solicitadas via postagem. Saiba mais em mosteirodaluz.org.br/pedido-de-pilulas. Também podem ser retiradas em Guaratinguetá, terra natal de Frei Galvão; um dos lugares é a Igreja Matriz de Santo Antônio, monumento mais antigo da cidade, construída em 1630.

A PRESENÇA DE DEUS AGE ATRAVÉS DA INTERCESSÃO DE SÃO FREI GALVÃO

Em entrevista à nossa reportagem, o Padre Raphael Felipe da Silva, vigário da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Guaratinguetá, recordou que, nesse local, Frei Galvão presidiu sua primeira Missa, em 1762: “Pelo fato de a família de Frei Galvão ter residido nas redondezas da igreja, o primeiro santo brasileiro ali cresceu e se desenvolveu na fé. Foi batizado, presidiu sua primeira Missa e vivenciou grande parte do seu cristianismo”.

Ao ser questionado como a devoção a São Frei Galvão e suas pílulas têm impactado a vida espiritual dos fiéis que visitam a matriz, Padre Raphael destaca que “A distribuição das pílulas de São Frei Galvão é como um sacramental, elas servem para auxiliar em alguma necessidade pela qual o devoto está passando, alguma enfermidade física ou espiritual. Servem como auxílio e carinho cristão de que a presença de Deus age por meio da intercessão de Frei Galvão”.

O religioso ressalta que muitas graças acontecem na vida dos fiéis que frequentam a igreja: “Certa vez, um casal se aproximou de mim, pedindo as pílulas de Frei Galvão, pois a esposa não conseguia engravidar; nós rezamos juntos e um tempo depois eles voltaram e apresentaram a criança que nasceu, para a honra e glória de Deus, por intercessão do nosso querido São Frei Galvão”.

MILAGRES DE FREI GALVÃO, EXEMPLOS CONCRETOS DE FÉ

Um exemplo notável desse poder de cura foi o caso de Sandra Grossi de Almeida e seu filho Enzo, cujo milagre levou à canonização de Frei Galvão. Sandra havia sofrido três abortos espontâneos devido a uma má-formação uterina. Em maio de 1999, ela engravidou novamente, ciente de que estava em risco de hemorragia e morte a qualquer momento. Apesar das previsões médicas pessimistas, a gravidez de Sandra progrediu normalmente até a 32ª semana, quando Enzo nasceu sem complicações em um parto considerado de alto risco. Sandra atribui essa graça a Frei Galvão, pois havia pedido sua intercessão desde o início da gravidez por meio da novena e do uso das pílulas abençoadas.

Em entrevista, a miraculada Sandra deu seu testemunho e expressou o que São Frei Galvão significa em sua vida: “Ele foi o divisor de águas na minha vida, consegui gerar um filho pela intercessão dele. Frei Galvão é o santo da caridade e ele nos ensina diariamente a sermos mais caridosos”.

A miraculada se sente muito abençoada e grata a Deus por ter feito parte da história da Igreja Católica e de um momento tão importante como a canonização do primeiro santo brasileiro. “Procuro honrar esse posto dado a mim por Deus. Agradeço sempre a oportunidade de ser um exemplo de fé às pessoas que procuram apoio em suas dores e dificuldades. Com toda essa consciência de quão grandioso e significativo foi esse momento em minha vida, procuro ser sempre um pouco melhor, para que um dia possa entrar no Reino dos Céus junto a Deus Pai, seu Filho e sua mãe, Maria”, finalizou.

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