SANTIDADE – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br A Revista Mariana do Brasil - fundada em 28 de maio de 1898 pelos Claretianos em São Paulo Tue, 02 Sep 2025 13:41:06 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2021/08/cropped-ico-revista-avemaria-60x60.png SANTIDADE – Revista Ave Maria https://revistaavemaria.com.br 32 32 Santa Hildegarda, uma profeta para todos os tempos https://revistaavemaria.com.br/santa-hildegarda-uma-profeta-para-todos-os-tempos.html https://revistaavemaria.com.br/santa-hildegarda-uma-profeta-para-todos-os-tempos.html#respond Tue, 02 Sep 2025 13:41:06 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=78223 Meu nome é Cintia Trevizan e este artigo é uma alegria para o meu coração. Conheci Santa Hildegarda no fim de 2019. Mesmo sendo uma consagrada na Comunidade Canção Nova e buscando ter uma vida emocionalmente saudável e uma espiritualidade forte, eu vivia havia seis anos uma luta contínua para sair do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), que gerava crises adrenérgicas intensas, atrapalhando minha vida e missão.

Vivia um luto: meu irmão falecera em outubro de 2019, vítima de um câncer agressivo. Por motivos de saúde, eu nem pude ir ao seu enterro, pois estava de repouso absoluto. Foram tempos difíceis. Queria muito amamentar minha filha, que nasceria em janeiro de 2020. Estava em uma gravidez muito conturbada e de alto risco. Posso dizer que Santa Hildegarda foi um presente de Deus, pois me encontrou em uma noite escura da vida e, como luzeiro que é, arrancou-me de lá.

Comecei a buscar alternativas naturais e tive a feliz surpresa de encontrar essa joia tão preciosa que é Santa Hildegarda. Seus ensinamentos foram um divisor de águas em minha vida: curei-me da ansiedade, acabei estudando naturopatia e aromaterapia, fiz cursos em uma escola espanhola sobre a medicina de Santa Hildegarda e hoje trabalho como naturopata hildegardiana, ajudando tantas pessoas a entrarem no universo das coisas naturais pelas mãos dessa doutora da Igreja Católica.

Santa Hildegarda foi uma mulher incrível que viveu no século XII (1098-1179). Foi a décima filha de uma nobre família alemã. Desde pequena, mostrou-se frágil em sua saúde, porém, com dons sobrenaturais. Foi entregue por seus pais aos beneditinos, por quem foi educada e mais tarde tornou-se monja. Teve uma vida extraordinária, contribuindo assim para a Igreja e para a humanidade.

Em uma época em que as mulheres não tinham muita visibilidade, conseguiu ser o centro das atenções de seu tempo. Foi naturopata, pregadora, dramaturga, poetisa, compositora, uma serva fiel de Cristo, deixando um legado incrível de teologia, cultura e ciências naturais.

Quando completou 38 anos foi eleita abadessa do mosteiro em que vivia e, aos 42, teve uma experiência mística com o Espírito Santo – a “luz viva” – que lhe ordenou escrever o que Ele revelaria por meio de suas visões. Ela era mística e profeta do Altíssimo e o Senhor mostrou muitos ensinamentos para toda a humanidade por intermédio dela.

Seu primeiro livro foi o Scivias (Conhece os caminhos do Senhor), no qual descreveu as visões desde a criação até o Apocalipse. Escreveu ainda o livro Méritos da vida, no qual apresentou uma teologia moral estabelecendo a oposição entre o bem e o mal, denunciando os vícios e contrapondo-os às virtudes. Seu livro Liber divinorum operum (Livro das obras divinas) trata da cosmovisão: o homem em relação ao universo, sua criação e redenção. Depois, escreveu ainda tratados com ensinamentos sobre os reinos animal, mineral e vegetal, trazendo observações sobre a natureza de forma científica. Abordou vários temas ligados à medicina e ofereceu métodos de tratamento para diversas enfermidades. Existem muitas iluminuras medievais que retratam suas visões. Ela fez um trabalho incrível com a escrita e a pregação, sendo instrumento de Deus para a Igreja não só em seu tempo, mas também para a atualidade.

Vale ressaltar que, como era uma mulher fiel à ortodoxia católica, esperou a autorização da Igreja para começar a escrever e a pregar. A primeira coisa que fez foi passar seus escritos para o confessor, depois para o bispo e então para Bernardo de Claraval, que os levou até o Papa Eugênio III. Ela recebeu autorização e incentivo para realizar o que o Espírito a instruía, sendo profetisa. Mais tarde, fundou também um mosteiro feminino por inspiração divina. Aos 81 anos, no dia 17 de setembro, deixou esta Terra com odor de santidade.

Ela sempre foi considerada santa pela Igreja, mas em maio de 2012 foi canonizada oficialmente pelo Papa Bento XVI, que, em outubro do mesmo ano, elevou-a a Doutora da Igreja Católica juntamente com Santa Teresa de Jesus, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena.

Santa Hildegarda foi importante em seu tempo e continua sendo hoje um luzeiro para a humanidade, como é digno dos santos, e assim será até o fim dos tempos.

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Homens e mulheres novos um mundo melhor https://revistaavemaria.com.br/homens-e-mulheres-novos-um-mundo-melhor.html https://revistaavemaria.com.br/homens-e-mulheres-novos-um-mundo-melhor.html#respond Mon, 03 Mar 2025 13:36:11 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=76965 O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus: por um lado, em perfeita igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e mulher. “Ser homem” e “ser mulher” é uma realidade boa e querida por Deus: ambos têm uma dignidade inalienável que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. (Catecismo da Igreja Católica, 369)

O sagrado magistério da Igreja prepara homens e mulheres para serem agentes de mudança, vivendo os princípios cristãos. A contribuição de ambos dentro do plano de amor do Criador é fundamental para construir um mundo mais justo e fraterno.

Infelizmente, o pecado afasta o homem e a mulher do amor e da amizade com Deus, gerando uma desordem de desigualdade e falta de respeito, ferindo assim a graça da dignidade recebida de Deus no dia da criação.

Tanto o homem quanto a mulher são amados e queridos por Deus. No entanto, a influência de atitudes negativas contra um e outro criou uma lacuna que só será preenchida quando ambos compreenderem a perfeição que possuem como pessoas humanas.

São Paulo nos ensina:

“No entanto, diante do Senhor, como a mulher depende do homem, assim também o homem depende da mulher. Pois, como a mulher foi tirada do homem, assim também o homem nasce da mulher, e tudo, afinal, vem de Deus.” (1Cor 11,11-12)

Para beneficiar a humanidade, é necessário que o homem e a mulher busquem resgatar sua essência de imagem e semelhança de Deus. Isso exige renúncia da própria vontade, humildade para reconhecer erros e fraquezas, disposição para melhorar, obediência à verdade do Evangelho e sinceridade consigo mesmo, com os outros e, sobretudo, com Deus.

Quando compreendemos o que Deus fez e por que nos fez, então entendemos quem somos: homem e mulher, dons que vêm do próprio Criador.

O desafio agora é resgatar, de maneira virtuosa, os aspectos que o pecado corrompeu em nós, sem desprezar o sagrado que comporta nossa identidade de homem e mulher segundo o coração de Deus. Somente assim construiremos um mundo saudável, fraterno e solidário.

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SÃO FILIPE NÉRI, UMA SANTIDADE COTIDIANA https://revistaavemaria.com.br/sao-filipe-neri-uma-santidade-cotidiana.html https://revistaavemaria.com.br/sao-filipe-neri-uma-santidade-cotidiana.html#respond Tue, 02 May 2023 16:21:12 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=71375 São Filipe Néri (1515-1595) é um santo italiano conhecido por sua alegria contagiante, seu amor e devoção a Deus, bem como por sua humildade e serviço aos necessitados. Ele é considerado o “Apóstolo de Roma” devido ao seu trabalho evangelizador e caridoso na cidade durante o período da Reforma Católica. Foi sacerdote e fundador da Congregação do Oratório, um grupo de padres dedicados à vida comunitária, ao ministério da pregação, a promover a vida espiritual e a caridade cristã entre os leigos. 

Filipe faleceu em 26 de maio de 1595 e sua festa é celebrada no mesmo dia. Foi canonizado em 1622 pelo Papa Gregório XV e é um modelo de santidade para todos os cristãos que buscam seguir a Cristo de todo o coração.

A santidade de São Filipe era evidente em sua vida cotidiana, em seu amor por Deus e pelos outros e em sua busca constante de uma vida mais santa. Ele foi um exemplo de humildade e devoção e muitos foram atraídos por sua piedade e amor pela oração. Um homem cuja vida foi pautada em fazer a vontade de Deus e na sua devoção ao próximo. Além disso foi também um grande defensor do Sacramento da Confissão, encorajando as pessoas a buscar a reconciliação com Deus e com os outros.

Para ele, a santidade não deveria ser um fardo, mas sim uma fonte de alegria e paz interior. “A santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em fazer as coisas ordinárias com amor e devoção”, disse o santo. Lembra-nos ainda que uma vida santa não era algo reservado a uma elite ou àqueles que se dedicavam exclusivamente à vida religiosa. Ele acreditava que todos os cristãos eram chamados à santidade, independentemente de sua posição social ou profissional, por isso, grande era sua insistência: buscar a santidade em suas vidas cotidianas, por meio de pequenos atos de amor e de generosidade e isso não por um instante, mas sempre, porque santidade, segundo ele, não é um estado alcançado por um momento, mas um processo contínuo de crescimento e transformação.

São Filipe Néri deixou poucos escritos sobre a santidade, mas sua vida e seu exemplo são testemunhos eloquentes de suas convicções sobre o assunto. 

Se queremos alguns conselhos de como “sermos santos”, aqui estão alguns deles:

  1. “Não se preocupe com nada, mas em tudo, pela oração e súplica, apresente suas necessidades a Deus” (Fl 4,6): confiar em Deus em todas as circunstâncias e fazer da oração uma parte central de sua vida;
  2. Faça o bem, mesmo que ninguém esteja observando: a verdadeira virtude é aquela que é praticada por amor a Deus e não por reconhecimento humano;
  3. Seja feliz e alegre, pois Deus ama uma alma alegre: a alegria é uma parte importante da vida cristã e devemos ser agradecidos por todas as bênçãos que Deus nos dá;
  4. Ame seus inimigos e ore por aqueles que o perseguem: o amor e o perdão são as melhores armas contra o ódio e a vingança;
  5.  Não se preocupe com o que as pessoas pensam de você, mas apenas com o que Deus pensa: buscar a aprovação de Deus em vez da aprovação humana;
  6.  O amor de Deus é um fogo que consome tudo o que não é amor: a busca da santidade deve ser acompanhada de uma vida de penitência e de renúncia ao egoísmo.

Enfim, a vida e os conselhos de São Filipe Néri são atemporais e podem ser aplicados a todas as épocas e situações. Eles nos convidam a buscar uma vida de união com Deus por meios da oração, da prática das virtudes e do serviço aos outros. 

Busquemos a santidade e que São Filipe interceda por todos nós.

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O TESTEMUNHO DE VIDA DE SANTA CATARINA DE SENA https://revistaavemaria.com.br/o-testemunho-de-vida-de-santa-catarina-de-sena.html https://revistaavemaria.com.br/o-testemunho-de-vida-de-santa-catarina-de-sena.html#respond Mon, 03 Apr 2023 12:52:05 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=71175 Santa Catarina nasceu em 25 de março de 1347, na cidade de Siena (Sena), na Itália. Filha de uma família muito pobre, ela foi uma entre os 25 filhos que seus pais tiveram. Não teve condições de estudar e, além disso, cresceu fraca e franzina. Vivia sempre doente.

Com apenas 7 anos, a pequena Catarina quis consagrar a Deus sua virgindade. Já nessa idade, relatava visões em seus momentos de oração. 

Tendo apenas 15 anos, decidiu ingressar na Ordem Terceira de São Domingos. Em seus momentos de oração contemplativa, entrava em êxtases. A simples observação desses fatos levou à conversão centenas de pessoas.

A primeira grande dificuldade na vida de Catarina e da Igreja foi o cisma católico. Fazia já setenta anos que a sede da Igreja estava em Avignon, na França, e não em Roma. Com isso, a autoridade da Igreja sofria influência da política francesa. Santa Catarina, porém, inspirada por Deus, começou a agir. Viajou pela Itália inteira e também por outros países, falando, pregando, ditando cartas aos reis, aos príncipes e aos governantes católicos. Ela conseguiu que o Papa Urbano VI voltasse para Roma e assumisse o legítimo governo da Igreja, em 1376.

Outra grande dificuldade enfrentada por Santa Catarina de Sena foi a peste negra, que dizimou quase um terço de toda a população da Europa. Ela se colocou ao lado dos doentes, lutando por eles e curando muitos por meio de ações diretas e de suas orações.

Em meio a todas essas turbulências em sua vida, Santa Catarina de Sena conseguiu deixar obras literárias extraordinárias, ditadas por ela, escritas e editadas por vários copistas. Sua obra é de grande valor histórico, espiritual, religioso e místico. Um de seus livros mais importantes é o Diálogo sobre a divina providência, obra lida, estudada e respeitada até os dias de hoje.

Catarina de Sena faleceu em 29 de abril de 1380, dia de sua festa. Foi vítima de um derrame quando tinha apenas 33 anos de idade. Em tão pouco tempo de vida, essa mulher admirável realizou muito pela Igreja e pela humanidade. 

O Papa Paulo VI declarou-a “Doutora da Igreja” em 1970, por causa da grandeza teológica e mística de sua obra.

Para nós, Santa Catarina é um modelo de amor à Igreja e ao Romano Pontífice, a quem chamava o doce Cristo na Terra” . Poucos dias antes de sua morte, declarou: Se eu morrer, sabei que morro de paixão pela Igreja.

Santa Catarina, profundamente unida a nós no mistério da comunhão dos santos, rogai por nós e ajudai-nos a seguir seu extraordinário exemplo. Amém.

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BAKHITA: NEGRA, MULHER, ESCRAVA E SANTA https://revistaavemaria.com.br/bakhita-negra-mulher-escrava-e-santa.html https://revistaavemaria.com.br/bakhita-negra-mulher-escrava-e-santa.html#respond Tue, 31 Jan 2023 22:54:18 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=70761 QUEM FOI JOSEFINA BAKHITA?

Nasceu por volta de 1869, onde hoje é o Sudão do Sul. Bakhita, que em árabe significa “Afortunada”, foi o nome escolhido pelos traficantes após o seu rapto quando era uma criança. Foi sucessivamente vendida e comprada até que um italiano a levou para a Itália, onde finalmente ficou ao serviço de uma família em Veneza. Quando a família decidiu se mudar para a África, ela foi confiada às irmãs canossianas, na mesma região. Aí Bakhita conheceu o Evangelho e em 1890 foi batizada com o nome de Josefina e pouco depois quis se tornar irmã. 

O milagre que abriu a porta à sua canonização ocorreu em Santos (SP), em maio de 1992, quando Eva Costa, diabética com as pernas cheias de chagas, devia amputar uma delas. Rezou à Bem-aventurada Bakhita e logo ficou curada. 

ESCRAVIDÃO E RACISMO

Perante o flagelo da escravidão, hoje ocorrendo nas sombras, especialmente no submundo do trabalho (infantil), Santa Bakhita apontou para o Deus que destrói as correntes e liberta das prisões. No século XXI, como em séculos anteriores, pessoas africanas de todas as idades em diversos continentes continuam sendo flageladas e caem sob o peso de cruz muito horrenda, igual ao que aconteceu com Bakhita ainda criança. No Brasil, o racismo continua vivo em diversos âmbitos: casa, trabalho, escola, igreja etc. Basta olhar à sua volta e querer enxergar!

CONDIÇÃO SOCIAL 

Nos anos de serviço à família Michieli e Maria Turina, na Itália, Bakhita sonhou com sua liberdade para poder regressar e encontrar seus pais e família. Depois do Batismo, Eucaristia e Crisma, Bakhita começou a ver a si como filha de Deus. Pouco depois foi acolhida nas canossianas, onde continuou sua formação cristã, até se consagrar como irmã, no dia 8 de dezembro de 1896, e as Irmãs de Santa Madalena de Canossa passaram a ser definitivamente sua família. Por mais de cinquenta anos assumiu diversas tarefas: cozinheira, cuidados com as roupas, boiadeira, sacristã e porteira.

A MULHER NA IGREJA

O Papa Francisco vem sonhando com uma Igreja do povo de Deus, que valoriza os dons e ministérios de toda pessoa batizada. Santa Bakhita, uma mulher escravizada e consagrada, acolheu o caminho atribulado de sua vida e deixou seu amor florescer, à luz da Palavra de Deus, que a foi transformando e preparando para testemunhar o mesmo amor de Deus a todos os seres humanos. Bakhita é uma luz para a Igreja de hoje. Todas as pessoas têm lugar nessa Igreja do povo de Deus em caminho, Igreja sinodal.

EXEMPLO PARA HOJE

Santa Bakhita nos desafia de muitas maneiras, acredito. Em nossos preconceitos raciais; em nossa resistência à acolhida dos pobres, dos diferentes, dos prisioneiros, dos favelados, das pessoas LGBTQIA+, de outras religiões/fés/ateus… Essa lista nunca pode ficar completa, porque Deus sempre vai nos surpreender. 

Santa Bakhita, rogai por nós e pelos bilhões de escravizados, de todos os tempos.

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A FAMÍLIA DE SANTA TERESINHA https://revistaavemaria.com.br/a-familia-de-santa-teresinha.html https://revistaavemaria.com.br/a-familia-de-santa-teresinha.html#respond Fri, 01 Oct 2021 03:20:55 +0000 https://revistaavemaria.com.br/?p=64295 A família de Santa Teresinha tinha todos os ingredientes para não dar certo: os pais, quando se casaram, tinham certa idade, mal se conheciam e tinham desejos frustrados. Luís Martin, homem bom, fechado, relojoeiro, desejava ser monge no mosteiro de São Bernardo, escondido entre as neves dos montes, mas foi dispensado só porque não conhecia latim. Zélia Guerin, uma modesta empresária das “rendas de Alençon”, mulher boa, invejava a sua irmã religiosa Visitandina e desejava ser religiosa vicentina, mas sem mais nem menos foi-lhe dito na cara que não pensasse nisso, porque não tinha vocação. Houve assim um casamento “meio arranjado” pela mãe de Luís Martin, preocupada em ver sozinho seu filho, quase quarentão.

No Matrimônio, duas visões contrárias: Luís Martin queria viver um Matrimônio casto, “irmão e irmã”, e Zélia doidinha para ter muitos filhos. Um diretor espiritual sábio lhes recorda que a finalidade do Matrimônio são os filhos e o problema está resolvido.

A dor sempre esteve presente na vida de Luís e Zélia. Na família Martin, dos nove filhos que tiveram, quatro morreram em idade infantil; as quatro filhas que sobreviveram tiveram uma infância frágil, marcada pela doença, especialmente Teresinha e Leônia. A morte prematura da mãe por câncer, quando a pequena Teresa tinha 4 anos e meio, obrigou o pai a deixar Alençon, França, e se estabelecer em Lisieux, no mesmo país. Por que essa mudança?

Mudaram-se para Lisieux para estar mais perto do seu cunhado Isidoro, farmacêutico considerado bom administrador e o intelectual da família. Zélia tinha muita confiança nele e antes de morrer pediu que tivesse particular atenção à educação de suas filhas.

Foi grande a dor das filhas em ver, nos últimos anos de vida, o pai internado no hospital São Salvador, hospital de loucos; nos momentos de sua loucura, ele pegava o revólver e dizia que queria defender suas filhas. Uma família provada como a família bíblica do velho Jó, mas sempre enraizada na fé e no amor a Deus.

Luís Martin era uma pessoa boa, terna, delicada, voltada à religião e à família, amava viajar e nem sempre tinha o tino de educar as filhas e de corrigi-las na idade da “juventude”. A História de uma alma, que mais tarde Teresa do Menino Jesus escreverá, para “que não se perdessem as lembranças familiares”, como dizia especialmente sua irmã e sua própria Madre Inês, deixa-nos o elogio mais belo de seus pais: “O bom Deus me deu um pai e uma mãe mais dignos do Céu que da Terra”.

POR QUE A FAMÍLIA MARTIN DEU CERTO?

É necessário que nos perguntemos por que hoje muitas famílias não dão certo. Matrimônios que se desfazem com facilidade, ao primeiro vento de dificuldades, e aos primeiros dissabores… Filhos que declaram abertamente que não se sentem amados pelos seus pais e não amam seus pais… Famílias onde existe uma “plurirreligiosidade”, que não conseguem conviver e que criam situações de difícil convivência. Não é mistério para ninguém, mas se tornou lugar comum e repetitivo que a família “está em crise”. Todos os sociólogos, psicólogos, pastores, bispos e sacerdotes fazem análises da situação familiar e tentam dar respostas que são como “esparadrapos” colocados na ferida aberta, na carne viva, que não curam; podem aliviar a dor, mas não curam totalmente.

A Igreja é consciente disso e o Papa Francisco, com o Sínodo sobre a Família, junto com os bispos do mundo inteiro, procurou analisar a situação e buscar remédios, assim nos deu o belíssimo documento Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia, onde se traçam linhas de uma nova pastoral, que custa a pegar o voo e a dar frutos.

Luís e Zélia Martin foram beatificados no dia 19 de outubro de 2008, em Lisieux, quando e o Cardeal Saraiva disse: “A vocação ao Matrimônio é vocação juntos à sanidade”. É o primeiro casal da história da Igreja a ser “beatificado junto”. Como esposos que percorreram juntos o caminho da santidade, foram canonizados, isto é, proclamados santos, no dia 18 de outubro de 2015, no fechamento do Sínodo sobre a Família.

OS QUATROS CAMINHOS

Se nos aproximarmos em silêncio para escutar o eco da família Martin, podemos perceber o segredo de por que esse Matrimônio, que tinha tudo para não dar certo, teve sucesso e se transformou em modelo para todos os casais de todos os tempos. O amor matrimonial ultrapassa a idade, a juventude, a doença e mesmo a morte. Ele se enraíza num amor terno e eterno, que é o amor com que Deus nos criou e nos chamou a vida para que nós fossemos fonte de vida.

  1. O amor recíproco, que gera respeito pelo outro, que deixa a liberdade e que nunca se impõe com força, foi sempre presente no relacionamento de Luís e Zélia. Eles estão convencidos que juntos são chamados à santidade, a realizar o projeto de Deus. Não podem viver a vontade de Deus “separadamente”, mas juntos. Não podem educar os filhos, dom de Deus, “separadamente”, mas juntos. Estão profundamente convencidos de que juntos podem ser testemunhas visíveis de fé e de adesão à Igreja no ambiente, muitas vezes hostil, em que vivem, na pequena cidade de Alençon.

“Com tal natureza, se eu tivesse sido criada por pais sem virtude ou até, como Celina, tivesse sido mimada por Luísa, eu teria ficado muito ruim e, talvez, tivesse me perdido. Mas Jesus velava sobre sua pequena noiva. Quis que tudo se encaminhasse para seu bem, até os defeitos que, reprimidos cedo, serviam-lhe para crescer na perfeição.” (Santa Teresinha, MA 8v)

  1. Transformam a própria casa numa “Igreja doméstica”, antecipando, por mais de cem anos, o Concílio Vaticano II. Para eles o domingo é o dia do Senhor. Luís e Zélia preferem perder “dinheiro”, mas nos domingos e nos dias de festa o negócio deles fica fechado. Vão juntos à igreja e se dedicam a obras de caridade com as filhas maiores, que já entendem o agir dos pais. O Papa Francisco, na sua mensagem à Semana Litúrgica na Itália, falou da urgência de recuperar o sentido sagrado do domingo, dia da ressurreição e da Eucaristia.
  2. Rezam e ensinam a rezar. Ao lermos as 218 cartas de Zélia, damo-nos conta de que não há nenhuma em que ela não se preocupa com a educação de suas filhas e como sentem a morte dos que Deus “chama ao Céu” antes do tempo. Em tudo veem a vontade de Deus. Zélia e Luís participam juntos da primeira Missa na igreja paroquial antes de se entregarem seja ao trabalho, seja aos afazeres da casa. Reza-se em família, leem-se livros bons e estimula-se a missionariedade, ajudando com a oração e boas ofertas os missionários. A casa dos Martins é casa de “sacerdotes”, que passam por Alençon antes e depois por Lisieux. Esse vínculo da oração vai aumentando na medida em que as filhas tomam a decisão de serem consagradas no carmelo. Apoiam as vocações, estimulam-nas, mas não impõem nem de um lado e nem do outro, respeitam.

“Quando o pregador falava de Santa Teresa, papai inclinava-se para mim, dizendo baixinho: ‘Escuta, minha rainhazinha, ele fala de tua santa padroeira’. Eu escutava, com efeito, mas olhava mais vezes para papai que para o pregador. Sua bela fisionomia dizia-me tantas coisas! Por vezes, seus olhos se enchiam de lágrimas, as quais ele em vão se esforçava por reter; não parecia mais ser da terra, de tal modo sua alma gostava de mergulhar nas verdades eternas.”(Santa Teresinha)

Escutar e dialogar: na família Martin se sabe escutar e dialogar. Creio que esse é o segredo porque o Matrimônio deu certo e a educação dos filhos não foi deixada ao léu, mas programada por Zélia e Luís. Eles têm consciência de que os filhos são dons de Deus e que não são nossa “propriedade privada”, devemos educá-los para que possam enfrentar a vida com coragem. Santa Teresinha, mais tarde, usa uma comparação muito interessante: “Os passarinhos aprendem a cantar escutando os próprios pais e estes, quando eles têm medo de voar, empurram-nos pata fora do ninho para que possam começar a própria vida”. O Papa Francisco, na Carta Apostólica Patris Corde, sobre São José, recorda que “Ser pai não é colocar no mundo filhos, mas educá-los para a vida”. Os primeiros catequistas não são os catequistas da paróquia, mas os pais. São eles que, com a vida, têm o dever de ensinar os caminhos da fé. Os pais de Santa Teresinha escutam, dialogam, ensinam. Três verbos que não podemos esquecer. Hoje em dia, temos perdido a alegria de “perder tempo com os outros”, de escutar, dialogar e ensinar.

“Este ano hei de ir [no dia 8 de dezembro], bem cedinho, ter com a Santíssima Virgem. Quero ser a primeira a chegar. Não lhe pedirei mais filhinhas; rogar-lhe-ei somente que faça santas as que me deu e que eu não lhes fique muito atrás; mas é necessário que elas sejam bem melhores do que eu.” (Carta de Santa Zélia)

E hoje?

Chegando ao fim do nosso caminho, porque o espaço que me foi concedido é pequenino, mas suficiente, podemos dizer: é urgente que os pais assumam com coragem a própria missão, não visando à própria alegria e interesses, mas ao bem dos filhos; eles são o tesouro escondido no “campo” que lhes foi confiado para conservá-lo e para fazer frutificar os talentos. A família não está em crise na sua visão bíblica, teológica e espiritual, o que está em crise são os humanos que se preocupam com si mesmos, com sua própria felicidade egoísta e não com a felicidade dos outros. Não se pode ser feliz sozinho, mas juntos. Se isso é verdade para todos, muito mais é a verdade das verdades para as famílias. Os pais que se preocupam com si mesmos, esquecendo os filhos, à primeira dificuldade ou desentendimento pensam em se divorciar, separar. Os pais que se preocupam com a felicidade dos filhos, ainda nas dificuldades, rezam, tomam conselhos e retomam o caminho com esperança, amor e alegria, espelhando-se na felicidade dos filhos.

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