Deus nos concede o livre-arbítrio, permitindo-nos escolher viver com Ele ou não. A liberdade é central no chamado de Jesus, que nos convida a trilhar o caminho da fé com plena consciência da escolha, mas, até que ponto a liberdade humana é realmente liberdade se, segundo a visão cristã, Deus tem a primazia na realização do todo bem?
Que Deus tem a primazia em todo bem, isso é fato. Toda vocação é um chamado de Deus, desde a primeira vocação, que é o chamado à vida, bem como o chamado à santidade. Quando Deus amor cria uma vida, Ele não somente cria, mas confere ao homem o dom para que também participe da sua própria vida; entretanto, a iniciativa divina reclama uma resposta livre do homem; criado à imagem e semelhança de Deus, ele recebeu com a liberdade o poder de conhecê-lo e de amá-lo: “Só livremente a alma pode entrar na comunhão do amor”, ensina nossa doutrina (Catecismo da Igreja Católica, 2002).
Com efeito, Deus que é amor quer dar-se a si e oferece ao homem essa novidade de vida. Bem nos questionou São João Paulo II: “Poder-se-á rejeitar Cristo e tudo aquilo que Ele introduziu na história do homem? Certamente que sim; o homem é livre: ele pode dizer “não” a Deus. O homem pode dizer ‘não’ a Cristo. Mas permanece a pergunta fundamental: é lícito fazê-lo? É lícito, em nome de quê?” (Carta Encíclica Redemptoris Missio, 7).
O mundo atual está repleto de ameaças à verdadeira liberdade, por isso, é preciso afirmar que o exercício da liberdade não é direito de tudo obter, dizer e fazer. Não é a liberação para uma pretensa busca de satisfação de interesses pessoais, a fim de obter prazeres terrenos. Não há liberdade sem a Verdade, que é Jesus! A Palavra de Cristo permanece viva: “A verdade vos libertará” (Jo 8,32). O saudoso Papa Bento nos indicou a melhor escolha quando disse aos jovens em sua homilia para o início do ministério de Supremo Pastor, em 24 de abril de 2005, “Deixai-vos surpreender por Cristo! Quem faz entrar Cristo [na própria vida] nada perde, nada absolutamente nada do que torna a vida livre, bela e grande. Não, só nessa amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nessa amizade desabrocham realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nessa amizade nós experimentamos o que é belo e o que liberta”.
Com efeito, a verdadeira liberdade vem da redenção em Cristo. Ele nos liberta da escravidão do mal, do pecado e da morte. Em sua obra de justificação, Cristo estabelece a colaboração entre a graça de Deus e a liberdade do homem. Deus move o coração do homem pela iluminação do Espírito Santo; o homem por sua vez, corresponde ao aceitar essa inspiração que, aliás, pode rejeitar: contudo, ele também “não pode, sem a graça de Deus, caminhar, por sua livre vontade, para a justiça na sua presença” (Catecismo da Igreja Católica, 1993).
Caro leitor, “Os santos tiveram sempre uma consciência viva de que os seus méritos eram pura graça”, ensina o Catecismo da Igreja Católica (2011); assim, concluo com o pensamento que ele nos traz da nossa amada Santa Teresinha: “Depois do exílio da Terra, espero ir gozar de vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero é trabalhar só por vosso amor (…). Na noite desta vida, aparecerei diante de vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria justiça e receber do vosso amor a posse eterna de vós mesmo”.