MARÇO LILÁS E A PREVENÇÃO CONTRA O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

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Março é mundialmente conhecido como Mês da Mulher, por isso foi escolhido também para divulgação da campanha de atenção sobre a prevenção e o combate do câncer de colo uterino. 

O câncer do colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, sendo de 4,51 óbitos/100 mil mulheres a taxa de mortalidade em 2021, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) de 2023, por isso esse câncer é considerado um problema de saúde pública. 

A cor lilás lembra a importância de as mulheres atuarem em ações de prevenção a esse câncer, tais como a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) e a realização de exames de rotina. É importante salientar que esse é o único câncer para a qual se dispõe de tecnologia para prevenção, detecção precoce e tratamento curativo. 

UMA HISTÓRIA DE FÉ E CURA

“Sem a fé eu não teria passado por tudo isso. Acho que não teria forças”, disse Teresa Nair do Nascimento, que descobriu, aos 39 anos, que estava com câncer do colo do útero.

Tudo começou quando Teresa percebeu que seu ciclo menstrual estava muito irregular, mas achou que isso era devido ao período da menopausa, quando é normal que o ciclo sofra alterações. Mãe de dois filhos, professora e com todas as tarefas de casa, ela demorou mais de seis meses para procurar um médico.

“Eu sentia algumas dores, sim, mas nada insuportável, porém, meu ciclo estava muito desregulado. Quando finalmente consegui ir ao médico, descobri que estava com câncer. Foi um susto! Comecei a chorar descontroladamente no consultório mesmo”, contou.

Após a confirmação do diagnóstico de câncer de colo do útero foi necessário identificar a extensão da doença e então, só após o estadiamento do câncer, ou seja, a identificação se a patologia está restrita ao colo do útero ou se houve comprometimento de outros órgãos no corpo, foi possível começar o tratamento. 

No caso de Teresa, o câncer estava no estágio 1, em que o tumor invadiu o colo do útero, mas não se espalhou para outros órgãos. Ela precisou fazer uma histerectomia radical com remoção dos linfonodos da pelve, além do tratamento continuado. 

“Sem o apoio da família e da minha comunidade, eu jamais teria conseguido. Acredito que o mais importante no tratamento contra o câncer é cuidar do emocional. Ficamos muito sensíveis. Sem a fé, o apoio e o carinho da família é muito difícil”, disse.

O processo todo durou cerca de um ano e meio e após esse período veio finalmente a resposta que a família tanto esperava: a cura. “Todos os anos vamos até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida para agradecer. Minha mãe era muito devota de Aparecida e nós ficamos ainda mais ligados a ela após esse período de doença. Muitas vezes, deitada na cama, sem forças nem para comer, eu rezava o Terço. Era o elo que me mantinha conectada ao mundo”, disse Teresa. 

Ela continua fazendo acompanhamento para prevenção regularmente, pois mesmo diante da cura é preciso verificar se não há reincidência do câncer. 

ENTENDA MELHOR O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer de 2020, o câncer do colo do útero é a terceira neoplasia mais comum em mulheres e uma das principais causas de morte por câncer em todo o mundo. 

Michelle Samora de Almeida, doutora em ginecologia oncológica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médica oncologista explicou que o colo do útero é a parte inferior do útero, que se abre na vagina. “Esse tipo de câncer acontece quando as células do colo do útero se transformam em células anormais e crescem fora de controle”, disse. Ela salientou que a prevenção é essencial, pois os exames de rastreamento podem detectar estágios iniciais do câncer do colo do útero em e as lesões “pré-câncer”, casos em que, na maioria das vezes, há 100% de cura.

Trata-se de uma doença lenta, com um interregno aproximado de dez anos entre a lesão precursora e o câncer. Todas as mulheres que já iniciaram a vida sexual são potencialmente suscetíveis ao desenvolvimento da doença. 

Ela afirmou também que fumar ou ter uma condição médica de enfraquecimento do sistema imunológico são coisas que aumentam o risco de desenvolver esse tipo de câncer. “Ao parar de fumar, você pode diminuir o risco de câncer do colo do útero, assim como de outros problemas de saúde”, continuou.

É importante recordar também que a infecção pelo papilomavírus humano é universal no trato genital feminino, podendo comprometer tanto a pele como as mucosas, causando uma série de manifestações importantes. A ampla cobertura da população por meio de um rastreio organizado e a vacinação poderão diminuir substancialmente as doenças induzidas por esse vírus. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu chamado em 2018 para eliminação do câncer do colo uterino como um grave problema de saúde pública. As estratégias de prevenção são:

  • vacina contra o papilomavírus humano;
  • rastreamento por meio de exames.

A expectativa é a de que até 2030 90% das meninas até os 15 anos sejam vacinadas e que haja o rastreamento em 70% de mulheres entre 35 e 45 anos de idade. 

No YouTube é possível assistir a aulas gratuitas sobre as diretrizes para o rastreamento do câncer do colo do útero e entender melhor a doença. Os links dos vídeos estão disponíveis no site da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia. 

VACINA CONTRA O CÂNCER?

Para prevenir o câncer do colo do útero é preciso agir para a diminuição do risco de contágio pelo papilomavírus humano. Essa transmissão acontece por via sexual, mas também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal, assim, o principal meio de prevenção é com a vacinação contra o papilomavírus humano. Desde 2014, o Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal a vacina tetravalente contra o papilomavírus humano

Podem ser vacinados meninas e meninos com idades entre 9 e 14 anos, pois a vacina é mais eficaz se usada antes do início da vida sexual. Também são público-alvo da vacina as pessoas com imunodeficiência causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), transplantadas e portadoras de cânceres. A meta é vacinar pelo menos 80% da população-alvo para alcançar o objetivo de reduzir a incidência desse câncer nas próximas décadas no país. É importante recordar que a vacina não é uma garantia contra o câncer, mas, associada a outras medidas, pode prevenir formas graves. 

Outra forma de prevenção é o exame de Papanicolaou, que deve ser feito regularmente. O teste de Papanicolaou é considerado internacionalmente como o instrumento mais adequado, mais sensível, de baixo custo e bem aceito pelas mulheres, podendo a coleta de material ser feita não apenas por médicos, mas também por outros profissionais de saúde como enfermeiros e auxiliares de enfermagem adequadamente treinados.

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

O jornal Estado de Minas, em junho de 2022, publicou o artigo “Ciência e espiritualidade caminham juntas. Os depoimentos de quem estuda”, de Iracema Amaral. No texto, ela ressaltou que no maior site de biomédica do mundo, chamado National Institute of Health, com base nos Estados Unidos da América, os termos “oração” e “espiritualidade” têm crescido de forma acelerada. 

O crescimento mostra como tem aumentado o interesse sobre o tema e como as pessoas têm descoberto, cada vez mais, que espiritualidade e ciência podem caminhar paralelamente e ser aliadas no tratamento contra doenças. 

Em São Paulo (SP), vários hospitais oferecem serviços religiosos aos seus pacientes. É o caso da Santa Casa de Misericórdia, na zona central da capital. Afonso Xavier é médico assistente da clínica médica do pronto-socorro central da Santa Casa e falou, em entrevista, como o serviço é importante para os pacientes e seus familiares, bem como para a equipe médica e funcionários do hospital: “Ao contrário do que a maioria pensa, as pessoas não sofrem só com dores físicas. Os sofrimentos emocionais e, sobretudo, espirituais por vezes são muito mais importantes e influenciam a forma de enxergar e lidar com a doença. Perceber a existência dessas outras dimensões do sofrimento é o primeiro passo para o tratamento com dignidade”.

Nayá Fernandes

Jornalista

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