O Livro de Josué foi o escolhido para aprofundamento no Mês da Bíblia 2022, nas paróquias e comunidades. Inspira o texto: “O Senhor, teu Deus, está contigo por onde quer que andes” (Js 1, 9).
Ele foi escrito mais com perspectiva teológica do que para ser um relato histórico. Interpreta a história do passado; narra fatos ocorridos entre os anos 1300 e 1000 a.C. Apresenta a conquista de Canaã, a Terra Prometida, sob a guia de Josué (cf. Js 1-12) e a repartição da terra entre as doze tribos (cf. Js 13-22). Josué é o sucessor de Moisés.
O livro possui vários autores que releram, reinterpretaram e reeditaram, segundo seus objetivos, situações e momentos históricos. O interesse central é interpretar os acontecimentos da formação do povo durante quatro séculos. Nessa interpretação e redação, houve acréscimos e ampliação de fatos. A figura de Josué é acentuada, como também o monoteísmo, combate implacável à idolatria (culto a outros deuses). Apresenta Javé como sendo um Deus ciumento, violento e castigador (cf. Js 6, 17-21). É a reforma de Josias que busca implantar a teocracia em Judá no pós-exílio com a centralização do templo em Jerusalém e acentuação da lei e sua observância. Contém história mítica, com fatos heróicos para reforçar a ação de Javé favorável ao povo de Israel. A infidelidade do povo desperta sua ira, entregando-o nas mãos dos inimigos e com consequente perda da terra (cf. Js 23, 15-16; 24, 16-28; Dt 28, 15-46).
A força do Senhor, que atuou através de Moisés, então age em Josué, que conduz o povo na travessia do rio Jordão, com as águas se abrindo.
O povo tido como eleito do Senhor empreende guerras expulsando e exterminando as populações que na terra viviam, exaltando a fidelidade a aliança.
A narrativa da conquista da cidade de Jericó (cf. Js 6) e da cidade de Hai (cf. Js 8) não tem precisão histórica. A cidade de Jericó, nesse momento, não era mais habitada e nem tinha muralhas. A cidade de Hai foi destruída por volta de 2.400 a.C. e igualmente não era habitada quando o povo de Israel entrou na terra de Canaã.
ESTRUTURA DO LIVRO
Primeira parte (Js 1-12): a preparação e a conquista da terra com as guerras. Capítulos 2-8: conquistas de cidades; 10-11: narram-se as ações militares na terra de Canaã; 12: apresenta as listas dos reis vencidos por Moisés e Josué. O protagonista da conquista é Javé, o Deus dos Exércitos.
A segunda parte (Js 13-21) narra a partilha da terra entre as tribos como também as listas dos territórios e fronteiras delas. Nela, Josué é o protagonista. Capítulo 13, 1-7: introdução; 13, 8-33: fração da terra ao oriente do Jordão; Segunda parte (Js 13-21,): apresenta a divisão da terra conquistada. No cap. 13,1-33, a porção que coube a cada tribo. O cap. 20 traz a relação das cidades de refúgio para proteção da pessoa que viesse cometer delito, sobretudo o homicida. Cap. 21, contém a descrição das cidades que caberiam aos levitas.
Terceira parte (Js 22-24): período exílico e pós-exílico com o retorno dos exilados (22), o último discurso de Josué (23), a celebração da aliança em Siquém e a morte de Josué (24). Josué adverte o povo para que se mantenha fiel à aliança, que decida a quem servir, a Deus ou aos ídolos, afirmando que ele e sua casa servirão ao Senhor.
A última parte do livro (capítulos 23 e 24) traz o relato da despedida de Josué e a renovação da Aliança.
Concluindo: é importante o estudo e aprofundamento do livro para compreender a mensagem da narrativa que chega a nós. É fundamental evitar e mesmo eliminar uma leitura fundamentalista. O livro apresenta um Deus ciumento e castigador, por isso, a descrição da violência em relação aos povos originários na conquista da terra. Como compreender isso? A terra é dom de Deus. Superar a ideia retributiva na relação com Deus, merecimento ou não merecimento, ou seja, a fidelidade conquista benefícios e a infidelidade punições.
Cada pessoa é chamada a empenhar-se para fortalecer a fraternidade e a solidariedade no conviver.
O povo da futura Israel caminha rumo à terra prometida. Todos seguimos em peregrinação na construção do Reino de Deus.