Castidade: uma boa nova a ser anunciada¹

A castidade é uma boa-nova para todos e parte do pressuposto de que a sexualidade é dom de Deus e, por isso, faz parte das relações que estabelecemos com Ele e com os outros. Se, por um lado, é uma graça de Deus termos sido criados como pessoas sexuais, por outro não é fácil buscar e alcançar a integração da sexualidade no próprio projeto de vida. Daí a importância do anúncio da boa-nova da castidade como virtude possível de ser aprendida, interiorizada e assumida por todos. 

Tal anúncio implica, em primeiro lugar, um novo olhar sobre a sexualidade para poder compreendê-la como “uma componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano”. Essa dimensão constitutiva do ser humano é uma das mais poderosas energias humanas, isto é, uma energia estruturante que se faz presente em todas as dimensões da vida, a ponto de podermos afirmar que, sem ela, não haveria humanidade. A sexualidade expressa quem a pessoa é na sua mais profunda riqueza e vulnerabilidade. 

Em segundo lugar é preciso reconhecer que “enquanto modalidade de se relacionar e se abrir aos outros, a sexualidade tem como fim intrínseco o amor, mais precisamente o amor como doação e acolhimento, como dar e receber”. É o amor que humaniza a sexualidade, isto é, que faz com que se torne o “lugar” de saída de si e abertura ao outro, de relações de qualidade, de reciprocidade, de afirmação do outro na sua singularidade e diversidade, de partilha respeitosa da fraqueza humana, de experiência das múltiplas expressões, níveis e significados da doação de si e do acolhimento do outro.

Em terceiro lugar, o anúncio da boa-nova da castidade implica um novo olhar sobre a própria castidade. Trata-se de “uma postura de fundo, como um modo de ser, de entender a vida e de se relacionar consigo e com os outros, que ultrapassa a realidade puramente genital-sexual, mas que depois, consente captar-lhe a verdade e realizar seus fins”. A castidade requer a integração da sexualidade na pessoa e no seu próprio projeto de vida, projeto que tem o amor como seu fim último. Uma vez que se dá tal integração, a castidade defende a sexualidade daquilo que a desumaniza e protege o amor do egoísmo e da agressividade, a fim de que a pessoa seja capaz de crescer no amor por meio do dom sincero de si ao outro. Nesse sentido, pode também ser entendida como a virtude que favorece a vivência autenticamente humana da sexualidade.

A castidade é, portanto, virtude que capacita a pessoa a transformar a energia estruturante que é a sexualidade numa força criativa e integradora na própria vida. No entanto, tal integração não se realiza sem esforço. Além do autoconhecimento e da autoaceitação, uma dose saudável de autodisciplina e ascetismo torna-se necessária, sem perder de vista duas dimensões muito importantes: nada disso se conquista de uma hora para outra, mas é resultado de “um trabalho em longo prazo”, que “nunca deve ser considerado definitivamente adquirido”; tudo isso está orientado para a autodoação, que dificilmente é total, sem reservas e definitiva como as pessoas gostariam que fosse. A razão é muito simples: “a castidade tem leis de crescimento”, crescimento que “passa por graus, marcados pela imperfeição e, muitas vezes, pelo pecado”.

Referências:

  1. Esse é o primeiro texto da série formativa de quatro textos sobre o tema.
  2. CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Orientações educativas sobre o amor humano. Linhas gerais para uma educação sexual. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1984, nº 4. 
  3. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA. Sexualidade humana: verdade e significado. Orientações educativas em família. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 2002, nº 11. 
  4. CENCINI, Amedeo. Virgindade e celibato, hoje. Para uma sexualidade pastoral. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2012, pp. 132-133.
  5. Catecismo da Igreja Católica. Novíssima edição de acordo com o texto final em latim. 4ª ed. Brasília: Edições CNBB; Embu: Ave-Maria; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas/Paulus/Loyola, 2017, nº 2337.
  6. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA. Sexualidade humana: verdade e significado. Orientações educativas em família. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2002, nº 16.
  7. Catecismo da Igreja Católica. Novíssima edição de acordo com o texto final em latim. 4ª ed. Brasília: Edições CNBB; Embu: Ave-Maria; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas/Paulus/Loyola, 2017, nº 2342.
  8. Catecismo da Igreja Católica, Novíssima edição de acordo com o texto final em latim. 4ª ed. Brasília: Edições CNBB; Embu: Ave-Maria; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas/Paulus/Loyola, 2017, nº 2346.
  9. Catecismo da Igreja Católica, Novíssima edição de acordo com o texto final em latim. 4ª ed. Brasília: Edições CNBB; Embu: Ave-Maria; Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas/Paulus/Loyola, 2017, nº 2343.
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