O mês de outubro, na vida da Igreja, é um convite a reacender o fogo da missão. Para muitos, “missão” ainda é palavra que evoca partidas longas, mapas distantes, línguas estrangeiras e culturas desconhecidas. É verdade que a missão ad gentes, que leva o Evangelho a terras onde Cristo ainda não foi anunciado, é um dom precioso e necessário, no entanto, a revelação bíblica e a tradição viva da Igreja nos recordam que a missão é, antes de tudo, essência do ser cristão e, portanto, ela começa no cotidiano, no lugar onde Deus nos planta.
O Concílio Vaticano II, no Decreto Ad Gentes e na Constituição Dogmática Lumen Gentium, recorda que todo batizado é chamado a ser discípulo-missionário. Não existe cristão sem missão. Não se trata de um “a mais” na vida de fé, mas da própria identidade recebida no Batismo. Ao mergulharmos nas águas batismais somos enxertados em Cristo e participamos de sua tríplice missão – profética, sacerdotal e régia –, por isso, onde quer que vivamos somos enviados.
Ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14) não é metáfora decorativa, é vocação concreta. O sal, na Antiguidade, conservava os alimentos e dava sabor, assim a presença cristã deve preservar os valores do Reino e dar sentido ao mundo, mesmo que, muitas vezes, isso ocorra discretamente. A luz, por sua vez, não brilha para si mesma, mas para dissipar as trevas e assim a vida de um discípulo deve ser sinal que aponta para Deus, iluminando o caminho dos outros.
Jesus não nos chama apenas a “fazer” missões, mas a “ser” missionários, de tal forma que cada gesto, cada palavra e cada silêncio carregue a marca do Evangelho. Essa missão se cumpre principalmente pelo testemunho. São Francisco de Assis nos lembra: “Evangelizai sempre; se necessário, também com palavras”. O anúncio explícito é fundamental, mas perde a força se não for sustentado pela coerência de vida.
A santidade é o chão onde a missão se constrói. “Sede santos, como o vosso Pai celeste é santo” (Mt 5,48) é um imperativo que une intimamente missão e santidade. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, afirma que a santidade não se resume a gestos heroicos ou à vida em terras distantes, mas floresce na existência comum: no cuidado com a família, na honestidade no trabalho, na ternura diante de quem sofre, na paciência diante das cruzes diárias. É aí, no escondimento do dia a dia, que se cumpre o maior ato missionário: viver segundo o coração de Deus.
Evangelizar pelo exemplo significa fazer de cada espaço um lugar de encontro com Cristo. É transformar a casa em Igreja doméstica, o trabalho em campo de serviço, a rua em espaço de cuidado fraterno. É perceber que o “ide por todo o mundo” (Mc 16,15) começa na soleira da porta de casa. A missão não é algo que aguardamos para fazer um dia, é o que somos chamados a viver a cada instante, pois “ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16).
Outubro, Mês das Missões, recorda-nos que Deus não chama apenas alguns para enviar, Ele envia todos. O verdadeiro missionário é aquele que, unido a Cristo e sustentado pela Eucaristia, faz da própria vida um prolongamento do amor do Pai no mundo.
Missão não é fardo, é graça. Não é peso, é alegria. É a certeza de que onde há um batizado que vive com amor, aí o Evangelho já é pregado e o Reino de Deus, silenciosamente, acontece.