“Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar aqui para tirar água.”
(Jo 4,15)
“Eu te espero perto do poço e, como todos os dias,
você evita falar comigo por medo do que eu diria,
porque você não se sente realizado, não se sente vivo,
você não encontra alegria e se julga.
Eu não o quero julgar, nem apontar o dedo para você,
tenho sede de você… e todos os dias, eu o espero…
Levante o seu olhar porque nele está o reflexo
da água que você deseja, do amor que você espera
e em mim… você pode bebê-lo.”
(Salomé Arricibita, tradução nossa)
Dezembro chega trazendo o sabor do fim e o sopro do recomeço. O ano de 2025 se despede, deixando em cada um de nós marcas e memórias: desafios vividos, esperanças adiadas, conquistas que nasceram de cansaços e sedes, muitas sedes. Sede de paz em meio ao tumulto, sede de sentido quando tudo parece girar rápido demais, sede de pertencimento num mundo cada vez mais fragmentado. Cada ano que termina nos faz olhar para dentro e perceber que não é só o corpo que se cansa, é a alma que tem sede.
A cena do Evangelho de João (cf. 4,1-26) nos coloca diante de uma mulher que vai buscar água em plena luz do dia. Talvez quisesse evitar olhares, talvez carregasse mais do que o cântaro. Carregava uma sede antiga, de amor e de reconhecimento. E foi ali, junto ao poço, que ela encontrou Jesus, alguém que não lhe ofereceu um discurso, mas um olhar. Ele pediu: “Dá-me de beber”. O pedido inverteu os papéis: o próprio Deus pediu água à criatura. E assim começou o diálogo mais humano e mais divino do Evangelho.
A mulher, que buscava água, descobriu que a verdadeira sede era outra. Jesus lhe falou de uma água viva, uma fonte que jorra dentro de quem crê. É a água do sentido, da fé, da esperança que não seca mesmo quando os dias são áridos. Essa cena fala profundamente a nós neste fim de 2025. Durante o ano, tentamos matar a sede em muitas fontes: o trabalho, o sucesso, as telas, os afetos instáveis, as pequenas conquistas cotidianas, mas, mesmo assim, algo dentro de nós continuou pedindo mais.
Quantas vezes terminamos o dia ou o ano com o mesmo sentimento da samaritana – “Ainda falta algo”? É porque nossas almas não se contentam com o efêmero, anseiam por permanência, por um amor que não se esgote, por uma vida que tenha sentido. As sedes que tivemos em 2025 talvez revelem o que ainda falta nos nossos poços: tempo para rezar, relações verdadeiras, cuidado com o próximo, espaço para o silêncio.
E agora, às portas de 2026, vale perguntar: quais são as sedes que queremos levar conosco? De que água queremos beber? Talvez o novo ano nos chame a uma espiritualidade mais profunda, menos distraída. A uma sede boa, aquela que nos move para Deus e para os outros. Porque existe uma sede que salva: a de viver com propósito, a de amar com gratuidade, a de deixar Deus ser fonte em nós.
A samaritana, depois de beber da água viva, não ficou parada. Ela voltou à cidade, transformada, e contou sua experiência. O encontro com Jesus fez dela testemunha. Que também nós, ao fim deste ano, possamos reconhecer onde Ele nos encontrou e quanto sua presença nos sustentou. Que 2026 seja tempo de beber de novo dessa fonte, mais serenamente, mais profundamente, mais inteiros.
Senhor, dá-nos dessa água que sacia o coração. Que as sedes de 2025 se transformem em aprendizados e que as de 2026 sejam desejo de mais fé, mais amor, mais sentido. Ensina-nos a voltar ao poço sem medo, sabendo que ali sempre nos esperas, paciente e fiel. Que nossa vida, como a da samaritana, torne-se também fonte para quem tem sede de ti. Amém.