O abraço e o perdão manifestam a essência da mensagem cristã de reconciliação e misericórdia, tanto no relacionamento com Deus quanto nas interações humanas.
Momento adequado para eu voltar à minha infância e me lembrar das minhas peraltices: quebrar um objeto doméstico, comer um doce sem licença, colocar a culpa no irmão caçula… Muitas vezes tentei manter às escondidas essas e outras travessuras de meus pais. Pacientemente, minha mãe esperava uma oportunidade e me fazia confessar meus erros, pedir-lhe perdão e o que eu mais gostava era do seu abraço e do seu perdão!
Precisamos fazer a experiência do abraço e do perdão. O valor e o poder que tem o gesto do perdão e a expressão do abraço transmitem ao outro o sentimento de reconciliação, ternura, sem haver a necessidade de dizer uma única palavra. Um abraço sincero é visto como uma forma de o divino tocar e restaurar as almas e os corações das pessoas, aliviando sofrimentos emocionais e espirituais, como ansiedade, solidão e tristeza.
O abraço do pai para o filho pródigo simboliza o perdão e a alegria do reencontro (cf. Lc 15,20). Da mesma forma, o abraço e as lágrimas de Esaú quando reencontra Jacó demonstram a reconciliação após anos de afastamento (cf. Gn 33,4) são gestos que manifestam a essência da mensagem cristã de reconciliação e misericórdia, tanto no relacionamento com Deus quanto nas interações humanas. O abraço verdadeiro transmite à outra pessoa algum tipo de sentimento sem haver a necessidade de dizer uma única palavra.
Os evangelhos narram o poder do abraço em muitos momentos do ministério de Jesus. Ele acolheu as criancinhas, os marginalizados, os aflitos, os pecadores com seu abraço amoroso e curativo, mostrando que o amor de Deus supera e está acima de qualquer erro. Com o seu abraço, Ele nos recorda que está sempre ao nosso lado nos momentos difíceis.
O abraço é visto como um símbolo de afeto, confiança e união, capaz de trazer consolo e transformação, e a santidade é vista como a culminação dessa “cultura do abraço”.
Portanto, abrace sempre como gesto de santidade; para muitos santos, o abraço representou um momento decisivo de conversão e serviço, como no caso de São Francisco ao abraçar um leproso, inspirado pela caridade de Cristo. O abraço de Deus, abraço do Pai misericordioso, é um convite à transformação e ao retorno e é visto como o ápice do amor salvador em Cristo. No contexto bíblico o abraço significa misericórdia!
No contexto bíblico, perdoar significa desculpar um erro ou ofensa, cancelando a “dívida” da pessoa, o que envolve liberar o ressentimento e desistir de buscar vingança ou compensação pelas mágoas.
Jesus mostra que perdoar é uma das maiores expressões de amor e graça, sendo, possivelmente, uma das maiores virtudes que um cristão pode possuir. O perdão é uma das expressões mais profundas do amor de Deus, pois demonstra a sua natureza misericordiosa e o seu desejo de reconciliação com a humanidade.
Jesus nos ensina que o perdão verdadeiro é aquele que vem do coração. Não é apenas uma palavra dita superficialmente, mas uma libertação do espírito que cura, pois é fundamental para nossa relação com Deus e para a nossa paz interior. O perdão é um gesto concreto de amor e compaixão.
O perdão é considerado um ato de amor, tanto para quem perdoa quanto para quem é perdoado. Perdoar é libertar-se do ressentimento e da mágoa, permitindo que a cura e a reconciliação se tornem possíveis, sendo um ato de amor próprio e ao próximo. Perdoar não anula as consequências do erro para quem errou, mas, cura quem perdoa, permitindo que se liberte das amarras do ressentimento.
Perdoar não é esquecer, mas liberar o coração do peso do ressentimento. É um processo de cura que beneficia quem perdoa, aliviando a alma e tornando a vida mais leve, assim você fará a experiência da libertação e cura. Ao escolher perdoar, você age em seu próprio benefício, livrando-se das correntes que o prendem ao passado e permitindo que o amor prevaleça em sua vida.
Os santos nos ensinam que o perdão é uma graça divina e um caminho para a cura interior e a serenidade, sendo essencial para não guardar ressentimentos. Eles mostram que perdoar é um ato de amor que nos liberta do ódio, aproxima-nos de Deus e é uma condição para recebermos seu perdão, assim como o próprio Cristo perdoou a todos.
Santo Agostinho nos ensina: “Quando fores orar, comece perdoando”; São João Bosco afirma: “A vingança do verdadeiro católico é o perdão e a oração pela pessoa que nos ofende”; Santa Teresa D’Ávila nos exorta: “Quem sabe perdoar, prepara para si muitas graças da parte de Deus; todas as vezes que olhar para o crucifixo, perdoará sinceramente”.
Sejamos fiéis aos mandamentos de Jesus!