Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de julho sobre as inúmeras experiências de Deus que as famílias fazem e suas buscas religiosas por uma fé cada vez mais midiatizada. Vivemos, assim, uma espetacularização da fé?
Percebo cada vez mais nas famílias uma relação ao conceito de espetacularização da fé, isto é, a capacidade de crer e sentir mediada pelas imagens. Opõe-se à evidência do seu fenômeno uma obscuridade complexa de seu conceito. Para alguns, significa alienação. Para outros, elementos construtivos da comunicação. O espetáculo da fé é ora associado à liberdade das opressões, ora é coerção e exploração. Para uns, baseia-se na ação conjunta e orquestrada, para outros, tem relação com a luta e a liberdade do sistema capitalista excludente. Os primeiros imprimem uma diferença forte entre poder e exploração; para os segundos, a exploração não é outra coisa senão uma arma intensiva de poder.
As mídias ocupam um espaço fundamental dentro das famílias, sobretudo dentro do processo de mediação do crer e sentir na experiência das pessoas que não assistem apenas a um programa exibido na televisão, no rádio ou pelas inúmeras plataformas de vídeo e áudio disponibilizados pela internet; pelo contrário, as pessoas participam dos programas por meio dos vínculos estabelecidos com os inúmeros líderes religiosos e com suas histórias que testemunham a realização dos seus sonhos.
As famílias vivem a sensação de ter o altar e o sagrado dentro de casa por intermédio das inúmeras plataformas de vídeo e áudio que impactam diretamente uma resposta própria e autônoma, ou seja, a Igreja é a minha casa e não mais o templo físico, isto é, a comunidade. Atento ao caminho percorrido, compreendo que a categoria de causalidade é ainda menos adequada para descrever o vínculo afetivo das pessoas e das famílias aos inúmeros programas exibidos por diferentes plataformas. Posto isso, existe uma necessidade de sentido numa sociedade anestesiada pelo consumo exacerbado e a sua aceitação dos valores impostos pelo capitalismo como condição existencial das realizações dos seres humanos diante desse império alienante da mídia religiosa.
Nas periferias existenciais dos sentidos, os fenômenos religiosos ocupam os espaços com suas narrativas de acolhida e afeto, dando espaço ao universo imaginário do possível, da cura, da libertação e da vitória. É na força do símbolo e da espetacularização da fé que os inúmeros programas religiosos acontecem no imaginário dos adeptos desse seguimento midiático que, de certo modo, responde às carências e urgências das famílias que vivem uma incompletude dos sentidos, criando, portanto, com as famílias e as pessoas que a compõem vínculos biológicos, psicológicos, sociais, emocionais e culturais.
Ao longo da história, o discurso sobre as experiências com Deus assume particularidades e práticas próprias do seu tempo, ou seja, por muito tempo a história viu os homens se submeterem à vontade do Céu; hoje, num contexto pós-pandemia, a história vê os homens submeterem os Céus à sua vontade.
Portanto, mais do que em qualquer outra época, assiste-se à espetacularização da fé, materializada em uma quantidade de produções midiáticas até então impensáveis, na televisão, em blogs, sites, jornais, revistas, podcasts, redes sociais, rádios, enfim, que representam uma rede emaranhada de conteúdos criados por líderes religiosos que buscam uma dependência alienante dos seus consumidores por meio de curtidas, visualizações, seguidores e não a salvação deles; pelo contrário, a salvação passa pelo modelo apresentado pelo líder religioso ou por sua proposta ideológica.
Sendo assim, as famílias e as pessoas precisam ligar o alerta, sobretudo porque, em outras palavras, quanto mais a pessoa se reconhece nas imagens humanas dominantes, menos compreende a sua própria vida e sua história familiar. Busquemos o Evangelho da salvação e o Senhor Jesus e não pessoas que se apresentam como mediadores da graça e da salvação.