O papel dos pais na formação dos filhos é essencial e não pode ser delegado. Especialistas em educação e documentos da Igreja, como o Catecismo da Igreja Católica (cf. 2221) e a Exortação Apostólica Familiaris Consortio (cf. 36) destacam que educar é, ao mesmo tempo, um direito e um dever fundamental dos pais.
O primeiro ambiente de aprendizagem é o lar. Filhos absorvem comportamentos observando os pais. Se em casa se cultiva a fé, se há demonstração de amor, coerência e integridade, os adultos tornam-se referências naturais. O conceito de “Igreja doméstica” é, para muitos, uma realidade prática: é no cotidiano familiar que a espiritualidade ganha forma concreta.
A pergunta sobre como educar os filhos de forma integral e concreta, visando ao amadurecimento pleno, é respondida por famílias que, além da experiência da maternidade e da paternidade, seguem o caminho da fé dentro das pastorais da Igreja, entre elas a Pastoral Familiar.
FORMAÇÃO MORAL E EMOCIONAL
É importante ressaltar que formar o coração e a consciência dos filhos é tão essencial quanto ensinar Português ou Matemática. Exige tempo de qualidade, correções firmes com afeto e a criação de um ambiente propício ao diálogo e à escuta, por isso, a iniciação das crianças na vida de fé é decisiva para a formação. Práticas simples como rezar em família, participar da Missa e ler a Bíblia em casa têm ressonância durante toda a vida.
Além da dimensão espiritual, educar é também preparar os filhos para lidar com o mundo real. Ensinar a trabalhar, a respeitar o próximo, a lidar com frustrações e a buscar o bem comum. A educação integral igualmente estimula o diálogo com a cultura contemporânea, sem renunciar a valores essenciais.
Todas essas práticas podem ser verificadas nos testemunhos das famílias que sabem que a responsabilidade de educar não é fácil, mas pode ser profundamente gratificante. Ao assumir esse papel com fé, amor e perseverança, pais ajudam a construir uma geração mais consciente, compassiva e aberta à transcendência.
PARTE DE UMA COMUNIDADE
José Roberto Berretta, 62, e Ana Cristina Paula Lima, 57, são casados e pais de José Lucas Lima Berretta e Julia Helena Lima Berretta. Eles participam da Patoral Familiar há quatro anos e atuam na Região Episcopal Sé, em São Paulo (SP).
Desde quando os filhos eram crianças, o casal mantinha como prioridade a participação na Missa aos domingos e dias santos e a vida em comunidade, especialmente com outras famílias do Movimento Encontro de Casais com Cristo.
“Também procuramos desenvolver nossa própria fé. Fizemos estudos bíblicos e de oração e o Roberto fez a Crisma. O nosso testemunho foi importante. Sempre agradecíamos a Deus indo a romarias a Aparecida (SP). Escolhemos uma escola católica para nossos filhos frequentarem. Oferecemos os sacramentos iniciais, o Batismo e a Primeira Eucaristia, sempre acompanhando de perto. Às vezes levávamos nossos filhos a uma igreja que oferecia Missa para crianças, em que a homilia era feita na linguagem delas”, recorda o casal.
Para eles, a educação dos filhos na fé católica só é possível quando a família está inserida numa comunidade, numa paróquia e as pessoas de fé tornam-se também amigas: “Assim se forma uma rede de apoio e testemunho que ajuda na transmissão da fé”, afirma Ana Cristina.
Para Rodrigo Samy Silveira, 50, e Emilene Pardo Silveira, 49, pais de Pedro Pardo Silveira, 13 anos, e Cecília Pardo Silveira, 10 anos, os pais têm como dever demonstrar amor: “Como Deus nos ama, os pais apresentam esse amor aos filhos. No cuidado diário, na educação e principalmente no exemplo”, afirmam.
Há dezesseis anos na Pastoral Familiar, eles pensam que a Igreja precisa ser também doméstica: “Acreditamos que um adulto, seja ele pai, avô, padrinho, mãe, avó, madrinha, tio ou irmão, pode desempenhar esse papel. Iluminado pelo Espírito Santo, pode demonstrar para essa criança ou adolescente quanto ele ou ela é especial, filho(a) de Deus e amado(a) por Ele. Levar à Igreja, apresentar os sacramentos e ensinamentos da vida em comunidade. Essa pessoa deve ser o exemplo de adulto que essa criança deve seguir”.
EDUCAÇÃO PARA A VIDA
“Nossos filhos estudaram na escola confessional, com valores parecidos com os nossos e para que não houvesse contradições, especialmente na primeira infância. Isso realmente ajudou. Também sempre valorizamos a importância do trabalho, da honestidade e do estudo. Nós os colocamos para fazer esportes e música. Eles estudaram na escola pública de música; isso ajudou muito, além da formação para boa música, na convivência com crianças de todas as classes sociais. Nessa escola se percebia que os pais tinham muita preocupação com os filhos e a família, independente da questão econômica, o que proporcionava um ótimo ambiente”, contaram, em entrevista à reportagem, José Roberto e Ana Cristina.
O casal sente-se feliz por ter sido sempre presente na vida dos filhos: “Fomos pais bastantes presentes. Eu como mãe adaptei minha carreira profissional para ter tempo de cuidar deles e estar a par das coisas que aconteciam com eles. Também procurávamos estar de acordo na educação deles. A convivência no Encontro de Casais com Cristo colaborou muito para que melhorássemos nosso relacionamento. Lá aprendemos que o casal não deve se esquecer de cultivar o amor entre eles antes e depois cuidar do relacionamento com os filhos. Lição valiosa”, salientam.
“Aprendemos, criando nossos filhos, e errando por vezes que nunca podem faltar o amor, a paciência e o perdão. Às vezes, nossa vontade de que nossos filhos sejam prefeitos atrapalha a educação. Precisamos estar presentes para conhecê-los, suas características, temperamentos e limites, para responder individualmente a cada um. Cuidar das palavras, sempre incentivar, motivar e dar desafios para eles. Nunca esquecer que são filhos de Deus e não nossas propriedades. Eles precisam saber de nós que por serem filhos de Deus têm sua dignidade e lugar no mundo”, disse Ana Cristina.
Para Rodrigo e Emilene, o mais importante é ouvir os filhos com paciência e sem julgamentos: “Com confiança apresentar seus argumentos e explicar que os amamos e respeitamos todos os irmãos. Pecado é dizer ‘não’ a Deus. Respeitar e negociar sempre e deixar claro sempre o que inegociável e o porquê. O distanciamento é natural, mas vale a pena insistir e caprichar na qualidade dos momentos que passamos juntos. Paciência e fé são imprescindíveis”, afirmaram.
REZAR EM FAMÍLIA É ESSENCIAL
Ana Cristina recordou que, durante a adolescência da filha, a família teve dificuldades, pois ela se aproximou de amigos que tinham alguns problemas e, por isso, ela começou a tirar notas baixas na escola. “Tivemos até que trocá-la de escola. Rezei muito pedindo a Deus que nos ajudasse. Eu e meu marido nos distanciamos dela e perdemos a comunicação. Um dia, por uma iluminação, abri o diálogo e passei a sair com ela e lhe dar mais atenção. Meu marido reviu o modo de tratá-la. Aos poucos e com o tempo tudo foi se resolvendo e ela até fez Crisma na escola nova. Hoje é casada e feliz”, contou a mãe.
A família também viveu um momento muito bonito durante a pandemia da covid-19: “Com tantas aflições, nossos dois filhos se formaram na faculdade e conseguiram seu primeiro emprego. Isso foi um grande alívio, dado o momento delicado. Nesse tempo todos estavam em casa, em teletrabalho. Por incrível que pareça foi um momento de aproximação e um momento em que rezamos juntos. Depois que eles cresceram, esses momentos tinham ficado mais raros”, recordou Ana Cristina.
Emilene, por sua vez, contou que o filho tem muitos amigos ateus e, por isso, chegou a casa questionando sobre a fé católica: “Explicamos que respeitamos todos, mas para nós não havia dúvidas de quanto éramos amados por Deus. Demos exemplos de quantas vezes vivemos na presença de Deus e de Maria. Nosso filho ouviu com olhar de dúvida mas, na semana seguinte, teve dificuldades em uma matéria escolar e nos perguntou qual era mesmo a oração para pedir que o Espírito Santo o ajudasse a lembrar de tudo na prova”.