Estimado leitor da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de novembro convidando você e sua família a edificarem o Reino de Deus por meio da koinonia, isto é, a comunhão entre os familiares pelo caminho da oração.
Deus quer que nós rezemos porque a oração é importante para nós, mas também porque é uma forma de participar do projeto de salvação e dos planos de amor divino para a humanidade. Podemos, assim, ver a oração sob dois aspectos: o que ela faz conosco e o que faz no plano de salvação de Deus.
Deus quer ouvir as nossas orações, quer fazer o bem e ser misericordioso, mas Ele também quer fazer tudo isso contando com nossas orações, com nossa bondade e com nossa misericórdia. Numa palavra, Deus quer nos incluir em seus desígnios de amor. Ele não quer apenas que o fiel se recolha numa montanha para rezar unicamente por sua própria salvação, como se não houvesse outras almas a salvar e santificar. Deus quer dos santos um coração como o seu, por isso determinou conceder certas graças sob a condição de que nós, filhos seus, sejamos misericordiosos como o Pai.
Não rezamos para que Deus passe a querer o que antes não queria. Na verdade, rezamos, intercedemos e pedimos coisas a Deus porque Ele, que quer dar suas graças, decretou dá-las por meio de nossas orações, de nossos pedidos e de nossas intercessões. Nesse sentido, a oração de entrega e intercessão é uma forma de participarmos da misericórdia de Deus, que é tão amoroso e tão misericordioso que quer que também nós o sejamos junto com Ele.
Interceder, pedir em favor de outro (entregar) é próprio de um coração que está em consonância com a misericórdia de Deus. Na intercessão, aquele que ora “não procura seus próprios interesses, mas pensa sobretudo nos outros” (Catecismo da Igreja Católica, 2635).
Não é fantástico que, em nossos dias de peregrinação na Terra, possamos participar do amor divino? Para quem é mãe e tem um filho afastado da fé, como Santa Mônica teve Santo Agostinho, é maravilhoso que Deus tenha incluído em seus desígnios levar esse filho para o Céu por meio das orações e dos sacrifícios dela e, assim, dar não só ao filho a graça da conversão, mas também à mãe a da santidade. Na Terra, também Jesus rezou, derramou lágrimas, suou sangue e morreu na cruz intercedendo por nós. E quantos de nós podemos testemunhar graças alcançadas, verdadeiros milagres nas vidas das pessoas pelas quais já rezamos!
Quem não sofre por ninguém, não ama ninguém. Façamos um exame de consciência. Pensemos na última semana. Como foi ela? Sofremos pelo bem de alguém? Como se diz, “Se não sofremos por ninguém, então não amamos ninguém”.
Sofrer, aqui, não quer dizer chorar, descabelar-se, sentir-se deprimido ou angustiado, sem paz etc. Sofrer é, por exemplo, acordar cedo para rezar pensando “É pela minha família e seus membros. É para levá-los para o Céu”. Isso, de certa forma, já é um sofrimento. Quantas vezes rezamos, comungamos e fizemos pequenos sacrifícios ou intercedemos pelas nossas famílias? Estamos dispostos a rezar pelas pessoas para que vão para o Céu e se salvem? Abraão intercedeu por Sodoma e Gomorra, um povo miserável que não merecia compaixão; mas, ainda assim, pediu a Deus: “Se houver uma chance, poupai, Senhor, essas cidades”.
Quando se reza e intercede cheio de amor aos outros, o maior milagre não é aquilo que se obtém externamente com a oração, mas o que Deus mesmo está realizando dentro do coração de quem reza. Como está escrito na carta de São Tiago, “Orai uns pelos outros para serdes curados” (Tg 5,16b).
Sejamos, pois, verdadeiramente assíduos no dever da oração e na intercessão, sem nos esquecermos, é claro, da oração íntima e pessoal, feita também para o nosso progresso espiritual, a qual não deve ser esquecida, até porque se a oração pessoal for verdadeira, ela nos leva a sentir os desejos de Deus: o amor dele arde em nossos corações para interceder por esta humanidade tão necessitada das graças e da misericórdia divina.
Não nos esqueçamos de nossa mãe, Maria Santíssima, nosso maior auxílio e maior intercessora, ela que sempre está disposta a ouvir nossas orações. Como diz São Tomás de Aquino, “Vale mais uma Ave-Maria dita com grande amor do que obras heroicas em que não há amor nenhum”.
É incrível como nos aproximamos de nossos irmãos quando oramos de forma específica por suas necessidades e isso torna nossa pequena comunidade cada vez mais forte. Que Deus nos ilumine para que tenhamos uma vida familiar de oração e, assim, façamos a experiência desse amor gratuito e incondicional.