Iniciativas e mobilização que transformam vidas com acolhimento e afeto
Por trás de cada sorriso, de cada abraço ou gesto de carinho na porta da Igreja Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora, Minas Gerais, está um trabalho silencioso, porém fundamental: o da Pastoral da Acolhida. Quem faz parte desta história é Mônica Ferreira Rodrigues Gomes, coordenadora dedicada do grupo, que há anos transforma a experiência de quem chega à igreja.
O caminho de Mônica na vida pastoral começou movido por uma preocupação maternal. “Quando meu filho tinha cerca de seis anos, voltei para a Igreja da Glória pensando sobretudo no desenvolvimento dele”, relembra. A partir desse retorno, ela ingressou no grupo Crianças de Fé, trabalhando com os pequenos e, mais do que ensinar, descobriu-se aprendendo. Pouco tempo depois, recebeu o convite para ajudar a estruturar a Pastoral da Acolhida, onde permanece até hoje, agora como coordenadora. Hoje, o filho Igor tem 33 anos, e Mônica concilia a vivência na Pastoral com o trabalho como gerente de empresa.
Para Mônica, o papel da pastoral vai muito além de recepcionar. É, segundo ela, um verdadeiro exercício de amor ao próximo. “A gente recebe muito mais do que oferece”, afirma. “Muitas pessoas que hoje fazem parte da Acolhida chegaram precisando ser acolhidas. E, com pouquíssimo tempo, começam a se entregar de uma forma muito bonita”, observa.
Ela costuma comparar o trabalho da acolhida ao ato de receber amigos na própria casa. “É como receber e recepcionar seus convidados em uma festa. Estamos na porta recebendo todos e representando o olhar de Jesus, esse cuidar, esse acolher, de acordo com o modelo que Ele nos deixou. Isso é muito especial. Não tem nem como descrever esse sentimento”.
Localizada no centro da cidade de Juiz de Fora, a Igreja da Glória acaba de completar 100 anos de existência e é a primeira comunidade redentorista do Brasil. “Acolhemos não só os fiéis que frequentam as missas, mas também pessoas em situação de rua, idosos, famílias com dificuldades, gente que precisa, muitas vezes, só de um olhar, de atenção, ou apenas de alguém disposto a ouvir”, explica. E, quando é necessário, o trabalho vai além: a Pastoral recebe pessoas vindas do Ambulatório Nossa Senhora da Glória, parceiro da paróquia. “Recebemos essas pessoas, acolhemos e encaminhamos. Tentamos orientar e ajudá-los da melhor forma possível”, explica.
A rotina da equipe é intensa. São cerca de 50 membros, muitos deles formados por famílias inteiras que se dedicam a servir juntos. A Acolhida está presente em todas as missas e eventos e na divulgação de informações e notícias relacionadas à paróquia no grupo de WhatsApp. “A gente chega mais cedo, faz nossa oração e vai para as portas. Ao final das missas, especialmente nas de Sétimo Dia ou Bodas, levamos também nossa solidariedade ou felicitações aos presentes”, relata Mônica.
Um dos momentos mais significativos para a Pastoral da Acolhida aconteceu durante a pandemia de Covid-19, que marcou o trabalho do grupo. “Foi um trabalho emocionante. Nos comunicávamos apenas com o olhar. Estávamos na linha de frente, cercados de cuidados, mas firmes, acolhendo quem chegava. Foi algo que nos uniu ainda mais”, lembra.
Além do serviço cotidiano, a Pastoral também se dedica a promover iniciativas de resgate e renovação. Através do projeto CresSer, atualmente em desenvolvimento na paróquia, com a supervisão do pároco, Pe. Carlos Viol, C.Ss.R., visa à formação de novos servos, dispostos a crescer na fé, no amor e no compromisso com o Evangelho. A Acolhida se faz presente ao longo de todo o processo até a escolha da pastoral em que o novo agente deseja atuar. “Acompanhamos esse movimento e, ao fim desse projeto, ajudamos a direcionar as pessoas e monitoramos para ver se essas pessoas de fato estão sendo acolhidas. Nosso compromisso não é só apresentar, mas garantir que essas pessoas estejam sendo verdadeiramente acolhidas e se sintam parte desse serviço. Queremos que elas cresçam e se desenvolvam dentro da Igreja”, detalha.
Ao falar da Pastoral, Mônica se emociona ao lembrar da missão e da troca de oportunidades para quem acolhe também. “No fim da história, quem mais ganha e recebe mais somos nós. A possibilidade de sermos pessoas melhores faz toda a diferença no acolhimento. Então, a cada domingo, a cada celebração, encontro, a gente sente verdadeiramente essa oportunidade que Jesus nos dá de olhar e de se perceber como uma pessoa que pode fazer a diferença na vida do outro”, celebra.
Já na Paróquia São Joaquim e Sant’Ana, em Santos Dumont, também em Minas Gerais, um grupo de pessoas transforma cada missa e evento em uma verdadeira experiência de acolhimento. É a Pastoral da Acolhida, cuja missão vai muito além de um simples “bom dia” na porta da igreja. Flávia Regina dos Reis Serafim, colaboradora há 10 anos, conta sobre o trabalho desenvolvido: “A Pastoral da Acolhida é a porta de entrada da paróquia. Nossa função principal é criar um ambiente acolhedor, onde todos se sintam bem-vindos, ouvidos e valorizados”, explica.
Flávia não esconde o carinho especial que tem por essa ‘missão’. Ao longo de sua trajetória, chegou a assumir a coordenação da pastoral a convite do pároco da igreja. Ela já participou de outras pastorais, mas afirma que essa tem um lugar único em seu coração. “A da Acolhida é especial. A gente dá carinho e recebe amor o tempo inteiro”, resume.
O trabalho da pastoral é constante. Presente em todas as missas e eventos da paróquia, a equipe tem um olhar atento para as necessidades de cada fiel. Idosos, gestantes e pessoas com deficiência recebem atenção especial. “Nossa prioridade é acolher com carinho e orientar para que todos se sintam em casa. Também buscamos apoiar aqueles que estão passando por dificuldades”, reforça.
Mas o que realmente marca a atuação da Pastoral da Acolhida é a troca afetiva que acontece na porta da igreja. Flávia ressalta que, independentemente da ajuda material, um simples abraço pode fazer toda a diferença. “É muito gratificante. Tem pessoas que chegam precisando de um abraço, e muitas vezes esse abraço acalma. É uma troca de emoção”, define.
A pastoral também se destaca por sua inclusão e espírito de equipe. “Trabalhamos com todos que manifestam o desejo de nos ajudar. Atuamos juntos com a Liturgia e estamos presentes em todas as missas e eventos”, afirma Flávia, reforçando que a união é um dos pilares do grupo. Para quem pensa que o acolhimento se resume a uma recepção calorosa, ela faz questão de esclarecer. “A Pastoral da Acolhida é muito mais que um grupo de pessoas. É uma pastoral que busca criar laços de amizade que transcendem a mera cordialidade”.
Assim, a cada encontro, a Pastoral da Acolhida transforma a igreja em um espaço de fé, cuidado e afeto, mostrando que um sorriso, uma palavra amiga e um abraço podem ser instrumentos poderosos de evangelização. “É fazer com que cada pessoa que entre no templo sinta-se verdadeiramente vista, ouvida e valorizada”, explica.
Com a missão de “Acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu para a glória do Pai” (Rm 15,7), os agentes da Pastoral são os primeiros a receber e perceber os desejos e necessidades do povo de Deus. São essas pessoas que devem exercer o papel de Mãe acolhedora e receber da melhor forma possível aqueles que chegam à Igreja.
Outras iniciativas que transcendem os limites físicos das paróquias devem ser celebradas. Afinal, muitas vezes, o ato de acolher deve ser feito também de maneira mais ativa, quando o agente vai até a pessoa que necessita de ajuda com doação e disponibilidade. Assim como acontece com o trabalho desenvolvido na Diaconia da Esperança da Arquidiocese de Juiz de Fora, que tem à frente o diácono Alvaro Shwenck Spíndula, no movimento que propõe uma ação sinodal aos enlutados. “Ser presença orante e solidária da Igreja no momento da morte, ajudando especialmente a familiares e amigos a se fortalecerem na fé nesta hora de dor e despedida”.
Uma equipe de cerca de 10 pessoas, composta por padres, diáconos permanentes e ministros — por homens e mulheres — atua nas celebrações de exéquias nos cemitérios e, depois, caso seja o desejo da família enlutada, realiza a celebração da Esperança em domicílio. Até outubro de 2024, foram mais de 1.300 celebrações das exéquias. E assim o Acolhimento se faz presente de diferentes formas. É um gesto concreto de amor, um compromisso com o Evangelho e uma missão que se renova a cada encontro.