Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, outubro, na Igreja particular do Brasil, é marcado pelo Mês Missionário e pela celebração da padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida. Depois da Reforma, na Idade Média, falar de Maria ficou um pouco difícil. Ultimamente, com tantas “igrejas” e da forma que a sociedade caminha em direção à secularização, ou seja, uma sociedade polarizada e com tantas incertezas diante do futuro, tornou-se um desafio ainda maior para todos nós, cristãos católicos, falar de Maria.
No entanto, Maria continua sendo uma presença viva e forte no catolicismo, especialmente na realidade acima contextualizada. Devemos nos perguntar no atual contexto: estamos diante de um paradoxo? Muitos pesquisadores e mariólogos definem a momento presente como a “fenomenologia mariana”, sobretudo a partir das inúmeras expressões marianas encontradas no contexto atual, como consagrações, cercos marianos, movimentos e comunidades de vida e aliança com o carisma mariano, sem deixar de mencionar a devoção popular do povo brasileiro em relação a Nossa Senhora Aparecida.
Essa “ascensão” à espiritualidade mariana tem como grande responsável o Papa Pio XII, que procurou com muita veemência realçar a presença de Maria na vida e no pensamento cristão, com a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria (1942), a definição do dogma da Assunção (1950) e a celebração do Ano Mariano no centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição (1954).
Outro responsável pelo crescimento da devoção a Maria foi o Papa Paulo VI, que afirmou: “Maria é parte integrante da doutrina católica, de modo que não se pode ser cristão senão é mariano”, o que a Constituição Dogmática Lumen gentium já havia afirmado: “Maria é constitutivo dogmático da fé católica” (52).
Depois do Concílio Ecumênico Vaticano II, temos o magistério da Igreja presente em dois documentos de mariologia: a Exortação Apostólica Marialis Cultus, de Paulo VI, e a Encíclica Redemptoris Mater, de São João Paulo II.
Na Exortação Apostólica Marialis Cultus, Paulo VI apresenta Maria como modelo de atitude espiritual com a qual a Igreja celebra e vive os divinos mistérios. O Papa procurou mostrar a nota trinitária, cristológica e eclesial do culto de Maria com orientações bíblicas, litúrgicas, ecumênicas e antropológicas nas quais deve inspirar-se. O Papa ainda reafirmou o valor teológico e pastoral da piedade mariana.
Na Encíclica Redemptoris Mater, São João Paulo II não só apresentou Maria no seu itinerário de fé, mas a colocou de modo ativo e exemplar no caminho histórico da Igreja. É sob a luz dessa presença ativa, fundada na relação da mãe com o Filho e na ação do Espírito Santo, que se compreende a ideia da mediação materna de Maria. A partir da sua espiritualidade mariana (particularidade de São João Paulo II), o universo católico começou a viver segundo o modelo de discípula e missionária fiel ao projeto do Reino de Deus anunciado a priori por Jesus Cristo, que mais tarde foi confirmado pelo Documento de Aparecida.
No diálogo ecumênico, o Concílio Vaticano II apresentou Maria mais simples e a inseriu no mistério de Cristo e da Igreja. Paulo VI seguiu esta tendência e a colocou como Mãe da Igreja.
Nos meios populares, a presença de Maria é forte. Observando a vida devocional de muitos cristãos católicos, Maria, para muitas famílias, é refúgio e alento nos momentos de perda e sofrimento.
Entretanto, muitos ainda não compreenderam o verdadeiro sentido de ser mariano (cultivar uma espiritualidade mariana) e o culto que a Igreja presta a Maria e aos santos. Vale a pena lembrar: o culto de adoração é dado só a Deus e se chama latria. Aos santos o culto é de veneração e se chama dulia. A Maria a Igreja dá um culto especial, que se chama hiperdulia.
Por outro lado, muitos sabem conservar-se na verdadeira devoção mariana: ela é a mãe de Deus e nossa (Theotókos), no sentido de proporcionar novas luzes e novo sentido à luta dos homens e das mulheres à beira do desânimo. Ela é a Nossa Senhora (Imaculada Conceição) porque advoga em favor do povo, sobretudo dos indefesos e marginalizados. Senhora dos homens e das mulheres libertas. Ela ouve os clamores dos filhos e está ligada ao sofrimento humano: consoladora, Senhora das Dores, Senhora das Graças, auxílio dos cristãos…
No Brasil, temos muitas paróquias e comunidades dedicadas a Nossa Senhora. No cotidiano da vida eclesial familiar é comum haver algumas devoções e a devemos incentivar nas casas: a oração do santo Terço, novenas, ofícios, santo Rosário, o uso do escapulário, medalhas como expressão de fé e devoção, bem como a cadeia expressão de consagração perpétua. Para os aflitos e “escravizados pelo pecado” (vícios) ela é a mulher concreta, lutadora, a mulher profetisa do Novo Testamento, a discípula e missionária de Jesus Cristo, que proclama o Magnificat, a defensora da vida.