Avareza, não! É preciso cultivar um coração solidário

COMO IDENTIFICAR SINAIS DE AVAREZA E O QUE FAZER PARA TRANSFORMÁ-LA EM GENEROSIDADE COM A AJUDA AOS MAIS NECESSITADOS

Quando se trata de avareza, uma figura popular e representante nato de pessoas com essas características logo vem à mente: Tio Patinhas. O personagem criado por Walt Disney há quase oitenta anos tem em sua personalidade um traço marcado pelo apego excessivo ao dinheiro, caracterizando assim uma relação obsessiva com bens materiais. Mesmo na ficção e podendo até ser considerado um tanto estereotipado, o personagem marcou gerações pela fama de sovina, pão-duro, mão de vaca, mesquinho, entre tantos outros adjetivos. Na vida real, algumas dessas atitudes recorrentes devem ser observadas com cautela. Muitas vezes, a avareza camufla problemas psicológicos e pode até estar relacionada a casos de ansiedade e depressão. 

Para o psicólogo Francisco Medeiros Andrade, especialista em Gestalt-terapia, que é uma abordagem psicoterapêutica que se concentra na experiência do indivíduo, enfatizando a importância da consciência e da responsabilidade pessoal, a avareza causa impactos emocionais e relacionais. “A avareza pode ser um dos sintomas de transtornos emocionais. Na ansiedade, por exemplo, há medo constante de faltar algo no futuro, o que pode gerar acumulação e resistência à partilha”, explica. Já no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o apego obsessivo a objetos ou processos (como a necessidade de se sentir seguro) ou o medo de perder o controle leva a comportamentos compulsivos. “Na depressão, pode haver uma retração afetiva tão intensa que doar parece impossível – o mundo interno está empobrecido e envolto de muita melancolia, uma espécie de individualismo que força a pessoa só olhar para si e para o mundo de forma negativa. O padrão comum é o sofrimento silencioso e uma tentativa de compensação da dor causada, indo pelo caminho do acúmulo e da resistência”, ressalta Francisco.

As manifestações da avareza aparecem geralmente de forma sutil. Não se trata apenas de “não gastar dinheiro”, mas de reter, de criar uma proteção ao fluxo espontâneo da vida. “A pessoa avarenta evita partilhar tempo, afeto, atenção e recursos. Pode sentir culpa ou desconforto ao doar, oferecer ajuda ou gastar inclusive consigo. Há rigidez, controle e medo de perder, como se cada gesto de generosidade representasse um risco (irracional) existencial”, exemplifica o psicólogo.

Segundo ele, situações relacionadas ao sofrimento humano devem ser observadas e tratadas com cautela. A avareza frequentemente nasce de dores profundas, de que a própria pessoa pode não estar consciente: “Aqueles que passaram por privações afetivas ou materiais podem ter aprendido, muitas vezes inconscientemente, que dar é se arriscar a ficar sem. Não se trata apenas de egoísmo, mas de uma tentativa de autopreservação”. O comportamento, embora disfuncional, é uma defesa diante de traumas não elaborados: “Nesse sentido, como diz Carl Rogers, todo comportamento carrega uma intenção de adaptação. Nós podemos olhar o comportamento e chamá-lo de egoísta, mas o que vemos na prática clínica é que sempre há uma complexidade por traz, para além do julgamento”, explica Francisco. 

De acordo com ele, que atualmente é pós-graduando em mediação de conflitos, acumular pode ser uma tentativa de controlar o incontrolável. “Isso mascara um vazio existencial, ou seja, inconscientemente o indivíduo pensa ‘Se eu acumular, não precisarei me angustiar mais’. A pessoa transforma o bem material em um símbolo de proteção, poder ou identidade. A compulsão por guardar não é sobre riqueza, mas sobre segurança emocional”, ressalva.

Do ponto de vista psicológico, há um rompimento com o fluxo natural da vida e da convivência do dar e receber do outro. Quando o ego se fecha em si, desconectado da partilha, da confiança e da comunhão, há o adoecimento. “O ‘pecado’, nesse contexto, pode ser entendido como afastamento do outro e da própria verdade interna. A avareza endurece o coração e nos separa da graça da vulnerabilidade, que é muito importante para o desenvolvimento humano, enquanto o oposto, a generosidade, é caminho de saúde e reconexão”, afirma Francisco.

De fato, a avareza, é vista como pecado pela Igreja Católica. Ao entender as características espirituais e morais é possível trabalhar para superá-las e cultivar virtudes como a generosidade, a justiça e a compaixão, como explica o reitor e pároco Rivelino Nogueira, da Basílica Imaculada Conceição, localizada na cidade de Cruzeiro, em São Paulo: “A avareza pode levar a um afastamento de Deus, pois a busca incessante por riquezas e bens materiais se torna uma prioridade maior do que a relação com o divino”, diz. 

A Igreja enfatiza a importância da generosidade e da caridade quando a divisão de recursos ajuda e apoia aqueles que precisam. O gesto é visto como uma maneira de expressar amor a Deus e ao próximo. “A Igreja orienta que a relação com Deus deve ser a prioridade máxima na vida de uma pessoa. Isso envolve cultivar uma vida de oração, reflexão e serviço aos outros”, diz Padre Rivelino.

Cultivando dessa forma um coração grandioso, a generosidade se apresenta como uma virtude que pode transformar vidas e comunidades. Para o padre é importante entender que ela não se limita apenas a doações financeiras, mas também inclui doar tempo, habilidades e atenção: “Deslocar o foco de si para os outros, reconhecendo que a verdadeira felicidade muitas vezes vem de ajudar e servir, assim como praticar a gratidão pelo que se tem, reconhecendo que tudo é um dom, apreciar as bênçãos e oportunidades na vida e responder com generosidade”.

A doação, seja por meio de dízimo, roupas, objetos, alimentos, entre outros recursos, simboliza ofertas regulares à Igreja e a outras organizações caritativas. Destinar parte dos recursos financeiros para ajudar os necessitados, seja diretamente ou por intermédio de organizações de caridade, é essencial para desenvolver a generosidade. “Engajar-se em atividades de voluntariado em comunidades locais, paróquias ou organizações também é uma forma de grande doação”, afirma Padre Rivelino.

Segundo ele, participar dos sacramentos e orações transforma corações e a visão do que acontece ao redor: “Muitas vezes a avareza está implícita nos comportamentos e quando buscamos a Deus os nossos olhos e ouvidos se abrem”. Ele lembra que na Diocese de Lorena (SP) há várias pastorais sociais que estão voltadas ao serviço ao próximo, como a Pastoral do Povo de Rua, Vicentinos, Cáritas, entre outras. 

A Diocese de Lorena, localizada no interior do Estado, inclusive acaba de ganhar sua primeira basílica menor. O título foi dado à Igreja Matriz da Imaculada Conceição, em Cruzeiro, que seguirá com a arrecadação de cobertores todos os anos, especialmente durante a novena do Divino Espírito Santo. Semanalmente há a distribuição de sopas aos irmãos em situação de rua, realização de cafés da manhã aos domingos, doação de cestas básicas, entre outras ações. “Com certeza a vivência em comunidade faz com que as pessoas sejam mais solidárias, pois passam a conhecer a Palavra e assim se aproximam verdadeiramente de Jesus Cristo. Não há possibilidade de a pessoa servir a Deus sem antes servir àqueles que mais precisam”, compara o padre. A expectativa é seguir e criar novos projetos sempre com o olhar voltado para o social: “Iremos reafirmar o nosso compromisso com o social, visto que essa unidade da Basílica junto ao Vaticano vai também nos aproximar do Papa Leão XIV, que tem um olhar para as atividades sociais. No que depender de nós, continuaremos e criaremos novos projetos”, explica ele.

A fé e a psicologia são aliadas na cura da alma, tanto que a espiritualidade cristã convida ao desapego, à confiança, à partilha como caminho de salvação. “A psicologia ajuda a identificar o que impede essas vivências: medos, bloqueios, traumas etc. Quando caminham juntas, oferecem não só conselhos, mas transformação conectada à realidade existencial de cada um. A generosidade torna-se, então, fruto do amadurecimento psíquico e espiritual”, reforça o psicólogo Francisco Medeiros. A generosidade, portanto, pode ser cultivada, ou seja, aprendida, assim como todas as virtudes: “É preciso desenvolvê-las assim como um músculo que se fortalece exercitando na academia. A psicologia mostra que pessoas generosas relatam mais bem-estar, pertencimento e sentido de vida. Doar ativa áreas do cérebro ligadas ao prazer e à empatia e, espiritualmente, a generosidade nos aproxima de nossa vocação mais profunda: viver em comunhão com o outro”, conclui ele.

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