“Arraigado em Cristo, audacioso na missão!” A frase escolhida pelos claretianos para inspirar a vivência missionária nos dias de hoje poderia, com certeza, ser usada para falar sobre a inquietação que levou Antônio Maria Claret, em 1849, a começar uma nova história: a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria.
Conhecidos como claretianos, a Congregação Religiosa foi fundada em Vic, na Catalunha (Espanha), quando Antônio Maria Claret reuniu cinco companheiros para que, juntos, pudessem levar a Palavra de Deus pelo mundo. O jovem Claret, que teve sua santidade reconhecida pela Igreja em 1934, saiu da Espanha e começou a percorrer o mundo. Foi nomeado arcebispo de Santiago de Cuba e lá viveu uma experiência que o marcaria profundamente, opondo-se a situações de escravidão e miséria.
No Brasil, os missionários chegaram no ano de 1895. Em 2025, celebram 130 anos de sua presença no país. Nos primeiros anos, atuaram, principalmente, em cidades do interior do Estado de São Paulo, mas rapidamente expandiram-se, com a fundação de escolas, seminários, rádios, editoras e universidades.
Hoje, os Missionários Claretianos chegaram a mais de 60 países. No país, são conhecidos, sobretudo, pela atuação na educação, devido ao Colégio Claretiano e ao Centro Universitário Claretiano. A Editora Ave-Maria, criada e administrada pelo Instituto, é uma das mais antigas e tradicionais entre as editoras católicas, editando obras de espiritualidade, teologia e a difundida Bíblia Ave-Maria.
Presentes e atuantes nas comunidades brasileiras, especialmente no Norte e Nordeste, os missionários continuam a missão de Santo Antônio Maria Claret em diferentes lugares e contextos, também junto aos povos indígenas e populações ribeirinhas.
A centralidade do anúncio de Jesus, hoje!
Pe. Eguione Nogueira Ricardo, CMF, é o atual superior provincial da Congregação. Ele professou seus votos religiosos em 1 de fevereiro de 2009 e foi ordenado sacerdote em 25 de janeiro de 2014. Quando assumiu a missão como provincial, atuava como pároco e professor do Studium Theologicum em Curitiba, no Paraná.
Ao ser questionado sobre os desafios de anunciar Jesus hoje, ele apontou o fato de a sociedade contemporânea viver um tempo de constantes distrações, de desconfiança frente às instituições tradicionais, incluindo as religiosas, e, ao mesmo tempo, de uma intensa busca por sentido.
“O grande desafio da missão de anunciar Jesus é atualizar o Evangelho às novas linguagens, especialmente dos jovens, conectando aquelas palavras de sempre às dores e esperanças do nosso povo”, disse ele, que salientou o fato de haver muitas propostas religiosas que trazem consigo apenas a aparência de ‘cristãs’, mas nem sempre comunicam com autenticidade o Evangelho.
Para ele, “isso causa embaraço e até mesmo hostilidade quando se fala em anúncio de Jesus. Muitos não rejeitam Jesus, mas sim a forma como, por vezes, o apresentamos: distante, sem compaixão ou sem conexão com a realidade. Nosso desafio é ser presença, escuta e sinal de esperança, como nos ensinou muitas vezes o Papa Francisco”.
A questão da centralidade sobre a comunicação eficaz sobre quem foi e como viver Jesus também foi salientada por Padre Luís Erlin, Missionário Filho do Imaculado Coração de Maria, que é mestre e doutor em Comunicação Social e atual diretor-presidente da Editora Ave-Maria e da Revista Ave Maria.
“Vivemos numa época em que precisamos pensar qual Jesus devemos anunciar. Corremos o risco de anunciar um Jesus que se adapta a diferentes realidades e que só vai satisfazer as necessidades das pessoas, como acontece com várias entidades e realidades”, disse.
Padre Luís Erlin insistiu que todo missionário claretiano deve “fazer uma imersão verdadeira no Evangelho, com base na Palavra de Deus para, assim, anunciar Jesus encarnado”.
Um carisma mais que contemporâneo
“O carisma claretiano nasce do desejo profundo de ‘fazer com que Deus seja conhecido, amado, servido e louvado’, como nos ensinou Santo Antônio Maria Claret”, lembrou, em entrevista à reportagem, Padre Eguione.
Ele recordou a vocação da Congregação na Igreja que se baseia, sobretudo, no anúncio da salvação: “Em nossa Congregação, esse anúncio acontece com a evangelização, com ousadia profética, em diálogo com a cultura, na defesa da vida ameaçada e pela presença nas periferias”.
Em relação à espiritualidade, o sacerdote ressaltou que não se trata apenas de práticas devocionais, mas de um modo de estar no mundo, por meio da compaixão, do silêncio interior e do discernimento.
“A espiritualidade claretiana é centrada na escuta e anúncio da Palavra e na ternura do Coração de Maria, nos impulsiona a viver com simplicidade, alegria e coragem, mesmo em meio à correria e ao sofrimento cotidiano. É uma presença comprometida”, resumiu.
Padre Luís Erlin reforçou a atualidade do Carisma e do anúncio realizado por Santo Antônio Maria Claret: “Ele pensou numa congregação que evangelizasse por todos os meios possíveis. Pensando nisso, podemos afirmar que hoje temos tudo na mão, só precisamos saber por onde caminhar”.
Sobre a espiritualidade, ele salientou que hoje as pessoas buscam experiências religiosas, mas nem sempre anseiam pelo mesmo que a Congregação anuncia. “A sociedade está aberta às experiências e podemos ajudá-las a viver essas experiências a partir do anúncio de Jesus que acreditamos. Para nós, ele é o Caminho, a Verdade e a Vida”, enfatizou.
Novos ares para a Igreja!
Diante da eleição do Papa Leão XIV, que aconteceu recentemente, Padre Eguione mostrou-se esperançoso de que seja um papado que dê continuidade ao caminho da escuta, da sinodalidade e da proximidade com os pobres, tão intensamente promovido pelo seu antecessor, o Papa Francisco.
“O nome que escolheu evoca Leão XIII, que soube responder profeticamente aos desafios do seu tempo, marcado profundamente pela Revolução Industrial. Hoje, enfrentamos outra revolução: tecnológica. Os avanços que temos assistido nos últimos anos, especialmente com a inteligência artificial, terão impacto no mundo do trabalho e na maneira de nos relacionarmos. Que a Igreja continue sendo uma voz profética e de esperança, para que a cultura do descarte não prevaleça”, desejou.
O religioso recordou também as várias crises contemporâneas e as questões: ambiental, geopolítica, entre outras, que exigem da Igreja uma posição firme, especialmente em defesa dos mais vulneráveis. “A Igreja tem um papel vital na defesa da Casa Comum, no acompanhamento dos jovens, no cuidado dos mais pobres. A missão hoje inclui o cuidado com toda a vida e acredito que Leão XIV, conduzido pelo Espírito, saberá responder a esses desafios”, disse.
Ao lado da juventude!
Claret Way, experiências vocacionais, voluntariado, Jornada da Família Claretiana, ações missionárias e presença em escolas e redes sociais são alguns dos projetos desenvolvidos pelos missionários em diferentes lugares do país.
“Mais do que oferecer respostas prontas, queremos ser companheiros de estrada dos jovens, para que eles possam descobrir seu lugar na história de Deus”, explicou o Provincial.
Rota 130! É tempo de celebrar
Padre Eguione falou também sobre a Rota 130, uma ação pastoral que “tem sido um sopro do Espírito na vida da Província”. Desde o início do ano, duas imagens peregrinas, do Imaculado Coração de Maria e de Santo Antônio Maria Claret, têm percorrido as comunidades como expressão da missão claretiana no Brasil.
“Essa Rota [por ocasião da celebração dos 130 anos de presença no país] é um caminho de renovação vocacional e missionária que nos convida a escutar a história, discernir os sinais de Deus e reavivar o compromisso com o carisma que nos foi dado. A Rota 130 tem gerado encontros, testemunhos e celebrações”, contou.