“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz:
onde houver ódio, que eu leve o amor;
onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
onde houver discórdia, que eu leve a união;
onde houver dúvida, que eu leve a fé;
onde houver erro, que eu leve a verdade;
onde houver desespero, que eu leve a esperança;
onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
onde houver trevas, que eu leve a luz.”
(Oração atribuída a São Francisco de Assis)
“Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes.”
(Mt 25, 40)
Com o coração cheio de gratidão e reverência, elevamos uma prece de ação de graças pela vida e missão do Papa Francisco. Sua partida deixa um silêncio profundo na Igreja e no mundo, mas também ressoa como um eco luminoso do Evangelho vivido com coragem, ternura e profecia. O seu nome – Francisco – não foi apenas uma escolha simbólica, foi uma promessa e ele a cumpriu com fidelidade até o fim.
O Papa Francisco caminhou entre nós como um novo Francisco de Assis, configurado com Cristo em tudo, despojado dos títulos e dos excessos e ricamente revestido de compaixão. Como o pobrezinho de Assis, ele amou a criação com gratuidade, cuidou dos pobres com ternura e anunciou a paz com firmeza. Falava com a simplicidade dos humildes e agia com a ousadia dos profetas. Sua voz ecoou pelos becos das periferias do mundo clamando por justiça, por dignidade, por misericórdia. Seu coração estava sempre voltado aos “descartados”, aos “últimos”, aos que vivem nas margens da existência.
Mais do que isso: em Francisco de Roma, reconhecemos a transparência do próprio Cristo, o Bom Pastor que não se cansa de buscar a ovelha ferida. Assim como Jesus lavou os pés dos discípulos, Francisco, seguindo o exemplo do Mestre, lavou os pés dos encarcerados, abaixou-se diante da humanidade sofrida, tocou as chagas do mundo e não temeu sujar-se com a poeira do caminho. Seu pontificado foi uma demonstração viva do Reino de Deus. Recordemos suas palavra proféticas na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (49).
Seu legado não se encerra com sua morte, ele permanece. Permanece nos gestos silenciosos de milhões de cristãos que aprenderam com ele a ser uma “Igreja em saída”, nos ensinamentos sobre a ideia de que podemos sorrir, pois a alegria do Evangelho deve irradiar em nossos corações e transparecer em nossas faces; permanece nos jovens que descobriram que santidade e alegria podem caminhar juntas; permanece em cada paróquia que abriu suas portas aos pobres, em cada pastoral que se fez ponte e não muro; permanece no grito da “casa comum” e em cada pequeno cuidado com a coletividade da vida.
O Papa Francisco nos ensinou que o Evangelho não é uma doutrina fria, mas um fogo que aquece, que transforma, que desinstala e que nos sacode com a urgência do Reino. Ele nos lembrou que não existe fé verdadeira sem o olhar de compaixão, sem o compromisso com os últimos, sem a coragem de amar até o fim, como fez o Mestre de Nazaré – “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1-3). Ele nos reconduziu ao coração de Cristo e nos fez redescobrir a beleza do seguimento de Jesus como uma aventura de amor, de risco e de doação total.
Hoje, diante de sua memória, não nos resta senão agradecer. Obrigado, Papa Francisco, por ter sido farol na noite escura, pastor com cheiro de ovelha, irmão universal. Obrigado por ter carregado a cruz conosco e por ter nos ensinado que a cruz, quando carregada com amor, transforma-se em esperança. E agora, mais do que nunca, a nós cabe continuar esse caminho – com alegria, com coragem, com fidelidade.
Descanse em paz, Francisco. Em seu legado, a Igreja caminha com novo ardor. Em sua memória, florescerá a justiça. Em sua entrega, vemos mais uma vez o rosto de Cristo.