FRATERNIDADE E FOME: UM DESAFIO PARA TODOS

“DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER!” (MT 14,16)

33,1 milhões é o número de pessoas que passam fome no Brasil, segundo dados da pesquisa “Olhe para a Fome”, produzida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, divulgada em 2022. O mesmo subsídio aponta que mais da metade dos brasileiros (125,5 milhões) vivem com algum grau de insegurança alimentar.

A fome cresceu ainda mais entre as famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 9,4%, em 2020, para 18,1%, em 2022. Nos grupos familiares formados por três ou mais pessoas com até 18 anos de idade, a fome atinge 25,7%. Já em casas que possuem apenas moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.

Tais índices fizeram com que o Brasil voltasse ao Mapa da Fome das Nações Unidas em 2022. O levantamento, que não era realizado desde 2015 (quando o país esteve fora das estatísticas), mostrou que a fome crônica no território nacional atingiu  4,1% de pessoas, número acima de toda a média global.

FOME GEOGRÁFICA 

A pesquisa “Olhe para a Fome” também indicou que a falta de alimentos ocorre, sobretudo, nos Estados que correspondem às regiões Norte (45,2%) e Nordeste (38,4%) do Brasil. 

Além disso, a insegurança alimentar é uma realidade em mais de 60% dos domicílios das áreas rurais. Ao todo, 18,6% dessas famílias convivem com a fome. 

MAIOR ÍNDICE ENTRE AS MULHERES

Outro dado divulgado pela pesquisa é que seis de cada dez lares chefiados por mulheres sofrem com a insegurança alimentar. Nesse cenário, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Já nas residências em que homens são os responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%.

FRATERNIDADE E FOME

Atenta aos desafios impostos pela realidade da fome no país, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2023 “Fraternidade e fome” e o lema inspirado no Evangelho de Mateus 14,16 “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.

Esta é a terceira vez que a temática é abordada pela Igreja do Brasil na perspectiva da Campanha da Fraternidade. A primeira foi em 1975, com o tema “Fraternidade é repartir”’ e o lema “Repartir o pão”. Já a segunda ocorreu em 1985, sob a luz do lema “Pão para quem tem fome”.

A escolha da abordagem para 2023 surgiu após o 18º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Recife (PE), entre 11 e 15 de novembro de 2022, que teve como tema “Pão em todas as mesas”.

Em entrevista à Revista Ave-Maria, o Padre Patriky Samuel Batista, subsecretário adjunto-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, destacou a pandemia como um dos agravantes para a realidade da fome e da insegurança alimentar no Brasil, além de que, segundo ele, os principais desafios de trabalhar o tema no ambiente eclesiástico são a reflexão sobre a solidariedade entre os brasileiros, o acréscimo do desemprego no país e o alto número de alimentos desperdiçados diariamente. O sacerdote enalteceu a necessidade de conhecer com profundidade todos os aspectos que envolvem o assunto: “A partir do lema, nós revelamos em que direção queremos a transformação desse cenário. A Campanha da Fraternidade responde a essas consequências nos ajudando a sensibilizar a sociedade e a Igreja no enfrentamento do flagelo da fome por meio de compromissos que transformam essa realidade por meio do Evangelho de Jesus Cristo”.

Como parte da Campanha da Fraternidade 2023, no Domingo de Ramos, em 2 de abril, acontecerá a tradicional Coleta da Solidariedade. 60% do valor angariado irá compor o Fundo Diocesano de Solidariedade e os demais 40% serão destinados ao Fundo Nacional de Solidariedade. 

PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO

Fundada em 1983 pela médica sanitarista Zilda Arns, a Pastoral da Criança tem seu trabalho inspirado pelo Evangelho de João 10,10 “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” e com essa preocupação desenvolve programas voltados à alimentação saudável não só das crianças, mas de toda família.

A principal iniciativa ocorre por meio das hortas caseiras. Dessa forma, acontece a captação de líderes comunitários que dialogam com as famílias sobre a importância da alimentação saudável e, posteriormente, das famílias que farão o cultivo dos alimentos.

Para a Irmã Veneranda Alencar, da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, coordenadora nacional da Pastoral da Criança, um dos grandes riscos do aumento da fome no Brasil é o de que essa realidade se torne algo indiferente para outras pessoas: “A missão da Pastoral da Criança sempre foi e será lutar por vida plena para as crianças e famílias mais vulneráveis de nossa sociedade. A Campanha da Fraternidade 2023 nos impacta, pois a fome aumentou muito nos últimos anos e é dever do cristão fazer algo por elas. A pastoral abre portas e janelas, abre caminhos e oportunidades para que as famílias possam ir ao encontro de sua transformação”.

Seja voluntário ou faça sua doação para a Pastoral da Criança: acesse pastoraldacrianca.org.br.

PARA OS POBRES
Criado para se aproximar da realidade de vulnerabilidade social, à luz do carisma de São Francisco de Assis, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) ampliou, nos últimos anos, o intenso trabalho de combate à fome, sobretudo para os grupos formados por migrantes e refugiados, idosos, crianças, população em situação de rua e hansenianos.

Por meio da disponibilidade de refeitórios, doação de insumos e marmitas, diariamente 3 mil refeições são distribuídas pelo serviço nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Para garantir a sustentabilidade da ação, o Serviço Franciscano de Solidariedade conta com uma equipe destinada à captação de recursos, além de parcerias com empresas privadas, poder público e pessoas físicas.

Para o Frei José Francisco, diretor presidente do Serviço Franciscano de Solidariedade, a escolha do tema da Campanha da Fraternidade 2023 representa a busca por respostas sobre o porquê de o Brasil, mesmo com tantas riquezas e sendo tradicionalmente um país cristão, ainda enfrenta tal problemática e em tão grande escala. “A Campanha da Fraternidade é para nós uma grande aliada, pois, além de sensibilizar as pessoas sobre o tema, ela também fortalece e ilumina de forma mais ampla a Igreja, levando toda a comunidade a refletir sobre o desafio da fome”, comentou Frei José.

Colabore com o Serviço Franciscano de Solidariedade por meio do site sefras.org.br ou pela central de doações: (11) 3795-5220. 

OLHAR ATENTO
Aos 9 anos, quando ainda morava na Comunidade do Jaguaré, zona oeste de São Paulo (SP), Vera Santos deu início a um trabalho de distribuição de alimentos às famílias que viviam em situação de vulnerabilidade social. Mesmo com tão pouca idade, ela já dialogava com os comerciantes locais na tentativa de conseguir os mantimentos necessários para garantir a alimentação dos vizinhos.

Aos 22 anos, ela se mudou para a Favela do Sapé, no bairro Rio Pequeno, também na zona oeste, e deu continuidade à iniciativa de entrega de alimentos e cestas básicas. Atualmente, a líder comunitária, em parceria com voluntários da própria comunidade, é responsável pelo atendimento de mais de mil famílias. 

Além da Favela do Sapé, outras comunidades do entorno são contempladas pelos mantimentos. As doações são na maioria realizadas por comerciantes e pessoas que conhecem a ação. Vera contou que dá especial atenção aos idosos e mães solos e que, por vezes, a entrega dos mantimentos acontece em sua própria casa. 

Ela, que é mãe de sete filhos e os criou sozinha, afirmou que o principal sentimento é o de gratidão, mesmo com todas as dificuldades. Vera se sente feliz em poder ajudar tantas pessoas e por ser reconhecida como um ponto de acolhida entre todos os moradores da comunidade.

Faça a sua doação: (11) 98499-3591.

ENTENDA OS NÍVEIS DE INSEGURANÇA ALIMENTAR

Insegurança alimentar leve: quando existe a preocupação ou a incerteza sobre o acesso aos alimentos no futuro; queda na qualidade ideal dos alimentos, provocando a elaboração de estratégias que garantem a alimentação cotidianamente.

Insegurança alimentar moderada: quando acontece a redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos ou cancelamento dos padrões de alimentação.

Insegurança alimentar grave: quando a redução quantitativa de alimentos ocorre também entre as crianças, ou seja, quando a falta de alimentos atinge todos os moradores do domicílio.

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