Estimado leitor da Revista Ave-Maria, começo nossa reflexão mensal de julho propondo um olhar atento e evangélico aos nossos encontros com as pessoas que partilham suas histórias de alegria e tristeza, mas também uma oportunidade de salvação.
O primeiro momento da nossa atitude evangélica é o ENCONTRO (koinonia), que é a acolhida para integrar as pessoas, fazendo com que elas sejam devidamente recepcionadas e se sintam à vontade durante a nossa conversa. Koinonia é uma palavra de origem grega, que significa “comunhão”. É citada 115 vezes na Bíblia, sendo 87 vezes apenas pelo apóstolo Paulo em suas epístolas. Entre os cristãos, esse termo é frequentemente usado para expressar companheirismo, comunicação, compartilhamento, ter em comum, participação e cooperação para com Deus e o próximo.
A primeira referência à koinonia surge em Atos dos Apóstolos (cf. 2-42): “Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações”. Koinonia também é uma palavra bastante utilizada nas bênçãos apostólicas paulinas, referindo-se à COMUNHÃO que devemos ter com o Espírito Santo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (cf. At 13,13).
Deus é Trindade (Pai Criador, Filho Redentor e Espírito Santo Santificador), mistério central da nossa fé e vida cristã (cf. Catecismo da Igreja Católica, 261), e a Santíssima Trindade é a mais perfeita expressão de comunhão e de comunidade. É amor pleno: “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (cf. 1Jo 4-8).
A Igreja é uma comunhão de vida com Deus em Jesus Cristo, expressa externamente por uma comunhão de amor entre os irmãos e irmãs. A união com os irmãos e irmãs é um sinal sacramental da nossa comunhão com Deus e deve ser um reflexo do amor e da união existente no seio da Trindade.
O conceito de família e de comunhão é essencial para compreendermos a vida cristã na nossa família, na sociedade e nos grupos sociais, sempre partindo de Deus como Trindade. E uma das maneiras de termos comunhão com as pessoas é passando tempo com elas. Jesus sabia disso muito bem, por isso se dedicou a estar junto de seus discípulos.
Como pessoas que receberiam a autoridade de proclamar o projeto de Jesus e toda a responsabilidade de abraçar esse projeto, os discípulos certamente necessitariam passar tempo com Jesus para conhecerem Sua pessoa, Seus ensinamentos, Sua obra e Sua missão. Por isso, Jesus os escolheu para que estivessem com Ele. Estar juntos gera intimidade e forma comunidade.
Se quisermos ter comunhão com as pessoas, precisamos passar tempo com elas. Para conhecermos alguém em sua intimidade, temos que nos disponibilizar a estar junto a ela. Não há comunhão sem investimento de tempo.
E o ENCONTRO na nossa família é o primeiro momento da acolhida e da comunhão fraterna para mostrar a nossa alegria de ser uma comunidade cristã junto com outras pessoas que querem seguir Jesus de uma maneira entusiasmada, assim como os primeiros cristãos.
É importante que exista essa alegria, pois quem de nós gostaria de participar de uma comunidade infeliz e negativa? Um lanche simples com quebra-gelo dinâmico e divertido ou até mesmo um bom papo ajudam a tornar esse momento acolhedor, permitindo que as pessoas se sintam cada vez mais à vontade: “Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações” (cf. At 2,42).
A fé em Deus Trindade nos remete a viver em comunidade. Assim como há uma íntima comunhão entre as três Pessoas da Trindade Santa, nós, feitos “à sua imagem e semelhança” (cf. Gên 1,26-27), somos convidados a viver esta mesma comunhão entre nós, inseridos na comunidade de fé e comprometidos com a construção do Reino de Deus, objeto do anúncio e do serviço de Jesus Cristo.
A “perfeita comunidade” nos chama à santidade e a perceber os “vestígios” de Deus Trino em nós. Vestígios da Trindade é um termo usado por Santo Agostinho para afirmar que Deus Trino, na criação, deixou suas marcas “digitais” em nós, no mundo e na face da Terra. Tudo respira Deus, tudo se move em Deus e tudo volta para Deus, pois tudo Dele procede, assim como o Filho procede do Pai e o Espírito procede do Pai e do Filho. Da Trindade viemos, nela nos movemos e para Ela nos destinamos pelo plano de salvação revelado por Jesus.
A comunhão exige uma relação saudável e madura entre as individualidades de cada pessoa, pois a comunhão, na verdade, não significa aniquilamento da individualidade, mas enriquecimento dela à luz do amor verdadeiro, que harmoniza e equilibra as diferenças. Quando isto não acontece, não existe comunhão, mas sim exploração e instrumentalização do outro. A comunhão tem por base a liberdade e a complementariedade. Nos doamos e acolhemos o outro numa mútua relação.
E esta comunhão plena de vida deve ser o objetivo e a meta para onde tudo se encaminha. Para viver a dinâmica santificante da comunhão, não basta fazer parte de um grupo de pessoas que vivem conjuntamente, nem mesmo ter os mesmos objetivos, pois, mesmo assim, os interesses ainda podem ser individualistas. A vivência da comunhão, cujo modelo é a Trindade Santa, exige amar como Jesus ama, um amor de gratuidade e doação.
O mandato de Cristo é nítido para todos os que anseiam pela comunhão verdadeira: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35).