Por uma educação efetiva: construindo a saúde mental e espiritual das crianças

POR UMA EDUCAÇÃO EFETIVA: CONSTRUINDO A SAÚDE MENTAL E ESPIRITUAL DAS CRIANÇAS

O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, é uma data que convida à reflexão sobre a importância do bem-estar mental e espiritual, especialmente entre as crianças e jovens. Em uma sociedade cada vez mais acelerada e exigente, garantir que as novas gerações cresçam saudáveis e equilibradas é um desafio que requer atenção e dedicação. Ao promover a saúde mental e espiritual das crianças é possível construir uma sociedade mais saudável, equilibrada e compassiva. Muitas vezes, o processo começa dentro de casa, com acolhimento, escuta e solidariedade.

O casal Jeandré Clayeber Castelon e Suelen Crisleine Sarturi Castelon, cooperador do Serviço à Vida da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) e catequistas, tem se dedicado há dois anos ao projeto que visa à promoção e à defesa da vida desde a concepção até o fim natural. Jeandré, bacharel em Teologia e mestrando em Direito Pastoral, e Suelen, que se dedica à catequese de noivos, moram em Cascavel, no Paraná, e estão à frente do Serviço à Vida nacional após seis anos de atuação no Serviço à Vida do Regional Sul 2 (Paraná). 

A missão do serviço é promover a “cultura de vida” (defendida de forma enfática por São João Paulo II, enquanto Papa, na Carta Encíclica Evangelium Vitae) que valoriza cada pessoa como um dom de Deus, buscando promover, defender, cuidar e conscientizar a sociedade sobre a importância da família e da vida, de maneira também que cada um posso viver dignamente, tendo acesso a políticas públicas de qualidade em prol do bem comum. O Serviço à Vida busca oferecer apoio e orientação às famílias para cada um de seus membros em todas as etapas da vida. É presente em todos os regionais do Brasil, com ações adaptadas às realidades locais, especialmente durante a Semana Nacional da Vida, de 1º a 7 de outubro, culminando no Dia do Nascituro, em 8 de outubro. Em 2024, o tema da semana é “Idosos, memória viva da nossa história!”.

Jeandré e Suelen destacam a importância de um ambiente escolar acolhedor e inclusivo para o desenvolvimento integral das crianças: “As escolas devem ser espaços onde as crianças se sentam seguras e valorizadas. Isso inclui não apenas o aspecto físico, mas também o emocional e o espiritual”, afirmam. O casal acredita que práticas como atividades físicas e programas em família, com o uso limitado de tecnologia, contribuem não só para o estreitamento dos laços familiares, mas também para evitar riscos à saúde mental de crianças e jovens. “Temos dois filhos, um jovem de 18 anos e um adolescente de 15 anos. Esse tema nos preocupa, especialmente pelo amplo acesso ao mundo digital”, dizem. Eles alertam para os riscos do isolamento e do uso excessivo de tecnologias, que podem levar ao agravamento de quadros de ansiedade e depressão, como apontam alguns estudos. “É muito importante que os pais ou responsáveis estejam sempre presentes na vida dos filhos, conversando, ouvindo e demonstrando amor e carinho. Para situações mais preocupantes, buscar a ajuda de um profissional, como um psicólogo, é fundamental”, concluem.

Um programa internacional de ajuda a crianças, adolescentes, jovens e adultos e o apoio para compreenderem o sentido de sua sexualidade e fertilidade como parte do desenvolvimento pessoal em suas dimensões física, espiritual, intelectual, emocional e social é a missão do Teen Star, como explica Fabiana Azambuja, mestra em Estudos da Linguagem e diretora nacional do Programa Internacional de Afetividade e Sexualidade Para Amar e Ser Amado Teen Star há treze anos. “O Teen Star acredita que nada se educa sem dedicação de tempo, sem relacionamento interpessoal, sem atravessar crises e sem amor”, afirma.

O programa, que chegou ao Brasil em 2013 e já é aplicado em mais de cinquenta países, cria ambientes adequados para o desenvolvimento integral de seus participantes. Para isso é oferecido um processo formativo para o educador Teen Star, que garante a qualidade da interação educador-educando. “Não nos vemos diante de um problema, mas de uma pessoa em um momento de sua vida e queremos acompanhá-la”, diz Fabiana. Ela destaca que a educação deve partir da dimensão física, promovendo o encontro da pessoa consigo e com o outro, ensinando ética, amizade e acompanhando o crescimento da identidade.

Fabiana também ressalta a importância de educar o “olhar” para ver a pessoa em todas as suas dimensões. “A pandemia trouxe a limitação de ver a necessidade da saúde mental, mas se trata sempre de se aproximar da pessoa de forma integrada”, explica. Ela acredita que a relação entre pais e filhos é o primeiro antídoto para promover a saúde pessoal. “O âmbito familiar deve ser um lugar adequado para perguntas como: ‘O que está acontecendo contigo?’, ‘O que está acontecendo na sua vida? Com seus amigos?’”, sugere.

Para Fabiana, a comunicação interpessoal é fundamental: “Nas relações entre pais e filhos é preciso estar atento ao acolhimento de projetos e iniciativas que ambos trazem. A comunicação deve nutrir a vida familiar, no perdão e na adaptação”. Ela também destaca a importância de aceitar e conhecer a realidade pessoal para lidar com traumas: “Ajudar crianças e adolescentes a partir desses momentos de tensão pode abrir oportunidades de crescimento pessoal e relacional”.

Mestra em Estudos da Linguagem, Fabiana enfatiza que uma autêntica espiritualidade é baseada no amor e na valorização de cada pessoa como um dom de Deus e compartilha uma visão profunda sobre a importância das relações interpessoais e da espiritualidade no cotidiano. “Nesta trilha e tríade do amor, a pessoa humana pode, nas ações do seu dia a dia com pessoas concretas, refletir essa espiritualidade de forma encarnada”, afirma.

Ela cita ainda a importância do amor, do perdão e do serviço nas relações familiares: “Amem seus filhos, perdoem seus filhos e sirvam a seus filhos. Aos filhos, ensinem a amar, a perdoar e a servir de acordo com sua faixa etária, no momento da vida em que eles estão e não em que vocês estão ou gostariam que eles estivessem”, aconselha. Fabiana sugere que os pais devem olhar para seus filhos por sessenta segundos antes de agir para realmente entender suas necessidades e contextos. Essa abordagem, de acordo com a profissional, ajuda a criar um ambiente familiar saudável e propício ao desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, preparando-os para enfrentar os desafios da vida moderna com equilíbrio e sabedoria.

Já Danielle Gonçalves Lopes Adão, psicóloga e especialista em Psicologia Clínica e Psicanálise com formação em Terapia Sistêmica da Família, compartilha sua preocupação com a saúde mental de crianças e adolescentes na atualidade. Ela observa que, embora os casos de violência extrema, como assassinatos em escolas, sejam mais comuns em países como Estados Unidos e Canadá, no Brasil o sofrimento mental também é alarmante, manifestando-se em casos de suicídio entre jovens devido ao bullying e agressões e destaca que as agressões verbais causam danos tão significativos à saúde mental das crianças e adolescentes quanto qualquer outra forma de violência física e que as consequências perduram na vida adulta. “Tudo acontece na infância. Não é apenas a formação de identidade, mas a personalidade também acompanha ao longo da vida adulta e as consequências, com certeza, também aparecem no futuro”, explica Danielle.

Para a psicóloga, o papel dos pais, tutores e responsáveis é crucial para uma educação efetiva e enfatiza a importância de um ambiente de apoio e confiança para as crianças e adolescentes, onde elas possam expressar suas dificuldades e encontrar orientação adequada para enfrentar os desafios da saúde mental. “Primeiramente, é preciso ouvir, acolher e orientar essas crianças no sentido de encorajá-las a denunciar, a falar, a se proteger dessa situação de bullying”, enumera. Ela enfatiza a importância de uma relação de confiança entre pais e filhos, que deve se estender também a escola e a outros ambientes sociais.

Danielle acredita que a fase mais crítica em relação ao bullying e sofrimento mental se passa na transição da fase da infância para a adolescência: “É o momento das novas descobertas e transformações, tanto físicas quanto mentais que acontecem e marcam aquele indivíduo”. Durante essa fase é essencial que os adolescentes aprendam a lidar com suas questões e necessidades, tornando-se mais responsáveis. Ela enfatiza que é crucial haver diálogo em casa. “Estabelecer uma relação de confiança e acolhimento, escuta com esse filho, é fundamental”. Aconselha os pais a orientar e acolher seus filhos de forma que os traumas não se tornem marcas permanentes: “O pior de tudo é segurar, é guardar para si, deixar essas situações como segredos, aí as consequências futuras são enormes, resultando em traumas que perduram pela vida adulta”, alerta.

Danielle acredita que a psicoterapia é uma ferramenta valiosa na ajuda à saúde mental: “Penso que a psicoterapia ajuda bastante nesse processo, principalmente na transformação da infância para a adolescência nesse jovem adulto. Acho que o papel da psicoterapia nesse sentido é muito valioso, além do apoio familiar, que é fundamental”. Ela também ressalta a importância de as escolas terem um olhar cuidadoso e apurado: “É necessário pesquisar escolas que realmente têm uma cultura voltada para uma educação de qualidade e humana”, sugere. 

Para Danielle, os pais devem ser a fonte de acolhimento e segurança para seus filhos: “Uma boa conversa, orientação para que eles estejam sempre por perto dos seus filhos”, recomenda. 

Ela conclui que o papel dos pais na influência da saúde mental dos filhos é de acolhimento, escuta, orientação e apoio: “Apoiem sem ser omissos, sem fingir que nada está acontecendo, sem diminuir os sentimentos e as ‘dores’ que as crianças trazem”, enfatiza Danielle, que explica também que a união dos fatores culturais, espirituais e familiares é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças: “Acreditar em algo maior, ter fé em algo, isso influencia muito a vida do indivíduo, faz com que ele tenha um objetivo de vida, um sopro de esperança e isso é muito importante no processo”.

Facebook
WhatsApp
Email
Imprimir
LinkedIn