JOSÉ TRANSMITE A JESUS UMA PROFISSÃO
E UMA IDENTIDADE SOCIAL
É certo que o Matrimônio com Maria e a paternidade sobre Jesus definem José nos evangelhos, mas a expressão do trabalho é também um destaque de sua pessoa. Jesus recebe muito de José: a identidade de filho de Davi, de herdeiro dos patriarcas, a messianidade prometida pelos profetas etc. E herda, também, uma profissão, uma identidade social. O Talmude da Babilônia, que é uma coleção de pensamentos e máximas do mundo de Israel, afirma: “Quem não ensina ao filho uma profissão, ensina-o a ser ladrão!”. E Jesus é reconhecido como “filho do carpinteiro” em Mateus 13,55 e “carpinteiro” em Marcos 6,3. Isso remete a José, seu pai.
O Papa Francisco recorda que a Igreja argumenta de modo muito sério sobre o trabalho. José é uma imagem forte de trabalho, sendo até valorizado no dia 1º de maio, Dia do Trabalho, como modelo dos operários. Note-se que, em alguns países de ideologia e governo materialista/marxista, esse dia é praticamente o mais importante do ano. O Papa Pio XII, percebendo isso propôs que nesse dia se celebrasse São José, modelo e estímulo dos trabalhadores: é a memória de São José Operário, em 1º de maio.
O trabalho é uma urgente questão social. Um crescente desemprego e a diminuição do bem-estar levam a reconsiderar o significado dele. Ele é uma participação na obra da criação e da salvação, uma oportunidade de estar de alguma forma no mundo, com uma identidade social, um lugar e uma função. Segundo Francisco, quem trabalha colabora com Deus. É um modo de se realizar como pessoa e criar uma história. É também o lugar de onde se tira o sustento para uma família. Ao faltar o trabalho, uma família pode entrar em crise, em tensões e divisões.
Para Francisco, a crise da atualidade pode ser superada com a redescoberta do valor do trabalho e de quem trabalha. O ato de trabalhar cria uma “normalidade” na vida da pessoa que a inclui na sociedade.
São José, o carpinteiro, é uma fonte de inspiração para o significado do trabalho.
As revoluções socialistas e os governos que delas surgiram valorizaram o trabalho quase como uma religião, mas não deram a atenção devida para quem trabalha. E quem trabalha tem de saber que não está sozinho, em busca de dinheiro, mas também em relação com a natureza, a sociedade, os demais que o cercam. No trabalho, a pessoa se define e é conhecida. José é definido pela sua paternidade sobre Jesus e por seu trabalho de carpinteiro, que traduz a palavra “tékton”, que indica operário manual, habilidoso em múltiplas situações, incluindo a madeira, o que leva ao “carpinteiro”. Imagine-se José buscando trabalho em Nazaré, em cidades vizinhas, levando Jesus consigo, ensinando-o a ter uma profissão e a transformar os objetos, tornando-os possíveis de uso.
Papa Francisco expressa intensa preocupação quanto às situações advindas da pandemia do novo coronavírus que geram desemprego, fome e dependência, bem como agravam as crises políticas, sociais, familiares. Se não houvesse a acumulação de bens em poucos, haveria mais bens para ser partilhados. Se houvesse mais interesse e planejamento, haveria mais trabalho e possibilidades de vida e de crescimento.
Francisco expressa um desejo e faz um apelo que é uma oração: “Peçamos a São José Operário que encontremos vias nas quais nos possamos comprometer até se dizer ‘Nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!’”.