Setembro Amarelo: fé, ciência e humanidade na valorização da Vida

Cannobio, Itália. A manhã parecia tranquila até que, dentro da paróquia, foi encontrada, sem vida, a figura de Padre Matteo Balzano, 35 anos, um sacerdote que vivia seu ministério dedicado aos jovens da comunidade. Os sinos tocaram uma ausência súbita. “Era um arco-íris depois do temporal”, lamentaram os jovens paroquianos em tom emocionado.

São Paulo, Brasil. Em outra cena, completamente diferente, mas dolorosamente semelhante, a família de Pedro Henrique, 14 anos, recebeu uma mensagem com o aviso de despedida. Um estudante negro, gay e bolsista de um tradicional colégio da capital paulista, Pedro lutava contra o bullying e a exclusão.

Se há uma linha que conecta essas duas histórias, ela pulsa na urgência de prevenir que mais vidas sejam interrompidas antes que o silêncio e a desesperança se instalem.

O Brasil vive uma escalada alarmante nos indicadores de suicídio e tentativas autolesivas: em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações resultantes de intenção deliberada de autolesão, uma média de 31 casos por dia – um aumento de mais de 25% em relação a 2014. 

Entre 2011 e 2022, ocorreram 147.698 suicídios, com um aumento médio anual de 3,7%. Entre os jovens de 10 a 24 anos, os números subiram mais ainda: o suicídio cresceu 6% ao ano e as autolesões, 29% 

Os números podem ser ainda mais preocupantes, pois se estima que a cada suicídio ocorram por volta de 25 tentativas. Mesmo que o tema seja difícil, cercado de silêncio e preconceito, é essencial que seja abordado, pois se trata de uma das principais causas de morte entre jovens no Brasil e no mundo. 

No mês de setembro, a campanha Setembro Amarelo busca ampliar o diálogo sobre prevenção e valorização da vida. Para entender como fé e ciência podem contribuir, a Revista Ave Maria ouviu o teólogo Oscar Maldonado, professor no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP, e a psicóloga Aline Lima Carvalho, especialista em promoção da saúde mental. Os dois casos recentes citados neste texto, o do jovem sacerdote italiano e o de um estudante brasileiro, ajudam a ilustrar o tamanho do desafio.

UM DOR QUE ATRAVESSA A IGREJA

De acordo com o teólogo Oscar Maldonado, dentro de uma perspectiva ampla, pode-se dizer que “Há um princípio fundante, essencial, que acolhemos como profissão de fé: Deus é Criador e Senhor de todas as criaturas e, de modo particular, de cada ser humano. Parafraseando Santo Irineu, diríamos que a maior glória de Deus é que suas filhas e filhos vivam em plenitude. O Deus Encarnado, Jesus Cristo, ao anunciar o Reino de seu Pai enfatizou que veio para que todos tenhamos vida em abundância. A negação da vida em qualquer circunstância deveria nos fazer pensar no nosso Deus Criador e Pai. A vida é um dom que recebemos como a expressão amorosa e criativa de Deus”. Por isso, Oscar afirma que “A morte antecipada, morte descuidada, a morte acidental, o suicídio como expressão de desespero ou até mesmo de um sofrimento extremo que leva a pessoa a não ter mais discernimento do que seja a vida plena é lamentável e lamentada, não apenas pelos familiares, mas deveria ser também por toda a sociedade”.

Ele lembra que, no passado, a Igreja tinha uma postura mais dura, mas hoje a visão pastoral é outra: “O Catecismo da Igreja Católica reconhece que perturbações psíquicas graves ou sofrimentos extremos podem diminuir a responsabilidade do suicida. A misericórdia de Deus pode alcançar até quem se despediu da vida de forma trágica”.

O PESO DO SILÊNCIO NAS ESCOLAS

No Brasil, o suicídio do estudante Pedro Henrique Oliveira dos Santos, de 14 anos, no Colégio Bandeirantes, em São Paulo (SP), gerou grande repercussão. Negro, gay e morador da periferia, Pedro era bolsista e relatava episódios de bullying. Pouco antes de se despedir da vida, deixou uma mensagem em que denunciava seu sofrimento.

Colegas organizaram manifestações pedindo mais atenção ao combate à discriminação. A família criticou a falta de medidas concretas da instituição. 

Um estudo recém-publicado pelo Journal of Child Psychology and Psychiatry indicou que adolescentes entre 12 e 15 anos que sofrem bullying na escola apresentam risco até três vezes maior de tentar o suicídio. 

O levantamento, realizado no Reino Unido, indica que na faixa etária de 11 a 16 anos pelo menos 17% dos adolescentes vítimas de bullying consideram tirar a própria vida para fugir da perseguição. Além disso, 78% afirmaram que o problema causa ansiedade e pode fazê-los perder noites de sono. Os novos dados ainda mostram que 57% das crianças já sofreram bullying em algum momento da vida escolar e 74% testemunharam alguém sendo intimidado. 

Aline Lima Carvalho explica que quando alguém tira a própria vida na maioria das vezes é porque “A pessoa foi vítima de exclusão e não encontrou acolhimento suficiente no espaço onde deveria se sentir protegida”.

A psicóloga reforça que os jovens estão entre os mais vulneráveis, bem como idosos e pessoas socialmente isoladas: “Não podemos banalizar o sofrimento, chamando-o de falta de fé ou ocupação. É preciso validar a dor de quem sofre e buscar ajuda profissional”.

ENTRE A PONTE E O RIO, A MISERICÓRDIA

Se a psicologia aponta a urgência de acolhimento e tratamento, a fé recorda que a vida é sagrada. O Papa Francisco já afirmou que o suicídio “seria como fechar a porta à salvação”, mas, acrescentou: “Tenho consciência de que nos suicídios não há plena liberdade. Ajuda-me o que o Cura d’Ars disse à viúva cujo esposo se suicidara: ‘Senhora, entre a ponte e o rio está a misericórdia de Deus’”.

Para Maldonado, a frase é um convite a olhar para os que sofrem com mais compaixão: “Quando alguém decide pôr fim à sua vida não é apenas uma derrota pessoal, mas social. Famílias, escolas, igrejas e políticas públicas saem derrotadas diante de uma vida perdida”.

REDES SOCIAIS E O VAZIO DO IMEDIATISMO

Um recente relatório do grupo de defesa dos direitos da criança KidsRight revelou recentemente que o uso excessivo das redes sociais alimenta o problema de saúde mental entre crianças e adolescentes.

De acordo com o estudo, publicado no dia 11 de junho, uma em cada sete crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos sofre com algum desafio relacionamento à saúde mental. A pesquisa foi feita pelo grupo, com sede em Amsterdã, e pela Universidade Erasmus de Roterdã, ambos na Holanda.

Tanto o teólogo quanto a psicóloga apontam que a sociedade atual, marcada pela pressa e pela exposição digital, intensifica o sofrimento. “A vida real parece estar a serviço do virtual. O importante não é caminhar descalço na praia, mas postar a foto nas redes. Isso gera um vazio e uma solidão que podem ser fatais”, alerta Maldonado. A psicóloga concorda: “Com a superexposição, o espelho passa a ser a vida editada do outro. O jovem deixa de reconhecer sua própria valia e isso pode agravar quadros de ideação suicida”.

CAMINHOS DE ESPERANÇA

Apesar da gravidade do problema, há saídas possíveis. Para Aline, o primeiro passo é simples: escutar. “É preciso criar ambientes de acolhimento, sem julgamentos, onde o sofrimento seja levado a sério. A busca por atendimento especializado é essencial”, disse ela.

Maldonado reforça o papel da fé: “Uma espiritualidade saudável nos ajuda a perceber que cada ser humano é sagrado. Quando nos enxergamos como filhos e filhas de Deus, aprendemos também a cuidar uns dos outros”.

Os casos do Padre Matteo e do estudante Pedro mostram que o suicídio não escolhe idade, nem vocação, nem classe social. Ele é um grito de dor em meio a uma sociedade que, muitas vezes, não sabe escutar.

“Quando um ser humano decide pôr fim à própria vida, a sociedade é a grande derrotada”, afirma Maldonado. Aline completa: “Não se trata de culpabilizar, mas de assumir que todos temos responsabilidade em criar redes de apoio”.

Se você ou alguém que conhece está em sofrimento, procure ajuda. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende gratuitamente pelo telefone 188 ou em no site cvv.org.br.

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