O mês de agosto é, na Igreja, dedicado às vocações. A cada semana, diferentes formas de vida são recordadas e celebradas. A vocação à paternidade, à vida sacerdotal e religiosa, à vivência da missão como leigo ou leiga consagrada ou catequista. Em todas elas, a Igreja salienta o caminho do ser humano a realizar dentro dos projetos de Deus.
A realização da própria vocação é um caminho de felicidade e bem comum.
Mayhara Arnoni da Silva, 16 anos, é estudante do ensino médio e participa da Paróquia Santa Joana D’Arc, em Santo André (SP), cidade em que nasceu. A jovem faz um acompanhamento vocacional com as irmãs scalabrinianas e contou à reportagem como vive a busca por conhecer a própria vocação. “Todos nascemos com uma vocação, um chamado de Deus, principalmente a vocação universal à santidade, porém, existem pessoas que são convidadas a viver mais perto de Jesus, seguindo os ensinamentos do Evangelho e a missão. Dentro dessa vocação há a vida consagrada”, explicou Mayhara, que salientou, ainda, que vê a consagração como uma resposta ao Batismo de forma plena.
SENTIDO PARA A VIDA
Padre Ricardo de Albuquerque, cmf, 40, é natural de Igaci (AL) e mora em Campinas (SP), onde é secretário da Pastoral Juvenil Vocacional claretiana e vigário da Paróquia Nossa Senhora do Rosário. “Os jovens, hoje, estão com o coração inquieto e buscam encontrar um sentido para suas vidas. A maioria deles compreende a própria existência como doação e entrega aos outros. Muitos já passaram por experiências significativas, como namoro, curso universitário, ingresso no mercado de trabalho. Essas experiências foram importantes para o amadurecimento humano e para o discernimento vocacional deles”, disse o padre.
Ele observou que os jovens que buscam o acompanhamento vocacional claretiano tem entre 15 e 35 anos e que existem alguns passos que podem ser dados quando alguém está em busca do sentindo da vida, sobretudo quando se trata da vocação sacerdotal ou religiosa consagrada (confira os cinco passos no box).
“A vocação religiosa é uma maneira de viver o Batismo e de buscar a santidade de vida. É uma forma específica de seguir a Cristo. A vocação religiosa é vivida por meio dos votos de pobreza, castidade e obediência. É por esses votos que o consagrado manifesta sua radical adesão ao Evangelho. O religioso ou consagrado deve ser, no mundo, sinal da alegria do Evangelho. Ser consagrado é levar a presença e a luz de Jesus a todas as pessoas, sem distinção”, continuou.
A experiência da busca por responder ao chamado de Deus para Mayhara começou ainda na infância: “Eu participava dos encontros, ajudava como coroinha servindo durante as missas e, com o tempo, senti que amadurecia na vida espiritual”, disse. Foi quando sentiu como se o próprio Jesus a convidasse para doar-se mais pelas pessoas, dentro da Igreja: “Com o tempo fui alimentando essa certeza e perguntando ‘Senhor, o quer de mim?’. Senti também alegria quando podia falar de Deus ao próximo e estar ao lado daqueles que precisam de esperança”, continuou a jovem. Para ela, fazer o acompanhamento vocacional junto às irmãs scalabrinianas está sendo uma experiência maravilhosa. “Busco conhecer meus limites para superá-los com a graça divina e frequentando os sacramentos entendo, dia a dia, minha vocação”, afirmou.
SERVIDORES DA PALAVRA
As congregações religiosas têm carismas e missão diferentes na Igreja. Os claretianos, por exemplo, instituição fundada em Vic, na Espanha, em 16 de julho de 1849, pelo arcebispo Santo Antônio Maria Claret, são conhecidos como Filhos do Imaculado Coração de Maria ou missionários claretianos.
“Os missionários claretianos possuem uma vocação específica, ou seja, são regidos por um carisma especial de ‘servidores da Palavra’. Inspirados por Claret, assumimos o compromisso de comunicar a Palavra de Deus a todos os povos em nome do ministério de Cristo. O claretiano se insere no meio do povo para compartilhar suas esperanças e alegrias, tristezas e angústias, sobretudo aos mais necessitados”, explicou Padre Ricardo.
Os jovens que desejam conhecer o carisma de Filhos do Imaculado Coração de Maria podem buscar orientação nas comunidades e paróquias claretianas ou nos colégios e faculdades claretianas.
ESCOLHA E DECISÃO
Heloisa Iaconis é pedagoga e socióloga, pós-graduada em Psicopedagogia, Ciências da Religião e Orientação Profissional. Educadora no Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo (SP) desde 1991, atualmente ministra aulas de Sociologia e Orientação Profissional.
Em entrevista à reportagem, Heloísa comentou que há alguns anos o colégio iniciou um processo de orientação profissional que é composto por três etapas durante os três anos do ensino médio. “No primeiro ano ensino médio, buscamos trabalhar, com os educandos, o autoconhecimento. É importante que eles saibam como lidar com frustração ou desafios, por exemplo”, explicou. Com uso de jogos e outras atividades interativas, o objetivo é que os jovens percebam como se sentem em situações diferentes e ao que dão importância. No segundo ano, a ideia é pensar quais oportunidades o mundo oferece. “Continuamos trabalhando o autoconhecimento, até porque existe transformação no que eles acreditam. Pensamos juntos sobre o que o mundo pode oferecer a eles. Faculdades, cursos, profissões e critérios para essa escolha”, continuou Heloísa, que falou ainda sobre a importância de conhecer os problemas sociais e como cada um, de acordo com sua escolha, pode interferir para tornar o mundo melhor. Já no terceiro ano, a proposta é pensar a interação com o mundo. “O que eu vou doar para o mundo? O que eu vou fazer que vai voltar para o mundo?” são algumas perguntas direcionadas aos jovens, que têm oportunidade de ouvir profissionais de diferentes áreas, alguns deles ex-alunos do colégio e também sacerdotes e religiosos.
“Para nós é essencial também pensar na formação ética e de valores, além da questão do sentido da existência, em que a questão vocacional é abordada”, continuou a professora, que observou quanto esta trajetória tem ajudado os jovens a tomar decisões mais assertivas após saírem do ensino médio. Heloísa comentou também que os jovens precisam conhecer para escolher: “Muitas vezes, as expectativas da família tolhem a autonomia dos jovens, por isso, é muito importante o autoconhecimento”, disse.
ESCOLHA E DECISÃO
O primeiro e mais importante passo é a oração.
É por meio dela que conversamos com Deus. É Ele que continua chamando, convocado para nos entregarmos a Ele com todo o nosso coração. Só saberemos o que Ele deseja ao nosso respeito se escutamos a sua voz;
O segundo passo é o engajamento pastoral na comunidade.
Pois a vocação é para servir, para colocar-se à disposição da Igreja e da sociedade;
O terceiro passo é o autoconhecimento.
O jovem precisa saber quais são as suas aptidões, suas qualidades e dons. Todos nós temos dons para ser colocados a serviço dos outros;
O quarto passo é o acompanhamento vocacional.
O jovem deverá conhecer os carismas das congregações e a vida diocesana e por meio desse conhecimento perceberá a qual carisma ele se sente atraído. Deverá entrar em contato com o responsável pela animação vocação da congregação ou diocese para ver a possibilidade de iniciar o acompanhamento;
O quinto e último passo é a decisão.
Este é o mais difícil e exigente. Alguns jovens “travam” na hora de decidir ou vão protelando essa decisão. Muitas vezes, isso acontece por medo ou insegurança, mas, decidir é fundamental. É preciso arriscar-se e confiar naquele que nos chamou.