Para a perspectiva cristã, o nosso “estar situado no mundo” não é uma realidade fortuita ou casual, algo sem propósito que, como tal, pode configurar-se de qualquer jeito, à maneira do “eu” e de seu egoísmo. Para o cristianismo, “estar no mundo” significa ser inserido dentro de um projeto de amor abrangente, que nos abarca e nos ultrapassa. Significa participar do plano de amor e de salvação por meio do qual Deus nos cumula de todo o bem e de toda a graça.
Veja que interessante: o ato de viver não é algo que engendramos por nós mesmos, pelo contrário! Nós recebemos a vida de outrem, fomos chamados a viver. Precisamente aqui reside a primeira vocação: o chamado à vida. Deus sonhou conosco, desejou a nossa existência. Porque fomos presenteados com o dom da vida não podemos viver de qualquer maneira, desorientados, sem uma finalidade. Há quem diga que tudo quanto existe não possui propósito algum, é sem finalidade, sem teleologia. Nós, entretanto, entendemos que fomos criados pelo Deus da Vida e para a vida. A nossa existência tem um propósito, uma razão de ser, um sentido.
Segundo o ensinamento do Concílio Vaticano II, partilhamos de uma vocação comum: a vocação universal à santidade.
Todos nós, chamados à vida, somos vocacionados a ser santos, isto é, somos convidados a pertencer à família de Deus, a configurar a nossa existência, com o auxílio do Espírito Santo, de tal modo a nos conformar com o sonho de Deus para nós, que outra coisa não é senão a nossa felicidade, a nossa realização em seu sentido mais pleno e mais profundo.
No âmbito dessa comunhão de vocação – chamado à vida e à santidade –, cada ser humano possui a sua particularidade, a sua individualidade. Cada um possui uma vocação específica, uma maneira própria e pessoal de corresponder ao amor de Deus. A vocação específica é o modo próprio como cada pessoa se situa no plano de amor de Deus para a humanidade, é a via concreta na qual percorremos a trilha do amor e da paz, da entrega e da alegria. Você já pensou sobre isso? Já se perguntou como corresponder concretamente ao amor de Deus que lhe chamou à vida e à santidade?
Algumas pessoas percorrem o caminho do Matrimônio e alargam o seu coração, crescem no amor. Alguns homens são chamados ao sacerdócio ministerial, tornam-se padres e aprendem a amar e a se configurar existencialmente a Cristo durante o exercício do ministério sacerdotal. Há outras pessoas que não se dão em Matrimônio nem se tornam padres, mas se dedicam integralmente à obra de Deus, consagrando tudo o que são e têm no seio de uma comunidade específica: eis aqui a vocação religiosa.
A pessoa que vive a vocação religiosa (monge, frei, freira etc.) trilha o caminho do amor junto com uma comunidade de pessoas que partilham de um carisma comum. Trata-se de uma experiência de comunhão que é imagem da Trindade: a diversidade intimamente unida pelo vínculo do Espírito Santo, ou seja, pelo vínculo do amor.
O cristianismo não concebe a vida humana homogeneamente, mas considera os múltiplos dons e talentos, as diferentes personalidades, os variados carismas. Todos têm lugar na Igreja. Você já descobriu o seu? A vocação é a escola do amor, pois, “Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada” (1Cor 13,2).