A Igreja Católica diz que a vida e a saúde são bens preciosos doados por Deus. Ela se apresenta ao mundo expressando sua vontade de dialogar e contribuir para a construção de uma sociedade baseada na proteção dos valores humanos invioláveis. Conforme diz o magistério, “As tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 540).
A sociedade civil dedicou o mês de setembro para recordar e trabalhar com campanhas preventivas acerca de um problema antigo, o suicídio. A Igreja sente-se responsável e comprometida com os crentes e não crentes para combater esse mal, a fim de que possa impactar na redução dos índices de suicídios.
Analisando vários campos das ciências humanas é perceptível o profundo desejo em dar uma resposta satisfatória para essa triste realidade. Penso ser relevante o ponto de vista da psicologia para ampliar a reflexão sobre o assunto no campo religioso.
Pesquisadores associam o suicídio, em alguns casos, com transtornos psiquiátricos na forma grave, sendo mais comum no quadro de depressão. A Igreja, fazendo uso dos argumentos científicos, reconhece que o suicídio está associado a transtornos psiquiátrico, por isso, diz que no caso de “(…) distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provocação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida” (Catecismo da Igreja Católica, 2.282).
Ainda mais, a doutrina da Igreja orienta que não se deve dizer que uma pessoa vai para o inferno quando se mata: “Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes ocasião de arrependimento” (Catecismo da Igreja Católica, 2283). Cabe a nós, como corpo místico de Cristo que sofre na carne e no espírito quando um membro entrega-se a essa fraqueza, orar por essa pessoa que atentou contra a própria vida.
O suicídio é uma realidade não querida por Deus e estudiosos como Viktor Frankl afirmam que a fé e o amor da família podem ser auxílios para evitar que uma pessoa se mate. O medo de perder a eternidade e a possibilidade de causar sofrimento a alguém próximo são dois pontos que desencorajam uma pessoa que é atormentada pelos pensamentos suicidas.
Podemos concluir que a falta de fé e a falta de sentido da vida, bem como a solidão, a sensação e sentimento de inutilidade e de se sentir sem importância para as pessoas e para o mundo, são gatilhos que estimulam a tragédia a acontecer, “Pois quem não tem um para que viver, qualquer motivo se torna pretexto para se desvencilhar da vida” (AQUINO, 2009, p. 18).
Gestos pequenos podem evitar que isso aconteça. Vidas são movidas pela fé e se tiverem confiança em algo superior, para além do humano no seu coração, isso bastará para que não se entreguem a essa fraqueza.
Saber pedir ajuda na hora certa e não viver sozinho(a) também ajudará com que você saia desse perigo. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de muita valentia, pois os fortes reconhecem que quando são fracos aí é que estão fortes. Não é vergonha falar sobre o assunto, ainda mais quando se trata de questão de saúde.
Cultivar o amor de família, nutrir as relações saudáveis e manifestar o puro e verdadeiro amor humano faz com que até um copo d’água na hora certa salve vidas. É indispensável saber lidar com os fracassos, rir com os limites próprios e cultivar a esperança em Deus, em si e nos outros.
Saiba que, para Deus e para sua família, amigos ou para a sociedade, independentemente de qualquer coisa, você é o mais importante! E sempre fará falta. Não desista antes do tempo, pode ser que a hora da sua virada esteja próxima e fazendo uma má escolha você não estará mais lá para vivê-la.
Você é o mais importante. Não viva sozinho(a).
Fizzotti, E. (1998). Abraham Maslow e Viktor E. Frankl: Os ritos de cura como autorealização e como busca de sentido. Em: A. N. Terrin (Org.), Liturgia e terapia: a sacralidade a serviço do homem na sua totalidade (pp. 235-275). São Paulo: Paulinas.
Frankl, V. E. (1989). Um sentido para a vida (V. H. S. Lapenta, trad.). Aparecida, SP: Editora Santuário. (Trabalho original publicado em 1978.)
Frankl, V. E. (1968). O homem incondicionado: Lições metaclínicas. Coimbra: Armênio Amado.
Mondin (2005). Os valores fundamentais (J. T. Garcia, Trad.). Bauru: Edusc.
Turecki, G. (1999). O suicídio e sua relação com o comportamento impulsivo-agressivo. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21, pp. 18-21