SENHORA DAS DORES, MÃE DA ESPERANÇA

Como afirma o Evangelho de João, “junto à cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19,25). Naquela hora de grande sofrimento e dor não faltou o acalento feminino daquelas que fielmente mantiveram-se ao lado de Jesus de Nazaré. Em especial, naquele cenário do Calvário estava Maria, mãe de Jesus, aquela que o conhecia como ninguém. Certamente, quantas dores também enfrentava aquela que sofria ao ver a rejeição ao seu próprio filho.

A mãe estava diante do ápice da rejeição, do desamor daqueles que não aceitaram a Boa-Nova que seu filho anunciara. Naquele momento ela contemplava dolorosamente aquele que havia sido gerado em seu seio a padecer diante do suplício da cruz. Cumpria-se então a profecia que ouvira quando ainda trazia nos braços seu bebê: “Uma espada de dor vai atravessar sua alma” (Lc 2, 35). Aquelas palavras de Simeão foram a primeira dor dentre tantas outras que estavam por vir em sua história que perpassava a de seu filho.

 Ela, como ninguém, esteve unida a Ele: “Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade na obra do Salvador.”¹ A mãe colocou-se no caminho do discipulado, aprendeu com seu filho, por isso a Igreja, com singular veneração, volta-se para a figura de Maria, pois vê naquela que em todos os momentos esteve unida ao Senhor um refúgio em meio às suas dores.

Sua firmeza e fidelidade mesmo em meio às dores da vida inspiram tantos homens e mulheres que devotamente recorrem ao auxílio da Senhora das Dores. Com efeito, Maria, “(…) modelo de virtudes, conserva virginalmente uma fé íntegra, sólida esperança, sincera humildade”². A religiosidade popular dos que veneram a bem-aventurada Virgem Maria, sob o título de Senhora das Dores, reconhece nela um sinal de esperança, isso implica um modo de viver a fé no qual os sofrimentos deste mundo não detém a última palavra.

Maria é esse modelo da Igreja que aponta para uma dimensão escatológica, isto é, uma obra divina que transcende os horizontes desta história aqui-agora. Os sofrimentos do tempo presente cedem frente à “esperança que não nos decepciona” (Rm 5, 5). Como soube passar pelas dores deste mundo unida a seu Filho, do mesmo modo permanece unida a Ele na glória do Céu. Em outras palavras, “Cremos que Maria está junto a Jesus, glorificada por inteiro. E como ela está na glória de Deus e dos santos, continua perto de nós, auxiliando-nos como mãe amorosa e companheira na f锳. 

A veneração a Nossa Senhora das Dores, tão presente em inúmeras igrejas por todo o Brasil, revela a face de um povo que ainda vive em meio a tantas dores, desafios e lutas. Entretanto, esse mesmo povo vive com fé, sem perder a esperança em Deus, no firme desejo de que seja alcançada a realização das palavras de Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10), cessando assim toda dor, sofrimento e tristeza.

*Padre Luiz Gustavo Uchoa da Silva, mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pós-graduado em Espiritualidade pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) e professor na Faculdade Canção Nova.

DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. São Paulo: Paulus, 2012, nº 61.

2 VILHENA, Maria Angela. A religiosidade popular à luz do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 201, p. 83.

MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2012. p. 190.

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