ANTÔNIO MARIA CLARET, O “SANTO DE TODOS”

COM ESTREIA MARCADA PARA 6 DE OUTUBRO, FILME ESPANHOL CONTA A VIDA E A OBRA DO FUNDADOR DOS CLARETIANOS

Padre Wagner Brito está contando os dias para assistir à estreia do filme O santo de todos: a Vida e missão de Santo Antônio Maria Claret. Escrito e dirigido pelo cineasta espanhol Pablo Moreno, o longa-metragem conta a vida e a obra do fundador da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, mais conhecida como missionários claretianos, e estreia no Brasil no dia 6 de outubro. “A vida do fundador da nossa congregação é muito bacana. Claret era um homem à frente de seu tempo. Um homem de muita perspicácia que sabia ler o que não estava escrito e ouvir o que não era dito. Espero que o filme consiga despertar muitas vocações sacerdotais e religiosas”, afirma o padre.

O personagem-título do filme é interpretado pelo ator espanhol Antonio Reyes, de 47 anos. O convite para protagonizar o filme, ele conta, partiu do próprio diretor, Pablo Moreno. Além do roteiro, Moreno deu a Reyes uma biografia do santo espanhol de presente. “Nem precisava ter lido a biografia para aceitar o papel, mas, quando a li, senti um misto de fascínio e entusiasmo. A vida de Claret é repleta de lutas, viagens, emoções… É quase como um super-herói que não hesita em fazer justiça a quem precisa”, revela o ator em entrevista à Revista Ave Maria. “Além do seu senso de justiça, impressionou-me muito sua perseverança. Era invejável. Nisso me identifiquei com Claret. Somos do tipo que nunca joga a toalha”, acrescenta.

Reyes explica que foram dois os desafios que seu mais novo trabalho lhe impôs. O primeiro deles foi o tamanho do papel. Embora dê sempre o melhor de si em todo e qualquer personagem, não importa quão pequeno ele seja, Claret é o protagonista do filme. Não bastasse, o padre catalão é, ao contrário dos outros papéis que interpretou em sua carreira, um personagem histórico. “Quando você interpreta um personagem fictício, ou seja, que não existiu, pode se dar ao luxo de dar asas à imaginação. No caso de Claret, não. Ele existiu de fato. Procurei, então, reunir todas as informações disponíveis e interpretá-lo com o maior respeito. Sei que ele tem muitos devotos e não queria de modo algum decepcioná-los”, afirma o ator.

Padre Ronaldo Mazula, diferentemente de Padre Wagner Brito, não aguentou esperar e já assistiu à pré-estreia de O santo de todos: “Gostei muito”, diz. Para Mazula, a cinebiografia de Antônio Maria Claret tem vários méritos: o primeiro deles é revelar fatos ocorridos após sua morte, em outubro de 1870: “Ele foi muito incompreendido, perseguido e caluniado. No filme, um jornalista investiga sua vida e busca respostas para o porquê de tanta perseguição”, adianta o sacerdote. O segundo mérito é mostrar o dinamismo missionário, apostólico e caritativo do fundador dos claretianos: “Ele nos convida a cuidar da pessoa humana em todas as suas dimensões: intelectual, espiritual, existencial, material e econômica. Claret ama a Deus de modo concreto por meio de seu amor pelos irmãos, principalmente os mais pobres e humildes”.

Antônio Claret nasceu no dia 23 de dezembro de 1807, antevéspera de Natal, na cidade de Sallent, na Espanha. Era o quinto filho de uma família de onze irmãos. Ainda criança, começou a trabalhar na fábrica têxtil do pai, que funcionava no andar térreo da casa da família na Catalunha. Devoto de Nossa Senhora, incorporou o nome da mãe de Jesus ao próprio nome e, em sua homenagem, virou Antônio Maria Claret.

Quem também é devoto de Maria é o Padre Luís Erlin. “Desde criança, minha família, muito católica, ensinou-me a amar Maria. Quando decidi ingressar no seminário, por volta dos 15 anos, procurei uma congregação mariana. O que me levou até a congregação fundada por Claret foi seu título: Filhos do Imaculado Coração de Maria”, confessa ele.

Certa manhã, ao ouvir a homilia na Missa dominical, Claret sentiu-se tocado com o trecho do Evangelho que diz “De que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se destrói a própria vida?” (Mt 16, 26). Ingressou no seminário em 1829, aos 22 anos e foi ordenado padre em 1835, aos 28. No dia 16 de julho de 1849, fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, os missionários claretianos, e a Congregação das Religiosas de Maria Imaculada para o Ensino, as missionárias claretianas. “Desde pequeno, Claret quis salvar almas. Já adulto, tornou-se um místico. Missionário, não parava um só segundo quieto. Vivia o dinamismo do Espírito Santo”, relata Padre Mazula, que acrescenta: “Certa vez, depois de um dia inteiro de missão em Cuba, Claret cozinhava sopa numa floresta quando, de repente, a panela virou e ele perdeu toda a comida. O que ele fez? Procurou agir com alegria e bom humor”.

Pouco depois de fundar a congregação, Claret foi nomeado arcebispo e enviado para Cuba, então colônia espanhola, onde passou seis anos. Entre outras conquistas, lutou contra a escravidão e abriu escolas agrícolas para os filhos de agricultores pobres. Em 1856, por denunciar casos de racismo e defender os direitos humanos, sofreu um atentado e, por pouco, muito pouco mesmo, não perdeu a vida.

Em 1857, Claret regressou à Espanha. Tinha pela frente uma nova missão: ser o confessor da rainha Isabel II (1830-1904) e acompanhá-la em suas viagens oficiais. À época, disse sentir-se como “um pássaro em gaiola de ouro”. Em Madri passou onze anos, os mais difíceis de sua vida. No Concílio Vaticano I, convocado pelo Papa Pio IX (1792-1878) e realizado entre os dias 8 de dezembro de 1869 e 18 de dezembro de 1870, defendeu a infalibilidade papal.

Claret morreu no dia 24 de outubro de 1870, na Abadia de Fontfroide, no sul da França, aos 62 anos. Seus restos mortais descansam na Igreja dos Missionários Claretianos em Vic, na Espanha, cidade onde fundou, em 1849, sua congregação. “Amei a justiça e aborreci a iniquidade. Por isso, morro no desterro” é o epitáfio de sua lápide. Antônio Maria Claret foi beatificado em 25 de fevereiro de 1934 pelo Papa Pio XI (1857-1939), que o chamou de “apóstolo incansável dos tempos modernos”, e canonizado em 7 de maio de 1950 pelo Papa Pio XII (1876-1958), que o apelidou de “o santo de todos”. Sua festa litúrgica é no dia 24 de outubro.

No dia 19 de novembro de 1895, 25 anos depois da morte de seu fundador, dez missionários claretianos desembarcaram no Porto de Santos (SP) e, de lá, seguiram para São Paulo (SP). Seis eram padres – Raimundo Genover, Eusebio Sacristián Villanueva, José Domingos Aguero, Lorenzo Playán, Geraldo Palomera Font e Rafael Fernandes Palacios – e quatro, religiosos – Ramon Solé, Jaime Rovira Solé, José Rosset Torrens e Baldomero Dueñas Hernandes. Passados 127 anos, a congregação tem hoje 103 missionários, entre padres, religiosos, diáconos e noviços. No mundo, são 2,9 mil espalhados por sessenta países. “Somos uma congregação missionária. Missionário é aquele que vai para onde Jesus deseja e está onde o povo necessita. A missão não tem fronteiras. Quando você se torna um missionário, deixa de pertencer a esse ou àquele país e passa a pertencer ao mundo”, explica Padre Wagner Brito. “Sou um bom exemplo disso. Fui ordenado sacerdote em janeiro de 2008. Um mês depois, já estava na Itália, trabalhando com os jovens”, disse ele.

Os claretianos atuam em várias frentes. No Brasil, abriram igrejas, fundaram colégios, inauguraram emissoras de rádio e televisão. Hoje, a congregação administra 28 paróquias, seis colégios, quatro faculdades, duas editoras, duas emissoras de rádio, uma de televisão e três obras sociais: Claretiano Solidário, Claretianos na África e Projeto Claretiano Terra Nova. “Um dos diferenciais da nossa congregação é poder colocar nosso dom a serviço da evangelização. No meu caso, tenho o dom da escrita, gosto de literatura e desenvolvo meu ministério a partir do universo cultural”, explica Padre Luís Erlin, diretor presidente da Editora Ave-Maria e da Revista Ave Maria. Indagado sobre o maior desafio enfrentado hoje pelos claretianos, Padre Erlin aponta a falta de vocação e, também, a falta de perseverança daqueles que ingressam no seminário. “Às vezes, me pergunto: como conseguiremos manter tantas obras se as vocações andam tão escassas? Isso nos assusta um pouco”, admite.

Nessas horas, Padre Wagner Brito procura se lembrar de um dos maiores ensinamentos de Antônio Maria Claret: “Evangelizar por todos os meios possíveis, sempre atento ao mais urgente, oportuno e eficaz”. “Sempre que tenho de tomar uma decisão importante ou fazer uma escolha difícil, penso nestas três palavrinhas: ‘urgente’, ‘oportuno’ e ‘eficaz’ e tenho que confessar: em quase 100% das vezes, costuma dar certo”, garante o padre, que finaliza: “Somos agentes transformadores de toda e qualquer realidade. Não podemos nunca nos esquecer disso”.

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