NATAL: QUE BRILHE VOSSA LUZ

Já passa de dois milênios. A notícia ressoou em toda a Terra (a conhecida e a do porvir). “Pobrezinho nasceu em Belém”, lembra a eterna cação Noite feliz. Junto à manjedoura, Maria, José e alguns animais (privilegiados). Não poderia nascer em palácio: fugiria do significado de sua vinda, de sua missão. Foi assim que decidiu a Trindade Santa: “O Verbo se fez homem e habitou entre nós (…) A luz esplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. (…) Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” (Jo 1,1.5.11)

História bem conhecidas… José estava para abandonar a noiva. Em silêncio, pois era justo, não queria prejudicá-la. “Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados’” (Mt 1,20-21). Antes, numa visão, o Anjo Gabriel já aparecera a Maria – “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28) – e lhe dera a grande notícia de que, por ação do Espírito Santo, ela viria a ser a mãe do Salvador. Ela, mesmo sem compreender, em oferta plena, respondeu: “Faça-se em mim segundo a vossa vontade!” (Lc 1,38).

Assim, temos a mais festiva das comemorações: o Natal do Senhor. No entanto, a cantora brasileira Simone, com sua bela voz, questiona-nos na canção: “Então é Natal, e o que você fez?”. 

Pois é! O que temos feito em todos esses anos que o Senhor, benignamente, concede a cada um de nós? Perus, chesters, troca de presentes (nas casas que não conhecem a pobreza econômica)… “E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias”, lamenta a poetisa Cecília Meireles, em “Compras de Natal.”

POR UM ADVENTO LAUDATO SÌ

“Que seja feliz quem souber o que é o bem.” Nem sempre lembramos que o verdadeiro bem é o aniversariante. Bem que está em cada um dos seres humanos: pobres ou ricos, brancos, pretos ou amarelos e outras categorias. E na natureza. Mas não é só: a maior festa da cristandade, tudo está a indicar, outra vez, transcorrerá em guerra (guerra no século XXI pelos motivos da Antiguidade!). Graves equívocos, lamentáveis desperdícios: insanidade da obra racional.

Por que não se escutam as sábias orientações da Igreja? As pérolas que nos deixaram os sumos pontífices. No século passado, o Papa João XXIII nos exortou: “Paz na Terra e aos homens de boa vontade” (Encíclica Pacem in terris, abril de 1963). Seus sucessores alertaram e alargaram o tema, com o zelo que devemos ter com o meio ambiente e com toda a irmã Terra, a nossa casa comum. 

Nossa mãe Igreja nos proporciona excelente oportunidade de reflexão incluindo, no início do catequético e didático ano litúrgico, o período do Advento. Corresponde às quatro semanas antes do Natal, tendo início no domingo mais próximo do dia 30 de novembro e indo até o dia 24 de dezembro. Nesse período evoca-se a dupla vinda de Jesus Cristo: a verificada em Belém, quando Ele veio ao mundo, e a que ocorrerá no seu regresso no dia do juízo.

O Advento é, pois, época de purificação como preparação para receber aquele que está para vir. O caráter penitencial é acentuado pela cor litúrgica, que é a roxa. Penitência com alegria, pois aguardamos a vinda do nosso Rei Jesus! É simbolizado pela chamada coroa do Advento, de ramos de abeto, com quatro velas (círios), verde, roxa, vermelha e branca, respectivamente, que se acendem uma após a outra nos quatro domingos do período para iluminar a vigília do Advento, a preparação para vinda da luz do mundo, Jesus Cristo. A coroa do Advento é exposta geralmente perto do presépio ou do ambão. 

Não é demais lembrar que o Tempo Litúrgico do Natal, na Igreja Católica Apostólica Romana, vai de 24 de dezembro, com as vésperas do Natal do Senhor, ao domingo após o dia 6 de janeiro, com a Solenidade da Epifania do Senhor, a manifestação de Jesus Cristo.

Advento, preparação, com atitudes piedosas, entrega com alegria. Natal, a salvação, o Rei está no meio de nós. Exultemos e permaneçamos com a piedade, a reflexão, o olhar no Alto, os pés na Terra. Lembremos a vida do “Filho do Homem”: ainda criança, ensinou e encantou aos doutores da lei. Ciência bem diversa da que se praticava, interessada nos reais valores da vida. Com palavras, exemplos e alegria. Alegria que tanto pede, ainda hoje, o nosso tão querido Papa Francisco, cujo nome não escolheu a esmo, nem por sorte.

Aliás, muito consistentes e atuais as exortações dele. Na Encíclica Evangelii Guadium, solicita-nos a alegria do acolhimento para com todos os irmãos. Em 2015, com a Carta Encíclica Laudato Si sobre o Cuidado da Casa Comum, na perspectiva de uma “Igreja sinodal”, o Santo Padre pede a todos o zelo com todas as criaturas, incluindo o meio ambiente e o planeta como um todo: “E esta irmã clama pelo mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que [o Senhor] nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. (…) entre os pobres mais abandonados e maltratados, consta-se a nossa Terra, oprimida e devastada (…)”.

Que possamos vivenciar este Advento com mais oração e reflexão. Nada mal a leitura da Encíclica Laudato Sì. Ela nos incita e encoraja. Descruzemos os braços: “De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras?” (Tg 2,14). Tenhamos coragem suficiente para romper as correntes de um mundo insano, sempre a nos exigir mais desejos, mais volúpias, mais estresses, mais poluição… Até quando os homens e mulheres de boa vontade, cristãos e não cristãos, assistiremos, inertes, à sanha da inexorável destruição da casa comum? A Luz espera, mais do que nunca, que nossa luz brilhe no Natal!

No retiro do Advento com o Papa Francisco e a Laudato Sì, disponível no Hozana, daremos especial atenção a como partilhamos esse caminho de preparação em comunhão com a criação, que também espera ansiosamente a redenção. Clique aqui para participar desse momento de graça.

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