PERDOADOS PARA PERDOAR

Pe. Vinícius Teixeira

O perdão é uma exigência de nossa humanidade, um valor do qual não podemos prescindir. Sem a disposição de dar e receber perdão, não há quem pode viver feliz e não são poucos os que sofrem por causa do perdão que não conseguem oferecer ou pedir. À luz da fé cristã, o perdão tem uma fonte que o revigora: a experiência da misericórdia de Deus, que se revela em Jesus Cristo e nos alcança pela graça do Espírito Santo. Diante de Deus, que nos ama e nos espera com seu abraço de compaixão, todos nos reconhecemos necessitados de perdão e feitos capazes de perdoar. Em sua missão de educar na fé, a catequese não pode deixar de estimular a cultura da misericórdia que passa pelo exercício do perdão e desperta o que há de melhor no ser humano.

O perdão é uma necessidade porque sem ele não podemos viver serenamente, conviver pacificamente e realizar-nos humanamente. Implica querer que o outro viva feliz, apesar do mal que fez. É também um processo que integra consciência, sensibilidade e conduta. 

Na medida em que avança na disposição de perdoar, a pessoa vai se libertando da mágoa e experimenta a paz que só um coração compassivo pode hospedar. Enquanto caminho de reconciliação, o perdão é um apelo a novas relações, mais transparentes e sensatas, desprovidas de idealizações e dependências. Para quem crê, o perdão é uma experiência de fé, razão pela qual sempre pedimos ao Senhor que nos ensine a perdoar, aos outros e a nós mesmos, como Ele nos perdoa.

Porque a vida só amadurece e frutifica quando se doa, o perdão se levanta como um ideal a ser buscado e um horizonte capaz de iluminar o caminho da existência. Serve-nos de motivação nossa comum necessidade de ser perdoados. A recusa do perdão revela uma visão míope a respeito de nossa condição falível; além disso, a disposição de perdoar se nutre do reconhecimento de que toda pessoa é maior que seus erros e, por isso, precisa ser estimulada naquilo que tem de mais nobre e belo. Exercitando o perdão, dispomo-nos a viver no compasso da misericórdia com que o Senhor nos perdoa (cf. Cl 3,13).

Concluímos com o decálogo que constitui o itinerário do perdão desenvolvido no livro A graça e o desafio de perdoar, publicado pela Editora Ave-Maria:

  1. Ter presente o ideal do perdão como impulso de uma existência fecunda e feliz;
  2. Firmar-se na convicção de que o perdão é uma necessidade vital e uma escola de humanização;
  3. Reconhecer que todos necessitamos de perdão porque partilhamos da mesma condição;
  4. Encarar com realismo a ofensa recebida para perdoar de coração;
  5. Situar a ofensa em suas circunstâncias para compreender o ofensor;
  6. Entrar em processo de perdão: convicção, desejo e esforço, à luz da fé;
  7. Conservar a paz e perseverar no perdão, mesmo sem esquecer a ofensa;
  8. Desenvolver novas relações, mais lúcidas, equilibradas e frutuosas;
  9. Perdoar a si mesmo para perdoar os outros, apoiado no perdão de Deus;
  10.  Construir uma personalidade densa e flexível, capaz de empreender o itinerário do perdão.
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