Ao fim de tudo, para onde vamos?

Caro leitor, a providência de Deus rege nossas vidas. Há poucos dias me ocorreu um fato que diz muito daquilo que viveremos neste mês de novembro, que é a comemoração do dia de Finados e a Solenidade de Todos os Santos.

Um rapaz me pediu uma ajuda para responder a um questionamento que uma jovem lhe trouxe sobre a morte: “Uma pessoa ficar com raiva de Deus no momento de luto é normal? E se eu estiver perdendo a fé em Deus por sentir que ele foi injusto por ter levado meu avô, sendo que Ele leva as pessoas boas e não está levando as ruins?”.

     Que diremos para alguém que expressa a dor da saudade de alguém amado? A presença do avô em sua vida foi uma oportunidade para amar. São João nos ajuda a entender que “Todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4,7-8). São Tiago afirma que nosso amor em obras é a prova da nossa fé em Deus (cf. Tg 2,17-19). No fim da vida não seremos julgados sobre o amor que praticamos (cf. Mt 25,31-46)? Que o amor que você dedicou a quem tanto amou seja um consolo ao seu coração.

Entretanto, cuidemos, pois na fé autêntica o amor está primeiramente centrado no fim último de nossas vidas, que é Deus, porém, de certa forma é normal quando se perde alguém amado que a pessoa sofra tentações de culpar a Deus, de cultivar tristezas ou passe por dúvidas que provarão a sua fé. Isso pode ocorrer com maior ou menor intensidade e de acordo com a idade, a formação e a experiência que cada um possui de Deus. Nesse sentido, São Paulo nos adverte: “Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança” (1Ts 4,13-17).

     À luz da fé cristã é importante compreender que nunca foi vontade de Deus a morte para o homem, ela entrou na humanidade como consequência do pecado original (cf. Gn 3; Rm 5,12). O que aconteceu nas origens se repete na questão levantada, aqui não é devido à lei de Deus, mas ao “sofrimento” que Ele permite. Somente o Espírito de amor é capaz de nos convencer da “desobediência originária” presente em nós e nos auxiliar a romper o “rancor surdo“ contra Deus. Vigiemos nas provações, pois o Tentador, o espírito das trevas (cf. Ef 6,12; Lc 22,53), procura apresentar Deus como inimigo do homem e coloca neste um “germe de oposição” contra Deus para não considerá-lo como Pai, adverte-nos o Papa João Paulo II (Carta Encíclica Dominus et Vivificantem, 37-38).

    A última questão que o jovem levanta é relacionada ao mistério da prosperidade dos maus. Um grande erro que podemos cometer é realizar juízos sobre pessoas, temas religiosos ou não, por meio de nossas experiências de vida. A temática da morte é um deles, pois possui uma visão negativa e outra positiva, isso conforme a fé de cada um. Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. Com efeito, a santa Igreja testemunha a fé na ressurreição da carne e na imortalidade da alma. A morte do homem é vista como uma passagem para a vida definitiva. Quem morre na graça e na amizade de Deus e está perfeitamente purificado vai para o Céu: “Lá vive em Deus e goza da sua felicidade, do seu bem, da verdade e da beleza de Deus. Vive a vida perfeita com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e os santos” (Catecismo da Igreja Católica, 1008-1026).

     De fato, preparar-se para o encontro definitivo com Jesus é a chave para ganhar a vida eterna. Tudo se realizará no tempo oportuno, mas só chegaremos à imortalidade na glória adquirida em Cristo se durante a vida tivermos participado e associado nossos sofrimentos aos dele. São Paulo assim nos diz: “Eis uma verdade absolutamente certa: se morrermos com Ele, com Ele viveremos” (2Tim, 2,11).

Concluo respondendo a esse jovem e a você, que também sofre pelo luto, que logo chegará o grande dia em que o Senhor o(a) consolará, “enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21,4). Na alegria de filhos muito amados, permaneçamos firmes na peregrinação rumo à casa do Pai, o Paraíso, com a certeza que aquilo que “nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem, Deus o preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2, 9).

  Dentre a nuvem de santos, testemunhas de fé na ressurreição dos mortos, concluo com o Beato Carlo Acutis, que sempre repetia a grande verdade do cristianismo: “A tristeza é um olhar voltado para si mesmo; a felicidade é o olhar voltado para o Céu”. Também com nossa querida Santa Teresinha, que no entardecer de sua vida, disse “Não morro, entro na vida”. Que a luz desses testemunhos nos leve a ter esse mesmo olhar confiante voltado para o Céu.

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