“José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa, Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio” (Lc 2,4-5): aqui o evangelista cita os três personagens da Sagrada Família.
Um pouco adiante, quando os pastores, recebendo dos anjos a notícia do nascimento do Salvador, vão até o local, novamente, os três são citados: “Foram com grande pressa [os pastores] e acharam Maria e José, e o Menino [Jesus] deitado na manjedoura” (Lc 2,16). Novamente Lucas, o mais minucioso dos quatro evangelistas, narra a presença da Sagrada Família, ouvindo dos pastores as coisas maravilhosas que lhes foram ditas pelos anjos a respeito daquele menino que nascera. E Lucas assim conclui a narrativa: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19).
Lucas citará ainda a presença de José, Maria e Jesus juntos em mais dois momentos. Um, quando o santo casal, para cumprir a lei de Moisés, leva o Menino Jesus ao templo para apresentá-lo ao Senhor, escrevendo assim: “Concluídos os dias de sua purificação [de Maria pós-parto] segundo a lei de Moisés, [José e Maria] levaram-no [o Menino Jesus] a Jerusalém para o apresentar ao Senhor” (Lc 2,22).
A outra vez em que a Sagrada Família é relatada junta por Lucas será quando Jesus, aos 12 anos, viajou com os seus santos pais para Jerusalém, por ocasião da Páscoa judaica: “Seus pais [José e Maria] iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo Ele [Jesus] atingido 12 anos, subiram [a Sagrada Família junta] a Jerusalém, segundo o costume da festa” (Lc 2,41-42). Depois, o santo casal não é mais citado por Lucas nem pelos outros evangelistas, a não ser Maria: nas bodas de Caná e aos pés da cruz.
A encarnação nos reaproxima do santo mistério de Deus se encarnando no seio de uma família para experimentar as nossas limitações (exceto o pecado) e, na vida adulta, entregar-se passivamente, como uma mera vítima pascal, para a remissão dos pecados de toda a humanidade: passada, presente e futura. Deus escolhe vir ao mundo por uma família!
Vocês sabem por que Deus veio ao mundo por uma família? Porque a família é fruto do único Sacramento que não foi destruído pelo pecado original de Adão e Eva, o Sacramento do Matrimônio. O maligno, com sua astúcia, conseguiu tirar os nossos primeiros pais do Paraíso, mas não conseguiu destruir a união a eles proferida por Deus, narrada no Gênesis: “Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher e já não são mais que uma só carne” (2,24). E Jesus, questionado sobre esse Sacramento, confirma-o e conclui: “Portanto, não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19,6).
Deus veio ao mundo, por meio de uma Família Sagrada, para santificar as famílias que, por sua união, participam do projeto dele para povoar a Terra com homens e mulheres que cuidam de sua obra: a natureza, os animais, a terra, o mar, o cosmos e todo o universo, que nem temos ciência de sua dimensão. Contemplar a Sagrada Família é enxergar a esperança nas famílias: parceiras de Deus na descendência humana, de geração a geração.
Assim, a nossa missão primeira aqui no santuário é a de incentivar as famílias a buscar a santidade, afastando-se gradualmente dos pecados e aproximando-se cada vez mais das coisas santas e sagradas: os sacramentos, as celebrações, o dízimo, a Palavra de Deus, os santos e tudo mais que nossa Igreja oferece. Assim, despertaremos em nós o amor que Deus espera de seus filhos e filhas. Amor ágape que São Paulo assim define: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7). Nesse texto, Paulo nos aponta quinze atitudes que precisam existir no seio de sua família. Meditando-o, a sua família pode fazer um bom exame de consciência, preparando-se para o Natal.
Na Sagrada Família, encontramos razões para que a família se reconcilie, se está dividida; para que a família se restaure, se está ferida por mágoas e ressentimentos passados; para que se perdoe, se foi ferida pelos pecados da traição, das mentiras, dos remorsos e outros sentimentos ruins; para que sejam misericordiosas, para as situações que não têm mais soluções possíveis; enfim, para que as famílias se santifiquem se estão em pecado.
Ter um olhar para a família sob a ótica da Sagrada Família é isso, amados e amadas, e um dos frutos de uma família buscando a santidade é a caridade para com o próximo, vivendo o segundo mandamento: “Amar o próximo como a si mesmo”. Gesto libertador, como nos ensina São Pedro, nosso primeiro Papa, que conviveu com Jesus: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12)” (1Pd 4,8).
Caridade material, que faz com que aprendamos a dividir nossos bens materiais e espirituais com os que precisam, viver também essa dimensão do amor na família.
Na confiança de que sua família se empenhará a viver diferente com o exemplo da Sagrada Família, mais espiritual e menos material, exorto você a encontrar seu real espírito. Espírito de dar graças a Deus por Ele ter vindo ao mundo, por meio de uma família, para consolidar a santificação de nossas famílias aqui na terra com perseverança, colocando em prática a esperança e mergulhando no amor.