O Jubileu Ordinário do ano de 2025 teve início na Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda em 2024. Em todas as dioceses do mundo, o jubileu foi solenemente aberto no Domingo da Sagrada Família, no contexto da oitava do Natal do Senhor, portanto, toda a Igreja já vive o ano jubilar.
Em todo o mundo, bispos, sacerdotes, religiosos e cristãos leigos buscam a vivência da “esperança que não engana”, como escreve o Papa Francisco na bula papal publicada em maio de 2024, na Solenidade da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, 12º ano de seu pontificado.
Dom João Justino de Medeiros Silva reside em Goiânia (GO) desde fevereiro de 2022, onde exerce seu ministério de arcebispo metropolitano. Em maio de 2023 foi eleito primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Mineiro de Juiz de Fora, nascido em 1966, Dom João é graduado em Pedagogia, Ciências Sociais e Teologia, com mestrado e o doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Pessoalmente, em razão da missão à frente da Arquidiocese de Goiânia, ele tem ajudado os fiéis na experiência da espiritualidade jubilar: “Organizamos uma programação arquidiocesana com o intento de levar a todos a mensagem do Evangelho da esperança, anunciando Jesus Cristo como a esperança viva e definitiva. Tenho a missão de presidir algumas celebrações arquidiocesanas e manter vivo, ao longo de todo o ano, o espírito próprio de um tempo jubilar”, disse em entrevista à reportagem.
Padre Gabriele Beltrami, pároco da Paróquia Santíssimo Redentor, em Val Melaina, bairro de Roma, na Itália desde setembro de 2013, afirmou que durante o ano jubilar a comunidade eclesial pode experimentar muitas novidades, seja em termos espirituais quanto comunitariamente: “É uma oportunidade especial de graça, que convida todos os membros da Igreja a viverem um tempo de renovação e reconciliação”.
Além da renovação espiritual, ou seja, tempo para que os cristãos possam refletir sobre a misericórida e experimentá-la de modo direto, Padre Gabriele salientou que o jubileu é também um tempo que a Igreja é chamada a ser mais acolhedora e inclusiva, a fortalecer a unidade e olhar para o mundo com uma nova perspectiva, promovendo o diálogo inter-religioso e a paz.
Gizele Barbosa, redatora, analista de marketing e membro da SIGNIS Brasil Jovem foi selecionada para participar do jubileu, em Roma, junto ao primeiro grande grupo de peregrinos, o dos comunicadores. Ela saiu de São Paulo (SP), cidade em que reside, para viver a experiência jubilar no Vaticano. “Espero que este ano jubilar fortaleça os laços em vista de um crescimento como Igreja. Acredito que estar com comunicadores do mundo inteiro e do Brasil no jubileu será uma oportunidade de testemunhar a fé em um mundo repleto de desafios, ainda mais quando se fala de comunicação e inovações tecnológicas. Acredito que vamos partilhar muito as experiências e as dificuldades. Dali sairão parcerias e projetos que poderão trilhar um caminho novo na Igreja, com um olhar mais esperançoso para o mundo das comunicações”, disse.
Para a Irmã Patrizia Bongo, missionária scalabriniana que mora em Piacenza, também na Itália, a vivência do ano jubilar passou por aceitar o convite do Papa Francisco para dedicar-se mais à oração, a fim de se preparar e acolher este Ano Jubilar da Esperança como batizada e consagrada, sobretudo como Igreja, com empenho e em vista da abertura da Porta Santa. “O ano jubilar é para mim um tempo de graça que nos é dado e já senti dentro de mim a necessidade pessoal de me pôr em silêncio e começar uma peregrinação interior, vivendo as iniciativas dos encontros de oração contemplativa e meditativa. Nestes dias estou de volta a Roma e preparo-me para receber novamente o Sacramento da Penitência e viver a peregrinação às portas santas de Roma por etapas, como uma peregrinação interior”, explicou.
“SOMOS TODOS PEREGRINOS”
Dom João Justino salientou que as pessoas, as comunidades e toda a sociedade são chamadas a viver o jubileu: “Para as pessoas, incluindo-me também, espero o fortalecimento da esperança como renovação espiritual que se estende à fé e à caridade, ou seja, o fortalecimento da vida cristã como compromisso de traduzir o Evangelho de Jesus Cristo nos atos cotidianos. Em outras palavras, que o jubileu seja oportunidade para os cristãos renovarem sua adesão de fé no mistério do Verbo encarnado. Quanto às comunidades, que elas vivam o jubileu na disposição de escutar, meditar, orar e agir em sintonia com o Evangelho do qual a Igreja se alimenta todos os dias. Quanto à sociedade, que os homens e mulheres identificados como cristãos sejam semeadores de esperança, tecelões da paz tão desejada, construtores de um mundo que abriga a todos sob o olhar amoroso do Pai”.
Padre Gabriele, que vive em uma comunidade intercultural em Roma, explicou que sua comunidade sofre, como tantas outras, de certo cansaço e necessidade de vida nova: “Somos diversos, mas amantes de um único desejo: encontrar a comunhão na diversidade. Podemos nos definir como italianos, filipinos, indonésios, indianos ou paraguaios, mas, no fundo, somos todos cristãos em caminho, peregrinos da esperança. Esse bem é reconhecido pela Igreja e, por isso, devemos agradecer ao Redentor”.
Sobre a atenção aos mais vulneráveis, Gizele recordou que “a Igreja tem uma longa tradição de serviço aos mais vulneráveis e o jubileu reforça esse compromisso. Em minha caminhada eclesial, sempre estive envolvida em iniciativas voltadas para jovens, religiosos e lideranças de pastorais, promovendo espaços de diálogo e formação para eles serem agentes de transformação social. Essas ações refletem o chamado do Papa para uma Igreja que se faz presente nas periferias existenciais, levando esperança e apoio concreto”.
Irmã Patrizia, por sua vez, atuou como professora de religião num liceu científico italiano e enfatizou que todos os dias entrava em contato com muitos jovens que não eram batizados nem pertenciam à Igreja Católica/cristã: “Quando penso naquilo que o Papa nos diz e na realidade do mundo juvenil, constato como os jovens voltaram a colocar questões religiosas num contexto de grande pluralismo, em contato quotidiano com diferentes experiências religiosas, confrontando-se com amigos das religiões islâmica, budista, de igrejas irmãs cristãs, hindus”.
Para ela, “Os jovens têm necessidade de fazer experiências expressivas como resposta concreta ao amor recebido, de se colocarem em jogo por um tempo, aderindo ao serviço generoso, às iniciativas de solidariedade, ao voluntariado, para evitar um achatamento da proposta cristã que acabaria por esvaziar a própria experiência de serviço e torná-la sem sentido para os jovens. Como comunidade eclesiástica somos chamados a ajudar os jovens a recuperar, a partir das suas experiências e das tradições das suas comunidades, o patrimônio da fé e o Ano Jubilar é uma oportunidade a não perder para investir na fé. É um forte apelo à renovação da identidade cristã”, continuou.
ESCUTAR O BEM
“Papa Francisco é muito realista e como tal ele sabe que o bem presente no mundo é silencioso e muito maior do que o mal barulhento”, recordou Dom João Justino, que reforçou a importância de, durante o jubileu, buscar as incontáveis boas notícias que existem e são pouco conhecidas para fazê-las conhecidas. “Com certeza elas se tornam no coração de quem as escuta um bálsamo que unge e prepara para gestos em favor da promoção da vida de cada pessoa e do cuidado com a criação, dom de Deus para todos”, afirmou o arcebispo.
Ele recordou, ainda, que todo jubileu traz em si um traço de conversão, de perdão, de recomeço: “Ao propor a esperança como mensagem central do Jubileu de 2025, o Papa Francisco alarga ainda mais o horizonte de cuidado com aquelas pessoas que vivem em situações desfavoráveis e padecem. A Igreja, em todos os tempos, está atenta a essas situações. Suas inúmeras obras sociais testemunham o zelo para com os pobres e necessitados e é impressionante como a Igreja consegue fazer tanto com tão poucos recursos. Na Arquidiocese de Goiânia há muitas obras sociais mantidas sobretudo pelas comunidades que atestam, dessa forma, que ser discípulo de Jesus Cristo inclui, necessariamente, reconhecê-lo nos pequeninos [cf. Mt 25,31-46]”, explicou Dom João Justino.
O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reforçou ainda a importância de considerar a dimensão ecológica do jubileu: “Dar o descanso à terra que produz os alimentos. Redistribuir a terra para recomeçar novos tempos de trabalho e produção. Libertar os cativos. Tudo isso faz pensar, imediatamente, na crise ambiental que vivemos. Que argumentos sustentam que não existe crise ambiental? Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade de 2025 está em sintonia com essa dimensão ecológica do jubileu quando traz o tema ‘Fraternidade e ecologia integral’. A crise ambiental afeta o ânimo e a coragem das pessoas. A esperança cristã nos apela ao engajamento em favor do cuidado com os bens da criação, condição para o futuro da Terra. É tarefa nossa criar mecanismos de diálogo com as lideranças sociais e políticas para tratar abertamente do tema do cuidado com a casa comum”, disse.