Na terra, finitos; no céu, eternos!

A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja, dia que marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa. Para os antigos judeus, sentar-se sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus. As cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer, que somos pó e ao pó da terra voltaremos, para que nossos corpos sejam refeitos por Deus de maneira gloriosa, para não mais perecerem.

A intenção desse sacramental é nos levar ao arrependimento dos pecados, fazer-nos lembrar de que não podemos nos apegar a esta vida, achando que a felicidade plena pode ser construída aqui, essa é uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o Céu.

Quarenta dias antes da Páscoa, a Igreja abre solenemente o tempo de penitência, chamado Quaresma, em preparação para a celebração da Páscoa. As cinzas têm um significado bíblico. A Bíblia nos conta que, certa vez, o general Holofernes, com um grande exército, marchou contra a cidade de Betúlia. O povo da cidade, aterrorizado, reuniu-se para rezar a Deus e todos cobriram de cinzas as suas cabeças, pedindo o perdão e a misericórdia do Senhor, que salvou o povo pelas mãos de Judite. As cinzas, por sua leveza, são figura das coisas que se acabam e desaparecem, usadas como sinal de penitência e de luto. 

O Tempo da Quaresma é o momento oportuno para que olhemos mais profundamente para o mistério da cruz. Olhar para a cruz, contemplar esse mistério é ir ao porquê de tudo aquilo que faremos durante a Quaresma. As orações, os jejuns e esmolas têm sentido porque nos põem em contato com a cruz do Senhor; além do mais, recebemos do mistério da cruz a força para unir-nos a ela, ou seja, aquilo que Deus nos pede, Ele nos concede. Deus pede que rezemos? Ele nos dá a graça da oração. Deus nos pede que façamos penitência? Ele nos dá a graça para realizá-la. Deus pede que partilhemos e que não sejamos egoístas? Ele nos dá a graça da generosidade e da esmola. O que está por detrás de tudo isso é a primazia da graça de Deus em nossas vidas. Quando dirigimos o nosso olhar contemplativo ao mistério da cruz do Senhor surge em nós o desejo de fazer aquilo que São Paulo fazia: “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). 

O primeiro passo é saber que o Céu, pátria definitiva em que desejamos habitar, é a casa cuja construção começa na Terra. Dar guarida a cada pessoa que clama pelo nosso amor, sem deixar quem quer que seja passar em vão ao nosso lado. Diante do aleijado encontrado pelas ruas, Pedro e João tinham muito mais do que recursos materiais: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3,6). Deram a cura, abriram o coração do homem para Deus. Os textos dos Atos dos Apóstolos mostram que os primeiros cristãos lutaram pela comunhão de bens, um dos sinais da presença de Cristo, mas muitos podem oferecer outras coisas! Há projetos em vista do bem comum a ser implantados, vencendo interesses corporativos que emperram a vida dos cidadãos. 

Se a vida na Terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos em Deus e no Céu. Acontece que o Todo-Poderoso tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).

São Paulo lembrou aos filipenses: “Nós somos cidadãos do Céu! É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura” (Fl 3,20-21).

A esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações: “Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18). Esse é o sentido das cinzas.

A tribulação passará, o Céu é eterno!

A tribulação, por maior que seja, é momentânea. A glória de Deus revelada em nós será eterna.

Suportar, com paciência e esperança, cada uma das tribulações de nossas vidas, porque elas passarão. Nestes tempos – como já dizia São Paulo –, que são os últimos, que tenhamos a sabedoria e o discernimento para compreendermos onde Deus pode agir e age, porque todas as coisas ocorrem para o bem daqueles que esperam nele, que fazem dele o seu refúgio e a sua confiança.

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