A Oração ao Preciosíssimo Sangue de Jesus foi extraída da Suma Teológica III de São Tomás de Aquino (q. 48) na qual dizia ele que uma só gota do sangue de Cristo bastaria para salvar o mundo. Essa oração reflete a espiritualidade desse santo, que se liga à adoração eucarística e à teologia da redenção (Cristo nos comprou de volta da escravidão do pecado e do poder do Maligno). Essa oração é das mais significativas da piedade católica, pois revela as verdades profundas do sacrifício de Cristo, o poder expiatório do seu Sangue e a vida espiritual do crente.
“Ó preciosíssimo sangue de Jesus, vertido com infinito amor no madeiro da cruz para nossa salvação, eu vos adoro, glorifico e vos ofereço ao eterno Pai em expiação dos meus pecados e pela santificação de todas as almas”: a oração começa com a adoração ao sangue de Jesus e nos remete ao preço que Jesus pagou pela humanidade. Nós não seremos salvos pelas coisas materiais, mas pelo sangue de Jesus. Quem ou o que poderá acrescentar um minuto às nossas vidas? Nem o dinheiro, nem ouro, nem prata, nem toda importância que representarmos neste mundo, nada pode nos salvar a não ser o sangue de Jesus (cf. 1Pd 1,18-19).
Era imperativo que Jesus derramasse seu sangue na cruz, pois se não houvesse derramamento de sangue, não haveria remissão dos pecados (cf. Hb 9,22). Na economia da salvação, Jesus teria que subir na cruz e derramar o seu sangue para nos salvar. Ele foi livremente para a cruz, ninguém o obrigou, deu-se por inteiro, nada reservou para si. Derramou todo o seu sangue na cruz e deu o seu corpo inteiro para ser macerado até se transformar no pão de Deus, que dá vida ao mundo. São Tomás reflete na Súmula Teológica III (q. 48) que uma gota ínfima do sangue de Cristo é suficiente para salvar o mundo, mas Cristo derramou todo o seu sangue e demonstrou quão grande é seu amor por nós.
“Lavai-me, ó sangue divino, de todas as minhas culpas e fraquezas. Libertai-me das cadeias do mal e cobri-me com vossa proteção poderosa”: neste trecho da oração, São Tomás se preocupa com a purificação e com combate espiritual. A luta contra o pecado e o Maligno nunca termina, por isso a necessidade de manter-se vigilante na oração (cf. 1Pd 5,8). O Maligno é como leão a rugir, a nos rodear, procurando a quem devorar, por isso, temos de nos manter vigilantes e resistir-lhe na fé. O sangue de Jesus é ao mesmo tempo escudo e purificador. Ele limpa a alma não só do pecado, mas lhe reveste de graça santificante que nos transformam em templos vivos do Espírito Santo. Como indicavam os padres do deserto, o sangue de Jesus vence as tentações que nos afligem.
“Ó sangue da nova e eterna aliança, fonte de misericórdia e vida eterna, selai minha alma, meu corpo o e meu espírito, para que eu seja templo puro do Espírito Santo e testemunha fiel ao vosso amor redentor”: “sangue da nova e eterna aliança” é o que sacerdote (in persona Christi) diz na consagração, repetindo sacramentalmente Jesus na Última Ceia. Na Eucaristia, o vinho torna-se sangue pela imposição das mãos do sacerdote e pela ação do Espírito Santo. Essa oração expressa a fé no poder infinito do sangue de Cristo. Na Missa, o cálice até então com vinho se transubstancia em sangue de Cristo (parece vinho, mas na verdade é o sangue de Cristo.)
“Senhor Jesus, pelo poder do vosso sangue, curai as feridas da humanidade, convertei os pecadores, consolai os agonizantes e levai ao Pai as almas do purgatório”: o sangue de Jesus tem poder para curar as feridas da humanidade, que são as guerras, a fome, o egoísmo, a inveja, a ganância. A humanidade não tem força para se curar sozinha, pois está enredada pelo ódio ao outro, porque constrói inimigos para depois se vingar deles. Converter os pecadores, principalmente os que estão nas igrejas, pois suas ações contradizem a própria fé. Consolar os agonizantes, não só os moribundos, que são os primeiros, mas também a família que agoniza sob divórcios e separações.
“O vosso sangue seja minha esperança, minha defesa e minha passagem para a vida eterna, onde vos contemplarei face a face na glória do Céu. Amém”: São Gaspar del Bufalo, apóstolo do preciosíssimo sangue, recomendava essa oração contra o demônio e suas tentações, pois ela resume o plano de salvação da humanidade. A necessidade de adorar a Cristo, nossa verdadeira esperança. Esperamos em Cristo e sabemos que ele nunca nos decepcionará. Ele nos defende de todo mal e nos fortalece na fé. Como a moeda de Caronte, o sangue de Cristo nos leva pelo vale da morte até onde o Senhor está.
São Tomás de Aquino não escreveu essa oração diretamente, no entanto, ela foi composta baseada nas suas súmulas. Certamente ele a aprovaria, visto que ela tem grande base teológica e mostra grande ardor devocional.