Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de outubro, Mês Missionário na Igreja particular do Brasil. A missão na vida da Igreja é uma das linhas mestras da evangelização e do anúncio profético, além da capacidade de congregar pessoas em torno da Palavra e do testemunho de Jesus Cristo. A missão acontece em muitos lugares, entretanto, é na família que fazemos a experiência missionária mais singular das nossas vidas, ou seja, a partir do testemunho dos nossos familiares.
A palavra grega “oikós” significa “casa”, “família”, “lar”. No contexto do Evangelho, podemos entender essa amizade como algo que ultrapassa o convívio superficial e funcional. Jesus não nos trata como meros instrumentos de um propósito, mas nos insere em seu lar espiritual, no círculo íntimo de sua relação com o Pai. Ele nos chama para dentro da sua casa e, nesse lar, amigo é mais que vínculo afetivo, é parte da família, sendo assim, é na família que somos chamados para ser Igreja, portanto, muito mais importante do que ir para a Igreja.
A família também é o espaço onde se compartilham segredos, dores, alegrias, conquistas e missão. Jesus diz: “Tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês” (Jo 15,15). Isso é amizade no nível mais profundo: confiança plena, revelação do coração, convivência no amor. Como podemos chegar a esse nível? Aqui está a chave para aumentar em nós a comunhão fraterna: a convivência!
Sabemos que, nos dias de hoje, tempo é um recurso cada vez mais escasso; todos temos vários compromissos (trabalho, estudos, pastorais, lazer etc.), mas o que no começo pode ser encarado como mais um compromisso com o tempo se torna um querer, querer estar juntos, querer passar um tempo com os irmãos em família. Nesses encontros familiares, por assim dizer, podemos de fato conviver e descobrir afinidades, interesses em comum e também podemos descobrir por qual momento o irmão passa (de alegria, celebração ou de tristeza e aflição).
A “comunhão fraterna” (“koinonia”) é a união espiritual dos cristãos baseada na mesma fé e no mesmo estilo de vida. A primeira comunidade cristã tinha consciência de estar unida pelo Espírito do Senhor, que fazia deles “um só coração e uma só alma” (At 4,32). A alegria transbordava “Cativando a simpatia de todos, e o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam no caminho da salvação” (At 2,47), portanto, a missão antes de ser um convite para sair e ir ao encontro dos outros é um encontro com os seus dentro da sua casa.
A missão dentro de nossas casas começa quando compartilhamos a mesma fé, a mesma vida divina, o mesmo Espírito, a mesma Eucaristia. Deveríamos ser capazes de partilhar as outras coisas, pois a comunhão na fé leva à comunhão fraterna. Quanto mais estivermos unidos a Deus, mais abertos deveríamos estar à solidariedade e à partilha: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum” (At 2, 44). A comunhão com Cristo é inseparável da comunhão com os irmãos e irmãs, portanto, a família católica só tem sentido quando é retrato vivo da comunhão fraterna, isto é, da caridade. A comunhão com Cristo leva necessariamente à prática da partilha. Compartilhando nossas vida, compartilharemos também nossas missões evangelizadoras e apostólicas. Seremos verdadeiros(as) discípulos(as) e missionários(as) de Jesus Cristo.
Jesus, sempre que possível, ia se encontrar com seus amigos Lázaro, Marta e Maria. Jesus gostava tanto de estar com seus amigos que foi visitá-los seis dias antes da sua Páscoa (cf. Jo 12,1-2). Jesus, já prestes a enfrentar a paixão, quis, mais uma vez, estar com seus amigos! São João, de modo especial, relata que “Jesus amava Marta, sua irmã Maria e Lázaro” (Jo 11,15). Cabe evidenciar uma profunda mensagem evangélica, transmitida por Marta: a hospitalidade, que constitui uma virtude dos discípulos de Cristo. Trata-se de acolher, de criar espaço em nossas vidas para o próximo. Essa hospitalidade consiste, sobretudo, na atenção e no serviço.
Sendo assim, a cada partilha familiar nosso fardo fica mais leve. Cada olhar amigo, cada ouvido atento, cada abraço carinhoso faz com que nossas forças sejam renovadas e nos motivem a seguir em frente. Bem sabemos que a convivência, em alguns casos, pode não ser fácil, mas é necessário ter paciência, é necessário ter bom ânimo e seguir o exemplo de São Paulo: “Eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho” (1Cor 9,19.22-23).