As festas de fim de ano, momentos geralmente de muita alegria, podem ser tormentos para alguns. Momentos de rever quem não se quer, forçar situações, sorrir e, o pior, não querer estar ali. De maneira análoga, os pais que vivem separados veem essa época do ano como um momento de tensão com relação aos filhos. Uma cobrança interior os faz questionar o que foi feito durante o ano. A canção popular na voz da cantora Simone, comumente entoada pelos meios de comunicação, faz-nos recordar o sentido cristão do Natal: presença, perdão, reconciliação entre o humano e o divino, entre o Céu e a Terra, entre o pecador e o perdão.
O que dizer ainda das crianças e famílias em situação de rua? O que elas, sem festa, sem lar, sem presentes, têm a nos dizer? O que nos toca com relação a essa situação? Por que não lhes somos empáticos? De fato, o assim chamado “espírito natalino” emerge nesses períodos com uma carga bem positiva de solidariedade, momentânea e circunstancial muitas vezes, mas ocorre! O popular termo “espírito natalino” deve ser distinto do Espírito Santo, que move o sentido da liturgia nos períodos do Advento e do Natal. Ele nos recorda por meio das leituras bíblicas próprias desse tempo que Natal é mais do que fazer coisas, é receber Jesus, aceitá-lo, adorá-lo, experienciá-lo na mística presente no presépio, demonstração plena de amor à nossa humanidade por ter se tornado um de nós.
Como cristãos, olhando para o Menino Deus na manjedoura, no presépio que contemplamos em nossas casas, sabemos que não se precisa de muito para celebrar o Natal. No primeiro, inclusive, faltou muita coisa: higiene, os tios e tias, os avós, a casa, os enfeites, enfim, muitos de nós temos hoje muito mais do que o Senhor teve no primeiro Natal. O fato é que as reflexões natalinas devem sempre nos fazer recordar a essência do Natal, uma vez mais e sempre, sem esquecer o que não pode faltar: a presença.
Uma presença forte dos pais, uma presença forte do amor, dos presentes, sim, porque esses são expressões de sentimentos que não devem ser medidos pelo valor monetário, mas pelo que eles significam: lembrou-se de mim, reservou um tempo para encontrar mais alegria em dar do que em receber. Trocar presentes, estar presente com todas as nossas imperfeições, não se furtar jamais de estar em família e encarar de frente o que precisa ser: os seus. Estar ali por inteiro, de coração aberto à reconciliação com os seus, para que o Natal, que é presença, seja agradável de ser vivido não só reunidos, mas unidos.
Por fim, se Natal é presença precisamos caprichar em estar por inteiro onde estamos, ser presenças significativas que fazem falta quando não estiverem, de forma discreta, serena e forte. Que nos esforcemos por sermos presenças nas vidas dos outros, para que Deus esteja presente em nós, que nos encontremos com Ele nas celebrações lindas do Natal, que a Palavra proclamada nos aproxime ainda mais desse Deus apaixonado por nós que pouco abaixo dele nos criou.
*Padre Aloísio dos Santos Mota é bacharel em Teologia e Filosofia e assessor da Pastoral da Comunicação na Arquidiocese de Aparecida (SP). Atuou como missionário no Santuário Nacional de 2016 a 2019. Atualmente é pároco na Paróquia São Pedro Apóstolo na Arquidiocese de Aparecida, cidade de Guaratinguetá (SP).