Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, o mês de setembro, celebrado pela Igreja no Brasil, é marcado pelas inúmeras expressões de fé e amor em relação à Bíblia e conhecido popularmente por todos nós como o Mês da Bíblia.
Diante de tantas possibilidades e caminhos possíveis para conhecer verdadeiramente o nosso Deus, a Sagrada Escritura é por excelência o caminho mais seguro e mais belo para se chegar ao mais íntimo do Abbá, ou seja, nosso Pai querido.
A Palavra de Deus foi transmitida séculos atrás, dos pais aos filhos, de geração em geração, principalmente pelo método da oralidade e posteriormente cristalizada nos textos sagrados. A esse texto chamamos Sagradas Escrituras ou Bíblia Sagrada. Percebemos, portanto, a importância da escuta e da vivência da Palavra em família. Sendo assim é a amorosa comunicação que, mediante a Palavra (Cristo), Deus faz uma comunicação de si e de seu mistério ao homem no seio de uma comunidade, de uma família – Igreja doméstica e de pessoas, sobretudo, para fazer-nos partícipes de sua salvação.
É fato que o texto bíblico foi sendo construído a partir da experiência do povo em relação a Deus por obra e inspiração do Espírito Santo, portanto, quando nós estamos diante da Bíblia Sagrada e com ela em nossas mãos ou por outras experiências sensoriais podemos ousar dizer que estamos face a face com o próprio Deus.
Consciente ou inconscientemente, a palavra nasce da experiência, porque toda abstração conceitual parte originalmente dos sentidos em contato com os dados materiais e com a natureza espiritual por meio dos sentidos internos. Diante dessa realidade, a família é convidada a viver segundo os ensinamentos da Palavra de Deus, cuja conduta ética e moral passa necessariamente pelo critério evangélico do Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus se comunica para salvar, para dar uma lei, para estabelecer uma aliança e fazer promessas, para revelar seu plano de amor. Deus se comunica por meio de seu Filho, Jesus, revelando para todos nós o seu rosto terno e misericordioso.
A Bíblia é a Palavra escrita dentro de um contexto, de um tempo e de um espaço, entretanto, mantém-se viva e vivifica-se constantemente pela experiência pessoal do homem e da mulher de fé no tempo presente, por isso é atemporal.
A partir disso, durante todo o percurso de crescimento do seu povo, Deus de várias maneiras vai falando, dialogando, comunicando-se com seus filhos. Essa comunicação de Deus com o seu povo tem algumas características importantes que é bom lembrarmos: em primeiro lugar não é uma comunicação de ideias, mas de vida. Essa comunicação é feita de palavras e de acontecimentos. Em segundo lugar é uma comunicação histórica. É uma comunicação progressiva, dialógica e pessoal.
A Palavra divina, pela qual Deus entra em comunicação com o homem, encontramos na Bíblia. A Bíblia compreende a Palavra única, última e definitiva de Deus. É única porque Deus tem uma só Palavra, o Verbo, que ressoa em toda a Escritura. É última porque tem sido precedida e preparada por “outras palavras” com as quais Deus se tem revelado ao homem e porque com a revelação do Verbo encarnado termina a revelação de Deus. É definitiva pelo fato de que Deus nos tenha dito por Jesus Cristo toda sua revelação: “No princípio existia a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus” (Jo 1,1).
Na história da salvação, a Palavra de Deus percorre três grandes etapas:
1) A Palavra revelada: a revelação se relaciona com transmissão e tradição;
2) A Palavra inspirada: inclui em seu seio a verdade bíblica e a canonicidade, não admite comparação com a Palavra humana;
3) A Palavra interpretada: que não pode prescindir do estudo dos métodos apropriados e da presença da Palavra na Igreja para o homem hoje, de modo que na eficácia da Palavra pulse a fibra mais íntima de cada geração humana, independentemente da geografia em que vive e a cultura em que se expressa.
Essas três etapas são os conceitos básicos pelos quais se compreende a Sagrada Escritura na Igreja Católica Apostólica Romana.
Quando há a comunicação pela palavra humana logo isso é diluído, perde a sua originalidade. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “Deus transcende a toda criatura. Por isso é preciso incessantemente purificar nossa linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente de pura imaginação, de imperfeito, para não confundirmos o Deus ‘inefável, incompreensível, invisível, inatingível’ com as nossas representações humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aquém do mistério de Deus” (42).
A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma como o corpo do Senhor, pois ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã: “Com efeito, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo” (Dei Verbum, Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, 25).