Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de setembro, mês da Palavra de Deus na Igreja particular do Brasil, com a proposta do livro Atos dos Apóstolos, na Bíblia Sagrada, como itinerário de oração e estudo para a sua família. A família é a Igreja doméstica e, como tal, busca nas primeiras comunidades cristãs a sabedoria da vida comunitária fraterna, como sinal de esperança para os tempos atuais, com tantos desafios. Portanto, unidos na escuta da Palavra, na Eucaristia, na partilha e no anúncio. Essa é a raiz do que hoje chamamos de família cristã, isto é, Igrejas domésticas vivas, missionárias e multiplicadoras.
O Documento 100 da CNBB, Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia, menciona que as paróquias são células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência com Cristo e leva as pessoas à comunhão eclesial. Assim como as paróquias, as famílias são chamadas a ser casas de oração e comunhão. A bem da verdade, o que fazemos em família é ajudar nossas paróquias no pastoreio das pessoas.
A família cristã precisa ser protagonista da caridade, da santidade e da fraternidade, locais de serviço para a renovação das famílias. A paróquia (assim como as famílias) não é primeiramente uma estrutura, um território, um edifício (ou uma casa); é, antes de tudo, a família de Deus.
Qual é a missão das famílias cristãs? A missão é ganhar pessoas para Jesus, consolidá-las na fé, torná-las discípulas e enviá-las a servir. Cada família cristã é um lugar onde esse envio acontece de forma prática, pois acolhe quem chega, partilha a vida, anuncia a Boa-Nova, forma novos discípulos e os envia a evangelizar quando formam novas famílias.
Enquanto membros de uma Igreja doméstica, orientados pela Palavra de Deus, somos chamados, então, a ser discípulos missionários, como nos afirma o Documento de Aparecida. Toda família, à luz da Palavra de Deus, é discípula, pois estamos em constante aprendizado, bebendo do Espírito Santo, o qual torna nossa inteligência capaz de compreender o que muitas vezes a razão não nos permite enxergar. Famílias missionárias porque Deus quer contar conosco para anunciar o Evangelho a todos, pois, conforme nos anuncia o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, todos são chamados à santidade, visto que isso não é algo reservado a poucos, mas sim uma vocação universal, um chamado divino para todos os cristãos, sobretudo para nossas famílias.
Enviada por Deus às nações para ser sacramento universal da salvação, a Igreja, em virtude das exigências interiores da própria catolicidade e obedecendo ao mandato do seu Fundador (Jesus Cristo), esforça-se por anunciar o Evangelho a todos os homens (cf. Catecismo da Igreja Católica, 849). Os fiéis leigos, em virtude do Batismo e da Confirmação, são chamados a participar da missão evangelizadora da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, 900). Aqui, a família se torna um forte instrumento de missão, pois, ao crescermos na fé, na esperança e na caridade, nos tornamos mais fortes e determinados no anúncio do Evangelho. O testemunho de vida cristã e as obras de apostolado têm força para levar os homens à fé, à Igreja e, finalmente, ao encontro pessoal e transformador com Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica, 905).
A missão e a visão das famílias cristãs nos recordam que a Igreja nasceu em comunidade e para a comunidade. Desde os primeiros cristãos, reunidos nas casas, partilhando a fé, o pão e a vida (cf. At 2,42-47), Deus tem chamado seu povo a viver unido, sustentado pela oração, pela Palavra e pela caridade fraterna. O mandamento missionário de Jesus, em Marcos 16,15, nos impulsiona a ir ao encontro de todos, mas as famílias nos mostram um caminho concreto: acolher com amor, cuidar uns dos outros e, juntos, formar discípulos que se multiplicam. Assim, cada casa se torna um farol do Evangelho, e cada membro, um missionário ativo na salvação do mundo.
Como nos recordou o Papa Francisco: “A comunidade é chamada a criar espaços onde se viva a fé, a esperança e a caridade, lugares de acolhida, de escuta e de fraternidade.” (Papa Francisco, Audiência Geral, 9/10/2013).
Viver em família não é apenas um apoio humano: é a forma como Deus nos molda, nos envia e nos sustenta na missão. Quando nos reunimos em nome de Jesus, Ele está no meio de nós (cf. Mt 18,20), e isso nos dá força para transformar as famílias com o amor do Evangelho.