“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14): essas palavras ressoam como o coração do Natal, um tempo em que celebramos o mistério da encarnação de Jesus, a manifestação plena do amor de Deus pela humanidade. Este mês tão especial nos chama a voltar o olhar para o presépio e contemplar aquele que é a verdadeira luz, a luz que veio ao mundo para iluminar todas as trevas.
A própria liturgia do Natal revela a profundidade do significado do nascimento do Messias. Em Isaías, vislumbramos o anúncio jubiloso de que Deus reina, um reinado que traz paz, justiça e salvação: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas-novas e anuncia a libertação” (Is 52,7). Paulo, ao se dirigir aos hebreus, destaca que Deus, que falou de muitas formas ao longo da história, agora se comunica plenamente por meio do Filho, que é o “(…) esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, [que] sustenta o universo com o poder da sua palavra“ (Hb 1,3), e João nos leva a refletir sobre o Verbo eterno que se fez carne, habitando conosco como sinal do amor divino que recria o mundo e oferece vida nova.
O Natal não é apenas uma data comemorativa – como muitos podem pensar –, mas um convite à renovação espiritual e ao encontro pessoal com Cristo. Celebrá-lo é reconhecer, no Menino de Belém, a realização da promessa de Deus, o “Sol da Justiça” que ilumina nossa existência (cf. Ml 4,2). É a ocasião para abrir nossos corações e deixar que a luz da fé nos inspire a levar adiante as virtudes que o próprio Jesus nos ensinou: amor, ternura, compaixão e solidariedade.
Na mística do Natal, o presépio ocupa um lugar especial. Ali, ao redor de um simples berço, todos são convidados a se ajoelhar em adoração: os anjos proclamam “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14), os pastores deixam suas tarefas cotidianas para admirar o Salvador e os reis magos vêm de longe, guiados por uma estrela. De um lado, identificamos a humilde humanidade que se curva diante da graça divina e, de outro, o mundo inteiro se unindo ao mistério do Verbo feito carne. É um cenário de perfeita comunhão.
O grande desafio do Natal está além dos símbolos, das luzes e dos cânticos: ele nos chama a dar testemunho da verdadeira luz que recebemos (cf. Jo 1,6-8). Nos rumores do cotidiano, muitas vezes ignoramos o essencial. Assim como o mundo não reconheceu Jesus (cf. Jo 1,10) somos tentados a restringir o Natal à sua dimensão material, esquecendo-nos de seu principal sentido espiritual, por isso, celebrar o nascimento de Jesus é redescobrir o poder transformador do amor que Ele encarnou, trazendo paz às nossas relações e renovando nossas esperanças.
Dezembro é um período de espiritualidade em meio a tantas “festividades”, comilanças, exageros e quiçá egoísmos; não nos esqueçamos do apelo à solidariedade. Se o Natal é a festa do amor, da família e da partilha, ele também nos desafia a sermos instrumentos dessa luz no mundo. Que o Menino Jesus inspire nossos corações a enxergar aquele que sofre ao nosso lado, a acolher quem está sozinho, a estender a mão ao desamparado.
Enfim, que a alegria do Natal nos faça sentir de novo como crianças, capazes de ver beleza e esperança em cada detalhe, de deixar-nos surpreender pela simplicidade e pelo mistério. Que carreguemos no íntimo de nossas almas o espírito deste tempo bendito e continuemos a viver a mensagem de Belém ao longo de todo o ano, afinal, Jesus, o Verbo Encarnado, deu a nós poder para nos tornarmos filhos de Deus (cf. Jo 1,12) – e é como filhos amados que somos chamados a irradiar a luz de sua presença em todas as nossas ações e escolhas.
Que este mês seja uma oportunidade de vivermos mais intensamente os valores do Evangelho e proclamemos com alegria “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5)! Que a luz de Cristo vença todas as sombras e traga novas esperanças para o mundo.
Um santo Natal a todos! Esses são os votos da equipe editorial da Revista Ave Maria.
NOTAS MARIANAS
Nossa Senhora de Guadalupe
A devoção a Nossa Senhora de Guadalupe remonta ao ano de 1523, quando ela apareceu para o índio asteca Juan Diego e lhe pediu que construísse no local da aparição uma capela em sua honra. Diante da descrença das autoridades eclesiásticas, a Virgem pediu que o piedoso índio recolhesse algumas flores silvestres e as levasse envolvidas em seu manto ao bispo. Quando o bispo abriu o manto, revelou-se a imagem da Virgem, conhecida hoje como Virgem de Guadalupe.