O quinto mandamento da Lei de Deus é uma máxima em favor da vida: “Não matar!”. No entanto, preservar a vida do outro não se resume a não matá-lo com armas, mas também a respeitá-lo em sua integridade como ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
A vida deve ser compreendida em sua amplitude. É como observar um quadro formado por peças de um quebra-cabeça: cada peça, quando colocada em seu devido lugar e unida às demais, revela a beleza do todo. Se uma dessas peças for retirada, seja grande ou pequena, compromete a imagem completa. Esse exemplo nos ajuda a entender que todo ser humano tem seu valor, sua beleza real – a de ser filho de Deus –, e isso precisa ser preservado.
Essa é a visão que todos deveriam ter uns dos outros, a fim de não destruir a vida de quem quer que seja. E, aqui, “destruir” é como “quebrar”, ou seja, retirar uma peça do belo quadro da vida, deixando uma lacuna, ferindo o conjunto. Não se mata ou destrói alguém apenas com armas de fogo ou armas brancas, mas também com fofocas, atitudes de má-fé, escândalos, enfim, comportamentos que ferem a dignidade do outro enquanto pessoa.
Por esse motivo, a Igreja, de modo profético, fala em defesa da integridade física e espiritual. O YouCat (Catecismo Jovem da Igreja Católica), no parágrafo 386, ensina: “O mandamento ‘Não matarás’ presente em Êxodo 20, refere-se tanto à integridade física quanto à espiritual. Qualquer utilização da violência é um grave pecado”.
O Catecismo da Igreja Católica também deixa claro que o escândalo é um pecado grave contra a integridade: “O escândalo é a atitude ou comportamento que leva outrem a fazer o mal. O escandaloso transforma-se em tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e a retidão, podendo arrastar o irmão para a morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por ação ou omissão, levar deliberadamente outra pessoa a cometer uma falta grave” (2284).
O escândalo atinge tanto a vítima quanto o causador. Quem faz o mal, receberá o mal de volta. Fazer mal ao outro é, de certa forma, fazer mal a si. Ninguém fica imune! Entretanto, se sua vida é voltada para abençoar, incentivar e elevar os outros, o retorno será sempre favorável. Mãos que fazem o bem não têm a mesma disposição para praticar o mal.
Sendo assim, não antecipe a morte física de ninguém, nem contribua para sua morte espiritual. Para refletir sobre isso, responda no íntimo do seu coração:
- Minhas atitudes são boas ou más?
- Tenho sido causa de elevação ou de rebaixamento das pessoas?
- O que alimento nos meus ouvidos e deixo sair da minha boca é algo que faz bem ao próximo?
Essa reflexão é mais que necessária, pois nada acontece por acaso. O que sai de você revela o que está em seu coração e em sua mente. Muitas vezes, quem agride foi anteriormente agredido, quem faz o mal foi amaldiçoado pelos outros, por isso, o olhar para dentro de si é essencial. Como já dizia Mestre Eckhart, grande místico frade dominicano: “Se gostares de ti próprio, gostarás de todas as pessoas como de ti mesmo. Se gostas menos de alguma pessoa do que de ti mesmo, é porque nunca conseguiste gostar de ti verdadeiramente”.
Esse é o verdadeiro termômetro para não violar as vidas dos outros, ou seja, ame-se e amará; perdoe-se e perdoará; viva a felicidade e será causa de felicidade!
Pare e reflita no mais íntimo do seu ser: a vida é um dom precioso – não só a sua, mas a de todos. Se quer viver bem, mantenha o outro vivo em seu coração e em suas atitudes, assim, não violará a obra do Criador, que fez a todos à sua imagem e semelhança. Quem vive segundo essa dinâmica descobre a verdadeira felicidade: preservando a vida, vive-se a plenitude dela.