AMOR E COMUNHÃO

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COMO O NATAL SOLIDÁRIO UNE FAMÍLIAS E DESPERTA A COMPAIXÃO NA CELEBRAÇÃO PELO NASCIMENTO DO MENINO JESUS

Natal, tempo de celebração, reflexão, comunhão e de empatia com os mais necessitados. Essa é a missão de muitas famílias ao longo do ano e especialmente nesta época em que a reflexão sobre o nascimento do Menino Jesus domina as conversas e as ações filantrópicas. Diversos desses ensinamentos são legados herdados de pais e avós e ganham um significado ainda mais especial a cada ano, não somente na época do Natal, mas ao longo do ano todo. Conquistas que são celebradas em família e que reúnem pessoas em torno de um objetivo único: fazer o bem não importa a quem e tendo o ensinamento maior da Sagrada Escritura guiando os caminhos: “E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gl 6,9). 

O lema de olhar para o próximo, dedicar tempo e atenção é, acima de tudo, praticar a conduta da compaixão: “Vocês, porém, amem os seus inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar nada em troca; vocês terão uma grande recompensa e serão filhos do Altíssimo. Pois Ele é bondoso até para os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, como também é misericordioso o Pai de vocês. Não julguem e vocês não serão julgados; não condenem e vocês não serão condenados; perdoem e serão perdoados; deem e lhes será dado; boa medida, prensada, sacudida e transbordante será dada a vocês; porque com a medida com que tiverem medido vocês serão medidos também” (Lc 6,35-38).

Quando menos se espera é que o sinal aparece. Assim aconteceu com Pedro Franco Sepúlvida, microempresário carioca de 45 anos, morador de Niterói (RJ), que em julho de 202,2 enquanto pedalava à noite no caminho para a praia, voltou a atenção para a quantidade enorme de pessoas, de todas as idades, que moravam na rua, necessitando de ajuda e boa vontade. “Aquilo me despertou para a necessidade de fazer algo por aquelas e outras pessoas que necessitavam”, recorda.

No mês seguinte, Pedro participou da Missa na matriz de Santa Rita, primeiro templo em devoção a essa santa fora da Itália, no centro do Rio de Janeiro (RJ). A partir daí sua vida ganhou novas diretrizes: “Quando entrei na igreja, ao ajoelhar para fazer minha oração, antes de qualquer palavra, uma imagem me veio à cabeça. Nessa imagem eu me via chegando, andando no Santuário de Aparecida, e foi nesse momento que ratifiquei a minha ideia, que confirmei que esse teria de ser o meu projeto”. Com a aprovação da filha Alice, de 10 anos, e o apoio da família, nascia assim o projeto “Caminhada solidária contra a fome”. 

Pedro reuniu a família, pais, irmãos, cunhados, sobrinhos para apresentar a ideia. “A caminhada começou no dia 18 de outubro de 2022, após a Missa celebrada pelo Padre Abimar na matriz de Santa Rita, no centro do Rio de Janeiro. Cheguei ao Santuário de Aparecida no dia 28 de outubro, uma caminhada de aproximadamente quinhentos quilômetros em que eu fazia o percurso durante o dia, dormia em alguma cidade e continuava no dia seguinte”, explica. O objetivo da caminhada era arrecadar recursos para a compra de cestas básicas para famílias carentes. “Enquanto eu caminhava, antes, durante e depois as pessoas faziam doações diretamente ou por PIX”, recorda. Pedro ressalta que sempre se guiou pela parábola do bom samaritano. Católico praticante desde criança, prega a ajuda ao próximo, independente da religião, da raça ou da orientação sexual. Com o valor arrecadado, as cestas básicas foram distribuídas ao longo dos meses para comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro e de Niterói. Outros projetos derivados da caminhada foram criados, como “A sua família ajuda a minha família” e o “Revestindo pessoas”. “Dessa forma, as pessoas ainda doam mensalmente para o projeto e assim podemos continuar ajudando algumas famílias, levamos roupas e lanches uma vez por semana para os moradores de rua, quando temos a oportunidade de conversar com essas pessoas, ouvir suas histórias, suas necessidades e tentar ajudá-las”, conta antes de acrescentar: “Encaro o Natal e o nascimento de Jesus como uma grande oportunidade de fazer nascer a cada ano um sentimento de fé, esperança e caridade, momento de nascer em nós o espírito de amor ao próximo e fazê-lo perdurar o maior tempo possível”, torce.

O mesmo sentimento é compartilhado por Sandra Zimmermann, coordenadora da Pastoral da Criança na Paróquia São João Batista da Lagoa, no Rio de Janeiro. Desde 2002, ela se dedica a promover ações, eventos e campanhas para o atendimento de 62 crianças das comunidades Tabajara e Santa Marta, na zona sul do Rio. “Promovemos o encontro mensal com as famílias e no próximo dia 2 de dezembro vamos celebrar o Natal. Iniciamos com a santa Missa, depois seguimos para o salão paroquial. As crianças recebem atendimento com pediatra e psiquiatra infantil, além do lanche e da confraternização que promove momentos de alegria com brincadeiras, oficinas e a distribuição dos presentes”, explica. Paroquiana desde que nasceu, Sandra foi batizada e crismada nessa paróquia. Ela e o marido atuam em várias pastorais e em 2001 fizeram o curso de capacitação com a saudosa doutora Zilda Arns, fundadora da pastoral.

Durante o ano, Sandra promove ainda os encontros mensais chamados de “Celebração da vida”, atendendo famílias com gestantes e crianças até 6 anos de idade, sempre no primeiro sábado do mês. Além das campanhas temáticas, o Natal acontece com o apadrinhamento junto aos paroquianos com roupas, calçados e brinquedos novos. A equipe é formada por dezoito pessoas. “A pastoral tem por missão promover o desenvolvimento das crianças à luz evangélica. Atua nas famílias com a proximidade das líderes aconselhando, informando e encaminhando para uma comunidade de fé, movida por Jesus Cristo. Somos missionários”, reforça.

A pastoral promove, desde a sua criação, a festa natalina com distribuição de presentes: brinquedos, calçados e roupas novas para as crianças, advindos da generosidade dos paroquianos, e conta ainda com a decoração com presépio, o momento de oração e o lanche especial. Além das oficinas e brincadeiras, há o momento da chegada do Papai Noel para a entrega os presentes. “Promover essa ação para mim significa ver o Menino Jesus em cada criança, em cada sorriso. Assim como Jesus ganhou ouro, incenso e mirra, oferecemos essa festa com muito amor e carinho”, conta emocionada. Para Sandra, o Natal é a noite santa, em que o amor que é Jesus nasce numa manjedoura e em nos nossos corações. “É o momento de oração e união familiar vivendo essa luz, Jesus, que brilha sobre todos nós trazendo esperança e fé. Esse espírito deve ficar em nós o ano todo”, celebra a assistente social que também herdou dos pais a tradição de reunir a família no dia 24 e preparar a ceia natalina para juntos aguardarem a chegada do Menino Deus. “Neste mundo globalizado e cético, poder oferecer amor ao próximo e Jesus é o maior presente que podemos dar. Só se chega a Deus por meio do próximo. Saber ouvir, ter tempo para isso é fundamental para as relações humanas, num tempo em as pessoas estão muito distantes umas das outras. É um momento em que todos gostariam de ter uma ceia, um lar, uma família. Como disse o Papa Francisco numa Vigília Pascal, não pode haver espaço para a indiferença, que domina no coração de quem é incapaz de amar”, reflete.

Professora com formação em Artes e animadora cultural, Janaína da Silva Belizário empresta seu dom para promover a partilha com os mais necessitados. Frequentadora da Igreja Matriz São Gonçalo do Amarante, no município de São Gonçalo (RJ), é a idealizadora do projeto “Filhos da luz”, que faz doação de cestas básicas sempre no último sábado de cada mês, além de arrecadar roupas, calçados e remédios para as 43 famílias cadastradas. “Tentamos devolver a dignidade às pessoas que estão em situação difícil por um tempo para que elas consigam se reerguer e possamos abrir espaços para outras que também necessitam de ajuda”, explica. Para ela é gratificante praticar a doação, que é um movimento para promover a generosidade: “É uma mobilização que enriquece a sociedade e a incentiva a ser mais solidária por meio da conexão de pessoas. Doar alimentos é um ato de empatia, capacidade de se colocar no lugar de outro pessoa. Recebemos mais do que doamos. Entregamos doações físicas e recebemos amor, vida e esperança. Doe amor e transforme o mundo em um lugar melhor para todos”, ensina a professora de 61 anos.

O projeto tem quase três anos e Janaína garante que quem doa recebe muito mais do que aqueles que são agraciados com donativos. “É isso que o mundo precisa, que cada um de nós se torne mais solidário e misericordioso com o próximo. Eu espero que neste Natal as pessoas estejam mais abertas a ajudar. Que o espírito santo de Deus entre em cada coração aberto pela misericórdia e compaixão divina e nos torne mais humanos”, deseja Janaína, que está às voltas com os preparativos para a celebração de Natal para as crianças e famílias atendidas.

A professora aposentada Rosângela Batista Monteiro também participa do projeto coordenado pela amiga Janaína há dois anos e meio. Ela é uma das dezenas de benfeitoras solidárias, termo usado para identificar as pessoas que contribuem com o projeto: “As famílias são acolhidas com muito carinho na residência de Janaína, onde promovemos no último sábado de cada mês a distribuição das cestas, além de palestras, orações e atividades motivadoras”. Para Rosângela, o Natal é um período de renovação para todos nós: “A cada ano Jesus nasce em nossos corações para nos tornarmos pessoas melhores, mais amigas e mais caridosas”. Ela lembra que quando chegou à Capela São Lucas, em Niterói, já se fazia o trabalho de apadrinhamento com Natal solidário para as crianças. Hoje são aproximadamente duzentas crianças que recebem o kit de Natal: roupa, calçado, brinquedo e caixa de bombons no evento promovido no fim do ano. Já a noite de Natal de Rosângela é dedicada à família: “Participamos da Missa de Natal e depois fazemos a ceia juntos. Entregamos nossas vidas ao Menino Jesus, nossas alegrias e sofrimentos e pedimos a Ele que renove nossas forças para a vida que segue. Falo isso pois minha avó e meu tio faleceram num dia 25 de dezembro e minha irmã, cinco anos atrás, faleceu nas vésperas de Natal, por isso comemoramos o Natal, mas com o coração cheio de saudades”, explica.

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Jornalista

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