AS MELHORES INTENÇÕES

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Há quem pense que com boas intenções tudo se resolve e, se não resolver, pelo menos houve boa intenção. Essa é uma regra que parece governar a vida de várias pessoas.

No entanto, no dia a dia, essas mesmas pessoas vivem inconscientes das consequências de suas ações, pois não entram em contato com a realidade que as circunda: sentem-se protegidas pela sua regra de vida.

Você já deve ter notado que, apesar das boas intenções, os resultados de quem pensa assim raramente são positivos e, às vezes, acabam até prejudicando outras pessoas. Por que isso acontece?

A análise do comportamento considera que qualquer ação, ou comportamento, é fruto da interação da pessoa com o ambiente, sendo classi­ficada por suas consequências. Ou seja, se as consequências de determinada ação forem agradáveis, há grande probabilidade de tal ação repetir-se no futuro, em situação semelhante. Veja um exemplo: uma pessoa muda-se para um novo apartamento e ainda não conhece seus vizinhos. Ao encontrar algum deles, saúda-o amistosamente e se apresenta. O vizinho retribui o cumprimento com semelhante gentileza e também se apresenta. A partir desse primeiro contato, essas pessoas provavelmente se cumprimentarão sempre que se encontrarem e podem mesmo ampliar seu relacionamento com conversas mais longas e, quem sabe, até se tornarem amigas.

As boas intenções, no entanto, são frutos de uma visão mentalista, ou seja, como se houvesse na mente da pessoa um ponto de onde brotassem os pensamentos (de boa vontade, de boas intenções) que a estimularia a agir dessa ou de outra maneira.

Na prática, observamos que isso não acontece. Por exemplo, um indivíduo possui a boa intenção de procurar outro emprego, mas não o procura; uma pessoa sabe que sempre chega atrasada no trabalho e, ainda que revele sua boa intenção em melhorar, não se torna pontual. Somente a consciência de não ter como se manter desempregado irá motivar alguém a buscar com afinco novo trabalho e somente a advertência do chefe e a consciência do risco de perder o emprego, como consequência dos atrasos, poderá levar à pontualidade.

Podemos concluir, então, que as boas intenções não são o suficiente para uma mudança positiva de comportamento e talvez seja por isso que muitos costumam dizer que “de boas intenções o inferno está cheio”!

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Sacerdote e psicólogo clínico, especialista em terapia por contingências de reforçamento.

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