Em três parábolas, o evangelista Lucas mostra a compaixão de Jesus pelos pecadores.
A OVELHA PERDIDA (LC 15,1-7)
Nesta, um pastor que tem cem ovelhas e perde uma deixa as outras 99 no deserto e sai à procura da que se perdera. Logo que a encontra, coloca-a sobre os ombros e, voltando a casa, convoca os amigos e pede que se alegrem com ele. A escolha do pastor lança um paradoxo, pois quem deixaria 99 ovelhas no deserto para procurar uma perdida? É um risco, pois incorre-se no perigo de ficar sem as 99 no deserto e até sem a única que não tem certeza se encontrará.
Todas as ações são do pastor, não das ovelhas. Encontrar a ovelha perdida é a felicidade dele.
Igualmente, nos Céus, há mais alegria por um pecador convertido do que pelos 99 justos que não precisam (ou se iludem de não ter necessidade) de conversão.
A DRACMA PERDIDA (LC 15,8-10)
Uma dona de casa empenha-se por encontrar a moeda que perdera. Logo que a encontra, convoca as amigas e as vizinhas, exorta-as a alegrarem-se com ela por ter encontrado a moeda.
O acento aqui está na procura minuciosa e na alegria partilhada por ter encontrado a moeda perdida. No tempo de Jesus, uma moeda de prata valia um dia de trabalho.
Assim, há grande alegria no Céu por um só pecador que se arrepende. Vale muito encontrá-lo e se alegrar.
O PAI MISERICORDIOSO (LC 15,11-32)
O filho mais novo, contrariando as regras, pede sua parte na herança. A divisão da herança era feita, normalmente, após a morte do pai. Faltando este, o primogênito assumia a gestão dos bens, cabendo-lhe dupla porção. Aqui o pai não reage e consente, dando a entender que para ele todos os filhos são iguais e têm os mesmos direitos.
O filho mais novo parte para um lugar distante. Longe da companhia do pai, estranho em terra estranha, passa a viver a condição de servo: deixa de ser filho para ser escravo. Sua condição é extremamente humilhante, pois cuida de porcos (animais impuros por excelência para os judeus) e quer disputar com eles a comida. O filho chega ao fundo do poço, fazendo “mesa comum” com o que há de mais impuro. Exatamente aí toma consciência. A miséria extrema o fez amadurecer. Planeja a possibilidade de retorno e seu discurso de apresentação constará de três partes: reconhecimento do pecado, reconhecimento da perda da filiação e pedido para ser admitido como servo.
O pai mantém viva a esperança do retorno do filho e, ao vê-lo ainda longe, enche-se de compaixão. Esse verbo (“splagchnizomai”, em grego) é, nos evangelhos, atribuído sempre a Jesus, por se tratar de ação divina. Somente o bom samaritano (cf. Lc 10,33) é capaz de tal ação. A ação do pai visa a restabelecer plenamente o filho perdido. Nem permite que o filho diga aquilo que havia pensador dizer.
Para o pai, filho é sempre filho. Imediatamente os servos são chamados para vestir o filho, devolvendo-lhe a dignidade. Ordena que lhe ponham o anel, conferindo-lhe plenos poderes, que lhe calcem sandálias, sinal da liberdade adquirida. Por fim, manda matar o animal de engorda, pois o momento é muito importante: ele acaba de recuperar o seu filho. Trata-se de verdadeira ressurreição. Por duas vezes o filho dissera “Vou-me levantar” (em grego, “anastás”, termo que faz referência à ressurreição, “anástasis”) e o pai, por duas vezes, considera-o morto.
O filho mais velho, que até o momento parecia ser bom, então se revela. As suas atitudes e palavras indicam o que estava em seu coração. Recusa-se a aceder ao pedido do pai. Nem mais chama o irmão por esse termo, acusando-o de ter devorado os bens do pai com prostitutas e reclama que mesmo assim o pai ainda lhe faz uma festa. Onde já se viu?! Fala como se nunca tivesse recebido um bem do pai, apesar de servi-lo há tanto tempo. Mostra que sua relação não é a de pai e filho e sim de patrão-servo.
A parábola não diz se o filho mais velho aceitou se reconciliar para “entrar em casa” ou se manteve fora da festa. Fica em aberto. A resposta cabe a cada pessoa: abrir-se ou fechar-se (hipocrisia, farisaísmo) a acolher, perdoar, amar como Deus acolhe, perdoa e ama.