AS URGÊNCIAS DO TEMPO E A PERSEVERANÇA NAS CONSTRUÇÕES AFETIVAS E SIMBÓLICAS

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Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de janeiro, mês em que descansamos com nossas famílias por ocasião das férias; entretanto, é tempo em que as urgências do novo ano nos desafiam a confiar que será um ciclo mais próspero. Sendo assim, o planejamento familiar deve ser realizado neste período como instrumento de apoio.

Quero propor a você, leitor(a), um processo de perseverança a partir das virtudes que todos nós trazemos e adquirimos ao longo de nossas construções afetivas e simbólicas. As virtudes são qualidades que melhoram a condição humana. Todas elas precisam da ação de outra virtude complementar, cujo nome é perseverança (cf. Ap 13,10). Essa virtude faz com que o cristão, independentemente do grau de união que mantém com Deus, esteja decidido a querer manter-se sempre em sua missão e a recomeçar todos os dias (cf. Fl 3,16). 

Em todo começo de ano é oportuno refletir sobre nossos projetos que não terminamos e outros que nem começamos como possibilidade de recomeço. As pessoas necessitam de perseverança e isso requer vontade e esforço de nossa parte. Nada mais motivador para continuarmos nossa caminhada do que uma história inspiradora sobre perseverança. 

Na vida espiritual pessoal ou familiar, devemos evitar uma autossuficiência exacerbada, sobretudo neste tempo novo de reconstrução de sentidos em que vivemos, ou seja, a autossuficiência pode se instalar em nossos corações e mentes quando conquistamos posições, cargos e mesmo quando temos progressos na vida espiritual e avançamos no conhecimento sobre Deus.

Embora muitas dessas conquistas sejam boas e de Deus, nossa natureza humana pode não saber administrá-las corretamente e, por vezes, podemos, consciente ou inconscientemente, “inflarmo-nos”, julgando a nós mesmos como superiores aos demais devido ao nosso “progresso espiritual”. Às vezes, sentimo-nos até mais conhecedores, mais preparados, melhores pregadores, melhores músicos, mais santos e, assim, consideramo-nos autossuficientes, ou seja, “Eu me basto, não preciso de meu(minha) irmão(ã)”. 

A história da salvação registra casos fortes de prejuízos, quase que irreparáveis, causados pela autossuficiência. O primeiro caso está narrado no Livro de Gênesis, em que a autossuficiência levou nossos primeiros pais, Adão e Eva, a decidir que poderiam viver uma vida independente de Deus. As consequências dessa atitude todos nós conhecemos: foi assim que entrou o pecado no mundo (cf. Gn 3,1-11). O segundo caso que podemos citar como exemplo foi quando a autossuficiência levou o rei da Babilônia (Nabucodonosor) a pensar ser superior a Deus, conforme narrado no Livro de Isaías: “Como é que você caiu do Céu, estrela da manhã, filho da aurora? Como é que você foi jogado por terra, agressor das nações? Você que dizia: ‘Vou subir até o Céu. Vou colocar meu trono acima das estrelas de Deus. Vou sentar-me na montanha da assembleia, no cume da montanha celeste. Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual ao Altíssimo’” (Is 14,12-14).

Porém, você não deve confundir momentos difíceis com a ausência de Deus. Ele age em todos os momentos, principalmente nos de perseverança. A constância permaneceu e Deus nos honrou, pois “(…) tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele” (Rm 8,28). Se em meio a um momento tão difícil e desafiador Deus nos fez prosperar mais do que antes, por meio da perseverança de todos, como não acreditar na força dessa virtude, não é mesmo? 

Oremos todos os dias e em todas as nossas famílias para que o Senhor nos conserve perseverantes, aproveitando cada oportunidade que Ele nos oferece para irmos à Missa, aos encontros das pastorais e movimentos, adoração ao Santíssimo, formação, Terço, confraternizações para que, assim, nossos esforços possam continuar contribuindo para a obra do Senhor. Que possamos sempre olhar para ela nos momentos de desânimo, lembrarmos quanto somos fortes e que Deus tem uma missão de evangelização para nós. Basta um grão de mostarda, um peixe, um “sim” para que Ele a realize por meio de cada um “E, acima de tudo, revistam-se do amor, que é o laço da perfeição. E no coração de vocês reine a paz de Cristo, para a qual foram chamados em um só corpo” (Cl 3,14-15).

Pe. Rodolfo Faria

Sacerdote, Mestre em Comunicação. Apresentador de TV na Rede Século 21. Diretor de Programação 93.3 FM. Colunista de Jornal e Revista e Escritor.

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