CELEBRAMOS A VIDA E A SANTIDADE NA ESPERANÇA DO REINO CELESTIAL

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“Vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão.” (Ap 7,9)

No mês de novembro, podemos fazer uma relação interessante entre três grandes celebrações. Começamos pela celebração de Todos os Santos, depois comemoramos o Dia de Finados e concluímos o mês, e também o ano litúrgico, com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Neste artigo, gostaríamos de apresentar uma visão de conjunto, demonstrando a inter-relação entre essas festas.

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

A Solenidade de Todos os Santos nos faz lembrar todos aqueles que se dedicaram a Deus na peregrinação terrena e hoje são lembrados pela sua comunhão com Deus e com os irmãos. Ser santo é ser separado para Deus e a vida de santidade tem seu início com o dom da vida. Quando nascemos já somos chamados para uma vida de comunhão com Deus; depois, no Batismo, somos incorporados na Igreja para prosseguir no caminho de santificação. Mais tarde, com a compreensão das coisas e pela recepção dos sacramentos somos enviados em missão, a fim de comunicar a graça de Deus recebida em nossas vidas. 

Conhecemos alguns santos, homens e mulheres, que foram canonizados pela Igreja, mas, não conhecemos todos os santos, somente Deus os conhece. Ao mesmo tempo, ainda que não percebamos, estamos cercados por muitos santos, homens e mulheres que no dia a dia de suas vidas se entregam a Deus e ao próximo. 

Quando falamos em santo logo nos vêm à mente as “imagens” dos santos expostas nas igrejas e capelas. Elas existem com o propósito pedagógico de motivar a santidade, ou seja, o seguimento de Cristo. Essas imagens representam homens e mulheres, de carne e osso, como cada um de nós, que na sua liberdade escolheram imitar Cristo. Grande exemplo para nós é Nossa Senhora, a toda santa, que sempre intercede por nós para que cheguemos à santidade e possamos contemplar a face de Deus. 

O rol dos santos não se limita àqueles que foram oficialmente canonizados pela Igreja, a santidade não é exclusividade deles. Existem muitos outros, não fazemos ideia de quantos viveram e vivem a santidade. Esses são, pelos méritos de Cristo, sinais para cada um de nós. Eles nos testemunham que é possível superar os limites próprios da nossa natureza quando nos unimos e confiamos nossas vidas a Cristo.

A salvação é gratuita mas não é uma imposição, já que Deus respeita nossa liberdade. Todos quantos quiserem ser santos poderão ser desde que se unam a Cristo e sigam seu caminho: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Não é uma obra fácil, exige perseverança e muita graça de Deus.

São João nos diz: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). Sendo filhos de Deus somos chamados a imitá-lo: “Sede perfeitos como o Pai é perfeito” (Mt 5,48). Não é um programa de vida fácil, nem mesmo Jesus disse que seria, muito pelo contrário, porém, Ele mesmo disse que estaria conosco até o fim dos tempos e enquanto esteve no mundo deixou seu exemplo e ensinamento para que um dia possamos nos alegrar e exultar, recebendo nossa recompensa nos Céus (cf. Mt 5,12a). 

As bem-aventuranças são ensinamentos que nos ajudarão muito a refletir sobre um programa de vida rumo à santidade. Essa não é uma conquista de um dia para o outro, é um caminho constante e por vezes penoso e estreito. Nesse caminho não estamos sozinhos, o próprio Cristo vai à nossa frente e, enquanto caminhamos, todos os santos que já contemplam a face de Deus intercedem por nós para que lá também estejamos um dia.

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS

 Até que chegue a segunda vinda de Cristo, peregrinamos na Terra e buscamos viver nossa união com Deus. Outros, que já passaram desta vida, estão se purificando para poderem participar plenamente dessa comunhão com o Senhor. Outros, enfim, gozam da glória, contemplando Deus. Todos, porém, comungamos na mesma caridade de Deus, portanto, a união daqueles que estão a caminho com os irmãos falecidos de maneira alguma se interrompe, antes ela é fortalecida pela comunhão dos bens espirituais (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, 49). A Igreja, desde os primeiros tempos, cultiva com grande piedade a memória dos defuntos e oferece por eles suas orações. Nos ritos fúnebres, ela celebra com fé o mistério pascal, na certeza de que todos que se tornaram pelo Batismo membros de Cristo crucificado e ressuscitado e por meio da morte passam com ele à vida sem fim (cf. Missal romano).

A comemoração de todos os fiéis defuntos não é a celebração da morte; nesse dia celebramos a vitória sobre a morte conquistada pela ressurreição de Jesus Cristo. Reunimo-nos para nos lembrar de nossos entes queridos, visitamos os cemitérios e nos reunimos para celebrar a santa Missa e rezar por todos aqueles que passaram para a casa do Pai. 

É verdade que para os cristãos a morte também traz tristeza pela perda do ente querido, mas, essa tristeza é compensada pela certeza na ressurreição. A morte para os cristãos não é a última palavra, ela é só uma passagem. A morte é uma realidade terrena, como término de nossas vidas e passagem para a eternidade; compreendemos a morte como o dies natalis, ou seja, o dia do nascimento para a vida eterna. 

Outra coisa interessante de notar é que a palavra “cemitério”, do latim “coemeterium”, derivado do grego “kimitírion”, a partir do verbo “kimáo”, que significa “pôr a jazer” ou “fazer deitar”, foi dada pelos primeiros cristãos aos terrenos destinados à sepultura de seus mortos. Por analogia, podemos dizer que esse lugar é um “dormitório”, onde os mortos dormem e aguardam a ressurreição. Na concepção cristã esse termo é mais adequado do que “necrópole”, que significa cidade dos mortos. Assim, quando nos reunimos para comemorar nossos entes queridos defuntos renovamos nossa esperança na ressurreição. Não celebramos a morte, mas a vida eterna.

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Tendo abordado a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos, tratamos agora da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Jesus, oferecendo-se na cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade e nos conquistou a vida eterna no Reino dos Céus, reino de paz e de alegria. Lembramos aqui as palavras que Jesus disse ao bom ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Jesus, “o Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6).

Com a Solenidade de Cristo Rei concluímos mais um ano litúrgico. O ciclo anual das celebrações se encerra e nos aponta sua meta: celebrar permanentemente o Senhor da Vida. Para viver com Jesus em seu reino precisamos reconhecer seu senhorio, proclamar que ele é o Senhor de nossa vida e deixar que conduza nossos passos. Não podemos deixar de considerar que o Reino de Deus começa aqui, em nossa vida terrena, mas, o Reino de Cristo não é como uma instituição política ou jurídica, como são os reinos humanos.

Nossa vida se divide em dois tempos: o primeiro aqui neste mundo, onde vivemos. Nele encontramos Cristo como Bom-Pastor; a decisão depende de nós; é o que são Paulo chama o “tempo propício ou o dia da salvação” (2Cor 6,2). Chegará, porém, uma nova fase: aquela em que se encontrará Cristo como juiz e rei do universo, em que a decisão não estará mais em nossas mãos, em que não haverá mais tempo para debate ou defesa, somente para sentença (cf. Raniero Cantalamessa, O Verbo se faz carne).

Assim somos chamados a trilhar nosso caminho em comunhão com o Senhor e esperar, quando a morte chegar, unirmo-nos para sempre com Ele em seu reino.

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