COMUNIDADES DE FÉ PREPARAM PROGRAMAÇÃO PARA O CORPUS CHRISTI

A ESPETACULAR MANIFESTAÇÃO CULTURAL DE CORPUS CHRISTI

Em todo o Brasil, comunidades de fé preparam os caminhos para a Solenidade de Corpus Christi. Com criatividade e mão na massa, as celebrações reúnem milhares de fiéis e reforçam a tradição de preparar o caminho para que Jesus possa passar no meio do povo. 

Instituída pelo Papa Urbano IV, em 1264, a história da festa de Corpus Christi é muito peculiar. O Papa Urbano IV, quando ainda era padre, na Bélgica, conheceu uma religiosa chamada Juliana de Mont Cornillon, que depois foi canonizada. Santa Juliana tinha visões e dizia que o próprio Cristo lhe trazia a Eucaristia. O Papa Urbano tomou conhecimento de um milagre eucarístico conhecido como o milagre de Bolsena. Todo esse contexto de forte devoção eucarística levou à instituição da festividade de Corpus Christi

Corpus Christi é a festa da Eucaristia e não podemos entendê-la sem o sacrifício de Jesus. A morte de Jesus está relacionada ao que chamamos de história da salvação. Somos criados por Deus para que possamos vivenciar seu amor. A encarnação de Jesus é a comunicação desse amor e seu sacrifício na cruz é um sacrifício de amor, pelo amor e para o amor. Ele morre porque nos ama, mas também morre para nos ensinar o que é o amor. Quando celebramos a Eucaristia, nós não apenas lembramos desse sacrifício de amor, mas o revivemos, então, podemos dizer que a festa de Corpus Christi é a celebração do amor de Deus que se deu na cruz e se fez pão e vinho para nos alimentar”, explicou, em entrevista à reportagem, Welder Lancieri Marchini, doutor em Ciência da Religião, editor e professor de Teologia na Universidade São Francisco. 

A TRADIÇÃO DOS TAPETES

Welder salientou, ainda, que o ser humano tem necessidade de manifestar suas crenças, mas, também seus afetos e sua devoção. O Brasil assumiu essa tradição por meio dos portugueses. Na festa de Corpus Christi vemos tapetes confeccionados de diversos modos e com os mais variados materiais.

Welder lembrou ainda que, como Sacramento, a Eucaristia se torna sinal visível do amor de Deus, que é invisível: “Quando amamos alguém, ou quando dizemos que amamos alguém, onde está esse amor? Apenas em nossas palavras? Penso que não. Alguém que diz amar o outro, mas sempre o trata mal, nunca lhe demonstra afeto e respeito, não pode ter um amor verdadeiro. Se Deus nos ama, e Ele nos ama, Ele quer manifestar seu amor. A Eucaristia, como também os outros sacramentos, é o sinal do amor de Deus. Cada vez que Ele se faz pão é como se nos desse um abraço. A Eucaristia é o ‘chamego’ de Deus na nossa vida, é o café quentinho da avó que nos recebe em casa, é o alimento que nos preenche a alma”. 

EM TERRAS MINEIRAS

Em 2023, na Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), depois de quatro anos da última Solenidade de Corpus Christi presencial, ou seja, antes da pandemia, ela volta agora com a programação dos grupos, atividades e principalmente duas grandes atividades durante programação da 84ª Semana Eucarística (de 1º a 8 de junho), que culminam com a Solenidade de Corpus Christi: a montagem do grande tapete devocional, feito de serragem e materiais reciclados, que os fiéis preparam ao longo da madrugada e da manhã do dia de Corpus Christi

O Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem em Belo Horizonte é um dos poucos santuários católicos no mundo a oferecer a oportunidade de adoração ao Santíssimo Sacramento todos os dias da semana e ao longo das 24 horas.

O tapete une o Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia ao Santuário Arquidiocesano de São José, também localizado no centro de Belo Horizonte. No total são 1.023 metros de serragem de tapete devocional. Juntos, os santuários somam mais de 1.500 pessoas trabalhando. É um mutirão da fé, da arte e da devoção.

“Neste ano teremos essa grande atividade e a segunda é a procissão solene de Corpus Christi; após a santa Missa sairemos então pelas ruas do centro da capital. Ao longo da 84ª Semana Eucarística teremos várias atividades gastronômicas, barraquinhas, quermesse, adorações, celebrações e catequeses”, explicou Padre Marcelo Silva, reitor do Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem.

Padre Marcelo reforçou que a participação dos fiéis é que mantém acessa e intensa a programação de atividades do Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia, que continuou ao longo da pandemia com inúmeras iniciativas de promoção ao culto eucarístico: atividades sociais, culturais, concertos, várias atividades também de cunho gastronômico, com transmissão on-line

“A participação dos fiéis em Belo Horizonte é a própria vida eucarística. A espiritualidade eucarística está muito presente na alma católica do mineiro, do belo-horizontino. Isso também nos garante essa presença e interesse dos fiéis”, continuou.

HISTÓRIA DE AMOR E FÉ

Uma solenidade reunindo milhares de fiéis marcou o início da adoração perpétua na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em 31 de outubro de 1937. A partir dessa data, os fiéis passaram a dedicar ao menos uma hora do dia para orações e reflexões diante da Eucaristia.

Os momentos de adoração são realizados individualmente ou em grupos que se revezam durante 24 horas.

A padroeira do santuário, Nossa Senhora da Boa Viagem, é também a padroeira de Belo Horizonte. A grande festa em sua homenagem é realizada no dia 15 de agosto. A novena sempre começa no dia 6.

MILHARES EM CASTELO (ES)

Cerca de 100 mil fiéis reúnem-se em Castelo (ES) para a Solenidade de Corpus Christi, cuja tradição faz crescer na cidade o turismo religioso e a fé das comunidades que promovem caminhadas e romarias. 

Luciano Travaglia, presidente do Instituto Cultural Irmã Vicenza e responsável junto à Paróquia Nossa Senhora da Penha pela elaboração e organização do evento, disse em entrevista à reportagem que a concentração acontece principalmente na hora da Missa campal e em seguida com a procissão do Cristo Vivo, pelos 1.200 metros de quadros e passadeiras.

Considerada a maior festa religiosa do Brasil nesse formato, ou seja, a céu aberto, a estrutura conta com 1.200 metros lineares (comprimento) e quase 5 mil metros quadrados de tapetes e quadros ornamentados.

Luciano atribuiu o grande número de fiéis à busca que as pessoas vivem por um mundo melhor e a fé em Cristo. “Além de o turismo religioso crescer a cada dia, o povo de Deus está um pouco perdido e desorientado com as questões de doenças como as pandemias, guerras e políticas duvidosas. Aí, só resta a fé. E a fé é Jesus; no único dia do ano que o Cristo Vivo sai às ruas em forma de comunhão, o fiel sai a procura dele”, disse.

Como a festa acontece em parceria com a prefeitura, a comissão organizadora do instituto presta contas a ela do repasse de dinheiro que recebeu na parceria, faz uma avaliação com todos os coordenadores e avalia, também, a pesquisa realizada junto aos turistas.

A paróquia é a responsável por definir os temas do ano seguinte. “Em seguida, o instituto começa a discutir os temas que foram decididos pela igreja com os coordenadores”, explicou Luciano. 

Ele detalhou, ainda, a preparação para a realização dos tapetes. Os coordenadores de quadros e passadeiras (33) reúnem-se com suas equipes em média de cinquenta pessoas cada e começam a discutir as artes e os desenhos que vão realizar, utilizando os cinco diretores artísticos designados. “As artes são realizadas por um designer e encaminhadas para a serralheria providenciar os moldes. Fazemos, então, o levantamento dos materiais que são utilizados: pó, seixos de pedra dolomítica, raspas de pneus, alumínio moído, palha de café e arroz, pó de café usado, cepilho, flores, tampinhas de garrafa etc. Só então é realizada a aquisição dos insumos”, disse.

Após todas essas etapas, as equipes fazem a marcação das ruas e são necessárias cerca de 2 mil pessoas para a confecção dos tapetes, que trabalham de forma direta ou indireta. “É um verdadeiro espetáculo religioso a céu aberto. Você consegue ver pessoas idosas e jovens trabalhando na festa, como se fosse uma tradição de pai para filho”, observou Luciano.

Ele herdou o amor pela festa de sua família, já que sua mãe, Tetê, como era conhecida, foi uma das pioneiras. “Consideramos o evento um verdadeiro milagre. Sempre achamos que não vai acontecer, mas, quando chega a hora, tudo dá certo. É muito gratificante quando vemos no decorrer dos 1.200 metros de tapetes quase todas as casas e vitrines de lojas ornamentadas para ver o Santíssimo passar”, finalizou ele.

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