Caríssimos amigos e irmãos, que a paz do Senhor esteja com todos vocês. Chegamos ao término do Tempo Pascal! Depois desse tempo de alegria e vida nova em que celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, vivemos a festa solene de Pentecostes. Hoje o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos no Cenáculo e a Igreja iniciou sua missão pública. Ao apagar-se o círio pascal no fim da última celebração deste domingo, recordaremos que essa luz nos foi entregue para que sejamos aqueles que a levam pelo testemunho e pela palavra vida afora.
O dom do Espírito é fruto da Páscoa de Cristo. Ele nos foi dado no nosso Batismo para continuarmos a missão de Jesus como animados e ardorosos anunciadores do Evangelho. Assim como a festa judaica da lei se celebra cinquenta dias após a Páscoa, o Espírito de amor é a nova lei, a lei do cristão, pois “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5).
Pentecostes era uma das três grandes festas judaicas: era celebrada cinquenta dias após a Páscoa e muitos israelitas faziam a peregrinação naquele dia à Cidade Santa. Sua origem foi celebrar o fim da colheita de cereais e agradecer a Deus por isso, assim também com a oferta dos primeiros frutos. Era também a ocasião de comemorar a promulgação da lei dada por Deus a Moisés no monte Sinai.
O livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) vai trazer o relato do dia de Pentecostes. O relato é composto de detalhes específicos, apresentando imagens que fazem recordar momentos importantes no Antigo Testamento, como o vento impetuoso, as línguas de fogo como simbolismo da presença de Deus, a diversidade reunida entre tantos outros. O barulho, como o vento e o fogo (cf. At 2,2-3), evoca precisamente a manifestação de Deus no monte Sinai quando Ele, dando-lhes a lei, constituiu Israel como seu povo. Agora, com as mesmas características, Ele se manifesta ao seu novo povo, a Igreja: o vento significa a novidade transcendente de sua ação na história dos homens e o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo.
Esse último detalhe chama a atenção: o grande sinal da comunhão e da unidade manifesto no dia de Pentecostes. A diversidade de povos apresentada no relato que conseguia escutar o anúncio da Palavra de Deus em sua própria língua nos faz recordar o episódio da torre de Babel, mas, no seu sentido inverso: se em Babel temos a desunião pela tentativa de ser como Deus, Pentecostes recupera o que foi feito lá e traz a unidade entre os homens. O Concílio Vaticano II, no seu Decreto Ad Gentes assim comenta sobre a realidade aqui narrada: “No dia de Pentecostes, Ele encontrou os discípulos para permanecer com eles para sempre; a Igreja falou publicamente diante da multidão; a propagação do Evangelho entre os povos começou por meio da pregação; a união dos povos na catolicidade da fé foi finalmente prenunciada pela Igreja da nova aliança, que fala em todas as línguas, entende e abraça todas as línguas no amor, superando assim a dispersão de Babel” (4).
Jamais podemos deixar de considerar este importante aspecto da vida da Igreja: a unidade na diversidade que é produzida pela ação do Espírito. A Igreja não é uma instituição como outras que prezam e buscam manter a uniformidade, em que todos agem da mesma forma. Na Igreja, a ação do Espírito traz o dom da unidade: unidade no senhorio de Cristo, unidade na fé, unidade no Batismo, na proclamação de um só Deus. Essa unidade é vivida em meio à diversidade de ritos, liturgias, pastorais, vocações, ministérios, ordens religiosas, espiritualidades etc. Essa unidade na diversidade é um dos grandes sinais da santidade da Igreja: enquanto a existência humana é marcada pela intolerância e pela rejeição ao diferente, a realidade da fé realiza no mundo a unidade na diversidade, assim como é a realidade de Deus, um só Deus em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Chegamos, então, ao momento central do relato, quando Cristo sobe sobre os discípulos o seu Espírito: “E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22). O Espírito Santo vem para restaurar as esperanças dos que ali se encontravam, vem para capacitar aqueles que agora são os apóstolos de Cristo e vem para transformar as vidas deles, concedendo dons, carismas, fazendo-lhes capazes de continuar em meio ao mundo a missão de Cristo, que passou pelo meio dos homens fazendo o bem.
As maravilhas realizadas pela ação do Espírito no dia de Pentecostes são as que pedimos que sejam renovadas na vida da Igreja na solenidade de hoje. O Espírito quer também hoje nos restaurar, capacitar e transformar: restaurar nossos ânimos, nossos cansaços, nossas fraquezas e nosso caminhar rotineiro. O Senhor que nos envia ao meio do mundo, para que ali sejamos sal da Terra e luz, não somente nos envia, mas nos sustenta na missão, dando-nos sabedoria, coragem e humildade para o serviço. Esse mesmo Espírito nos transforma em homens novos, traz-nos a uma vida nova, conforme celebramos intensamente no tempo da Páscoa.
Peçamos que Maria nos ensine a ser dóceis ao Espírito, para que Ele gere também Cristo em nós. Rezemos pela recuperação dos doentes, pelo consolo dos aflitos e amparo dos desesperados. Que assim como Maria foi apressadamente socorrer Isabel em suas necessidades próprias da gravidez, possamos estar sempre de prontidão para estender a mão a quem necessita.
Deus abençoe e guarde a todos!