Estimado leitor da Revista Ave-Maria, começo nossa reflexão mensal de junho abordando a grande crise da humanidade, evidenciada pelos inúmeros problemas que as famílias enfrentam diante do empobrecimento dos valores e da banalização dos princípios cristãos. Proponho, portanto, uma leitura a partir da palavra de Deus que nos encoraja ao caminho da esperança e ao testemunho de São Paulo Apóstolo.
Na Carta aos Filipenses, São Paulo exorta seu povo, dizendo: “Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai na vossa salvação com temor e tremor.” (cf. Fl 2,12). Firmar pactos com o propósito de desenvolver a vida nova que um dia recebemos de Cristo, ou “trabalhar em nossa salvação”, tem a ver com o desenvolvimento de caráter, no sentido de nos forjarmos segundo o caráter de Cristo, o Homem Justo e Santo.
O valor de uma pessoa está em seu caráter e em quanto ela busca assemelhar-se a Jesus. Neste sentido, hoje falaremos a respeito de dois pactos, os quais são determinantes para o crescimento de um verdadeiro cristão: a honestidade e a transparência.
A honestidade é questão de caráter, de índole, de princípio de vida, de temor e obediência a Deus. Honestidade é algo que se aprende quando criança, junto às “virtudes essenciais” de uma boa educação. Ser honesto é uma decisão! A honestidade preserva a segurança na vida em comum: “Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros.” (cf. Ef 4,25); somos membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. A vida em comum, seja de um casal, seja de uma comunidade cristã, requer honestidade, pois ela é uma das qualidades mais importantes de uma relação feliz. Não mentir significa ser transparente e não aparente, embora a cultura atual nos empurre para baixo, fazendo-nos cair constantemente na mentira.
Santa Catarina de Sena nos diz que “É obrigação de todos edificar os demais com uma vida boa, santa e honesta”. Na vida familiar, primamos pelos valores do Reino e objetivamos chegar ao ponto de dar a vida uns pelos outros. Todavia, como chegar a este estágio elevado, quando temos dificuldades em questões simples como o trânsito, a escola (colas), a profissão (enrolação no expediente, uso ilícito da internet, xerox não permitidas), entre outras? A honestidade precisa ser, para o discípulo, como a roupa que ele troca todos os dias. Diz o livro de Jó: “Revestia-me de justiça e a equidade era para mim como uma roupa e um turbante.” (cf. Jó 29,14). A Palavra quer nos dizer que, para cada dia, tenho um novo desafio e preciso revestir-me da graça para ser fiel. Além de não mentir, honestidade implica sinceridade nos relacionamentos: não cair no pecado por causa de um natural acesso de ira. São Paulo nos diz: “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.” (cf. Ef 4,26).
Quanto à transparência, esta é fundamental para a vida cristã, pois reflete não somente a honestidade, mas também a integridade e a verdade, valores essenciais para seguir os ensinamentos de Cristo. Jesus disse a Nicodemos: “Mas aquele que pratica a verdade vem para a luz. Torna-se claro que as suas obras são feitas em Deus.” (cf. Jo 3,21). Aqui, a luz simboliza a verdade e a transparência, convidando os fiéis a viverem abertamente, sem esconder seus atos. São Paulo também destaca a transparência em sua carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade.” (cf. Ef 5, 8-9). Novamente, a luz representa a verdade que deve permear a vida das famílias, sobretudo, das famílias cristãs. Mas o que é a verdade? Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a verdade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, fugindo da duplicidade, da simulação e da hipocrisia. O cristão não deve se envergonhar de dar testemunho de Nosso Senhor em atos e palavras (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2505-2506).
Em Atos 4,20, Pedro e João disseram aos escribas e chefes do povo: “Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”. Essa passagem destaca a responsabilidade dos cristãos em testemunhar a verdade de forma transparente e autêntica. Viver a transparência cristã no dia a dia envolve diversos aspectos práticos que refletem os ensinamentos de Cristo e os valores do Evangelho. Aqui estão alguns exemplos:
Honestidade nas relações interpessoais: Ser transparente em todas as nossas interações, comunicando-se de forma honesta e verdadeira, sem ocultar informações importantes ou enganar os outros.
Integridade no trabalho e nos negócios: Agir com integridade em todas as nossas atividades profissionais, evitando práticas desonestas, como fraude, corrupção ou manipulação, e sendo fiéis aos princípios éticos e morais.
Responsabilidade financeira: Ser transparente em nossas finanças, sendo bons administradores dos recursos que Deus nos confiou, evitando desperdícios, vivendo dentro de nossos meios e sendo generosos com os necessitados.
Autenticidade na vida espiritual: Ser transparente diante de Deus em nossa vida espiritual, confessando nossas falhas e pecados, buscando a reconciliação e a santificação, e vivendo uma vida de oração e comunhão com Ele.
Transparência na liderança: Para aqueles que ocupam cargos de liderança na igreja ou na sociedade, ser transparente em suas decisões e ações, prestando contas de sua gestão e sendo modelos de integridade e honestidade.
Viver uma vida de coerência: Garantir que nossas palavras e ações estejam alinhadas com nossos valores e crenças cristãs, evitando qualquer forma de hipocrisia ou duplicidade.
Portanto, “a honestidade é o caminho mais curto para a devoção.” (São João Maria Vianney).